sábado, 22 de junho de 2013

Tiradentes, MG. Uma cidade onde o tempo parou para viver.

Eu já havia estado antes em Tiradentes, Minas Gerais. No entanto, como minhas passagens anteriores pela cidade haviam sido demasiadamente breves, não sosseguei enquanto não consegui retornar com mais calma. Foi a melhor coisa que fiz. Em minha última visita, pude absorver cada paisagem, apreciar cada cantinho no meu tempo e ainda tive a oportunidade de ter "um dedinho de prosa", com sua gente sossegada e feliz.

Vista da Ponte das Forras a partir do Largo das Mercês - Foto: Simone Catto

Fui para Tiradentes a partir do município de Brumadinho, onde havia visitado Inhotim, em uma viagem que durou cerca de três horas e meia. Desse período, as duas horas que passei pela Estrada Real (BR-383) foram deliciosas e valeram cada quilômetro. Com uma pista em cada sentido, ela está em ótimas condições de conservação e tem uma paisagem belíssima. Sem dúvida, um grande passeio! 

Foto: Simone Catto
Durante nosso trajeto, passamos por algumas cidadezinhas como Congonhas do Campo, onde está a Basílica de Bom Jesus de Matosinhos com as famosas esculturas dos 12 profetas de Aleijadinho, e também pelos municípios de São Brás do Suaçuí, Entre Rios de Minas, Lagoa Dourada e Santa Cruz de Minas, esta bem pertinho de Tiradentes.

Lagoa Dourada é conhecida como a "Terra do Rocambole" e, é claro, não iríamos perder a chance de dar uma paradinha! O 'Famoso Rocambole da Dona Mirtes do Líbano'que oferece 20 sabores do doce, fica na própria BR-383, que passa no Centro da cidade e tem uma loja de rocambole ao lado da outra. Aproveitamos para tomar um café com um rocambole de goiaba, que estava muito bom. Depois... continuamos mais felizes nosso trajeto até Tiradentes!

O nosso rocambole de goiaba com café fresquinho... nham! - Foto: Simone Catto

A lojinha da Dona Mirtes - Foto: Simone Catto

Ele, o astro rocambole! Este é de doce de leite - Foto: Simone Catto 

Tiradentes vive realmente num outro tempo, isto é, as pessoas têm outro ritmo e respeitam isso. A vida, para elas, também tem outro significado – certamente, um significado bem diferente daquele de alguém que, como eu, habita uma metrópole cada vez mais insana como São Paulo. Por tudo isso, é realmente um bálsamo ficar um período em uma cidade como aquela para desacelerar a alma e aguçar os sentidos.

Na loja de doces, fomos recebidos por este simpático casalzinho - Foto: Simone Catto

Fundada em 1702 quando os paulistas descobriram ouro na encosta da Serra de São José, Tiradentes viveu literalmente a "Idade do Ouro" durante todo o período colonial do século XVIII. O bom estado de conservação de construções remanescentes daquela época, sobretudo o casario e as igrejas barrocas concentradas no Centro Histórico, tornaram a cidade um charmoso ponto turístico que atrai casais, gente cool e amantes de arte e cultura.

O gracioso casario estilo colonial da cidade - Foto: Simone Catto

Um dia, perto do Largo do Ó, vi uma porta aberta e avistei esse cantinho gostoso. Me apaixonei pelo jardim, não resisti e tirei uma foto!

Foto: Simone Catto

Quem gosta de artesanato vai se esbaldar com as peças em pedra sabão, latão, estanho, tecido e madeira comercializadas nas lojas da cidade. Tiradentes tem, aliás, várias fábricas e lojas de móveis de madeira, um mais lindo que o outro. Por sua atmosfera tranquila e paisagens maravilhosas, também atrai artistas que a elegem como refúgio para criar e morar. Dentre eles está a simpática artista plástica mineira Valéria Lima, com quem tive o prazer de bater um papo gostoso no Centro Cultural Yves Alves (Rua Direita, 168), onde algumas de suas obras estavam à venda em uma bonita exposição.

Entre as peças exibidas, havia uma série de "Divinos", ou "Divinos Espíritos Santos", confeccionados sobre diferentes bases, como tecidos e placas de sucata de ferro. Ao invés de interferir nos materiais, Valéria prefere "ressignifcá-los", conforme suas próprias palavras, gerando um resultado delicado e harmonioso.

Um dos 'Divinos' de Valéria Lima - Foto: Simone Catto

Belas também são suas esculturas de argila fundidas em pó de ferro, bronze ou mármore. Carregadas de expressividade, são peças que se oferecem sutilmente à compreensão do nosso olhar.

Valéria Lima - 'Entorno' - Foto: Simone Catto

Valéria Lima - 'Mulher Deitada' - Foto: Simone Catto

A propósito, quando deparamos com o Centro Cultural Yves Alves, mantido pelo SESI e pelo Instituto Estrada Real, não imaginamos como ele é grande na parte interna. Trata-se de um espaço extremamente agradável emoldurado por um belo jardim, com auditório, salas de exposições e áreas para cursos e oficinas. No entanto, o lugar pareceu-me ocioso e subaproveitado. Um espaço bonito e interessante como aquele mereceria ser ocupado com uma agenda de atividades mais rica e variada para atrair não apenas os habitantes da cidade, mas também de São João del Rei, que fica a apenas 12 km de Tiradentes.

O belo jardim do Centro Cultural Yves Alves - Foto: Simone Catto

Dentre as igrejas que visitei, duas estavam fechadas para restauração: a Igreja das Mercês, no largo de mesmo nome, e a de São João Evangelista, perto da Matriz de Santo Antônio. Como era costume à época, o adro das igrejas também era local de sepultamentos, e no seu interior os personagens mais importantes da cidade eram sepultados sob o piso da nave central.

Para conhecer outras igrejas e passeios em Tiradentes, clique aqui.

O lindo e sereno Largo das Mercês - Foto: Simone Catto

Fachada da Igreja das Mercês - Foto: Simone Catto

O cemitério no adro da igreja - Foto: Simone Catto

A partir do Largo das Mercês, atravessamos a ponte das Forras, que passa sobre o Ribeiro Santo Antônio, e chegamos ao Largo das Forras, a praça central de Tiradentes. É lá que fica o "buchicho", a maioria dos bares e restaurantes da cidade. Diz-se que o largo tem esse nome porque por ali circulavam as escravas alforriadas.

Largo das Forras - Foto: Simone Catto

E numa esquininha do Largo das Forras, está a singela Capela de Bom Jesus da Pobreza - Foto: Simone Catto

Tiradentes é pequenina: em quatro dias você consegue visitar a pé as igrejas e outros pontos históricos e até fazer alguma trilha na Serra de mesmo nome. No entanto, se o seu intuito for mesmo "desligar" e descansar, vale a pena ficar mais tempo para curtir a atmosfera da cidade, aproveitar a bela paisagem com caminhadas, conversar com as pessoas e também conhecer alguns restaurantes com proposta gourmet e reconhecidos pela excelência de sua gastronomia. Feijão tropeiro, tutu mineiro e frango ao molho pardo são os grandes astros locais, mas também há espaço para pratos mais leves e delicados em algumas casas.

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