segunda-feira, 22 de julho de 2013

'Augustine': uma luz sobre o dr. Charcot e a histeria na Paris do século XIX.

A psiquiatria pode nos revelar um mundo fascinante. A mente humana sempre pode nos surpreender e, na tentativa de decifrar seus mistérios, alguns cientistas, médicos e pesquisadores se destacaram ao longo da história. O francês Jean-Martin Charcot, mais conhecido como dr. Charcot, foi um deles. Neurologista do hospital parisiense Pitié-Salpêtrière, Charcot foi um brilhante pesquisador de doenças mentais e um dos maiores professores de medicina da França na segunda metade do século XIX. Freud foi seu aluno e estagiou no hospital, assim como outros médicos eminentes, e foi lá que teve seus primeiros insights sobre a existência do inconsciente, as causas da histeria e o poder da cura psicanalítica.

Dirigido por Alice Wincour, o filme ‘Augustine’, embora seja uma ficção, nos transmite uma boa ideia da atmosfera da época e de como trabalhava o dr. Charcot para aliviar o sofrimento psíquico de suas pacientes. Sim, digo "suas" pacientes, porque a histeria era - e até hoje é - uma patologia tipicamente feminina.

Vincent Lindon e Stéphanie Sokolinski, que interpretaram o Dr. Charcot e Augustine no filme de Alice Wincour.

A personagem principal, Augustine (Stéphanie Sokolinski), é uma copeira de 19 anos que trabalha em uma rica residência burguesa e, eventualmente, sofre ataques que não têm explicação aparente. O ano é 1885. A jovem é levada então para o hospital Pitié-Salpêtrière e começa a ser tratada pelo notório dr. Charcot (Vincent Lindon) com métodos revolucionários para a época, entre eles a hipnose. 

Uma das tentativas de dr. Charcot para tratar a histeria de Augustine.

A cada ataque, uma parte do corpo de Augustine se paralisa. No primeiro, a jovem não consegue abrir um dos olhos. E num segundo, já sob tratamento, não consegue mover o braço esquerdo.

Posteriormente, Freud descobriu que a histeria tem origem em instintos sexuais fortemente reprimidos e isso de certa forma transparece nos ataques da garota, mas à época Charcot não conseguiu chegar a essa conclusão. Em suas aulas, por meio de hipnose, o médico consegue induzir ataques em Augustine para demonstrar os sintomas aos alunos. Ao final do filme, aparentemente consegue curá-la, mas as causas da patologia, a raiz da questão, permanecem uma incógnita.

Diante de uma plateia de médicos, o dr. Charcot induz um ataque histérico em Augustine por meio de uma sessão de hipnose.

Pintura de Pierre-Aristide André Brouillet (1857-1914) mostra uma aula do dr. Charcot no hospital Pitié-Salpêtrière.

O aspecto previsível do filme é a atração sexual mútua que se desenvolve entre médico e paciente e, embora ambos cheguem às vias de fato, esse episódio não gera maiores consequências. Charcot é casado com a bela e refinada Constance, interpretada com elegância por Chiara Mastroianni, e o ambiente burguês em torno do médico é muito bem retratado, assim como a atmosfera opressora dos hospitais psiquiátricos franceses do século XIX. A formalidade e a sobriedade permeiam todo o roteiro desse filme que, se não chega a figurar entre os melhores, ainda assim lança uma luz esclarecedora sobre essa figura tão importante para o desenvolvimento da psiquiatria que foi o dr. Charcot. Vale a pena assistir!

A belíssima Chiara Mastroianni não nega o parentesco: herdou os melhores traços dos pais Marcello Mastroianni e Catherine Deneuve.

Mas é bom correr, porque 'Augustine' está passando apenas no Reserva Cultural, de segunda a quinta-feira. Mais informações: www.reservacultural.com.br

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