terça-feira, 2 de abril de 2013

Camille e Rodin. Um romance que já empolgou numa peça que não empolga.

É inevitável. Sempre que vou ao teatro é porque li alguma resenha positiva sobre determinada peça e fiquei com vontade de assistir, ou então porque algum amigo indicou dizendo que a peça é boa.

No caso de Camille e Rodin, no entanto, não foi nem uma coisa nem outra. Embora esteja muito bem cotada em guias de entretenimento como o da Veja São Paulo, por alguma razão a peça não chamou minha atenção e algo me dizia que não era do tipo que me agradaria. Dito e feito. Acabei indo assistir porque fui voto vencido num grupo de amigos, na esperança de que estivesse enganada e me surpreenderia positivamente. Não foi o que aconteceu.

Ocorre que, embora histórias de amor tempestuosas despertem paixões e mexam com nossa imaginação, vamos falar claro: o drama da relação de amor e loucura entre Auguste Rodin e Camille Claudel há muito já deu o que tinha que dar. O tema está esgotado. Já foi explorado à exaustão. A menos que apareça algo muuuuito melhor do que já foi criado anteriormente para retratar o conturbado relacionamento desses dois grandes mestres da escultura francesa, a reação despertada no público é fatalmente de cansaço. E não estou falando só por mim, acredite. Meus amigos tiveram a mesma sensação que eu.

Leopoldo Pacheco e Melissa Vettore, os intérpretes de Camille e Rodin - Foto: Alexandre Catan

Camillle Claudel, a talentosíssima escultora que teve grande parte no sucesso do amante
e mestre Rodin.

Para que uma peça de teatro possa dar-se o luxo de ter apenas dois atores em cena – no caso, os intérpretes do casal Camille e Rodin -, é preciso que eles sejam excepcionais para hipnotizar a plateia, além, naturalmente, de serem escorados por um excelente roteiro e diálogos que "segurem" o público. Porque sem um bom roteiro e bons diálogos, nada se pode fazer. O brilho dos atores vai para o brejo, por melhores que eles sejam. Nesta peça, portanto, nenhum dos atores brilhou – talvez, sequer tenham tido chance para isso. Nem o roteiro e nem os diálogos empolgaram tampouco.

Eu não duvidaria, inclusive, de que a grande falha da peça seja seu tema. Posso até estar enganada, mas, a meu ver, além de o tema já estar saturado, o romance entre os dois geniais escultores não se presta a uma peça de teatro. Talvez porque o parâmetro que eu tenha em mente seja o belíssimo e premiado filme 'Camille Claudel', de 1988, com a diva Isabelle Adjani e Gérard Depardieu, direção de Bruno Nuytten e roteiro baseado em obra de Reine-Marie Paris. Merecidamente, tanto o filme quanto a história de amor entre os dois artistas foram fartamente documentados e divulgados na imprensa da época. Eu até arriscaria dizer que esse filme estimulou, por anos a fio, a produção de uma série de conteúdos e manifestações culturais sobre o casal Rodin e Camille. Em 2001, uma exposição sobre Auguste Rodin gerou filas intermináveis na Pinacoteca de São Paulo e está entre as maiores já montadas no país. Antes disso, eu havia tido a oportunidade de visitar o Museu Rodin, em Paris, e contemplar de perto as obras dos dois gênios. Simplesmente de tirar o fôlego.

'A Onda' ou 'As Banhistas' (1897-1903 ?) - mármore - uma das obras-primas de Camille Claudel.
Foto: www.musee-rodin.fr

Auguste Rodin - 'Eu sou bela' (1882) - gesso - Foto: www.musée-rodin.fr
  
Diante de tanto conteúdo de qualidade produzido sobre o casal, portanto, só mesmo algo muito excepcional despertaria minha atenção a essa altura do campeonato. Posso até soar blasé, mas, em compensação, não tenho dúvidas de que a intensidade com que admiro aquilo que me encanta de verdade adquire cores indescritivelmente mais vivas. É isso aí.

Ficha técnica parcial:

Direção: Elias Andreato
Elenco: Leopoldo Pacheco e Melissa Vettore
Texto: Franz Keppler
Duração: 75 minutos

Se você quiser conferir por si mesmo(a), CAMILLE E RODIN está em cartaz no Grande Auditório do Masp – Av. Paulista, 1578 – Bela vista. Tel.: 3171-3267. Sextas e sábados às 21h e domingo às 19h. Ingressos: R$30 (sexta), R$ 50 (sábado) e R$ 40 (domingo). Até 26/5.

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