Nunca vi lugar
igual a Inhotim. Se não estivesse de plena posse de minha lucidez e faculdades
mentais, confesso que me beliscaria para checar se não havia morrido e entrado
no paraíso. Bem, é preciso encontrar as palavras certas para descrever Inhotim,
se é que elas existam. Imagine-se deparando com um lugar tomado por vegetação de
um lado a outro, de cima a baixo. Para onde a gente caminha e olha, só vê natureza
em sua melhor forma de beleza e pujança. Ali estão árvores e espécies vegetais
de várias partes do Brasil. Plantas raras. Belíssimos lagos ornamentais. E pássaros,
muitos pássaros.
Foto: Simone Catto |
No meio
desse acervo botânico fabuloso, obras de arte pipocam aqui e acolá, em
instalações a céu aberto, e também em galerias às quais as pessoas têm acesso
por meio de trilhas estrategicamente posicionadas para que possam contemplá-las
e, ao mesmo tempo, desfrutar momentos de paz e puro deleite diante de natureza tão
exuberante.
Trilha de acesso à Galeria True Rouge, com obra de Tunga - Foto: Simone Catto |
Quem
quiser apreciar a paisagem, descansar, conversar ou simplesmente ler um livro
em meio àquele cenário de sonho, pode se acomodar em um dos belíssimos bancos criados
com troncos de árvores por designers e generosamente espalhados por todo o
parque, em cantinhos aconchegantes, para acolher os visitantes. Se eu fosse
moradora da região, não hesitaria em visitar o local uma vez por semana com um
livro nas mãos, e a cada vez me sentaria em um ponto diferente para curtir
minha leitura sossegada, embalada por aquela beleza toda.
Foto: Simone Catto |
Tive o
privilégio de visitar Inhotim por dois dias seguidos. Caminhei por toda a área
aberta a visitação, explorei suas trilhas e perdi umas boas calorias por lá (rs).
Pude, assim, conhecer o lugar no meu tempo, sem correria, com toda a calma e
tranquilidade que ele merece.
O mais
impressionante é que esse 'shangri-lá' mineiro denominado oficialmente 'Instituto Cultural Inhotim', localizado no município de Brumadinho e a uma
hora de Belo Horizonte, nasceu há relativamente pouco tempo pelas mãos de um
empresário visionário chamado Bernardo Paz. Inicialmente uma propriedade
particular, o local recebeu, em meados da década de 80, a visita do paisagista
Roberto Burle Marx, que ajudou a desenvolver aqueles jardins luxuriantes. Mais
tarde, Inhotim começou a se transformar também em espaço cultural, passando a
receber obras de arte contemporânea exibidas nas galerias distribuídas harmonicamente
pelo terreno a perder de vista e também as instalações e esculturas que se
integram ao cenário natural.
Foto: Simone Catto |
Ao fundo, vemos parte de uma colorida obra de Hélio Oiticica: 'Invenção da cor, Penetrável Magig Square # 5, De Luxe' (1977) Foto: Simone Catto |
Fundado
oficialmente em 2002, o Instituto Cultural Inhotim não tem fins lucrativos. Hoje
alçado à categoria de jardim botânico, foi criado, em princípio, com o objetivo
de valorizar a arte contemporânea e promover o estudo de nossa vegetação. Em
2005, Inhotim abriu timidamente suas portas ao público, com visitas pré-agendadas,
e somente no ano seguinte, isto é, há 7 anos, franqueou a entrada ao grande
público com sua estrutura já completa.
Essas esculturas de bronze de Edgard de Souza foram criadas entre 2000 e 2005 e representam figuras masculinas sem cabeça baseadas no corpo do próprio artista - Foto: Simone Catto |
O Instituto,
que está inserido na mata atlântica com porções de cerrado no topo das serras,
preserva mais de 4.200 espécies de plantas. Localiza-se entre 700 m e 1.300 m
acima do nível do mar e possui uma área total de mais de 785 hectares, sendo
que 440 ha são área de preservação. A parte aberta a visitação possui,
atualmente, cerca de 97 hectares. Para você ter uma ideia do tamanho desse
paraíso, um hectare equivale a 10.000 m² ou um campo de futebol. A área aberta
ao público, portanto, equivale a 97 campos de futebol. É de tirar o fôlego –
literalmente! Como é impossível percorrer tudo a pé, por R$ 20,00 ao dia o
visitante pode circular em carrinhos elétricos conduzidos por jovens funcionários
e percorrer cinco rotas diferentes, quantas vezes quiser. É prático e funciona maravilhosamente bem.
Foto: Simone Catto |
Além de
cumprir um importante papel na pesquisa científica e na catalogação e
preservação de espécies nativas, o Instituto tem como princípio promover a
educação ambiental e o respeito do homem pela arte e pela natureza, dois bens
de valor inestimável para tornar nossa vida mais viável e feliz. Para realizar
tudo isso, conta com o auxílio de curadores e especialistas em arte e um verdadeiro exército de cientistas, botânicos, jardineiros e outros profissionais.
Foto: Simone Catto |
Cada uma
das 21 galerias de arte distribuídas pelo local é monitorada por jovens
estagiários, e em uma delas vi inclusive uma menina com Síndrome de
Down, o que me levou a concluir que o Instituto também dá oportunidades a
jovens com necessidades especiais. Ao questionar alguns desses monitores sobre
algumas obras, já que a arte contemporânea quase sempre não é compreendida de
imediato, recebi respostas irregulares: às vezes os jovens pareciam bem
preparados, e por outras nem sempre as explanações eram satisfatórias. Mas tudo
é uma questão de estudo e treinamento, todos foram gentis e, sem dúvida, esses
meninos e meninas estão recebendo uma oportunidade de ouro por poderem
trabalhar naquele cenário paradisíaco, ter contato com visitantes estrangeiros
e, sobretudo, aprender tanto em Inhotim. Um deles, um mocinho com corte de
cabelo fashion que estava no Sonic Pavillon, do artista norte-americano
Doug Aitken, relatou ser estudante de artes plásticas e ter sido contratado para
um estágio de três meses. Fascinado com o trabalho, o jovem contou que cerca de
70% dos visitantes são estrangeiros, 20% são de outros estados do Brasil e
somente 10% são mineiros. É curioso, mas a maioria dos mineiros sequer ouviu falar de Inhotim. Pude constatar isso há cerca de 5 anos, em uma
viagem que fiz às cidades históricas de Minas Gerais, e até desta vez, quando, passado
tanto tempo, eu supunha que Inhotim pudesse ter-se tornado mais conhecido de
seus conterrâneos. Não foi o caso.
À entrada da Galeria Adriana Varejão está a instalação 'Panacea Phantastica' (2003-1008), serigrafia sobre azulejo Foto: Simone Catto |
Como
Inhotim ainda não foi "descoberto" pelo grande público, felizmente não chega a
ficar superlotado. O número de visitantes é compreensivelmente maior aos
sábados, conforme explicou um funcionário, porque é o dia que as pessoas têm
para passear, e menor aos domingos, já que muitas moram em outras cidades e
precisam voltar para casa. Porém, como tive o privilégio de visitar o parque
numa terça e numa quarta-feira, não me deparei com muita gente. Vez ou outra cruzei
com grupos isolados de crianças e adolescentes ruidosos conduzidos por um
professor e também vi um grupo de idosos excursionando pelo local, mas esses grupos eram raros.
É
rigorosamente proibido consumir alimentos em Inhotim, um cuidado louvável com o
compromisso do Instituto em preservar o valioso acervo botânico e artístico do
local. "Farofeiros", portanto, não têm vez. Lanches e refeições são
permitidos somente nos restaurantes, bares e lanchonetes do parque, que são muitos,
mas vale ressaltar que nem todos funcionam todos os dias.
Foto: Simone Catto |
O parque
abre de terça a sexta das 9h30 às 16h30 e aos sábados e domingos até 17h30. Às
terças-feiras a entrada é gratuita, às quartas e quintas custa R$ 20,00 e de
sexta a domingo sai por R$ 28,00. Crianças até 5 anos não pagam. Para mais
informações, acesse www.inhotim.org.br.
O que
posso dizer, sobre Inhotim, é que saí de lá literalmente encantada e não
hesitarei em retornar caso tenha a oportunidade. É realmente um privilégio
poder desfrutar de um local que reúne, ao mesmo tempo, obras de arte e uma
paisagem tão semelhante aos cenários idílicos que povoaram meus sonhos de
infância. Deleite total!!!
Para nós que vivemos nessa megalópole que é São Paulo, verdadeira selva de pedra, estar em um lugar desses é um privilégio. Lindo!!!!! Espero poder conhecê-lo em breve.
ResponderExcluirVale a pena, Eliana! É um outro mundo, outra realidade. É tanto cuidado e respeito com a natureza que nem parece Brasil. Sonho.
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