quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O sabor de um café na padaria mais antiga de Sampa.

No post anterior, conto um pouco sobre um passeio muito interessante que fiz há pouco com o pessoal do site São Paulo Antiga, em que passamos por locais do Centro de São Paulo relacionados à vida da Marquesa de Santos (1797-1867), amante de D. Pedro I. Nosso tour começou na Praça do Patriarca, passou pelo Largo São Francisco, pela Praça Clóvis Bevilacqua, Praça João Mendes e Pátio do Colégio, culminando com uma visita ao solar da Marquesa, praticamente colado a este último. Se você tem curiosidade em saber um pouco sobre aquela que é considerada a amante mais famosa do Brasil, clique aqui.

Ocorre que, lá pela metade do passeio, quando estávamos na Praça João Mendes, fizemos uma parada estratégica na padaria Santa Tereza para recarregar as baterias. Se normalmente eu já gosto de uma boa "padoca", desta vez gostei ainda mais! Sim, porque, segundo dizem, a Santa Tereza foi inaugurada em 1872 e é a padaria mais antiga de São Paulo. É lógico que, se não fossem pelas placas sinalizando o ano da inauguração, a gente não teria como saber a idade do estabelecimento, já que suas instalações são tão modernas quanto a de qualquer outra boa padaria da cidade. Situada num ponto bem agradável da Praça João Mendes, a padaria fica ao lado do Sebo Messias, um dos mais completos de Sampa, e em frente a uma simpática banca de flores.

Fachada da padaria Santa Tereza - Foto: Simone Catto

As instalações são modernas, de aspecto limpo e arejado - Foto: Simone Catto

Na placa acima do chapeiro dá para ver o ano da fundação, pequenininho, no canto inferior direito. 
Foto: Simone Catto

É lógico que eu não perderia a oportunidade de tomar um café por lá! Gostoso e bem tirado, meu espresso machiato foi o complemento ideal para o pão de queijo, que também estava muito bom e era maior que o habitual. Só para constar: paguei R$ 6,00 pelos dois itens, uma pechincha perto do que pagamos em padarias de muitas outras regiões da cidade!

Gostei desse painel de azulejos mostrando São Paulo! Não sei quando foi feito, mas é típico das 
padarias antigas - Foto: Simone Catto

A vitrine de doces é uma tentação à parte. Aliás, gostei da variedade de pães e doces que eles oferecem. Detalhe: os doces menores custam R$ 1,50, quando, em muitos locais por aí, paga-se mais que o dobro por docinhos do mesmo tamanho.

A tentadora vitrine de doces é um convite ao pecado. Os doces menores, à direita, custam R$ 1,50. 
Os de baixo, maiores, custam menos de R$ 5,00. Preços bem razoáveis! - Foto: Simone Catto

No andar de cima a casa tem um restaurante muito agradável, em um espaço aconchegante repleto de pôsteres antigos de São Paulo. Segundo um funcionário, o restaurante costuma lotar no almoço dos dias úteis, com fila de espera e tudo. Já estou planejando almoçar um sábado por lá!

O gostoso salão do restaurante tem até um piano - Foto: Simone Catto

Outro ângulo do restaurante, repleto de belos pôsteres da São Paulo antiga - Foto: Simone Catto

Se você for à Praça João Mendes por algum motivo, vale a pena dar uma paradinha na SANTA TEREZA, nem que seja para provar um doce ou tomar um cafezinho. E se possível, dê uma subida no andar de cima para apreciar as fotos antigas! O endereço é Praça João Mendes, 150 – Sé. Tels.: 3101-9631 / 3241-1735 e outros – www.padariasantatereza.com.br.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Nos passos da amante mais famosa do Brasil.

Fazia tempo que eu não caminhava pelo Centro de São Paulo, o dito "Centrão", mesmo, nas imediações da Praça da Sé e do Pátio do Colégio. Pude fazer isso no final de semana, em mais um tour histórico promovido pelo site São Paulo Antiga. Desta vez, o roteiro foi todo baseado na trajetória de Domitila de Castro Canto e Melo, a Marquesa de Santos (1797-1867), culminando com uma visita ao palacete onde ela morou por mais de 30 anos (de 1834 a 1867) e que abriga atualmente o Museu da Cidade de São Paulo, coladinho ao Pátio do Colégio.

Fachada do Solar da Marquesa de Santos - Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

De cara, senti uma profunda tristeza com o descaso e a quantidade de sem-tetos, drogados e tipos – digamos – pouco confiáveis que circulam por ali. Talvez nosso Centro não estivesse nessa situação deplorável se nosso digníssimo prefeito, ao invés de criar "soluções inteligentes" que transformaram o trânsito num caos que só não deve ser maior que sua incapacidade de governar, cuidasse das questões que realmente importam para a cidade.

Mas vamos lá. Apesar da descaracterização arquitetônica – e humana, por assim dizer – da região, não pude deixar de reparar, contudo, em prédios e construções muito bonitos, remanescentes de uma época em que a cidade era mais gentil, mais poética, enfim... mais cidade!

Este lindo prédio do Pátio do Colégio foi projetado pelo escritório técnico de Ramos 
de Azevedo, Severo & Villares. Inaugurado em 1930 para sediar a Bolsa de Valores, 
pertence atualmente ao Poder Judiciário - Foto: Simone Catto

O roteiro, denominado 'A antiga São Paulo da Marquesa de Santos', teve início na Praça do Patriarca, passando pelo Largo São Francisco, Praça Clóvis Bevilacqua, Praça João Mendes e Pátio do Colégio, até chegarmos ao solar da Marquesa de Santos. Todos os pontos do roteiro estavam relacionados, de alguma forma, à vida da Marquesa.

Quando estávamos na Praça João Mendes, fizemos uma parada estratégica na padaria Santa Tereza para recarregar as baterias. Dizem que a padaria, inaugurada em 1872, é a mais antiga de São Paulo. Veja fotos aqui.  

Nosso tour foi especial por muitas razões. Além da presença de Douglas Nascimento e da guia Kátia, do site São Paulo Antiga, tivemos o privilégio de ser guiados também pelo historiador e escritor Paulo Rezzutti, um verdadeiro especialista na vida da Marquesa de Santos e em seu affair com D. Pedro I. Rezzutti já publicou dois livros sobre o assunto, sendo o primeiro uma coletânea da correspondência trocada entre os amantes, e o segundo uma biografia da Marquesa denominado 'Domitila – A verdadeira história da Marquesa de Santos', que acaba de sair do forno.

Domitila de Castro Canto e Melo, a Marquesa de Santos,
em retrato pintado por Francisco Pedro do Amaral.
Sabemos que Domitila nasceu em São Paulo, era filha de militar e casou-se aos 15 anos com um alferes mineiro muito mais rico que ela. Como São Paulo era um celeiro de militares e as mulheres estavam habituadas a ver seus maridos partirem para batalhas, muitas vezes precisavam cuidar sozinhas do lar e dos filhos, tornando-se mais autossuficientes e independentes que as outras mulheres brasileiras. O marido de Domitila, extremamente conservador, não deve ter gostado nada do jeito mais liberal da mulher e, como era um tipo ignorante e troglodita, costumava maltratá-la e espancá-la.

Cansada daquela vida, a pobre Domitila separou-se do marido, voltou para a casa dos pais em São Paulo e, pouco depois, em 1824, tornou-se amante de D. Pedro I, à época casado com a infeliz imperatriz Leopoldina. A ligação entre os dois durou sete anos, foi repleta de detalhes picantes e deu o que falar na época. Nas cartas iniciais, no auge da paixão, Domitila tratava o imperador por 'Demonão' e este a chamava carinhosamente de 'Titília'. Quando a relação esfriou, D. Pedro, já viúvo da Imperatriz, casou-se novamente, com Amélia de Leuchtenberg. Domitila também se casaria, desta vez com o governador do Estado de São Paulo, o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar.

Detalhe do solar de Domitila - Foto: Simone Catto

Conhecida por ter sido a amante mais duradoura do imperador e quase comparada, injustamente, a uma prostituta de luxo, Domitila foi muito mais do que isso. Ao tornar-se rica e independente devido a sua ligação com D. Pedro, tornou-se uma mulher cada vez mais cultivada, dando muitos saraus, festas e recepções que reuniam, em seu solar, grandes poetas, políticos e a elite cultural da época. Com uma personalidade marcante, a Marquesa conseguiu impor-se para a sociedade e, extremamente generosa, apadrinhou financeiramente muitos estudantes e faculdades, além de ajudar famílias pobres e a igreja católica. Sabe-se, inclusive, que deu dinheiro do próprio bolso aos soldados paulistas que foram lutar na Guerra do Paraguai.

Ao falecer, prestes a completar 70 anos, Domitila já era uma senhora respeitável. Após ser velada por um tempo em seu palacete, seguiu com toda a pompa e o acompanhamento de uma guarda de honra para a Igreja da Ordem Terceira do Carmo, à Av. Rangel Pestana, onde foi rezada uma missa de corpo presente. Milhares de amigos, parentes, admiradores e curiosos acompanharam o cortejo fúnebre até o Cemitério da Consolação, onde a Marquesa foi sepultada.

A Igreja da Ordem Terceira do Carmo, templo onde Domitila professava
sua fé e que recebeu vultosas doações da Marquesa - Foto: Simone Catto

Domitila teve 14 filhos, embora só oito tivessem chegado à idade adulta. Sim, a mulher devia gozar de boa saúde e foi uma grande "parideira", por assim dizer! Teve três filhos com o primeiro marido, cinco com D. Pedro I e seis com Tobias de Aguiar. Segundo Paulo Rezzutti, mal ela foi sepultada, seus descendentes começaram a se engalfinhar pela fabulosa herança em uma briga que durou cerca de 20 anos.

O solar, restaurado e reinaugurado há menos de dois anos, é a única casa de taipa de pilão que restou na cidade de São Paulo e também último exemplar residencial urbano do século XVIII. De original, atualmente, restam somente as paredes de taipa de pilão e pau-a-pique, parte da fachada e três salões do andar superior, um contíguo ao outro. O primeiro era um salão de retratos, no segundo Domitila promovia seus saraus, e o terceiro era uma espécie de sala íntima onde recebia as pessoas mais próximas.

Parte da parede de taipa original, preservada e exposta para os visitantes - Foto: Simone Catto

A restauração reconstituiu um belo pedaço de pintura decorativa que deve ter adornado a parede da casa 
à época da Marquesa - Foto: Simone Catto.
 
Outro pedaço da parede original à mostra.
Foto: Simone Catto
Após a morte de Felício, filho mais velho de Domitila que herdou o imóvel, o solar foi leiloado e adquirido pela Cúria Metropolitana, tornando-se residência do bispo de São Paulo de 1880 a 1909. Em seguida, foi sede da The San Paulo Gas Company Ltda., atual Comgás, passando depois para a Secretaria de Cultura do Município de São Paulo.

O solar é amplo, arejado e com pé direito alto, mas confesso, contudo, que fiquei decepcionada com a pequena quantidade de objetos pessoais de Domitila que vi por ali. Já visitei várias casas de personalidades, como o Musée de la Vie Romantique, com objetos de George Sand, e a Maison de Victor Hugo, ambos em Paris, e fiquei encantada com a riqueza de suas coleções. Sem falar, é claro, da maravilhosa casa de Monet em Giverny e a de Renoir em Cagnes-sur-Mer, entre tantas outras.






Cama que pertenceu à Marquesa de Santos e que deve ter sido palco de muitas noites calientes 
de 'Titília' com seu 'Demonão'!

Este belo prato com uma cena galante teria pertencido à Marquesa, mas a xícara e o açucareiro,
mais acima, pertenceram a outra dama da sociedade - Foto: Simone Catto

Outro belíssimo prato que supostamente teria pertencido a Domitila, ao contrário
das delicadas xícaras - Foto: Simone Catto

Sei que meus parâmetros estão um pouco altos para um país de terceiro mundo, mas, mesmo assim, esperava encontrar mais itens pessoais da Marquesa no solar, já que ele foi bem restaurado - guardadas as limitações impostas pela descaracterização que sofreu em sucessivas reformas.

Na parte de baixo está um salão com painéis que contam a história da Marquesa e da cidade em ordem cronológica e um dos ambientes contém reproduções das cartas que ela trocou com  D. Pedro I. Acho importante um museu possuir textos para explicar seu acervo, mas, quando a quantidade de texto é maior que o próprio acervo, é inevitável notar que há uma lacuna. Entre os poucos objetos expostos estão algumas louças e caixas de porcelana, no andar de cima, além de móveis e utensílios da época. Nem tudo pertenceu à marquesa, mas a outras famílias daquele tempo.

Achei esta caixa de porcelana encantadora! - Foto: Simone Catto

Esta outra, então, é um verdadeiro primor! Babei... - Foto: Simone Catto

Era em cadeiras como essa que as famílias ricas da época faziam suas necessidades.
Depois, os escravos recolhiam o recipiente de baixo e o limpavam - Foto: Simone Catto 

Apesar das lacunas, o 'SOLAR DA MARQUESA DE SANTOS' – ou MUSEU DA CIDADE DE SÃO PAULO - está num recanto muito bonito da cidade e merece sua visita, nem que seja a título de curiosidade. Fica na Rua Roberto Simonsen, 136 – Sé. Tel.: 3105-6118 - www.museudacidade.sp.gov.br. Abre de terça a domingo, das 9h às 17h, com entrada franca.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Restaurante Samosa & Company. Delícias bem temperadas da autêntica cozinha indiana.

Apesar de sua gastronomia privilegiada, a cidade de São Paulo, ao contrário de algumas metrópoles europeias como Londres e Paris, tem pouquíssimos restaurantes de culinária indiana. No caso de Londres, essa presença provavelmente se justifica pelo fato de a Índia ter sido colônia britânica e, atualmente, seus cidadãos terem direito àquela nacionalidade. Em relação a Sampa, são os restaurantes japoneses que proliferaram às pencas graças à presença maciça dos imigrantes e seus descendentes que têm um pezinho aqui e outro na terra do sol nascente. Tudo bem que a cozinha japonesa, por aqui, foi adaptada ao gosto nacional, mas, mesmo assim, sua aceitação é enorme e os paulistanos "caíram de boca" sobre sushis, sashimis, tempuras e afins.

Foto: Simone Catto
Agora, para minha felicidade, acaba de aportar por aqui um representante legítimo da culinária indiana. Trata-se do Samosa & Company Indian Food, um restaurante na região da Saúde que oferece a mais autêntica cozinha indiana preparada e supervisionada diretamente por seus proprietários, um casal indiano que reside há alguns anos no Brasil.

Em minha visita à casa com alguns amigos, tive a oportunidade de conversar com Veejay, o proprietário, que foi executivo da indústria farmacêutica e possui ampla experiência internacional. Extremamente simpático, Veejay adora conversar com os clientes e explicar sobre o preparo dos pratos que oferece. Não conheci sua esposa Deepali, mas sei que ela sempre foi muito requisitada para preparar banquetes indianos para eventos especiais.

O restaurante está instalado em um sobrado simples, pequenino, com ambientes coloridos e aspecto bem cuidado. Como nosso grupo era grande, achamos o andar superior mais aconchegante.

O andar inferior do sobrado - foto: Simone Catto

Outro ângulo do salão inferior com a janela que tem vista para a rua - Foto: Simone Catto

A vista de nossa mesa - Foto: Simone Catto

De cara experimentei uma porção de chewda, um tipo de petisco muito gostosinho servido num potinho e composto por flocos de arroz temperados com curry e misturados a amendoins e lentilhas (R$ 5). A gente come brincando!

A casa ainda não tem carta de vinhos, mas possui cerca de meia dúzia de rótulos dos alemães Dornfelder, de um produtor chamado 'Weingut Heinz Pfaffmann'. Existe um certo preconceito contra os vinhos alemães no Brasil devido à má qualidade dos primeiros rótulos que aportaram por aqui logo que as barreiras para as importações foram afrouxadas, lá pelos idos de 1992. Quem não se lembra do famigerado vinho da garrafa azul? Pois é. Felizmente, de lá para cá o consumidor brasileiro vem refinando aos poucos o paladar e aprendendo que, sim, há vinhos alemães muito bons também. A atendente nos trouxe as garrafas para que escolhêssemos e, como estava frio, compartilhei com meus amigos um Dornfelder – Merlotvinho frutado demi sec, aromatizado e macio. Gostei!

O Dornfelder - Merlot fez bonito! - Foto: Simone Catto

Para iniciar a refeição, pedimos uma porção das saborosas samosas vegetarianas, pastéis indianos feitos com massa crocante recheada com batata, ervilha, uva passa e especiarias. Sequinhas e crocantes, elas acompanham chutneys e molhinhos especiais à base de pimenta e coentro. Enfim... samosas que merecem ficar famosas! (rs)

O prato já "desfalcado"... Não é para menos! As samosas estavam ótimas
e a fome falou mais alto (rs) (R$ 16,00 - 4 unidades) - Foto: Simone Catto

Depois das samosas, continuamos nas porções e pedimos kachori, um salgado de massa folhada com recheio de lentilhas de Moyashi condimentadas. Uma entrada superdelicada, leve e saborosíssima também acompanhada de chutney e molhinhos especiais.

As kachori crocantes estavam levíssimas! (R$ 16,00 - 5 unidades) - Foto: Simone Catto

Depois foi a vez do Chicken Tikka, deliciosos pedaços de frango desossado e marinados na coalhada e especiarias. Essa entrada, grelhada e servida na chapa quente, certamente será minha opção na próxima visita!

A foto do Chicken Tikka (R$ 22,00 - 12 unidades) não saiu lá essas coisas,
mas garanto que o sabor é o melhor possível! - Foto: Simone Catto

Na hora de pedirmos os pratos principais, o olho cresceu. Os pratos servem tranquilamente duas pessoas, mas todo mundo quis experimentar itens diferentes. Eu optei pelo Chicken Vindaloo, um frango cozido ao curry agridoce com uma mistura de pimentões vermelhos, vinagre de alho, gengibre, cominho, sementes de mostarda e outras especiarias. Para contrabalançar tanta "quentura", só mesmo um pulav basmati, arroz basmati com vários legumes, castanha de caju, amêndoas, uva passa e açafrão... ufa! Para Shiva comer de joelhos.

Meu Chicken Vindaloo (R$ 39,) com pulav basmati (R$ 22,): uma opção
deliciosa que serve, com folga, duas pessoas com estômago igual ao meu.
Foto: Simone Catto

Depois de toda essa fartura de quitutes deliciosos, não sobrou espaço para a sobremesa – vai ficar para a próxima vez!

Se você aprecia os sabores da culinária indiana, picantes ou não, não pode deixar de conhecer o SAMOSA & COMPANY. Fica na Rua Padre Machado, 136 - Saúde. Tel.: 4301-800 / 4301-7001. Abre de quarta a sábado das 12h às 15h e das 19h às 22h30 e domingos e feriados das 12h às 16h.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Renato Brolezzi desvenda Poussin, o mestre do detalhe além do mito.

Um homem atormentado. Estudioso. Cuidadoso. Detalhista ao extremo. Assim era o pintor francês Nicolas Poussin (Les Andelys, 1594 - Roma, 1665) em relação a seu processo de criação. Isso, entre outras coisas, é o que descobri em mais uma excelente aula ministrada pelo Prof. Renato Brolezzi no MASP. Não é a primeira vez, aliás, que menciono neste blog as aulas desse mestre que consegue aliar uma erudição incrível a uma leveza e um bom humor impressionantes. E não é por acaso que todas as suas aulas no Grande Auditório do MASP fiquem completamente lotadas e, não raro, faltem lugares para sentar.

Desta vez, a obra analisada foi 'Hymenaeus travestido durante um sacrifício a Príapo' ou 'Himeneu assistindo a uma dança floral em homenagem a Príapo', um imenso óleo sobre tela de Poussin que pertence ao MASP, mede 1,67 m X 3,76 m e foi pintado, provavelmente, entre 1634 e 1638.

Poussin - 'Himeneu travestido durante um sacrifício a Príapo' (c. 1634-1638) - acervo do MASP.

Mas antes de analisarmos a pintura, vamos falar um pouco de quem a pintou: Nicolas Poussin. Embora tenha nascido na França, Poussin não gostava de Paris: era apaixonado por Roma, cidade rica e culta que adotou para viver a maior parte da vida. Sabe-se que, em 1623, o artista já estava na cidade. Ao chegar lá, enfrentou inúmeras dificuldades, mas conseguiu travar relacionamento com homens importantes. Um deles foi o poeta Giambattista Marino, que o apresentou a grandes aristocratas romanos que passaram a encomendar suas pinturas. Sabe-se que Poussin conheceu o grande escultor Lorenzo Bernini e pertenceu à Academia de San Lucas. Dois teóricos da época são grandes fontes de informação sobre seu trabalho: André Philibien e Gian Pietro Bellori, este último também pintor e seu amigo. Apesar de toda a glória, contudo, o prof. Brolezzi contou-nos que o artista sofreu muito, teve muitas perdas, doenças e infelicidades.

Dois nobres, em especial, foram grandes compradores de Poussin em Roma: Cassiano dal Pozzo e Francesco Barberini, este último sobrinho e braço direito do papa Urbano VIII (pró-francês), que sucedeu Inocêncio X (pró-espanhol). A título de curiosidade, vale dizer que vários palácios do séc. XVII têm abelhas em seus ornamentos decorativos, pois os insetos faziam parte do emblema da poderosa família Barberini.

O cardeal Richelieu também requisitou muito os serviços do artista em Paris. Quando Luís XIV e seu primeiro-ministro Colbert criaram a Academia Real de Belas Artes, em 1652, Poussin foi convidado a ser seu primeiro presidente, mas recusou o convite por não querer abandonar Roma. Sim, Poussin é a primeira criatura de que tenho conhecimento que não gostava de Paris!

Retrato do artista (1650) - pintado por Paul Fréart de Chantelou, amigo e admirador de Poussin.
Atrás da pintura, há duas figuras alegóricas: a 'Pintura' e os braços da 'Amizade' que a apoia.

Esta pintura está no Museu do Louvre, Paris.

Agora vamos ao quadro. Quem não conhece mitologia pode até achar 'Hymenaeus travestido durante um sacrifício a Príapo' bonito ao contemplá-lo, mas certamente não irá entendê-lo. Por isso, faz-se necessário – e isso o Prof. Brolezzi faz muito bem – "traduzirmos" a pintura.

Príapo, na mitologia greco-romana, era filho de Vênus e Baco (ou Afrodite e Dionísio, como também são conhecidos). Feio, barbudo e com um enorme falo, era considerado o 'Deus da Fertilidade'. Segundo consta, na Grécia antiga, as jovens prestes a se casar costumavam dançar em torno de uma herma (estátua de meio-corpo) com a imagem do deus, a fim de atrair uma boa vida sexual e muitos filhos. É uma dessas cenas que retrata a pintura.

Detalhe: na extrema direita do quadro, há um jovem travestido chamado Himeneu. Note que é a única figura a calçar sandálias. Himeneu era apaixonado por uma das dançarinas e se travestiu de mulher para poder assistir à dança, porque o deus Príapo não permitia homens em sua presença, infligindo castigos terríveis àqueles que o desobedecessem. Enquanto Príapo assistia disfarçado a sua amada dançar, surgiu um bando de salteadores que queriam raptar e estuprar as jovens. Himeneu, que trazia uma espada escondida sob as vestes, puxou-a imediatamente, e os ladrões, achando que haveria mais soldados travestidos e camuflados entre as moças, fugiram assustados. Neste caso, ao invés de castigá-lo, Príapo encheu o jovem de honrarias. Daí o surgimento da palavra "hímen", quem diria... o "protetor das donzelas"! Você sabia disso? Eu não!

Note que, à esquerda do quadro, há algumas jovens tocando instrumentos musicais da Grécia Antiga. Esses instrumentos foram cuidadosamente estudados por Poussin em coleções particulares de aristocratas de seu tempo. Vale repetir que tudo em Poussin era estudado, analítico e seu processo de criação era bem demorado. Basta dizer que, antes de pintar suas figuras, ele costumava criar pequenas esculturas em terracota e só depois transferia as imagens para a tela.

Admirador de Rafael, primeiro pintor a criar tipologias teatrais, Poussin também apresentava um estilo pictórico teatral, geometrizado, com poses estudadas. As cores primárias, vermelho, amarelo e azul, ganhavam destaque especial em suas pinturas. Veja também que, no quadro que estamos analisando, não há profundidade e nem perspectiva: ele foi concebido como se fosse uma frisa, um relevo. E as figuras, com suas poses coreografadas, parecem estátuas.

Uma curiosidade: o título da obra foi alterado em 2009, o 'Ano da França no Brasil', quando a pintura foi restaurada pela equipe do Palácio de Versalhes. Em virtude da precariedade do quadro à época, ele não pôde ser despachado para a França: os restauradores franceses é que vieram para cá executar o trabalho, em uma missão que durou mais de cinco meses. Depois da restauração, foi revelado o desenho do enorme falo de Príapo, que estava pudicamente oculto por camadas de tinta. O deus deve ter ficado feliz com a revelação de seu avantajado dote natural! (rs).

Aqui, o detalhe do falo que foi revelado após a restauração pela equipe francesa.

A pintura da dança em torno de Príapo foi provavelmente adquirida junto de outro quadro do artista, denominado 'A Caça de Atalanta e Meleagro', atualmente no Museu do Prado, em Madri. Essa pintura retrata uma cena da mitologia grega citada nas 'Metamorfoses', de Ovídio: a vingança da deusa da Caça Diana (Ártemis) contra o cavaleiro Meleagro. As duas obras foram criadas sob encomenda de Francesco Barberini para que a França as presenteasse ao rei Filipe IV da Espanha, como um gesto de diplomacia, já que pairava uma certa rivalidade entre as duas nações ricas, porém culturalmente opostas.

Poussin - 'A Caça de Atalanta e Meleagro' (1634-1639) - Museu do Prado, Madri.

Ao longo da vida, Poussin fez muitas imagens de bacanais e danças em homenagem a deusas. Por vezes, misturava os personagens e mitos numa mesma obra.

Poussin - 'Bacanal com tocadora de alaúde' (c. 1626-1628) - Museu do Louvre, Paris.

Poussin - 'O Triunfo de Flora' (c. 1627-1628) - Museu do Louvre, Paris
Obs.: Flora era a 'Mãe das Plantas', na mitologia grega.

A tela abaixo, 'O Triunfo de Anfitrite', faz parte de quatro pinturas com temas náuticos que Poussin pintou sob encomenda do cardeal Richelieu. Na mitologia grega, Anfitrite era uma das filhas de Netuno, o deus dos Mares.

Poussin - 'O Triunfo de Netuno e Amphitrite' (c. 1637)

Poussin também retratou temas bíblicos, como na impressionante pintura 'O Martírio de Santo Erasmo'. Nessa terrível cena, os intestinos do santo são arrancados e amarrados a um carretel. Daí São Erasmo tornar-se o protetor dos alfaiates e marinheiros. No alto do quadro, à direita, vemos uma figurinha em forma de estátua que destoa das demais: era Hércules, símbolo da força física e moral, como se estivesse lá para encorajar o santo.

Poussin - 'O Martírio de Santo Erasmo' (1629)

A obra abaixo, 'O Massacre dos Inocentes', mostra um soldado romano prestes a assassinar uma criança a mando do rei Herodes. Trata-se de uma cena teatral de grande sofrimento, com altíssima carga dramática.

Poussin - 'O Massacre dos Inocentes' (c. 1625-1629)
Condé Musée, Chantilly, França.

A próxima pintura, 'A Morte de Germanicus', foi encomendada por Barberini. Germanicus foi um general da antiga Roma, aliado do imperador Claudio, que venceu os bárbaros alemães. Quando seria nomeado sucessor de Claudio, foi envenenado por Nero, que tomou seu lugar. Do lado direto da tela, vemos a esposa e os filhos do herói agonizante.

Poussin - 'A Morte de Germanicus' (1627)

Perto da morte, Poussin pintou muitas paisagens alegóricas. Em 'Orfeu e Eurídice', vemos o momento em que, de acordo com a mitologia, uma cobra pica Eurídice quando ela está prestes a se casar com Orfeu. Eurídice morre e vai para o Hades. O apaixonado Orfeu, contudo, consegue permissão da deusa do Hades para buscar sua amada, mas com uma condição: não poderia olhar para trás sob hipótese alguma. Orfeu não resiste, dá uma olhadinha em Eurídice, e o pior acontece: Eurídice desaparece e Orfeu ainda é atacado e estraçalhado por um grupo de jovens que passam por ali em uma bacanal. A fumaça no famoso castelo romano de Sant'Angelo, ao fundo do quadro, é um sinal de mau presságio.

Poussin - 'Orfeu e Eurídice' (c. 1650-1653) - Museu do Louvre, Paris

A próxima pintura, 'Dança das Horas', é uma alegoria sobre a impermanência do ser. As quatro figuras que dançam de mãos dadas representam as 4 estações do ano. À esquerda, vemos uma herma em que a cabeça de um jovem está de costas para a cabeça de um velho. O bebê com as bolas de sabão, abaixo, simboliza a fragilidade do tempo. 

Poussin - 'A Dança das Horas' (1634-1636) - Wallace Collection - Londres

Se você também fica fascinado(a) com a simbologia existente por trás das pinturas, o próximo curso do prof. Renato Brolezzi será dia 14 de setembro, das 11h às 13h, no Grande Auditório do MASP. Vale a pena assistir!

domingo, 11 de agosto de 2013

Minha manhã com os barões do café (parte 2).

Se você leu os posts anteriores, já sabe que esta matéria é continuação de outras que se referem a um gostoso passeio que fiz no bairro de Campos Elíseos com a equipe do site 'São Paulo Antiga', o tour 'São Paulo no tempo dos barões do café'. Era tanta informação interessante, que um só post não deu conta! Vamos, então, continuar nossa caminhada pela região.

O maior e mais suntuoso palacete do bairro era, sem dúvida, a Residência Pacheco Chaves, conhecido como Palácio dos Campos Elíseos. A magnífica construção tem a frente para a Av. Rio Branco e os fundos para a Rua Guaianazes. Projetado pelo alemão Mateus Häussle e finalizado pelo Escritório Ramos de Azevedo, o palacete foi construído entre 1896 e 1899 para o mais rico dos barões do café, Elias Antônio Pacheco Chaves, que se mudou para lá em 1899 após residir na Rua São Bento. No entanto, o cafeicultor viveu pouco tempo em seu rico palacete. Em 1912, o imóvel foi adquirido pelo Estado e a propriedade passou a abrigar a residência dos governadores.

A foto que tirei dos fundos do palacete, por entre as grades do portão, sob sol intenso... 
Foto: Simone Catto

Na Revolução de 24, o bairro ficou no meio do fogo cruzado e os barões do café fugiram dali de vez. Na ocasião, o palacete foi ocupado por rebeldes e também sofreu bombardeios. De 1935 a 1965 tornou-se também sede do governo do Estado e, depois da transferência do poder para o Palácio do Morumbi, o monstrengo arquitetônico onde está até hoje, o bairro passou a se deteriorar ainda mais. O Palácio já sofreu várias modificações internas e externas e seu gradil foi substituído por um muro de tijolo após o alargamento da Av. Rio Branco.

Detalhe do belo palácio em foto tirada da Av. Rio Branco - Foto: Simone Catto

Atualmente o Palácio dos Campos Elíseos está sendo restaurado pelo governador Geraldo Alckmin e consta que ele manifestou a intenção de despachar por lá pelo menos uma vez por semana, a fim de valorizar a região e atrair empresários.

À Av. Rio Branco, 1210 (esquina com a Al. Glete), está um casarão que achei encantador, em estilo francês e com um belo jardim, que atualmente pertence à UNESP – Universidade Estadual Paulista. Vale ressaltar que os barões do café apreciavam muito a arquitetura francesa, a qual tinham a oportunidade de admirar em suas viagens a Paris, e reproduziam-nas na construção de suas mansões. Tirei vários fotos a partir do gradil.

O belíssimo casarão que hoje pertence à UNESP, à Av. Rio Branco, 1210 - Foto: Simone Catto

Um outro ângulo da casa que me encantou... - Foto: Simone Catto

E aqui, dá para avistar um pouco do belo jardim da casa - Foto: Simone Catto

Um outro belíssimo casarão da região é aquele que abriga o Museu da Energia, à Al. Cleveland, 601. A mansão, construída em algum período entre 1894 e 1898, foi residência do irmão mais velho de Santos Dumont, Henrique Santos Dumont, e  acredita-se que o projeto seja de autoria do escritório Ramos de Azevedo. Sim, o 'Pai da Aviação' pertencia a uma abastada família cafeeira! 

Quando a elite paulistana abandonou os Campos Elíseos, o palacete da família Dumont passou por várias mãos. Abrigou o Colégio Stafford, um internato feminino (1926 a 1951), e foi sede da Sociedade Pestalozzi (1952 a 1983). Entre 1983 e 2001, o imóvel foi ocupado por moradores de rua, até que, em 2001, passou para o Estado e foi restaurado com o auxílio de várias empresas, até tornar-se o Museu da Energia em 2005.

O palacete que hoje abriga o Museu da Energia e que já pertenceu ao irmão de Santos Dumont. 
Foto: Simone Catto

A região dos Campos Elíseos é mesmo cheia de contrastes. Durante nosso passeio, passamos em frente a um mercadinho bem antigo situado à Al. Glete, 224. O proprietário, sr. Porfírio, ficou feliz com nossa visita, contando que está no local há mais de 54 anos, tem o maior orgulho de seu bairro e não pretende sair de lá! 

O simpático sr. Porfírio e seu mercadinho: há mais de meio século no bairro!
Foto: Simone Catto

Não dá para falar do bairro de Campos Elíseos sem mencionar duas instituições tradicionalíssimas na região: a Igreja e o Liceu Sagrado Coração de Jesus, que também têm uma longa história para contar.

Lindo gradil de uma construção pertencente ao Liceu Sagrado Coração de Jesus, comandado 
pelos padres salesianos. Foto: Simone Catto

Outro belo imóvel pertencente ao complexo dos padres salesianos - Foto: Simone Catto

A Igreja foi fundada em 1879 pelos padres salesianos que vieram da Europa. A construção do Liceu começou no início da década de 1880 e foi finalizada em 1900. Inicialmente voltado à educação das crianças pobres, o Liceu tornou-se uma escola particular em 1915, atraindo os filhos da aristocracia cafeeira. Foram os padres salesianos, mais liberais e com uma abordagem mais humanista da educação, que acabaram com a terrível prática de castigar as crianças com palmatória. Tanto o Liceu quanto a Igreja são belíssimos – dá gosto passear no átrio interno! A Igreja, no momento, não está aberta ao público por estar em processo de restauração.

Detalhe da fachada do Santuário Sagrado Coração de Jesus - Foto: Simone Catto
   
O portão da igreja tem de mais de uma marca de bala da Revolução de 24!- Foto: Simone Catto

Interior do Santuário Sagrado Coração de Jesus, atualmente em restauração.
Foto: Simone Catto

Ao lado de tantos imóveis preservados e restaurados, há outros, em contrapartida, que não tiveram a mesma sorte. Ao visitar o palacete abaixo, por exemplo, fiquei com dor no coração! Totalmente em ruínas, é conhecido como Casarão Princesa Isabel ou Palacete Barão do Rio Pardo. Localizado na esquina da Al. Ribeiro da Silva com a Al. Barão de Piracicaba, foi construído em 1883 e pertenceu ao Barão do Rio Pardo, tendo sido uma residência de altíssimo padrão. De 1908 a 1913 a casa foi alugada para um internato de rapazes, o Colégio Silvio Almeida.

Aqui o casarão ainda não havia sofrido o desmoronamento parcial, apesar de seu péssimo estado 
de conservação - Foto: www.saopauloantiga.com.br

Após décadas de abandono e descaso, o imóvel, que já foi tombado, está interditado pela Prefeitura desde 2005 devido aos riscos de desabamento. Parte dele já veio abaixo em 2010, provavelmente devido às chuvas intensas que caíram sobre a cidade no verão daquele ano. Segundo vizinhos, dois bustos femininos que enfeitavam as paredes externas da casa supostamente representariam a Princesa Isabel, daí um dos nomes pelos quais o palacete é conhecido. Infelizmente, esses bustos não estão mais lá para contar a história e hoje restam apenas os contornos do enfeite.

Nesta foto, provavelmente de 2010, infelizmente vemos que boa parte do casarão havia desabado e o local está interditado - Foto: www.saopauloantiga.com.br

Detalhe ornamental do casarão que, um dia, deve ter sido tão belo... que pena!!!
Foto: www.saopauloantiga.com.br

Parece-me que hoje o casarão está em disputa judicial porque, embora não haja sequer um documento que comprove quem seria seu proprietário, um senhor jura de pés juntos que ele pertence a sua família. Enquanto isso, resta-nos torcer para que o casarão não desabe de vez!



Uma equipe da TV Gazeta acompanhou nosso passeio, que foi tema de uma bela reportagem veiculada no Jornal da Gazeta. Clique aqui para assistir!