Um dos mitos urbanos mais difundidos em Sampa é que os barões do café
moraram na Av. Paulista. Mentira. Na Av. Paulista residiram muitas famílias ricas,
naturalmente, mas de outra procedência: a nova burguesia industrial. Os barões
do café habitaram, na realidade, os Campos Elíseos. Sim. O bairro que hoje
concentra, infelizmente, boa parte da "cracolândia" de São Paulo. E também o
bairro que ainda abriga, felizmente, algumas construções remanescentes daquela
época e que tive a oportunidade de conhecer no delicioso tour 'São Paulo no
tempo dos barões do café', promovido pelo site São Paulo Antiga.
Quase ninguém sabe (nem eu sabia!) que a região dos Campos Elíseos foi o
primeiro bairro planejado de luxo de São Paulo. Até a 1ª metade do século XIX,
a área era composta de chácaras, até que dois suíços, Glette e Nothmann,
começaram a lotear a região e a vender os terrenos para a elite cafeeira. Daí
as alamedas 'Glete' (hoje com um 't' só) e 'Nothmann', em homenagem aos dois
ilustres estrangeiros. Foi assim que, ao final daquele século, os barões do
café construíram seus magníficos palacetes por lá.
A proximidade com a Estação da Luz, que à época pertencia à 'São Paulo
Railway Co.' (posteriormente E.F. Santos Jundiaí), foi um fator de atração
para os ricos barões porque era ali que embarcavam seu café para o Porto de
Santos. Conhecida como "Inglesinha" por ser monopolizada pelos ingleses, a
Estação da Luz foi construída entre 1895 e 1901 com material todo importado da
Inglaterra.
O belo saguão da Estação da Luz - Foto: Simone Catto |
As plantinhas de café, fonte de toda a riqueza da época, são homenageadas em ornamentos graciosos de várias construções da região - este detalhe é da Estação da Luz. Foto: Simone Catto |
Perto de lá ficava outra estação mais antiga, fundada em 1872, que à
época pertencia a outra ferrovia: a Estrada de Ferro Sorocabana. Essa ferrovia,
construída por iniciativa de latifundiários de Sorocaba, transportava inicialmente
algodão do interior para a capital, mas foi por pouco tempo: eles perceberam
que o café era muito mais rentável e migraram de cultura, tornando-se
riquíssimos. Foi assim que, em 1880, a antiga Estrada de Ferro Sorocabana
começou a transportar café. Essa antiga estação tornou-se a atual Júlio
Prestes, projetada em 1925 por dois arquitetos brasileiros que se inspiraram em
estações ferroviárias americanas: Samuel das Neves e Cristiano Stockler das
Neves. Sua obra foi concluída em 1938.
A imponente Estação Júlio Prestes, hoje restaurada e transformada em polo cultural - Foto: Simone Catto |
Detalhe da Estação Júlio Prestes com seu belo vitral - Foto: Simone Catto |
Uma curiosidade: embora as duas estações ferroviárias ficassem pertinho uma
da outra, elas não tinham nenhuma conexão entre si devido a um golpe de
esperteza dos ingleses. Estes, quando construíram posteriormente a Estação da
Luz, utilizaram uma bitola (largura dos trilhos) de dimensões diferentes, a fim
de que pudessem monopolizar o transporte do café. 'Smart', não? Conclusão: o café chegava do interior pela Estação
Júlio Prestes, era levado para a Estação da Luz, ali ao lado, e de lá era
embarcado nos trens para Santos. É óbvio que os ingleses também ganharam muito
dinheiro!
Outro detalhe da Estação Júlio Prestes (a foto saiu com reflexo porque foi tirada através de um vidro). Foto: Simone Catto |
A construção abaixo, na Al. Cleveland (em frente à Al. Glete), pertencia
à Estrada de Ferro Sorocabana e, em 1922, abrigava uma caixa de assistência aos
funcionários da ferrovia. Atualmente, sedia um Serviço de Assistência Especializada
(SAE) em DST/Aids.
O sol estava na contra-luz... - Foto: Simone Catto |
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