domingo, 11 de agosto de 2013

Minha manhã com os barões do café (parte 2).

Se você leu os posts anteriores, já sabe que esta matéria é continuação de outras que se referem a um gostoso passeio que fiz no bairro de Campos Elíseos com a equipe do site 'São Paulo Antiga', o tour 'São Paulo no tempo dos barões do café'. Era tanta informação interessante, que um só post não deu conta! Vamos, então, continuar nossa caminhada pela região.

O maior e mais suntuoso palacete do bairro era, sem dúvida, a Residência Pacheco Chaves, conhecido como Palácio dos Campos Elíseos. A magnífica construção tem a frente para a Av. Rio Branco e os fundos para a Rua Guaianazes. Projetado pelo alemão Mateus Häussle e finalizado pelo Escritório Ramos de Azevedo, o palacete foi construído entre 1896 e 1899 para o mais rico dos barões do café, Elias Antônio Pacheco Chaves, que se mudou para lá em 1899 após residir na Rua São Bento. No entanto, o cafeicultor viveu pouco tempo em seu rico palacete. Em 1912, o imóvel foi adquirido pelo Estado e a propriedade passou a abrigar a residência dos governadores.

A foto que tirei dos fundos do palacete, por entre as grades do portão, sob sol intenso... 
Foto: Simone Catto

Na Revolução de 24, o bairro ficou no meio do fogo cruzado e os barões do café fugiram dali de vez. Na ocasião, o palacete foi ocupado por rebeldes e também sofreu bombardeios. De 1935 a 1965 tornou-se também sede do governo do Estado e, depois da transferência do poder para o Palácio do Morumbi, o monstrengo arquitetônico onde está até hoje, o bairro passou a se deteriorar ainda mais. O Palácio já sofreu várias modificações internas e externas e seu gradil foi substituído por um muro de tijolo após o alargamento da Av. Rio Branco.

Detalhe do belo palácio em foto tirada da Av. Rio Branco - Foto: Simone Catto

Atualmente o Palácio dos Campos Elíseos está sendo restaurado pelo governador Geraldo Alckmin e consta que ele manifestou a intenção de despachar por lá pelo menos uma vez por semana, a fim de valorizar a região e atrair empresários.

À Av. Rio Branco, 1210 (esquina com a Al. Glete), está um casarão que achei encantador, em estilo francês e com um belo jardim, que atualmente pertence à UNESP – Universidade Estadual Paulista. Vale ressaltar que os barões do café apreciavam muito a arquitetura francesa, a qual tinham a oportunidade de admirar em suas viagens a Paris, e reproduziam-nas na construção de suas mansões. Tirei vários fotos a partir do gradil.

O belíssimo casarão que hoje pertence à UNESP, à Av. Rio Branco, 1210 - Foto: Simone Catto

Um outro ângulo da casa que me encantou... - Foto: Simone Catto

E aqui, dá para avistar um pouco do belo jardim da casa - Foto: Simone Catto

Um outro belíssimo casarão da região é aquele que abriga o Museu da Energia, à Al. Cleveland, 601. A mansão, construída em algum período entre 1894 e 1898, foi residência do irmão mais velho de Santos Dumont, Henrique Santos Dumont, e  acredita-se que o projeto seja de autoria do escritório Ramos de Azevedo. Sim, o 'Pai da Aviação' pertencia a uma abastada família cafeeira! 

Quando a elite paulistana abandonou os Campos Elíseos, o palacete da família Dumont passou por várias mãos. Abrigou o Colégio Stafford, um internato feminino (1926 a 1951), e foi sede da Sociedade Pestalozzi (1952 a 1983). Entre 1983 e 2001, o imóvel foi ocupado por moradores de rua, até que, em 2001, passou para o Estado e foi restaurado com o auxílio de várias empresas, até tornar-se o Museu da Energia em 2005.

O palacete que hoje abriga o Museu da Energia e que já pertenceu ao irmão de Santos Dumont. 
Foto: Simone Catto

A região dos Campos Elíseos é mesmo cheia de contrastes. Durante nosso passeio, passamos em frente a um mercadinho bem antigo situado à Al. Glete, 224. O proprietário, sr. Porfírio, ficou feliz com nossa visita, contando que está no local há mais de 54 anos, tem o maior orgulho de seu bairro e não pretende sair de lá! 

O simpático sr. Porfírio e seu mercadinho: há mais de meio século no bairro!
Foto: Simone Catto

Não dá para falar do bairro de Campos Elíseos sem mencionar duas instituições tradicionalíssimas na região: a Igreja e o Liceu Sagrado Coração de Jesus, que também têm uma longa história para contar.

Lindo gradil de uma construção pertencente ao Liceu Sagrado Coração de Jesus, comandado 
pelos padres salesianos. Foto: Simone Catto

Outro belo imóvel pertencente ao complexo dos padres salesianos - Foto: Simone Catto

A Igreja foi fundada em 1879 pelos padres salesianos que vieram da Europa. A construção do Liceu começou no início da década de 1880 e foi finalizada em 1900. Inicialmente voltado à educação das crianças pobres, o Liceu tornou-se uma escola particular em 1915, atraindo os filhos da aristocracia cafeeira. Foram os padres salesianos, mais liberais e com uma abordagem mais humanista da educação, que acabaram com a terrível prática de castigar as crianças com palmatória. Tanto o Liceu quanto a Igreja são belíssimos – dá gosto passear no átrio interno! A Igreja, no momento, não está aberta ao público por estar em processo de restauração.

Detalhe da fachada do Santuário Sagrado Coração de Jesus - Foto: Simone Catto
   
O portão da igreja tem de mais de uma marca de bala da Revolução de 24!- Foto: Simone Catto

Interior do Santuário Sagrado Coração de Jesus, atualmente em restauração.
Foto: Simone Catto

Ao lado de tantos imóveis preservados e restaurados, há outros, em contrapartida, que não tiveram a mesma sorte. Ao visitar o palacete abaixo, por exemplo, fiquei com dor no coração! Totalmente em ruínas, é conhecido como Casarão Princesa Isabel ou Palacete Barão do Rio Pardo. Localizado na esquina da Al. Ribeiro da Silva com a Al. Barão de Piracicaba, foi construído em 1883 e pertenceu ao Barão do Rio Pardo, tendo sido uma residência de altíssimo padrão. De 1908 a 1913 a casa foi alugada para um internato de rapazes, o Colégio Silvio Almeida.

Aqui o casarão ainda não havia sofrido o desmoronamento parcial, apesar de seu péssimo estado 
de conservação - Foto: www.saopauloantiga.com.br

Após décadas de abandono e descaso, o imóvel, que já foi tombado, está interditado pela Prefeitura desde 2005 devido aos riscos de desabamento. Parte dele já veio abaixo em 2010, provavelmente devido às chuvas intensas que caíram sobre a cidade no verão daquele ano. Segundo vizinhos, dois bustos femininos que enfeitavam as paredes externas da casa supostamente representariam a Princesa Isabel, daí um dos nomes pelos quais o palacete é conhecido. Infelizmente, esses bustos não estão mais lá para contar a história e hoje restam apenas os contornos do enfeite.

Nesta foto, provavelmente de 2010, infelizmente vemos que boa parte do casarão havia desabado e o local está interditado - Foto: www.saopauloantiga.com.br

Detalhe ornamental do casarão que, um dia, deve ter sido tão belo... que pena!!!
Foto: www.saopauloantiga.com.br

Parece-me que hoje o casarão está em disputa judicial porque, embora não haja sequer um documento que comprove quem seria seu proprietário, um senhor jura de pés juntos que ele pertence a sua família. Enquanto isso, resta-nos torcer para que o casarão não desabe de vez!



Uma equipe da TV Gazeta acompanhou nosso passeio, que foi tema de uma bela reportagem veiculada no Jornal da Gazeta. Clique aqui para assistir!

5 comentários:

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    1. Obrigada, Gabriella! Creio que, quanto mais divulgarmos as riquezas arquitetônicas de nossa tão maltratada cidade, mais pessoas podem se conscientizar com relação à importância da preservação de nossa história. Abraço!

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  2. Olá Simone... em primeiro lugar, parabéns pelo blog. Fiz o mesmo passeio no ultimo domingo (01-05-14) e foi maravilhoso. O pessoal do SPA e a Porto Seguro estão realizando um belíssimo trabalho e, em breve, novos roteiros serão oferecidos. A julgar pela qualidade deste, tenho certeza que também serão imperdíveis. Abraços.

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    1. Obrigada, Luis! Esse passeio realmente é campeão. Já fui também ao Solar da Marquesa de Santos e ao Cemitério do Araçá com a turma do SPA e estou sempre de olho nas novidades. Fico feliz que tenha apreciado o blog, abraço!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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