domingo, 28 de julho de 2013

Grupo 'Choronas'. É ouvir para sorrir.

Lembro de ter ouvido chorinhos desde que me conheço por gente. Meu avô tocava bandolim. Meu bisavô tocava bandolim. E meu tio-avô Oswaldo, de longe o mais talentoso dos três, aprendeu, sozinho, a tocar violão, bandolim e cavaquinho. Seu ouvido e sua musicalidade eram impressionantes. Sem nunca ter pisado em um conservatório, o homem abriu sua escola de música e sustentou a família com ela. Talentaaaaaço! Diz a história que o choro surgiu no Rio de Janeiro, lá pelos idos de 1880, como um contraponto popular à música dos salões aristocráticos. Rachmaninoff, meu adorado 'Rach' e último dos românticos, ainda era uma criança naquela época. É lógico que, em meus (bons!) tempos de pianista, não poderia deixar de aprender alguns chorinhos também. O choro passou, o piano também (será que voltará?), mas ficou o teclado - não o do piano, mas aquele de onde extraio as letras de meu ganha-pão. Na memória ficaram, também, as reuniões e festinhas lá em casa, sempre tão alegres, e na casa de meu tio-avô, onde todos se juntavam para tocar Pixinguinha, Ernesto Nazaré, Jacó do Bandolim, Noel Rosa, Waldir Azevedo, Francisco Mignone... deste último, meu avô sempre pedia para eu tocar ao piano a linda e nostálgica 'Valsa da Esquina', para me acompanhar ao bandolim. Saudade! O fato é que todas essas grandes figuras habitaram meus ouvidos durante boa parte de minha vida.

As 'Choronas' Paola Picherzky, Ana Claudia Cesar, Miriam Capua e Gabriela Machado - foto: Gal Oppido

É por tudo isso que, ao assistir a uma bela apresentação do grupo 'Choronas' no Centro Cultural Authos Pagano, não pude deixar de me emocionar - sobretudo ao ouvir 'Flor Amorosa' e 'Lamento', das quais meu avô e meu tio tanto gostavam. Por alguns minutos pude reviver todos aqueles momentos felizes com tantas pessoas queridas e música boa. Há tempos não ouvia chorinhos ao vivo e foi uma deliciosa experiência ouvir alguns naquele show intimista das talentosas meninas 'Choronas'. O show foi seguido de uma sessão de autógrafos do livro 'O cavaquinho encantado de Waldir Azevedo', de autoria de Ana Claudia Cesar, que toca cavaquinho no grupo e explica a importância do instrumento para a construção da identidade do chorinho. Afinal, foi pelos dedos ágeis do genial compositor Waldir Azevedo que o cavaquinho tornou-se mais valorizado, passando de acompanhamento para instrumento solista. Para quem não sabe, Waldir Azevedo é autor do famoso 'Brasileirinho', um chorinho que já era popular e ficou mais ainda após valorizar as performances da ginasta Daiane dos Santos, que ganharam ainda mais ginga, graça e, é claro, aplausos. É de Waldir, também, obras-primas como 'Brejeiro', 'Pedacinho de Céu' e 'Delicado'.

Agora vamos às meninas. Fundado em 1994, o grupo 'Choronas' ficou conhecido por seu trabalho de pesquisa, resgate e excelentes interpretações de um repertório de choros, baião, maxixe e samba que já encantou plateias no Brasil e exterior. É formado por Ana Claudia Cesar, no cavaquinho, Gabriela Machado, na flauta, Paola Picherzky, no violão de sete cordas, e Miriam Capua, na percussão.

Gabriela, Paola, Ana Claudia e Miriam arrasando nos chorinhos no Centro Cultural Authos Pagano. 
Foto: Gal Oppido

O livro lançado há pouco.
Instrumentista tarimbada, Ana Claudia nos presenteou com belos e emocionantes acordes de cavaquinho lá no show. Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pelo Mackenzie, Ana possui uma longa experiência como docente e inclusive elaborou o curso de formação em Cavaquinho da Universidade Livre de Música – Tom Jobim, entre muitas outras iniciativas voltadas para o ensino e a valorização desse lindo instrumento.
  
A flautista Gabriela, brilhante, é bacharel em flauta pela UNESP e já recebeu vários prêmios. Não é para menos: a menina manda muito bem! Gabriela já integrou orquestras, gravou CDs e acompanhou artistas do naipe de Antônio Menezes, Altamiro Carrilho, Paulo Moura, Yamandu Costa, Zizi Possi e Nelson Freire, entre muitos outros. Além de integrar as 'Choronas', também faz parte da Banda Sinfônica do Estado de São Paulo.

A 'hermana' Paola, natural da Argentina, pelo jeito se encantou com o jeitinho brasileiro de tocar e adotou o violão de sete cordas para expressar sua sensibilidade nos choros. Mestre em música também pela minha querida UNESP e professora experiente, Paola ministra aulas de violão erudito em várias faculdades de música, gravou alguns CDs e já tocou ao lado de músicos como Roberto Sion, Paulo Belinatti e Izaías e seus Chorões, entre outros. No show, Paola dividiu o violão com Rosana Bergamasco, que fez uma bela participação especial.

A percussionista Miriam arrasou no pandeiro. Ela toca, o pandeiro obedece e ainda pede mais! Tarimbadíssima, Miriam tem uma longa carreira como instrumentista e há mais de 20 anos ministra aulas de percussão em escolas e faculdades. Eclética, faz bonito em orquestras e bandas populares – seja nos palcos, na TV ou na rua. Sim, porque até em escola de samba a moça já tocou! Miriam também se apresentou ao lado de grandes artistas e... ufa! Jornalista graduada pela USP, colaborou com revistas especializadas e ainda ajudou a criar a revista eletrônica do Conservatório Souza Lima, aliás um dos lugares que marcaram minha infância.

Bem, essas são as 'CHORONAS' que me fizeram sorrir e, certamente, fazem o mesmo com muitas outras pessoas. Música de qualidade é sempre bem-vinda e o chorinho, um ritmo tão alegre e brejeiro quanto o povo brasileiro (juro que a rima não foi intencional!! rs), não pode sumir. O que é bom deve ser não apenas preservado, mas sobretudo propagado aos quatro cantos, para que mais gente tenha parâmetros para refinar os ouvidos – a começar pelos ouvidos brasileiros, tão maltratados ultimamente. Fique de olho no próximo show! Para saber mais e acompanhar a agenda do grupo, acesse www.choronas.com.br.

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