No caso de Camille e
Rodin, no entanto, não foi nem uma coisa nem outra. Embora esteja muito bem
cotada em guias de entretenimento como o da Veja São Paulo, por alguma razão a peça
não chamou minha atenção e algo me dizia que não era do tipo que me agradaria.
Dito e feito. Acabei indo assistir porque fui voto vencido num grupo de amigos,
na esperança de que estivesse enganada e me surpreenderia positivamente. Não
foi o que aconteceu.
Ocorre que, embora histórias de amor tempestuosas despertem paixões e mexam com nossa imaginação, vamos falar claro: o drama da relação de
amor e loucura entre Auguste Rodin e Camille Claudel há muito já deu o que
tinha que dar. O tema está esgotado. Já foi explorado à exaustão. A menos que
apareça algo muuuuito melhor do que já foi criado anteriormente para retratar o conturbado relacionamento desses dois grandes mestres da escultura francesa, a reação
despertada no público é fatalmente de cansaço. E não estou falando só por mim,
acredite. Meus amigos tiveram a mesma sensação que eu.
Leopoldo Pacheco e Melissa Vettore, os intérpretes de Camille e Rodin - Foto: Alexandre Catan |
Camillle Claudel, a talentosíssima escultora que teve grande parte no sucesso do amante e mestre Rodin. |
Para que uma peça de teatro possa dar-se o luxo de ter apenas
dois atores em cena – no caso, os intérpretes do casal Camille e Rodin -, é
preciso que eles sejam excepcionais para hipnotizar a plateia, além,
naturalmente, de serem escorados por um excelente roteiro e diálogos que "segurem" o público. Porque sem um bom roteiro e bons diálogos, nada se pode fazer. O
brilho dos atores vai para o brejo, por melhores que eles sejam. Nesta peça, portanto,
nenhum dos atores brilhou – talvez, sequer tenham tido chance para isso. Nem o
roteiro e nem os diálogos empolgaram tampouco.
Eu não duvidaria, inclusive, de que a grande falha da peça seja seu
tema. Posso até estar enganada, mas, a meu ver, além de o tema já estar
saturado, o romance entre os dois geniais escultores não se presta a uma peça
de teatro. Talvez porque o parâmetro que eu tenha em mente seja o belíssimo e
premiado filme 'Camille Claudel', de 1988, com a diva Isabelle Adjani e Gérard
Depardieu, direção de Bruno Nuytten e roteiro baseado em obra de Reine-Marie
Paris. Merecidamente, tanto o filme quanto a história de amor entre os dois
artistas foram fartamente documentados e divulgados na imprensa da época. Eu
até arriscaria dizer que esse filme estimulou, por anos a fio, a produção de uma
série de conteúdos e manifestações culturais sobre o casal Rodin e Camille. Em
2001, uma exposição sobre Auguste Rodin gerou filas intermináveis na Pinacoteca de São Paulo e está entre as maiores já montadas no país. Antes disso, eu havia tido a oportunidade
de visitar o Museu Rodin, em Paris, e contemplar de perto as obras dos dois gênios.
Simplesmente de tirar o fôlego.
'A Onda' ou 'As Banhistas' (1897-1903 ?) - mármore - uma das obras-primas de Camille Claudel. Foto: www.musee-rodin.fr |
Auguste Rodin - 'Eu sou bela' (1882) - gesso - Foto: www.musée-rodin.fr |
Diante de tanto conteúdo de qualidade produzido sobre o casal, portanto,
só mesmo algo muito excepcional despertaria minha atenção a essa altura do
campeonato. Posso até soar blasé, mas, em compensação, não tenho dúvidas de que a
intensidade com que admiro aquilo que me encanta de verdade adquire cores indescritivelmente
mais vivas. É isso aí.
Ficha técnica parcial:
Direção: Elias Andreato
Elenco: Leopoldo Pacheco e Melissa Vettore
Texto: Franz Keppler
Texto: Franz Keppler
Duração: 75 minutos
Se você quiser
conferir por si mesmo(a), CAMILLE E RODIN está em cartaz no Grande Auditório do Masp – Av.
Paulista, 1578 – Bela vista. Tel.: 3171-3267. Sextas e sábados às 21h e domingo
às 19h. Ingressos: R$30 (sexta), R$ 50 (sábado) e R$ 40 (domingo). Até 26/5.
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