quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Zeffiro Restaurante & Rotisseria. O prazer de uma refeição com gostinho de antigamente.

De cara, a impressão é a melhor possível. Ao entrar no casarão antigo da Rua Frei Caneca, juro que me senti feliz ao constatar que, em meio à degradação e à especulação imobiliária que destrói a memória de São Paulo, ainda existem iniciativas que preservam uma das coisas que a cidade tem de melhor: sua história.

Eu já havia ouvido falar do Zeffiro Restaurante & Rotisseria e há tempos estava ensaiando para conhecer a casa. Fui lá almoçar e adorei. Tanto pela atmosfera do local quanto pela qualidade da comida e do atendimento.

Foto: Simone Catto

Mas vamos por partes. Começando pelo local. Ao chegar, logo conheci o proprietário, sr. Eder, que foi me mostrando o espaço enquanto contava um pouco da história da casa que remonta ao final do século XIX (cerca de 1895) e pertenceu ao avô de sua esposa, um imigrante italiano chamado Zeffiro Lorenzi.

Ao olharmos a fachada, não imaginamos o tamanho da casa! - Foto: Simone Catto

Segundo o sr. Eder, a família do sr. Zeffiro era autossuficiente e fabricava de tudo na casa: desde carvão, que o patriarca vendia na Av. Paulista, até roupas e vinho, entre outros itens. A propósito, algumas barricas de vinho originais decoram o local, ao lado de outros elementos que foram preservados e que fazem parte da construção, como as amplas janelas, as portas e as estruturas de madeira que sustentam o teto. O pé direito alto ajuda a propagar a luminosidade e tornar o ambiente ainda mais acolhedor.

Foto: Simone Catto

Os barris de vinho que hoje decoram o corredor são da época do Sr. Zeffiro.
Foto: Simone Catto

A área do toalete também mereceu um 'click'! As paredes são forradas com jornais antigos, sobretudo italianos. 
Foto: Simone Catto

O convite de casamento de Emília, filha do sr. Zeffiro, também ganhou um lugar de honra na colagem! - Foto: Simone Catto

Vale ressaltar que, apesar das dimensões do espaço e do número de mesas, a acústica do local é excelente e em nenhum momento ouvi ruídos indesejáveis ou a conversa da mesa ao lado.

Ao entrarmos na casa, deparamos com uma salinha de espera que o sr. Eder relatou ser a antiga sala de visitas da casa. Conforme vamos adentrando o espaço, porém, somos surpreendidos pela amplidão do local e por uma sucessão de ambientes que parece não ter mais fim. Algumas paredes têm tijolos aparentes, contribuindo para evocar algumas construções comuns na região da Toscana.

A simpática salinha de espera, que era a sala de visitas da família Lorenzi - Foto: Simone Catto 

Os salões se sucedem, agradáveis e aconchegantes - Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

Agora vamos aos pratos. A maioria tem inspiração italiana e, segundo o site da casa, algumas receitas são herança de família. Começamos o almoço com um tinto delicioso, o Montepulcianno D’Abruzzo - Nova Corte D.O.C. (R$ 54). Recomendo a todos que apreciam um bom vinho!

O vinho que adoramos! - Foto: Simone Catto

Optei por um dos combinados do dia, que incluiu uma entrada, prato principal e sobremesa (R$ 49). Uma das opções de entrada era a salada de rúcula e manga - básica e gostosa. Como prato principal, escolhi o paillard de filé mignon com fettuccine ao molho quatro queijos. O paillard estava bem fininho e saboroso, a massa do fettuccine no ponto exato e o molho também fez bonito. Prova de que, ao contrário do que muitos possam imaginar, a combinação de carne mais massa pode resultar num prato leve.

A saladinha de rúcula, minha entrada - Foto: Simone Catto

O paillard de filé mignon com fettuccine ao molho quatro queijos - Foto: Simone Catto

O delicado enroladinho de legumes era a outra opção de entrada do combinado.

O enroladinho de legumes também agradou - Foto: acervo pessoal

As opções de sobremesa eram duas e escolhi o merengue com mousse de chocolate e calda cítrica. A sobremesa foi o único item que me decepcionou, provavelmente porque todos os merengues que conheço levam morango e suspiro e este aqui leva apenas um creme branco sob a mousse. Eu esperava mais. Neste caso, creio que seja mais vantajoso fazer a refeição à la carte. De resto, fiquei plenamente satisfeita!

O merengue poderia ser melhor - Foto: Simone Catto

E para arrematar... não poderia faltar o cafezinho! - Foto: Simone Catto

Se você ainda não conhece o ZEFFIRO, vale a pena marcar um almoço por lá! Fica na R. Frei Caneca, 660 – Consolação. Tel.: 3259-0932 - www.zeffiro.com.br. Abre de segunda a quinta-feira das 12h às 15h e das 19 às 23h, às sextas das 12h às 15h e das 19 às 24h, aos sábados das 12h às 17h30 e das 19h às 24h e domingos e feriados das 12h às 17h30 e das 19h às 23h.

Atualização:


Retornei a esse restaurante no dia 5/1/2014, um domingo - quase um ano após minha primeira visita - e a boa impressão permaneceu. Novamente optei por um dos cardápios fechados que incluem entrada, prato principal e sobremesa. Minha percepção sobre a comida foi ainda melhor que a anterior, porque, desta vez, a sobremesa agradou. Comi uma saladinha Panzanela (folhas verdes, tomates, pepino e pão temperado), um peixe do dia que estava fresquinho, acompanhado de um risoto e, se não me engano, a sobremesa foi Panna Cotta. Na ocasião não tive como anotar os nomes dos pratos, mas posso garantir que eles preencheram minhas expectativas pelo bom custo-benefício e continuo recomendando o restaurante a todos que apreciam almoçar bem em ambiente agradável.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

'Toda Nudez será Castigada', no Sesc Consolação. A impureza rodriguiana em estado puro.

Nelson Rodrigues é sempre Nelson Rodrigues. Mas fica ainda melhor quando encenado por gente do naipe de Antunes Filho, que consegue traduzir todo o drama pequeno-burguês de Nelson valorizando a ironia e o sarcasmo típicos do autor. É o caso da montagem de Toda Nudez será Castigada, encenada pelo CPT/Sesc – Centro de Pesquisa Teatral. Está tudo lá: tragédia familiar, hipocrisia, traições, "aberrações" sexuais, a obsessão pela figura feminina, a luxúria, a explosão de desejos reprimidos e mais um pouco.


O personagem central é o viúvo Herculano, que vive com o irmão Patrício, que o odeia, três tias solteironas recalcadas e o imberbe filho Serginho, um rapaz virgem de 18 anos. Até que Herculano se envolve com a prostituta Geni, que acaba por trai-lo com seu filho, que por sua vez foge com um ladrão boliviano que o havia estuprado (!!!). Família saudável, né? (rs) Puro Nelson Rodrigues.

Leonardo Ventura e Ondina Clais Castilho, que representam, 
respectivamente, Herculano e Geni.

Não há cor no figurino e tampouco no cenário, em que predominam o preto e o branco. As personagens femininas jovens atuam seminuas durante quase todo o tempo em que estão em cena. A prostitua Geni, paradoxalmente, usa o branco da pureza. Os trajes das três tias solteironas são escuros, bem como os ternos dos personagens masculinos. Tudo isso se destaca em meio a escassos elementos cênicos sobre um fundo negro, no qual vemos também um dançarino de tango que fica o tempo todo lá, pontuando o drama com seus passos. E nem precisa de mais nada. A intensidade do texto, a direção de Antunes Filho e a competência dos atores já bastam para transmitir a força da mensagem.

O ótimo elenco da peça.

Ficha técnica parcial:

Duração: 60 minutos.
Direção: Antunes Filho.
Direção de Palco: Felipe Hofstatter.
Assistência de Direção: Nara Chaib Mendes.
Elenco: Leonardo Ventura (Herculano); Ondina Clais Castilho (Geni); Marcos de Andrade (Patrício); Lucas Rodrigues (Serginho), Mariana Leme, Fernando Aveiro e Naiene Sanchez (as três tias).  

Assistir a uma peça de Nelson Rodrigues bem encenada sempre vale a experiência. Se você aprecia teatro, portanto, certamente vai gostar de TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA. A peça está em cartaz no Sesc Consolação – Teatro Anchieta, na R. Dr. Vila Nova, 245 – Vila Buarque – Centro. Tel.: 3234-3000. Ingresso: de R$ 8 a R$ 32. Horários: sextas e sábados às 21h e domingos às 18h. Até 3/3.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Bar Alto da Harmonia. Melhor visitá-lo no verão e sentar no terraço ao ar livre.

Todo mundo que tem o hábito de frequentar bares e restaurantes acaba formando sua lista de prediletos. Há certas casas às quais eu sempre retorno por me agradarem, mas também adoro descobrir lugares novos. Digamos que a proporção entre uma coisa e outra fica no 'meio a meio'.

Outro dia fui conhecer um bar inaugurado há uns quatro meses e em torno do qual tem havido um certo bochicho: trata-se do Alto da Harmonia, na Vila Madalena. Como o próprio nome já diz, fica na Rua Harmonia (a qual, cá entre nós, já está ficando tão 'batida' quanto a Aspicuelta...). Bem, o que posso dizer é que o lugar agrada à primeira vista. É um amplo sobrado de três andares localizado numa esquina, com muitos vidros, madeira e materiais reciclados. Soube que a casa pertence a um grupo de empresários e que o imóvel foi residência de um deles na infância.

A casa é bem arejada - Foto: Simone Catto

Um dos atrativos do lugar é o terraço no terceiro andar, que tem 180m² e uma bela vista panorâmica para a Vila Madalena – o espaço tem até luneta para quem quiser apreciar melhor a paisagem. Pena que, na noite de minha visita, o tempo estava tão frio e chuvoso, em pleno verão, que não havia uma única alma lá em cima.

A vista que não pudemos aproveitar... - Foto: www.altodaharmonia.com.br

O jeito foi nos acomodarmos no salão térreo, já que o segundo andar, mais aconchegante, estava reservado para um evento particular. Não havia muita gente, provavelmente porque o clima não ajudou.

Este é o salão onde ficamos - Foto: Simone Catto

O cardápio tem pratos e petiscos clássicos de boteco, como bolinho de bacalhau, tapioca, carne seca, pastéis, caldinhos, picadinho e outros. Comecei a noite com um suco de melancia e, para acompanhar, optamos pelos bolinhos de arroz com parmesão, que estavam muito bons. A porção vem com 10 unidades.

Os gostosos bolinhos de arroz - Foto: Simone Catto

Conforme o resto do pessoal foi chegando, pedimos também bruschettas de mozzarella de búfala, tomate e manjericão e uma tapioca, que vem com duas unidades de sabores diferentes: carne seca e queijo coalho. As bruschettas estavam excelentes, a massa da tapioca também, mas... não sei se é falta de hábito de meu paladar, achei que ela não combinou muito com esses dois recheios, embora o sabor de ambos, isoladamente, fosse bom. Pode ser apenas uma percepção minha, mas talvez os recheios doces combinem melhor – a propósito, a casa oferece também tapioca de Nutella.

As bruschettas estavam deliciosas! - Foto: Simone Catto

A massinha da tapioca estava muito boa e os recheios também, mas... acho que faltou diálogo entre eles. Foto: Simone Catto 

E para acompanhar tudo isso... caipirinha com uma cachaça que eu não conhecia: a cachaça Janaína, de Pirassununga – SP. Gostei! Para quem preferir uma cerveja, o bar oferece várias marcas premium e também um chope artesanal exclusivo desenvolvido pela Cervejaria Karavelle.

A caipirinha que homenageia as 'Janaínas' desse Brasil! - Foto: Simone Catto

Detalhe: a casa aceita animais e há até itens para eles no cardápio! A renda da venda das rações é destinada a uma ONG chamada Amparo Animal. Pode ser uma boa para quem quiser tomar alguma coisa na companhia de seu pet.  

Se você quiser conhecer o ALTO DA HARMONIA, o endereço é Rua Harmonia, 271 – tel.: 2528-1241. Porém, prefira uma noite quente ou, melhor ainda, um dia ensolarado para se acomodar no terraço e apreciar a vista. O site da casa, que aliás precisa de uma boa melhorada, é www.altodaharmonia.com.br. Abre de terça a sexta das 17h à 1h, sábado das 12h à 1h e domingo das 12h às 22h.

'O Homem Feio'. Ótima sátira ao culto da beleza vazia e às pseudocelebridades.

A programação teatral do Sesc normalmente se destaca pela qualidade. Com a peça O Homem Feio, que tive a oportunidade de conferir, não foi diferente. O texto é de um jovem dramaturgo alemão chamado Marius von Mayenburg (nascido em 1972), que trabalha no Schaubühne am Lehniner Platz, um dos teatros mais importantes de Berlim, e é "uma das estrelas ascendentes da dramaturgia europeia", segundo o folheto do espetáculo. Suas peças têm sido muito prestigiadas na Europa e estão ganhando cada vez mais terreno também em outras partes do mundo. Já em 2007, a encenação de O Homem Feio causou sensação no teatro Royal Court de Londres, especializado em nova dramaturgia.

E como essa montagem veio parar aqui? Tudo começou quando o diretor André Pink, que residia em Londres desde 1996, recebeu, em 2011, um convite para dirigir o trabalho de uma turma da EAD - Escola de Arte Dramática da USP. O Homem Feio foi um dos textos escolhidos pelo grupo.

O espetáculo conta a história de Lette, um homem extremamente feio que vive bem com a esposa e não se dá conta de sua feiura. Até que, um dia, acaba sendo preterido no trabalho por causa de sua aparência: seu assistente é convidado a apresentar, num importante congresso, um trabalho que ele havia desenvolvido com sucesso. Inconformado, Lette resolve fazer uma cirurgia plástica. E fica tão bonito, mas tão bonito, que sua esposa e seus colegas nem o reconhecem mais. Lette não só vai para o congresso apresentar seu trabalho como passa a apresentar também os trabalhos dos colegas. Os convites não param, e as mulheres fazem até fila para falar com ele ao final de cada apresentação. Lette vira uma celebridade e sua personalidade também se transforma: ele fica cada vez mais arrogante, narcisista e ambicioso. Creio que qualquer semelhança com "O Retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde, não seja mera coincidência!...

Só que ocorre uma reviravolta. Devido ao sucesso da cirurgia realizada em Lette, o cirurgião plástico resolve aplicar a mesma técnica em outros pacientes, gerando vários "clones" seus. E a partir do momento em que deixa de ser "único", ou "novidade", Lette passa a ser novamente preterido e cada vez mais relegado a segundo plano, entrando em decadência. O homem começa então a se dar conta de que nos tempos de "feiura" era mais feliz e procura novamente o cirurgião plástico, desta vez para "reverter" a cirurgia e recobrar seu antigo rosto. Mas aí já era tarde demais.

Alex Houf e Bruna Miglioranza, que interpretam Lette e sua bela esposa.

Com ótimos atores e tiradas irônicas e divertidas, a peça critica determinados valores da sociedade contemporânea, como o culto à beleza desprovida de significado e a fabricação em série de subcelebridades. A meu ver, o surgimento dos "clones" de Lette pode ser interpretado como uma crítica às cirurgias plásticas que pasteurizam o resultado e deixam todos os pacientes com a mesma "cara". E sobretudo, O Homem Feio mostra como cada vez mais as pessoas perdem sua essência, afastando-se de valores que possam conduzir à verdadeira felicidade.

Ficha técnica parcial: 
  
Duração: 80 minutos
Texto: Marius von Mayenburg
Direção e Cenografia: André Pink
Assistente de Direção: Otavio Oscar
Elenco: Alex Houf, Bruna Miglioranza, Camilo Chaden, Danilo Gambini, Fernanda Hartmann e Tiago Real

Se você gosta de teatro, vale a pena assistir! O HOMEM FEIO está em cartaz no Sesc Consolação – Espaço Beta – 3º andar, R. Dr. Vila Nova, 245 - Vila Buarque - Centro. Tel.: 3234-3000. Ingresso: de 2,50 a R$ 10. Mas fique atento(a), porque a peça é apresentada apenas às segundas e terças-feiras (às 21h) e ficará em cartaz somente até 5/2. Ou seja: haverá só mais 4 apresentações.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

'Além das Montanhas'. Obsessão e fanatismo numa Romênia desoladora.

A maioria dos filmes contemporâneos costuma apresentar desfechos previsíveis apresentados com soluções fáceis. Definitivamente, não é o caso de Além das Montanhas ('Dupa Dealuri'), excelente drama franco-belgo-romeno exibido na última Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e que estreou nesse fim de semana na cidade. Lá não há nada de previsível, apesar de os espíritos mais sensíveis já poderem antever que boa coisa - leia-se: um 'final feliz' - não pode sair dali. Podemos até imaginar diferentes desfechos para a trama, mas certamente todos trágicos. Escrito e dirigido pelo romeno Cristian Mungiu, o filme tem uma atmosfera opressora. A fotografia escura, a paisagem desoladora e a carga dramática do elenco majoritariamente feminino reforçam a convicção de que, a qualquer momento, algo de muito terrível pode acontecer ali.


Além das Montanhas se passa numa gélida Romênia, país visivelmente depauperado por décadas de atraso do Leste Europeu. O cenário é uma espécie de monastério ortodoxo de freiras, situado no meio do nada, dirigido com parcos recursos por um padre (Valeriu Andriuta) e uma madre superiora (Dana Tapalaga).

Voichita (Cosmina Stratan), ao centro, em cena típica do monastério.

O filme começa quando uma das noviças, Voichita (Cosmina Stratan), vai à estação ferroviária receber sua amiga Alina (Cristina Flutur), colega do orfanato onde ambas cresceram juntas. Alina, uma jovem de 25 anos que até então estava morando na Alemanha, vai para a Romênia firmemente decidida a buscar a amiga para que continuem a viver juntas. Fica claro, desde o princípio, que a moça agiu movida por um sentimento que vai muito além da amizade, mas que a amiga, se um dia lhe correspondera, havia agora escolhido outro caminho – a renúncia de uma vida mundana para servir a Deus. E é aí que começam os problemas.

Voichita (Cosmina Stratan) e Alina (Cristina Flutur) em sua cela no monastério. 

O convento tem regras rígidas impostas a mão de ferro pelo padre e endossadas pela madre superiora, e as moças dividem entre si diversas tarefas de uma pesada rotina de trabalho: tirar água do poço, limpar, cozinhar, fazer consertos, rezar etc. Alina, hospedada no lugar, não se conforma com o fato de Voichita ter escolhido aquela vida e começa a se rebelar contra os indícios de fanatismo religioso e os dogmas nos quais claramente não acredita. A moça não consegue guardar para si suas convicções e, num crescendo de tensão, acaba por se descontrolar e surtar, fazendo com que os religiosos a considerem "possuída pelo demônio". Não é difícil prever que as consequências são as mais nefastas possíveis.

O padre (Valeriu Andriuta) tenta expiar Alina (Cristina Flutur) de seus pecados na capela do monastério.

Alguém poderia afirmar que, se a personagem de Voichita havia optado por aquela vida de privações, é porque teoricamente estaria feliz ali e a amiga não tinha o direito de interferir em sua escolha. Bastaria que fosse embora e procurasse outra forma de também ser feliz.

Por outro lado, é inevitável questionar até que ponto aquelas moças haviam optado pela vida monástica por uma vocação genuína ou se não o haviam feito por mera falta de perspectivas, já que a maioria não teria chances de assegurar uma existência digna e aplacar sua solidão de outra maneira numa Romênia árida e hostil. Vale lembrar que Voichita é órfã e não possui ninguém no mundo além de Alina, de forma que o convívio com as colegas do convento, de certa forma, é aquilo que mais se aproxima de uma vida em família. Apesar de toda a lavagem cerebral doutrinária e da alienação a que as jovens estão submetidas, portanto, somos levados a concluir que consideram ser ali o lugar "menos ruim" onde poderiam estar.


Merecidamente, Além das Montanhas ganhou dois prêmios no último Festival de Cinema de Cannes: roteiro, do também diretor Cristian Mungiu, e atriz principal, prêmio que foi dividido entre as intérpretes das duas amigas: Cosmina Stratan (Voichita) e Cristina Flutur (Alina), simplesmente soberbas. Nem preciso dizer que o filme vale cada um de seus 155 minutos, os quais nem sentimos passar pela constante tensão que permeia a trama e que nos deixa sempre na expectativa do pior.

Por enquanto, ALÉM DAS MONTANHAS está em cartaz em apenas dois cinemas que, não por acaso, estão entre os meus preferidos: Espaço Itaú de Cinema Augusta (Sala 3) e Reserva Cultural (Sala 4). Se você é daqueles(as) que gosta de cinema da melhor qualidade, não deixe de assistir! Mas vá preparado(a) para um filme pesado.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Restaurante Ruaa. Sabores cosmopolitas num clima descolado e despretensioso.

Um lugar desencanado, descontraído, aonde você pode ir quando quiser comer alguma coisa saborosa e diferente. Estou falando do Ruaa, um pequeno restaurante da Vila Madalena que tive o prazer de conhecer em ótima companhia. A casa tem a proposta de oferecer alguns pratos que são saboreados "nas ruas" de diversos países – como yakissoba e fish & chips -, entre outras opções oferecidas no restrito, porém atraente cardápio.

De cara experimentei a porção de lulas grelhadas com molho de páprica e batatas bravas, que vem acompanhada de fatias de pão temperado. Uma entrada fresquinha e deliciosa, perfeita para o verão!

As deliciosas lulas com batatas bravas... nham!!! - Foto: Simone Catto

Na sequência, pedi o curry indiano de lulas e camarões, acompanhado de arroz jasmim e pão naan. Levinho, bem feito e saboroso, esse prato também caiu superbem!

Detalhe simpático: a casa serve água filtrada gratuita, levada à mesa geladinha, numa garrafa de vidro. Como em Paris!

O excelente curry indiano - Foto: Simone Catto

Outro pedido da mesa foi o peito de frango orgânico marinado em ervas, empanado com quinoa e acompanhado de risoto de brie e tomatinhos. Agradou.

O frango orgânico - Foto: Simone Catto

Agora vamos ao ambiente. O Ruaa é pequenino e tem jeitão de bar. No dia de minha visita, gostei muito da frequência do local. Predominava um pessoal jovem, bonito, descolado e bem educado, com perfil meio "culturete". Nada de "playboys" barulhentos, periguetes e assombrações afins. Que assim seja todos os dias, amém!

Foto: www.guiadasemana.com.br

Foto: www.blogs.estadao.com.br

Foto: Simone Catto

Depois de horas de ótimo papo embalado por sabores tão especiais, finalizamos a refeição com o excelente café gourmet da Fazenda Santa Monica. Valeu e pretendo voltar!

Foto: Simone Catto

Quer dar um pulo lá para conhecer? O RUAA fica na Rua Mourato Coelho, 1168 – Vila Madalena. Tel.: 3097-0123. www.ruaa.com.br. Abre de terça a quinta das 20h às 0h, sexta-feira das 20h às 0h30, sábado das 13h às 17h e das 20h às 0h30, e domingo das 13h às 17h.