domingo, 11 de agosto de 2013

Um passeio pelos Campos Elíseos, o primeiro bairro de elite de Sampa.

Um dos mitos urbanos mais difundidos em Sampa é que os barões do café moraram na Av. Paulista. Mentira. Na Av. Paulista residiram muitas famílias ricas, naturalmente, mas de outra procedência: a nova burguesia industrial. Os barões do café habitaram, na realidade, os Campos Elíseos. Sim. O bairro que hoje concentra, infelizmente, boa parte da "cracolândia" de São Paulo. E também o bairro que ainda abriga, felizmente, algumas construções remanescentes daquela época e que tive a oportunidade de conhecer no delicioso tour 'São Paulo no tempo dos barões do café', promovido pelo site São Paulo Antiga.

Quase ninguém sabe (nem eu sabia!) que a região dos Campos Elíseos foi o primeiro bairro planejado de luxo de São Paulo. Até a 1ª metade do século XIX, a área era composta de chácaras, até que dois suíços, Glette e Nothmann, começaram a lotear a região e a vender os terrenos para a elite cafeeira. Daí as alamedas 'Glete' (hoje com um 't' só) e 'Nothmann', em homenagem aos dois ilustres estrangeiros. Foi assim que, ao final daquele século, os barões do café construíram seus magníficos palacetes por lá.

A proximidade com a Estação da Luz, que à época pertencia à 'São Paulo Railway Co.' (posteriormente E.F. Santos Jundiaí), foi um fator de atração para os ricos barões porque era ali que embarcavam seu café para o Porto de Santos. Conhecida como "Inglesinha" por ser monopolizada pelos ingleses, a Estação da Luz foi construída entre 1895 e 1901 com material todo importado da Inglaterra.

O belo saguão da Estação da Luz - Foto: Simone Catto

As plantinhas de café, fonte de toda a riqueza da época, são homenageadas em
ornamentos graciosos de várias construções da região - este detalhe é da Estação da Luz.
Foto: Simone Catto

E aqui, um retrato desolador da decadência: esta casa da Rua Mauá, que tem no alto de sua fachada o ano de sua construção, 1889deve ter abrigado um hotel, dentre tantos outros, nos tempos áureos do café. 
Foto: Simone Catto

Perto de lá ficava outra estação mais antiga, fundada em 1872, que à época pertencia a outra ferrovia: a Estrada de Ferro Sorocabana. Essa ferrovia, construída por iniciativa de latifundiários de Sorocaba, transportava inicialmente algodão do interior para a capital, mas foi por pouco tempo: eles perceberam que o café era muito mais rentável e migraram de cultura, tornando-se riquíssimos. Foi assim que, em 1880, a antiga Estrada de Ferro Sorocabana começou a transportar café. Essa antiga estação tornou-se a atual Júlio Prestes, projetada em 1925 por dois arquitetos brasileiros que se inspiraram em estações ferroviárias americanas: Samuel das Neves e Cristiano Stockler das Neves. Sua obra foi concluída em 1938.

A imponente Estação Júlio Prestes, hoje restaurada e transformada em polo cultural - Foto: Simone Catto

Detalhe da Estação Júlio Prestes com seu belo vitral - Foto: Simone Catto

Uma curiosidade: embora as duas estações ferroviárias ficassem pertinho uma da outra, elas não tinham nenhuma conexão entre si devido a um golpe de esperteza dos ingleses. Estes, quando construíram posteriormente a Estação da Luz, utilizaram uma bitola (largura dos trilhos) de dimensões diferentes, a fim de que pudessem monopolizar o transporte do café. 'Smart', não? Conclusão: o café chegava do interior pela Estação Júlio Prestes, era levado para a Estação da Luz, ali ao lado, e de lá era embarcado nos trens para Santos. É óbvio que os ingleses também ganharam muito dinheiro!

Outro detalhe da Estação Júlio Prestes (a foto saiu com reflexo porque foi tirada através de um vidro). Foto: Simone Catto 

A construção abaixo, na Al. Cleveland (em frente à Al. Glete), pertencia à Estrada de Ferro Sorocabana e, em 1922, abrigava uma caixa de assistência aos funcionários da ferrovia. Atualmente, sedia um Serviço de Assistência Especializada (SAE) em DST/Aids.

O sol estava na contra-luz... - Foto: Simone Catto

Detalhe da porta da construção acima - Foto: Simone Catto


Nenhum comentário:

Postar um comentário