segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

La Tartine. Bistrô fiel ao sabor e ao charme vintage.

Fazia tempo que eu não ia ao 'La Tartine'. E ao voltar, noite dessas, me senti como se estivesse retornando à minha própria casa. Frequentei esse bistrozinho francês por muito tempo - faz cerca de dez anos que estive lá pela primeira vez, e é uma alegria constatar que pelo menos um dos garçons é remanescente daqueles tempos em que o novo milênio acabava de nascer.

A graciosa fachada - não lembra casa da vovó?

Quem vai ao 'La Tartine' nunca se decepciona. É sempre bem atendido e sabe o que vai encontrar: um cardápio com poucos itens, porém todos saborosos e preparados com esmero, preços honestíssimos e um ambiente descolado e gracioso. A própria casa onde está instalado o bistrô já é um charme. Construção antiga, com jeitão de casa da vovó, com várias salinhas aconchegantes e alguns elementos decorativos, como janelas e pisos, que devem remontar ao tempo em que o local era uma acolhedora residência familiar. (Toda vez que vou a um lugar desses, fico me perguntando quem será que morou lá antes...) As paredes são cobertas de pôsteres vintage, capas de vinis e fotos antigas de artistas franceses. Uma graça.

Já houve noites em que saboreei meu jantar no La Tartine ouvindo músicas francesas ao som do accordéon... très joli!

O ambiente é alegre e aconchegante - desta vez, fiquei naquela mesinha de canto, onde tem o sofá perto da janela. 
Foto: Thiago Lasco

Ao abrir o cardápio, lá estava ele: o 'Paté Raul', velho 'conhecido' meu, tão saboroso quanto familiar. Esta foi nossa primeira opção. Feito de fígado, acompanha tomate picadinho, picles de pepino e uma cestinha de baguetes cortadas em fatias. Depois, pedimos a deliciosa 'Salade Gourmande', que leva folhas verdes, damascos e queijo Brie, e um 'Crôque Monsieur', o tradicional misto quente francês com queijo gratinado. E para acompanhar as comidinhas leves, como a noite estava quente, eu não poderia deixar de pedir... a taça de chenet blanc, bien sûr!!

Mais um cantinho gracioso do lugar - repare no charme da janela
e dos azulejos vintage!

Com boa comida, aconchego e bom atendimento, o La Tartine muitas vezes tem fila na porta. Por isso, a dica é chegar por volta das 21h para pegar lugar. Se bem que, cá entre nós, pegar fila por ali não é sinônimo de aborrecimento, já que o público que frequenta o bistrô é o mesmo que vai ao 'Mestiço', ali ao lado: gente interessante e descolada. O endereço do ‘La Tartine’ é rua Fernando de Albuquerque, 267 – Consolação. Tels.: 3259-2090 e 3129-9591. (A casa não tem site.) Abre das 19h30 às 0h30 e fecha aos domingos.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

'O Artista'. A alegria dos 'anos loucos' resgatada na telona.

Fofo. Um pouco ingênuo. Mas absolutamente encantador. Essa é a impressão que tive de O Artista, um filme totalmente inusitado por várias razões. Primeiro, porque é em preto e branco. Segundo, porque é mudo. Terceiro, porque resgata todo o esplendor
do cinema dos loucos anos 20, que emocionava, divertia e encantava multidões pelos cenários, enredos e expressividade dos atores. E como se não bastasse, tem mais essa: o filme é francês! Sim, O Artista tem todas as características e a qualidade do melhor cinema made in Hollywood, mas, curiosamente, é uma produção franco-belga.

Dirigido por Michel Hazanavicius, o filme faz uma belíssima homenagem aos tempos áureos do cinema mudo, quando os galãs ainda faziam esforço para conquistar as mocinhas e estas ainda possuíam amor-próprio para avaliar se o galã valia a pena.

O par romântico 'George Valentin' (Jean Dujardin) e 'Peppy Miller' (Bérénice Bejo)

O Artista conta a história de 'George Valentin' (personagem de Jean Dujardin), um astro que não aceita a transição para o cinema falado, resiste a adaptar-se aos novos tempos e ainda atrai as atenções de 'Peppy Miller', uma jovem atriz em ascensão (Bérénice Bejo).

Em tempos de 'Big Brother', 'Mulheres Ricas' e tanta mediocridade que se propaga por aí, é sempre um alento assistir a um filme que resgata os sentimentos simples e o romantismo com ótimos atores, uma trilha sonora empolgante, belíssima fotografia
e uma primorosa reconstituição de época.

O galã, ainda nos tempos de glória.

Merecidamente, O Artista venceu três categorias do Globo de Ouro 2012: Melhor Filme Comédia/Musical, Melhor Ator Comédia/Musical (para Jean Dujardin) e Melhor Trilha Sonora. E agora, está concorrendo ao Oscar 2012 com dez justificadas indicações: melhor filme, ator (Jean Dujardin), atriz coadjuvante (Bérénice Bejo), roteiro original, trilha sonora original, direção de arte, fotografia, figurino, diretor e edição. 

'Peppy Miller', a atriz ascendente

O galã que se recusa a aceitar que o cinema passou a 'falar'.

Está tudo lá: o galã típico dos anos 20, com seu bigodinho fino, caras e bocas e charme viril; a mocinha com figurino de ‘Charleston’, esguia, graciosa, ótima dançarina e sapateadora; o diretor de cinema bonachão; o mordomo idoso e leal e até o cãozinho
'Uggie', um adorável Jack Russell Terrier que rouba muitas cenas e inclusive foi premiado com a 'Coleira de Ouro', o Oscar dos astros caninos.

O cãozinho 'Uggie': quem resiste???

Com estes ingredientes, a receita só poderia, mesmo, dar certo. Numa era em que
a cansativa moda 3D ganha terreno e a profusão de efeitos especiais mirabolantes
nas telonas é inversamente proporcional à inteligência do conteúdo, O Artista
é o tipo de filme que nos faz pensar que nem tudo está perdido. Só me resta desejar, sinceramente, que a iniciativa inspire outras cabeças pensantes e talentos do mundo cinematográfico a criar outras produções geniais como essa.

Assista correndo! 'O Artista' está em cartaz no Cine Livraria Cultura 2, no Espaço Unibanco Augusta 3, no Frei Caneca Unibanco Arteplex 6, no Pátio Higienópolis Cinemark 1 e no Reserva Cultural 3, entre outras salas.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Bistrô Paris 6. Para notívagos, amantes, gourmets, descolados ou tudo isso junto.

Devo dizer que sou suspeita ao falar de restaurantes e bares que abrem 24 horas, porque eles me atraem de forma especial. Para mim, é como se possuíssem uma aura diferente, uma atmosfera ao mesmo tempo de boemia e aconchego que acolhe a todos, indiscriminadamente. É assim que me sinto quando vou ao Paris 6, bistrô da Haddock Lobo que funciona 24 horas. Já ouvi de tudo sobre o lugar: já falaram bem, já falaram mal (sobretudo do atendimento), mas eu, particularmente, nunca tive problemas por lá.

Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

Depois de um bom tempo sem aparecer, estive no Paris 6 noite dessas para jantar com uma amiga. Não havia a costumeira fila de espera, mas a casa estava cheia mesmo assim. Quando chegamos, lá pelas 21h, havia apenas duas mesinhas disponíveis para duas pessoas. Tanto eu quanto minha amiga tínhamos mais fome de 'papo' do que de 'comida' (rs), de modo que pedimos pratos leves. Aliás, todos os pratos da casa foram batizados com nomes de artistas e personalidades. Optei pelo 'Crêpe Paris 6 de Brie et Abricot à Wanessa Camargo', que acompanha batatas sautées. Minha amiga preferiu a 'Quiche à Rodrigo Santoro', de alho-poró, que acompanha uma salada.

Para beber, pedi um pichet (jarrinha) do vinho branco da casa. A propósito, a carta de vinhos é muito boa. O cardápio também é bem extenso, com pratos mais elaborados e outros mais rápidos, muitas opções de entradas e sobremesas para todos os gostos.

Foto: www.paris6.com.br/paris6.php

Mas o que impressiona, de imediato, é o ambiente. A começar pela iluminação. 
Há uma profusão de lanternas charmosas em estilo antigo, letreiros em néon e uma atmosfera cálida, alaranjada, com tons de vermelho que contribuem para criar o clima acolhedor dos ambientes à meia-luz, inclusive na parte externa. A parede está repleta de espelhos, quadros, pôsteres e o décor tem elementos de ferro ao estilo art nouveau, embora o logotipo da casa seja puro art déco. O lugar é bem convidativo. Dá vontade de ir ficando, ficando... e diga-se de passagem, é um cenário perfeito para um primeiro encontro ou para namorar!


A área externa: deliciosa nas noites de verão!
Foto: www.paris6.com.br/paris6.php

O atendimento precisa de ajustes? Sim, precisa. Ao solicitar detalhes de um prato ao garçom, por exemplo, minha amiga ouviu uma resposta um tanto vaga. Mas isso tem solução, e ela se resume a duas palavras: perfil e treinamento. É preciso contratar as pessoas certas e treiná-las. Simples assim.

Em tempo: o nome 'Paris 6' é uma homenagem ao 6º distrito de Paris, o 'Sixième
arrondissement', onde está Saint-Germain-des-Près. É uma das regiões mais antigas da cidade, conhecida pela boemia, pelos bares, cafés e livrarias frequentados pelos estudantes e intelectuais da Universidade Sorbonne.

Podem falar o que for do Paris 6. Mas que o lugar tem charme, tem. E por isso vale a pena. Endereço: Rua Haddock Lobo, 1240. Site: http://www.paris6.com.br/
À bientôt!!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Octavio Café. Qualidade, variedade e charme high-tech.

Tem gente que vai ao Octavio Café só para saborear um café de qualidade num ambiente gostoso. Tem gente que vai para jantar. E tem quem vá para um lanche rápido, para o café da manhã, ou simplesmente para tomar um drink ao final da tarde. O fato é que dá para fazer tudo isso por ali.

Foto: www.octaviocafe.com

Fui ao Octavio noite dessas para comer alguma coisa leve, bater papo e, é claro, arrematar a refeição com uma das tantas variedades de cafés oferecidas pela casa, todas produzidas pela Fazenda Nossa Senhora Aparecida, no distrito de Pedregulho, na região de Franca, Alta Mogiana – SP.

Tudo, das poltronas ao uniforme dos funcionários, remete ao grão de café, já que 
a ideia da casa é oferecer uma "experiência sensorial" do universo cafeeiro.

Foto: www.octaviocafe.com

O salão principal - Foto: Simone Catto

Com ambientes amplos, pé direito alto e uma arquitetura moderna, a cafeteria tem um salão principal para um cafezinho rápido, uma área com mesas, lounge, jardim interno, longe externo com lareira para os dias frios e uma área com mesas no deck. Foi no deck que sentei com meu grupo. 

Vista do agradável deck - Foto: Simone Catto

Outro ângulo do deck - Foto: Simone Catto

O cardápio do restaurante inclui alguns pratos à base de carnes e peixes, além de massas e comidinhas como sanduíches, tartines e quiches. Optei pela quiche do dia,
de alho-poró e queijo Brie, que acompanha uma salada.

O meu pedido: quiche de alho-poró com queijo Brie e saladinha - Foto: Simone Catto

Fritada de ovos e salada - Foto: Simone Catto

Filé no cacetinho (filezinho com queijo Palmira e tomate macerado  no cacetinho) - Foto: Simone Catto
Foto: Simone Catto

Para beber, a casa tem diversos coquetéis, caipirinhas, caipiroskas e sucos, mas já que a noite estava quente e 
agradável, preferi um vinho branco Alamos Chardonnay, da Argentina, super levinho e saboroso. Como fui a única na mesa a tomar o vinho, pedi a garrafinha de 187 ml, petititica e fofa...

De acordo com o site do Octavio, a região da Alta Mogiana apresenta uma relação de clima, fertilidade de solo e altitude ideais para a produção de um café de altíssima qualidade. O site menciona inclusive um estudo da USP que teria analisado oito atributos do café (aspecto, torração, aroma, corpo, acidez, bebida, doçura e conceito) e chegado à conclusão de que o município de Pedregulho alcança um equilíbrio único na produção do grão. Por isso, diz-se que da região da Alta Mogiana sai um dos melhores cafés do mundo.

A casa oferece várias versões do velho e bom 'Espresso', indo dos tradicionais
'Maccchiato' (com leite cremoso) e 'con Panna' (com chantilly) até o 'Espresso Gratinado' (com marshmallow), o 'Espresso Cocada', servido com uma generosa camada de cocada de coco queimado na borda da taça, e o Espresso Petit, que acompanha um prato de delicados petit fours. Este último foi minha opção ao final da refeição.

O 'Espresso Petit', servido com petit fours - Foto: Simone Catto

Uma amiga pediu o 'Espresso Cocada' e experimentei uma colherada da cocada que fica na borda... muito boa! 

O 'Espresso Cocada', uma delícia com sabor bem Brasil - Foto: Simone Catto 

Há também os clássicos 'Cappuccino', 'Mocha' e outros, além de drinks quentes e gelados à base de café, incluindo o tradicional 'Irish Coffee' e outras composições de sabores mais exóticos, como o 'Clementine Caffe' (espresso com licor de laranja, chocolate branco e um toque de gengibre e tangerina) e o 'Menta Café' (sorvete de menta com chocolate e café), entre outros.

No Octavio também é possível degustar alguns cafés preparados de maneira especial, como aquele preparado em cafeteira italiana, o 'Café Turco' e o 'Siphon Coffee'
(Globinho), que serve 3 xícaras.

Para quem gosta de doces, há também algumas opções de sobremesas. Havia uma
'formiga' entre nós e ela se esbaldou com o 'Potinho Gateau de Chocolate Belga com Sorvete de Creme'.

Potinho Gateau de Chocolate Belga com Sorvete de Creme - Foto: Simone Catto

Enfim... se você quiser jantar, tomar um lanche, fazer uma happy hour ou simplesmente saborear um café de excelente qualidade num ambiente charmoso
e high-tech, dê um pulo no Octavio Café: Av. Brigadeiro Faria Lima, 2.996.
Tel.: (11) 3074-0110 – site: www.octaviocafe.com

'Os Descendentes'. Com açúcar, dor e afeto.

Um advogado bonitão de meia idade emocionalmente distante da família. Uma esposa no hospital às portas da morte. Duas filhas jovens e problemáticas. Uma traição recém-descoberta. Um pedaço de terra de família que o advogado bonitão precisa – mas não quer – vender. O cenário? Havaí. Pronto. Está formada a base da trama do filme ‘Os Descendentes’, dirigido por Alexander Payne, estrelado por George Clooney (no papel do advogado Matt King), Shailene Woodley (Alexandra, sua filha de 17 anos) e Amara Miller (a filha de 10 anos).

Tudo começa quando Matt King recebe a notícia de que o coma de sua esposa, hospitalizada devido à queda de uma lancha, é irreversível e que os aparelhos terão de ser desligados. Arrasado, o advogado Matt vê-se na incumbência de se reaproximar das filhas jovens, um tanto desorientadas e ressentidas que, até então, pouco recebiam da atenção dos pais. Matt se vê, de repente, com a dolorosa tarefa de preparar as meninas para a morte iminente da mãe. De uma forma um tanto desajeitada, mas não desprovida de afeto, tenta fazer isso à sua maneira, até receber a notícia, dos lábios da filha mais velha, de que sua mulher o traía. Completamente devastado, Matt não descansa até descobrir quem era o amante da mulher, até chegar a um bem-sucedido corretor de imóveis da região. Nessa descoberta, conta com a solidariedade e a cumplicidade da filha mais velha que, no decorrer da trama, vai criando uma empatia crescente com relação ao drama do pai.


Ao mesmo tempo em que tudo isso acontece, Matt vê-se às voltas com a negociação do espólio da família, um dos últimos pedaços de terra ainda intocados na ilha e que vale algumas centenas de milhões de dólares. Rodeado por um verdadeiro exército de primos ávidos para abocanhar seu quinhão desse montante, Matt, como executor do espólio – e, portanto, decisor da venda, sente seu coração despedaçar com a possibilidade de se desfazer desse pedaço de paraíso à beira-mar que, mais do que um valor monetário, possui um valor afetivo inestimável. Dói-lhe saber que essas terras, herança de seus ancestrais – um reverendo branco e uma princesa nativa – podem se transformar em mais um resort para turistas.

'Matt' contempla, ao lado das filhas, o paraíso intocado do qual não quer se desfazer.

Não vou revelar o final do filme, é claro, mas posso contar que vale a pena assistir.
Não há como não sentir simpatia por aquele pobre homem que adquire uma consciência dolorosa de seus erros do passado, sobretudo sua negligência no trato com as filhas e com a esposa que está deixando este mundo. Uma das coisas que mais doem, para Matt, é o fato de que nunca mais poderá dizer a essa esposa aquilo que não disse, recuperar o tempo perdido e até mesmo descarregar, sobre ela, toda a sua mágoa e dor pela traição. Restam-lhe, no entanto, as filhas. E é com relação a estas que acompanhamos o olhar terno de Matt e suas tentativas de pai desajeitado de recobrar um pouco daquilo que, no passado, pode ter tido algumas centelhas do que chamava de 'felicidade'.

Concorrendo a vários Oscar, 'Os Descendentes' está passando em vários cinemas, entre os quais: Bristol 3, Frei Caneca Unibanco 7, Pátio Higienópolis 3 e Reserva Cultural 3 e 4.  Pode assistir que vale a pena!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Eliseu Visconti na Pinacoteca. Um banquete sensorial para se saborear aos poucos.

Em um domingo de janeiro fui à exposição "Eliseu Visconti - A modernidade antecipada", inaugurada em dezembro de 2011 na Pinacoteca do Estado. Posso dizer que o prazer foi triplo. Primeiro, porque eu estava em ótima companhia. Segundo, porque é sempre um deleite visitar a Pinacoteca – sem dúvida, um de nossos mais belos e arejados museus. E terceiro, porque tomar contato com uma amostra tão abrangente da obra de Eliseu Visconti (1866-Itália – 1944-Brasil), considerado o primeiro pintor impressionista brasileiro, é uma experiência sensorial deliciosa.

'Autorretrato' (1902) - Imagem: www.eliseuvisconti.com.br

A Pinacoteca em pleno sol... - Foto: Simone Catto

A produção artística do mestre foi tão genial quanto abundante. Com cerca de 230 obras que abarcam todos os temas e gêneros de pintura, a exposição é composta por paisagens, retratos, arte decorativa, painéis, design, cerâmicas, ou seja, todas as vertentes de seu eclético trabalho. Trata-se de uma oportunidade ímpar para conhecer de perto a obra de Visconti, já que grande parte dela encontra-se em poder de coleções particulares.
  
'Passseio no Campo' (1940) - Foto: Simone Catto
Incansável experimentador, Visconti veio da Itália para o Brasil ainda na infância,
foi estudar no Liceu de Artes e Ofícios em 1883 e adquiriu sólida formação artística, tendo conquistado várias medalhas e o respeito dos mestres.

'O Batismo da Boneca' (1938) - Imagem: www.eliseuvisconti.com.br

Após a proclamação da República, Visconti fez parte de um grupo de alunos de
arte denominados "modernos" que se rebelou contra algumas normas de ensino então vigentes, como o confinamento no interior dos ateliês. Assim como os impressionistas, esses artistas ansiavam pela liberdade de pintar ao ar livre para captarem a natureza em todo o seu frescor. Além disso, exigiam o retorno dos concursos que ofereciam como prêmio viagens de estudos à Europa.

Em 1892 é organizado o primeiro desses concursos na era republicana, e Visconti conquista o primeiro lugar. Assim, em fevereiro de 1893, parte para Paris, faz as provas de admissão para a École de Beaux-Arts e, dentre 321 candidatos, fica em sétimo lugar. Ao mesmo tempo, o artista estudou com Bouguereau e Ferrier na Academia Julian, um dos mais conhecidos ateliers de Paris.

'O Modelo' (1895) - Foto: Simone Catto 

Por alguma razão, no entanto, Visconti abandonou a Escola de Belas Artes em fevereiro de 1894 e inscreveu-se na Escola Guérin. Lá ficou de 1894 a 1898, seguindo o curso de desenho e arte decorativa de Eugene Grasset, um dos maiores mestres do Art Nouveau. Era a primeira vez que um bolsista brasileiro enveredava pelo caminho das artes decorativas, e Visconti recebeu grande influência desse estilo em suas ilustrações, tendo sido o introdutor do Art Nouveau nas artes gráficas do Brasil.

Assim, executou o design de vitrais, vasos, entalhes, litografia, tapeçaria, cerâmicas, vasos e outras peças de arte decorativa que o tornaram reconhecido até no exterior.

Moringa decorada com perfil e flores (1909) - Foto: Simone Catto

'Sonho Mìstico' (1897) - Foto: Simone Catto
Os trabalhos de design gráfico incluíram selos, cartazes diversos, como os que Visconti projetou para a Companhia Cervejaria Antárctica e o emblema do "ex-libris" para a Biblioteca Nacional, adotado ainda hoje nos livros da Biblioteca. Aliás, foi Visconti que, em 1934, iniciou o ensino de design no Brasil.

Entre 1894 e 1900, o artista expôs inúmeras obras em exposições anuais e "Salons" de Paris, entre as quais a belíssima pintura "Sonho Místico" (1897), que estava há um século longe das vistas do público.

Durante esse período de formação na França, apesar de experimentar com as novas linguagens pictóricas então em voga, como o Simbolismo, o Impressionismo e o Art Nouveau, Visconti não rompeu totalmente com a tradição acadêmica e nem com seus mestres brasileiros. Adquiriu um habilidoso manejo da cor e tratava os detalhes do fundo de suas pinturas com o mesmo esmero com que executava as figuras de primeiro plano. Foi nessa época que apareceram suas primeiras obras com toques impressionistas.

'A Convalescente' (1897) - Imagem: www.eliseuvisconti.com.br

Em junho de 1899, o mestre encerra seus estudos na França. Após a Exposição Universal de 1900, retorna ao Brasil, deixando em Paris a jovem francesa Louise Palombe, companheira e musa com quem ficaria casado pelo resto da vida. Louise era a modelo preferida do artista, que também tinha um olhar terno para sua família, cujos membros foram retratados em inúmeras pinturas. Segundo relatos, o próprio Visconti dizia: “A família, primeiro; a arte, depois. Uma não é incompatível com a outra, como muitos pensam. Ao contrário, as duas se completam.” Bem... se a obra de Visconti já me deixava apaixonada, esse seu carinho pela esposa e pela família me apaixonou ainda mais!

Em 1904 ele volta a Paris e frequenta novamente a Academia Julian. Em 1905, expõe no Salão de Paris o retrato da escultora Nicolina Vaz de Assis, encantando a nobreza
da capital francesa. Esse retrato, ao lado de outros trabalhos, tornariam Visconti um requisitado retratista. Na Pinacoteca está, inclusive, uma série de autorretratos.

O 'Retrato de Nicolina Vaz' (1905), que encantou a aristocracia parisiense. 
Imagem: www.eliseuvisconti.com.br

 'O Beijo' (1910): suavidade e cor magistral! - Imagem: www.eliseuvisconti.com.br            

'Cura de Sol' (1919) - Foto: Simone Catto
   
Infatigável, ainda em Paris Visconti executa várias telas de cavalete, dedicando-se
à pintura ao ar livre, tendo como principal tema as paisagens dos Jardins de Luxemburgo.

'A Maternidade' (1906) - Imagem: www.eliseuvisconti.com.br

'A Maternidade' reina no salão... - Foto: Simone Catto
Após 1920, o mestre não mais deixaria o Brasil. Empenhou-se no estudo da luminosidade tropical e da vibrante atmosfera do País. As paisagens impressionistas de Teresópolis, realizadas a partir de 1927, encantam pela atmosfera luminosa e transparente. Não por acaso, são consideradas, ao lado das paisagens de Saint Hubert, o melhor da produção do artista. 

'Um Ninho' (1949), pintado em Teresópolis. Imagem: www.eliseuvisconti.com.br 

'Roupa Estendida' (1943) - Imagem: www.eliseuvisconti.com.br

Minha dica: visite a exposição pela manhã e depois almoce ao ar livre no agradável café do museu, apreciando a bela vista para o Parque da Luz. Mas não demore: a exposição estará em cartaz somente até 26 de fevereiro!

PINACOTECA DO ESTADO
Endereço: Praça da Luz, 2 – bairro da Luz.
Horários: terça a domingo das 10h às 17h30, com permanência até as 18h.
Preços: ingresso combinado (Pinacoteca e Estação Pinacoteca): R$ 6,00 e R$ 3,00 - grátis aos sábados. Estudantes com carteirinha pagam meia. Crianças com até 10 anos e idosos com mais de 60 anos não pagam.

Obs.: todas as obras de Visconti inseridas neste post fazem parte da exposição.

Se você quiser saber mais sobre o mestre, uma excelente fonte de informações é o completíssimo site do Projeto Eliseu Visconti (www.eliseuvisconti.com.br), criado por um neto do artista. Além de consistentes informações biográficas, o site disponibiliza imagens de mais de 800 obras catalogadas. Também vale a sua visita!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

'Venga!' O bar de 'tapas' que merecem beijos.

Ontem tive uma grata surpresa. A convite de uma amiga querida, fui conhecer o
'Venga!', bar de tapas recém-inaugurado na Vila Madalena. Já existem duas unidades da casa no Rio de Janeiro que, segundo soube, fazem tanto sucesso quanto o novo empreendimento paulistano. Tanto é verdade, que nosso grupo combinou de se encontrar lá às 19h30, sob pena de não encontrarmos lugar caso chegássemos mais tarde. E isso em plena quarta-feira. Bem, cheguei às 19h45 – a casa ainda estava quase vazia, mas... cerca de meia hora depois, já não restava uma mesa para contar a história. O burburinho foi aumentando, aumentando... olé!!! E não é que as 'tapas' pegaram em Sampa?? Notei que, ultimamente, outras casas do gênero abriram por aí.

Vista do local

O salão onde sentei com minhas amigas - Foto: www.destemperados.com.br

Arrisco dizer que as tapas espanholas são uma das formas mais sociais de se comer, pois consistem em pequenas porções de petiscos e comidinhas que podem ser compartilhados com os amigos. Uma experiência gastronômica saborosa e eclética, portanto. Ainda mais quando são bem-feitas como as do 'Venga!'. Para quem gosta
de experimentar temperos diferentes, são um prato cheio – mesmo as porções sendo minúsculas e delicadas.

Rollitos de anchoas

Uma amiga que conheceu uma unidade do 'Venga!' no Rio comentou que a de
São Paulo é beeem maior. O pé direito é alto e a cozinha é integrada ao salão, compondo uma ambientação arejada e interessante inclusive pela amplidão das janelas de vidro e a profusão de plantas. O espaço tem um balcão com 20 lugares,
25 mesas e mais uma área de espera ao ar livre.

O ambiente, levemente assimétrico, é amplo e agradável.

Quando cheguei, as meninas estavam tomando uma sangria e comendo o delicioso Salteado de Setas, uma cumbuquinha de champignons temperados. E as tapas foram se sucedendo: pulpo a la galega (polvo confitado com batata e páprica), queijo manchego, pan con tomate, tortilla... tudo delicioso.

Pan con Tomate - Foto: www.chezcroque.com.br

Tortilla de Batata - Foto: www.chezcroque.com.br

Depois da sangria, pedimos um espumante rosé espanhol, Prado REY Rosado 09. Estava tão leve e saboroso que tomamos duas garrafas! Aliás, sentimos que o sabor desse rosé tem um toque de baunilha – e tem mesmo.
  

Diante disso, se você quiser uma experiência gastronômica diferente e ver gente bonita de todas as idades, conheça o 'Venga!' porque vale a pena. Mas chegue cedo se quiser pegar uma mesa ou conversar. Porque depois... nem touro bravo espanta a galera. O endereço é rua Delfina, 196 – Vila Madalena (www.venga.com.br).