segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

'Álbum de Família'. Quando laços sangrentos substituem os laços de sangue.

O elenco, por si só, já é suficiente para atrair o público. Estão lá Meryl Streep, Julia Roberts e Sam Shepard, escorados por atores coadjuvantes igualmente talentosos. O enredo, um drama pesado, é muito bem conduzido, não nos poupando de surpresas aqui e ali. Sim, 'Álbum de Família', adaptado por Tracy Letts de sua peça homônima, é um ótimo filme. Só gostaria de saber por que ganhou cotação inferior, no Guia da Folha, à do filme 'Virginia', uma bomba pseudogótica assinada por Francis Ford Coppola que iludiu incautos como eu e que, felizmente, já saiu de cartaz. Confesso que às vezes não entendo a crítica de cinema da Folha!

Há quem diga que, em 'Álgum de Família', Meryl Streep "overact", isto é, carrega nas tintas dramáticas ao interpretar sua 'Violet Weston', uma matriarca perversa e venenosa que não perde uma oportunidade para humilhar e espezinhar suas três filhas e seus respectivos agregados, como maridos, netos e quem mais tenha a infelicidade de cruzar seu caminho.

O filme retrata, basicamente, uma família doente. A mãe megera, Violet, é uma velha viciada em remédios que sofre de câncer na boca (quiçá por obra e efeito da quantidade de veneno destilado por sua língua viperina!). O pai, Beverly (Sam Shepard), se refugia das loucuras da mulher na bebida. Até que ele some e as filhas reúnem-se todas na casa paterna, em uma cidade calorenta no meio do nada no poeirento estado de Oklahoma.

A família reunida, mas só na aparência.

Das filhas, a única ainda a morar na casa é Ivy (Julianne Nicholson), uma mulher doce de seus quarenta e tantos anos que leva uma vida sem-graça, totalmente subjugada aos desmandos maternos.

Ivy com a mãe e a tia Mattie Fae (Margo Martindale), outra víbora.

A filha mais forte, Barbara (Julia Roberts), é uma cinquentona amarga, de aparência judiada, com o casamento em crise e uma filha adolescente que assiste a tudo com uma inocência e indiferença preocupantes.

Violet e Barbara com o marido desta última, interpretado por Ewan McGregor.

A terceira filha, Karen (Juliet Lewis), é uma mulher de baixo QI, tão fútil quanto desmiolada, que só pensa em se casar com o noivo milionário, um tipo tão fútil e desmiolado quanto ela, com o agravante de ser um picareta de marca maior. A única que parece preservar um pouco de sanidade na história é a empregada recém-contratada, uma índia cheyenne chamada Johnna. Gentil e silenciosa, nem ela escapa das grosserias de Violet.

As três infelizes irmãs.

Chegou um momento em que a filha Barbara (Julia Roberts) não aguenta: parte para cima da megera!

Quando essas vidas, por força das circunstâncias, acabam forçosamente se entrelaçando naquela casa, uma verdadeira Caixa de Pandora é aberta, liberando ressentimentos, relacionamentos clandestinos, traições cabeludas, traumas e segredos tão espinhosos que o divã do psicanalista teria que ser trocado por uns cinco beliches.

Os atores são todos ótimos, sem exceção, e o filme é um drama de primeira. 'ÁLBUM DE FAMÍLIA' está em cartaz no Playarte Bristol, Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca, Reserva Cultural e Pátio Higienópolis Cinemark, entre outras salas. Super recomendo!

Ficha técnica parcial

Direção: John Wells

Elenco: Meryl Streep (Violet Weston), Julia Roberts (Barbara), Julianne Nicholson (Ivy), Juliet Lewis (Karen), Sam Shepard (Beverly), Margo Martindale (Mattie Fae, irmã de Violet), Chris Cooper (Charles, marido de Mattie), Benedict Cumberbatch (Little Charles, filho de Charles) Abigail Breslin (filha de Barbara), Ewan McGregor (marido de Barbara), Misty Upham (Johnna) e outros.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Henri Matisse. Explosão de cor, alegria e amor pela criação.

O francês Henri Matisse (1869-1954) bem que tentou cursar Direito na Sorbonne. Depois de dois anos de estudos, no entanto, teve uma crise de apendicite que quase o matou e, durante a convalescença, decidiu fazer o que mais gostava: ser pintor. Está aí um clássico e feliz exemplo daquilo que o senso comum denomina "males que vêm para bem". Por esta razão, Matisse começou a pintar tarde, aos 21 anos, mas logo teve aulas com o simbolista Gustave Moreau.

Em mais uma excelente aula com o prof. Renato Brolezzi, no MASP, tive a oportunidade de conhecer um pouco mais da vida e obra desse que é um dos mais exuberantes artistas pós-impressionistas. Como sempre, o prof. Brolezzi analisou uma obra do acervo do museu e, desta vez, o destaque foi 'O Torso de Gesso' (1919), pintado quando Matisse tinha 50 anos.

'O Torso de Gesso' (1919), obra de Matisse que está no Masp.


Vemos um vaso de flores com uma harmonia cromática tão viva e intensa, que quase podemos sentir o aroma das flores, além de visualizarmos suas belas formas. Ao lado, vemos o torso de gesso de uma mulher, como se Matisse quisesse contrapor a criação da natureza (as flores) à criação do homem (o torso de gesso). Temos, então, um embate Natureza X Cultura. A propósito, o mestre trabalhava com poucos modelos e só pintava modelos femininos. Na parede, uma pintura de nu estabelece um diálogo poético com a escultura sobre a mesa.

Note que Matisse utiliza as três cores primárias e suas derivações, padrão que se repete em outras pinturas. Para ele, as cores não existiam para "descrever" as coisas, elas bastavam-se a si mesmas.

Além disso, o artista contrapõe linhas horizontais, verticais e curvas, em outro padrão comum às demais obras. A tensão espacial, claramente perceptível pela deformação da perspectiva inverossímil, insulta o senso comum e, novamente, é um recurso largamente utilizado pelo artista que mensurava a importância de uma obra, entre outros fatores, pela quantidade e qualidade das tensões que continha.

Podemos, portanto, estabelecer 4 características recorrentes na obra do mestre:

-Ampla utilização de cores primárias
-Clara contraposição de linhas horizontais, verticais e curvas
-Desprezo pela perspectiva
-Presença de tensões

Além disso, não é raro encontrarmos, em outras obras, vasos de flores e esculturas. Sobre essa repetição de padrões, o prof. Renato Brolezzi observou que é é como se Matisse dissesse a mesma coisa, mas de formas diferentes.

Na época em que 'O Torso de Gesso' foi criado, a I Guerra Mundial havia acabado de chegar ao fim, mas Matisse se recusava a pintar as vilezas humanas, negando aquilo que para ele constituíam as "ninharias" de seu tempo. Por isso, ao contrário de vários de seus contemporâneos, recusou-se a pintar o sofrimento, as guerras e tragédias, buscando temas mais "elevados", mais transcendentais. Por essa mesma razão, Matisse raramente representou temas cotidianos. Tinha o espírito clássico, não no sentido da forma, mas na busca da harmonia.

Um dos primeiros quadros do jovem Matisse, 'Luxe, calme et volupté' (1904), cujo título tomou emprestado do poema 'Flores do Mal', de seu ídolo Charles Baudelaire, foi pintado com a técnica pontilhista em St. Tropez, quando lá esteve com André Dérain (1880-1954) em busca das cores quentes do 'Midi' e encontrou Georges Seurat (1859-1891), inventor do pontilhismo, e Paul Signac (1863-1935). Sabe-se que Matisse inclusive chegou a ter aulas com Seurat.

A pintura celebra a preguiça, o ócio e o prazer da vida, valores que parecem estranhos em nosso tempo, mas que os felizes franceses do final do século XIX e início do séc. XX ainda se permitiam. Afinal, é fato que os momentos de ócio e prazer com os amigos permitem que nosso pensamento voe, estimulando a imaginação e a criatividade.

Matisse - 'Luxe, calme et volupé' (1904)


Essa obra foi exposta em 1905, na exposição que deu origem ao termo "fauvistas", utilizado na ocasião porque, segundo um crítico, esses artistas  pintavam como "feras" ("fauves") – esse crítico chegou a afirmar, maldosamente, que é como se eles tivessem "amarrado um pincel com tinta no rabo de um leão e o soltado sobre as telas". No entanto, Matisse não procurava a violência. Buscava somente a harmonia dos contrários e detestou o epíteto "fauve", afirmando que "ninguém tinha entendido nada de sua arte”. Além de Matisse, artistas como Dérain e Vlaminck também expuseram na primeira exposição fauvista.

Matisse - 'Retrato de André Dérain' (1905)


Na tela abaixo, Matisse retrata o grande amor de sua vida, sua esposa Amélie Parayre. A imagem lembra um ícone bizantino, de certa forma herança de Cézanne. O  vermelho, o amarelo, o azul e o verde estão sempre presentes.

Matisse - 'Retrato da Sra. Matisse' (1905)


Matisse - 'A Alegria de Viver' (1905-1906)


Matisse - 'Vista de Collioure' (1906)


Matisse -  'O Jovem Marinheiro' (1906)


A contraposição de linhas horizontais, verticais e curvas, bem como a perspectiva transgressora, estão bem evidentes na pintura abaixo, uma obra repleta de energia.

Matisse - 'A Sobremesa - Harmonia em Vermelho' (1908)


As duas telas a seguir, 'A Dança' (1909) e 'A Música' (1910), representam mais uma demonstração da celebração da vida tão típica do mestre, sendo que 'A Dança' é uma das obras mais famosas de Matisse. Os homens foram caracterizados com linhas retas, e as mulheres com linhas curvas. Certa vez, essa obras foram adquiridas pelo milionário e colecionador russo Sergei Choukin para decorar seu palácio em Moscou. Choukin tinha 32 telas de Matisse e quinze de Picasso à época, mas, após a Revolução Russa, a coleção ficou em poder do Museu de S. Petersburgo, onde está até hoje.

Matisse - 'A Dança' (1909)


Matisse - 'A Música' (1910)


A obra a seguir, 'O Estúdio Vermelho' (1911), mostra o estúdio de trabalho do artista. O impressionante é que a cor foi esculpida com o cabo do pincel. E novamente, os elementos que caracterizam a obra do artista se repetem.

Matisse - 'O Estúdio Vermelho' (1911)


Em 1911, houve uma grande exposição islâmica em Berlim, Paris e Nova York, e Matisse ficou encantado com os tapetes orientais. Como àquela época já possuía bons recursos financeiros, pôde comprar vários para pendurar e pintar. Entre 1911 e 1912, viajou para o Marrocos e a Argélia para ver com os próprios olhos de onde vinham aquelas maravilhas. A partir dessa época, algumas de suas obras não apenas exibem padronagens de tapetes orientais, mas também outras temáticas do Oriente Médio, como as odaliscas que retratou sobretudo na década de 20.

Matisse - 'Odalisca' (1922)


Matisse - 'A Odalisca Adormecida' (1923)


Na obra abaixo, 'O Jogo de Xadrez’ (1913), vemos uma rara cena de cotidiano na obra de Matisse: trata-se de sua esposa, seus filhos Jean e Pierre e sua mãe Ana de luto pela perda do esposo. E no chão, está um dos belíssimos tapetes orientais que adquiriu.

Matisse - 'O Jogo de Xadrez' (1913)


Matisse - 'Interior com uma cortina egípcia' (1948)


Matisse - 'A Conversação' (1938)


Criador incansável, Matisse também se aventurou no terreno da escultura. Moldava suas peças primeiro em terracota e depois as fundia em bronze. Para ele, o que importava era a harmonia, e não a precisão dos detalhes. A propósito, suas figuras humanas sempre têm um contraposto, isto é, uma das pernas levemente dobrada para dar sustentação à outra.

Uma das esculturas de Matisse


Nos anos 40, Matisse infelizmente passou a sofrer de câncer no duodeno e mudou-se para Nice. O artista sentia dores terríveis e fez várias cirurgias, mas trabalhou até a última semana de vida. Embora nessa época difícil ficasse na cama a maior parte do tempo, Matisse tinha uma energia criadora fenomenal e, incansável, achou uma maneira de dar vazão a ela: da própria cama começou a fazer os 'papiers colés' (colagens de papel) e também muitos desenhos, com a ajuda de um longo bastão com carvão na ponta. Os fotógrafos Henri Cartier-Bresson e Man Ray, seus grandes amigos, registraram alguns desses momentos.

Matisse - 'A Queda de Ícaro' - papier colé - segundo a lenda, Ícaro ganhou asas de 

cera e havia sido advertido para não voar perto do sol, porque elas poderiam 

derreter e ele cairia. Atraído pela luz, Ícaro desobedeceu e caiu para sempre 

no abismo. Sua paixão foi sua perdição.


Matisse já doente, no Hôtel Regina, em Nice, em 1952 - Foto de autoria desconhecida.


Nessa mesma década de 50, Matisse recebeu um pedido muito especial: uma ex-modelo sua que havia virado feira procurou-o e lhe pediu para fazer o projeto da Capela do Rosário, uma capela Dominicana em St. Paul de Vence, perto de Nice, bem como o design dos móveis, a decoração e os vitrais. Matisse lançou-se com alegria renovada a essa atividade, entre 1949 e 1953, e criou a capela inteira sem cobrar quase nada. Dá para perceber agora de onde veio a inspiração de Oscar Niemeyer para criar a Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte? Pois é.

Capela do Rosário - St. Paul de Vence, totalmente decorada por Henri Matisse.


Outro ângulo da capela com belíssimos vitrais do mestre.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Restaurante 'Brasil a gosto'. Puro deleite do início ao fim.

Sabe aqueles dias em que surge um convite totalmente inesperado e absolutamente feliz? Tive essa experiência no sábado passado, quando amigos me proporcionaram uma experiência gastronômico-sensorial simplesmente deliciosa. Eu já havia estado no 'Brasil a gosto', o restaurante da chef Ana Luiza Trajano localizado numa ruela tranquila dos Jardins (sim, isso ainda existe!), mas, ao retornar em tão boa companhia para jantar, minha impressão foi ainda melhor. 

Confesso que, depois da overdose gastronômica das festas e das férias de fim de ano, eu nem estava pensando em jantar fora naquele sábado, porque havia tomado um lanche tarde e não estava com muita fome. O convite gentil de meus amigos queridos, porém, aliado à inusitada atmosfera de paz que pairava sobre uma São Paulo deserta na primeira semana de janeiro, foram estímulos mais do que suficientes para que eu mudasse de ideia rapidinho.

No agradável terraço à entrada, pode-se aguardar uma mesa ou então petiscar ali mesmo! - Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

Quando cheguei, meus amigos eram os únicos a aguardar uma mesa no andar de baixo, que estava vazio. Certamente, em dias normais, a espera seria muito maior. Logo fomos chamados para o andar superior, onde o ambiente é mais aconchegante.

O acolhedor salão do andar superior - Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

Uma jovem que nos atendeu impecavelmente logo trouxe os cardápios. Como fazia um calor de quase 30 graus naquela noite, solicitei a carta de vinhos, fortemente determinada a degustar um bom branco. Meus amigos, que estavam mais "comportados" na ocasião, preferiram sucos e refrigerantes, mas a casa previdentemente oferece vinhos em taça, não frustrando clientes como eu. Pedi então uma taça do Antichello Pinot Grigio IGT, safra 2011, do produtor Santa Sofia, da região do Veneto (R$ 21). O vinho é delicado, extremamente leve, mas não espere um sabor de grande personalidade. De qualquer maneira, casa bem com antepastos, peixes e entradas.


Por recomendação de meus amigos, que já haviam experimentado e gostado, pedi a minimalista seleção de petiscos para acompanhar meu vinho. A seleção inclui pequenas iguarias brasileiras como casquinha de camarão, casquinha de siri, queijo coalho, bolinho de arroz e  pastel de queijo da Serra da Canastra, acompanhados de molhinhos de pimenta e vinagrete (R$ 24). Um primor de sabor e delicadeza!

A delicada seleção de petiscos: verdadeiro mimo gastronômico! - Foto: Simone Catto

Os pratos solicitados por meus amigos, à base de peixe e carne, também superaram as expectativas. É curioso como a culinária brasileira, normalmente considerada "pesada" e pouco sofisticada – embora saborosa -, torna-se delicada na cozinha do 'Brasil a gosto', mesmo quando leva ingredientes picantes. Não é para menos. Ana Luiza viajou o Brasil inteiro para pesquisar a culinária regional e nos brinda com pratos deliciosos criados de forma artesanal e muitas vezes elaborados com ingredientes inusitados. É o caso do minipudim de bacuri com calda de limão-cravo com puxuri (uma planta medicinal da região amazônica), que a chef gentilmente nos ofereceu como cortesia, dando mais uma mostra da atenção e carinho com que a casa trata os clientes.

Minipudim de bacuri com calda de limão-cravo com puxuri: sabor inusitado sem ser excessivamente doce.
Foto: Simone Catto

mesa ao lado estava repleta de estrangeiros, e não é para menos. O 'Brasil a gosto' é um excelente cartão de visitas para apresentar o que existe de melhor na culinária nacional. E para coroar noite tão agradável com sabores brasileiros em companhia cosmopolita... o charmoso e saboroso café de coador, coado e servido na nossa frente.

O café de coador: puro charme e sabor! - Foto: Simone Catto

É por tudo isso que o restaurante 'BRASIL A GOSTO' é simplesmente obrigatório para todo mundo que não só aprecia boa cozinha, mas deseja descobrir novos - e deliciosos! - sabores da nossa gastronomia. Vá lá COR-REN-DO! Rua Professor Azevedo Amaral, 70 – Jardins. Tel.: 3086-3565 – www.brasilagosto.com.br.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

'Jovem e Bela'. Um retrato cínico e niilista da indiferença e frieza juvenis.

O que faria com que uma adolescente parisiense bonita, bem-nascida, bem de vida, com pais amorosos e um irmãozinho fofo passasse a se prostituir? Essa é a pergunta que não quer calar no filme 'Jovem e Bela', de François Ozon. A adolescente em questão, Isabelle (Marine Vatch), tem 17 anos e, aparentemente, não lhe falta nada que uma garota de sua idade poderia desejar – incluindo uma deliciosa casa na praia onde passa as férias com a família carinhosa e de boa condição social. O filme, aliás, começa mostrando as férias da menina, que toma sol tranquilamente na praia ao lado do irmão menor. É lá que Isabelle desperta para o sexo, perde a virgindade com um namoradinho alemão e detesta a experiência. Então as férias acabam, a família volta a Paris e Isabelle começa a anunciar seus serviços sexuais na Internet, sem mostrar o rosto.

Isabelle (Marine Vatch) e seu irmão Victor (Fantin Ravat).

Aqui, a garota com a mãe atenciosa e carinhosa, Sylvie (Géraldine Palhias).

A menina e Felix, o namoradinho alemão com quem perdeu a virgindade nas férias (Lucas Prisor).

Os clientes aparecem, na grande maioria homens de meia-idade, idosos e com uma condição econômica suficientemente boa para poderem arcar com os trezentos euros que a garota cobra pelos programas. Assim Isabelle vai acumulando dinheiro e uma vida dupla, até que ocorre um incidente com um cliente assíduo e ela acaba desmascarada pela família. Aí advém o drama, o inconformismo - justificado - da família e a promessa de que ela não mais voltaria a se prostituir. No entanto, assim que as coisas parecem voltar ao normal, já que ninguém na escola da menina havia ficado sabendo do ocorrido, Isabelle começa a se entediar novamente e tudo dá a entender que ela não tardaria a retomar sua antiga atividade.

Isabelle e seu cliente mais assíduo, um homem com idade para ser seu avô.

Nesta cena, Isabelle é humilhada por um cliente que sequer lhe permite tomar banho ao final do programa e se recusa a pagar o valor combinado.

O que choca, nisso tudo, é o cinismo e a frieza de uma garota europeia, tão jovem e tão bem tratada, em relação à vida e ao sexo. Não se vislumbra, em seu rosto, nenhum traço de emoção – nem de prazer carnal ou de alegria, nem de nojo ou de tristeza. É como se ela fosse uma autômata, um ser absolutamente desprovido de alma e incapaz de esboçar emoções de qualquer espécie. Choca o contraste entre as “duas vidas” de Isabelle. De manhã, ela frequenta a escola. Os jovens de sua classe discutem poemas de Rimbaud na aula de literatura e a melhor amiga pensa que ela ainda é virgem. À tarde, a menina encontra os homens em hotéis em troca de dinheiro. Sai de casa com suas roupas de adolescente, se troca em banheiros públicos e chega aos hotéis com “vinte anos” (ela mente a idade para os clientes), vestida com um tailleur de executiva, uma blusa social roubada da mãe e equilibrando-se em saltos altos. É triste. É cínico. E, sobretudo, assustador, ao imaginarmos que essa indiferença pela vida, pelo sexo e pelas pessoas ao redor se manifeste em tantos outros jovens, de diferentes países, que fazem coisas ainda piores do que se prostituir. É um filme que perturba e dá o que pensar. Se você tiver a oportunidade de assistir, não perca!

Atualmente, ‘JOVEM E BELA’ está passando apenas na sala 5 do Espaço Itaú de Cinema – Augusta, às quartas e quintas, às 14h20.

 

Ficha técnica parcial

 

Direção: François Ozon

Elenco: Marine Vacth (Isabelle), Géraldine Pailhas (Sylvie, sua mãe), Frédéric Pierrot (seu padrasto), Fantin Ravat (Victor, o irmão), Lucas Prisor (Felix, o namoradinho alemão), Charlotte Rampling (esposa de um cliente) e outros.

Duração: 95 minutos

sábado, 4 de janeiro de 2014

Zino Adega e Restaurante. Sabor e frescor em um charmoso sobrado de outras décadas.

Em uma noite de dezembro, já com o calor escaldante que tem feito em Sampa, eu estava louca para tomar um vinho branco bem refrescante acompanhado de uma comidinha gostosa. Companhia para desfrutar esse prazer eu já tinha, e das melhores. Aí fomos jantar no Zino, um restaurante italiano extremamente acolhedor com uma carta de vinhos que sempre oferece cerca de trinta e cinco rótulos entre os mais de cem disponíveis na casa.

Foio: Simone Catto

Os destaques do dia - foto: Simone Catto

Instalado em um charmoso sobradinho na Rua Joaquim Távora, o Zino tem uma ambientação rústica e agradável, com salões pequeninos e confortáveis. Vê-se claramente que algum dia ali foi uma residência particular, e é muito bom constatar que os proprietários tiveram o bom gosto de preservar a arquitetura antiga da casa.

O sobrado é uma graça! - foto: www.republicagourmet.com.br

E no interior, a atmosfera é calorosa e agradável - foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

O charme da decoração está nos detalhes, como uma parede totalmente revestida de madeira simulando caixotes antigos.

Foto: Simone Catto

Um atencioso funcionário me conduziu pelo local e, no gostoso salão dos fundos, onde antes devia ser um pequeno quintal, um grande pé de carambola reina soberano sobre as mesas. Quem preferir, ainda tem a opção de se acomodar em uma das mesas do terraço da frente.

Esses graciosos azulejos com jeito de casa de vó formam uma trilha no corredor que conduz
ao salão  dos fundos - foto: Simone Catto

O espaço dos fundos, ideal para grupos maiores - foto: Simone Catto

As mesinhas do terraço são ótimas para as noites de verão - foto: Simone Catto

Um dos diferenciais do Zino é que alguns vinhos também estão disponíveis em taças de 100 ml ou 200 ml e jarras de 500 ml. Trata-se de uma iniciativa muito simpática, já que as taças pequenas são perfeitas, por exemplo, para quem deseja degustar mais de um rótulo.

Optamos por uma jarra do espanhol 'Nuestra Señora del Portal Blanco', de Terra Alta, Catalunha. Como a pluviosidade da região é muito baixa e o sol brilha boa parte do ano, as uvas conseguem amadurecer adequadamente e gerar bons vinhos. Este é jovem, frutado, e seu bouquet lembra um pouco o pêssego. Eis um rótulo que eu repetiria! Detalhe importante: o garçom abre o vinho e o despeja no decanter na frente do cliente.

O rótulo do vinho, todo branco, faz jus ao nome! A jarra de 500 ml custa razoáveis
R$ 55,00 - foto: Simone Catto

E como a ideia era jantar, pedi um risoto de pera com gorgonzola que caiu muito bem naquela noite quente. O contraste da pera, que é leve, com o gorgonzola, que é um queijo forte, criou uma saborosa harmonia que combinou muito bem com o vinho branco espanhol. O outro pedido da mesa, risoto de presunto cru com Prima Donna, também agradou.

Risoto de pera com gorgonzola (R$ 40) - foto: Simone Catto

Como a conversa estava boa e o vinho idem, ao final da refeição resolvemos experimentar uma das sobremesas do cardápio. Não havia muitas opções, mas todas pareciam muito tentadoras. Nossa escolha recaiu sobre a crostata rústica de figo e acertamos em cheio, pois estava sensacional! E para finalizar uma noite perfeita... um cafezinho. Viva l'Italia!

A foto não saiu boa, mas a crostata rústica de figo é uma das sobremesas mais deliciosas que já experimentei! - Foto: Simone Catto

Em tempo: todos os doces do cardápio custavam R$ 14,00 no dia de minha visita.

O ZINO ADEGA E RESTAURANTE fica à Rua Joaquim Távora, 1317. Tel.: 5082-4308 - www.zinoadegaerestaurante.com.br. Se você gosta de comer bem degustando bons vinhos em um ambiente charmoso, vale a pena conferir!