sexta-feira, 21 de junho de 2013

São Paulo Companhia de Dança. O talento brasileiro na ponta dos pés.

Sábado passado tive uma grata surpresa. Recebi um convite para assistir a uma apresentação da São Paulo Companhia de Dança, no Teatro Sérgio Cardoso, e fiquei impressionada com a alta qualidade do espetáculo, valorizado por três grandes coreografias e um corpo de baile com excelentes bailarinos, jovens com um nível técnico de primeiríssima. Eu ainda não conhecia a Companhia e confesso que fiquei surpresa ao ver que o teatro, com seus mais de 800 lugares, ficou absolutamente lotado de gente interessante: professores de dança, bailarinos, jovens estudantes, amantes da dança e da cultura em geral. Aliás, mais surpresa ainda fiquei ao saber que uma companhia dessa qualidade tenha apenas cinco anos. A São Paulo Companhia de Dança, dirigida por Inês Bogéa, foi criada em 2008 e, apesar da pouca idade, já excursionou por várias cidades do Brasil e foi vista por mais de 320 pessoas em cinco países, somando mais de 340 apresentações.

A série atual de apresentações consiste em três blocos de espetáculos, em três semanas do mês de junho. A cada semana são exibidas três coreografias diferentes, em apresentações de quinta a domingo. Na semana passada, tive a felicidade de assistir ao Programa 2, que consistiu nas coreografias 'Theme and Variations', do mestre russo George Balanchine, 'Sechs Tänze', do tcheco Jirí Kylián, e 'Peekaboo', do alemão Marco Goecke.

'Theme and Variations' - Foto: Silvia Machado (www.saopaulocompanhiadedanca.art.br)

O programa iniciou-se com 'Theme and Variations', uma homenagem de Balanchine (1904-1983) ao lendário coreógrafo da dança clássica do final do século XIX, o francês Marius Petipa (1818-1910), considerado o "pai" do balé russo e criador do balé 'O Lago dos Cisnes', com música de Tchaikovsky (1840-1893). Concebida para o American Ballet Theatre de Nova York em 1947, 'Theme and Variations' também é dançada ao som de Tchaikovsky, o movimento final da Suíte nº 3 para Orquestra e Sol Maior Op. 55, que tem 12 variações.

Nessa apresentação, o casal de solistas Morgana Cappellari e Norton Fantinel intercalou sua atuação com o corpo de baile numa performance repleta de graça e leveza com  movimentos extremamente precisos e elegantes. Grande apresentação da mais autêntica tradição do balé clássico!

Solo de 'Theme and Variations' Foto: Silvia Machado 
(www.saopaulocompanhiadedanca.art.br)

O segundo número, 'Sechs Tänze', foi um show de criatividade, humor e precisão técnica na coreografia de Kylián ao som de 'Sechs Deutsche Tänze, KV 571', obra de Mozart (1756-1791) composta no ano da Revolução Francesa, 1789.

Uma das divertidas cenas de 'Sechs Tänze' - Foto: João Caldas
(www.saopaulocompanhiadedanca.art.br)

Kylián inspirou-se nos costumes da época para fazer uma bem-humorada crítica social dos fins do século XVIII. Criada em 1986 para o Netherlands Dans Theatre de Haia, Holanda, 'Sechs Tänze' é uma comédia dançada com seis quadros que satirizam a empertigada corte aristocrática da época, com seus "empoeirados costumes e batalhas de sexos". Por vezes, os bailarinos, alguns usando perucas 'à la Mozart', até soltam um pó branco ao realizar determinados movimentos, reforçando o efeito "empoeirado" e o anacronismo dos costumes aristocráticos. Em outras cenas, homens e mulheres trocam de papeis e figurinos, arrancando risadas da plateia. Tudo isso é realizado com gestos e passos de dança propositalmente desengonçados em sua sincronia e rigor técnico, gerando um resultado inteligente e divertido. Simplesmente genial!

'Sechs Tänze': adorei! - Foto: João Caldas (www.saopaulocompanhiadedanca.art.br)

A terceira e última coreografia da noite foi 'Peekaboo', criada por Marco Goecke especialmente para a São Paulo Companhia de Dança. O balé estreou em abril deste ano no 'Movimentos', importante festival de dança que reuniu grandes nomes da cena mundial em Wolfsburg, Alemanha.

A trilha do espetáculo, 'Simple Symphony', foi composta por Benjamin Britten (1913-1976) quando ele tinha apenas 20 anos e apresenta oito temas que derivam de composições que ele criou em sua própria infância, desde os nove anos de idade. Para reforçar a dramaticidade da coreografia, a música é entrecortada por 30 vozes masculinas do coral finlandês Mieskuoro Huutajat.

O gracioso 'Peekaboo' - Foto: Marcela Benvegnu
(www.saopaulocompanhiadedanca.art.br)

Se você, como eu, também está se perguntando o que significa 'Peekaboo', vamos lá: é uma referência à brincadeira em que as crianças escondem o rostinho julgando terem "desaparecido" e, ao "reaparecerem", gritam: -'Boo!' para assustar os adultos. O número, aliás, é todo alusivo às brincadeiras de infância e à Inglaterra natal de Britten. Um objeto cênico, o chapéu coco, por vezes aparece deslizando pelo chão, como um elemento sobrenatural e também de sonho. Símbolo dos executivos londrinos do século passado, o chapéu é uma clara alusão a Charles Chaplin (1889-1977), que também povoou a infância de tantos de nós. Trata-se de uma coreografia também carregada de força e precisão que fala não só da infância, mas também da saudade da espontaneidade perdida.

Mesmo que você não seja aficionado(a) por balé, devo dizer que esses espetáculos da SÃO PAULO COMPANHIA DE DANÇA são um programão. Não conheço as coreografias do Programa 3, atualmente em cartaz - porém, a julgar pelo nível técnico das apresentações anteriores, imagino que sejam muito boas. Vale a pena conferir!

As próximas e últimas apresentações desta temporada vão acontecer hoje, amanhã e domingo com as seguintes coreografias: 'In the Middle, Somewhat Elevated', de William Forsythe, 'Supernova', de Marco Goecke e 'Utopia ou o Lugar que Não Existe', de Luiz Fernando Bongiovani. 

O Teatro Sérgio Cardoso fica à Rua Rui Barbosa, 153 - Bela Vista. Tel.: 3288-0136. Horários: sexta às 21h30, sábado às 21h e domingo às 18h. Ingresso: R$ 25,00 a inteira. Até 23/6.
   
Para saber mais sobre a São Paulo Companhia de Dança, acesse:
www.saopaulocompanhiadedanca.art.br

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