Se você leu os posts anteriores, já sabe que esta matéria é continuação
de outras que se referem a um gostoso passeio que fiz no bairro de Campos
Elíseos com a equipe do site 'São Paulo Antiga', o tour 'São Paulo no tempo dos
barões do café'. Era tanta informação interessante, que um só post não deu conta! Vamos, então, continuar nossa caminhada pela região.
O maior e mais suntuoso palacete do bairro era, sem dúvida, a Residência Pacheco Chaves, conhecido
como Palácio dos Campos Elíseos. A
magnífica construção tem a frente para a Av. Rio Branco e os fundos para a Rua
Guaianazes. Projetado pelo alemão Mateus Häussle e finalizado pelo Escritório
Ramos de Azevedo, o palacete foi construído entre 1896 e 1899 para o mais rico
dos barões do café, Elias Antônio Pacheco Chaves, que se mudou para lá em 1899
após residir na Rua São Bento. No entanto, o cafeicultor viveu pouco tempo em
seu rico palacete. Em 1912, o imóvel foi adquirido pelo Estado e a propriedade
passou a abrigar a residência dos governadores.
A foto que tirei dos fundos do palacete, por entre as grades do portão, sob sol intenso... Foto: Simone Catto |
Na Revolução de 24, o bairro ficou no meio do fogo cruzado e os barões
do café fugiram dali de vez. Na ocasião, o palacete foi ocupado por rebeldes e
também sofreu bombardeios. De 1935 a 1965 tornou-se também sede do governo do
Estado e, depois da transferência do poder para o Palácio do Morumbi, o
monstrengo arquitetônico onde está até hoje, o bairro passou a se deteriorar
ainda mais. O Palácio já sofreu várias modificações internas e externas e seu
gradil foi substituído por um muro de tijolo após o alargamento da Av. Rio
Branco.
Detalhe do belo palácio em foto tirada da Av. Rio Branco - Foto: Simone Catto |
Atualmente o Palácio dos Campos Elíseos está sendo restaurado pelo
governador Geraldo Alckmin e consta que ele manifestou a intenção de despachar por lá pelo
menos uma vez por semana, a fim de valorizar a região e atrair empresários.
À Av. Rio Branco, 1210 (esquina com a Al. Glete), está um casarão que achei
encantador, em estilo francês e com um belo jardim, que atualmente pertence à
UNESP – Universidade Estadual Paulista. Vale ressaltar que os barões do café
apreciavam muito a arquitetura francesa, a qual tinham a oportunidade de
admirar em suas viagens a Paris, e reproduziam-nas na construção de suas
mansões. Tirei vários fotos a partir do gradil.
O belíssimo casarão que hoje pertence à UNESP, à Av. Rio Branco, 1210 - Foto: Simone Catto |
E aqui, dá para avistar um pouco do belo jardim da casa - Foto: Simone Catto |
Um outro belíssimo casarão da região é aquele que abriga o Museu da Energia, à Al. Cleveland, 601. A mansão, construída em algum
período entre 1894 e 1898, foi residência do irmão mais velho de Santos Dumont,
Henrique Santos Dumont, e acredita-se
que o projeto seja de autoria do escritório Ramos de Azevedo. Sim, o 'Pai da
Aviação' pertencia a uma abastada família cafeeira!
Quando a elite paulistana abandonou os Campos Elíseos, o palacete da
família Dumont passou por várias mãos. Abrigou o Colégio Stafford, um internato
feminino (1926 a 1951), e foi sede da Sociedade Pestalozzi (1952 a 1983). Entre
1983 e 2001, o imóvel foi ocupado por moradores de rua, até que, em 2001,
passou para o Estado e foi restaurado com o auxílio de várias empresas, até
tornar-se o Museu da Energia em 2005.
O palacete que hoje abriga o Museu da Energia e que já pertenceu ao irmão de Santos Dumont. Foto: Simone Catto |
A região dos Campos Elíseos é mesmo cheia de contrastes. Durante nosso
passeio, passamos em frente a um mercadinho bem antigo situado à Al. Glete,
224. O proprietário, sr. Porfírio, ficou feliz com nossa visita, contando que
está no local há mais de 54 anos, tem o maior orgulho de seu bairro e não pretende sair de lá!
O simpático sr. Porfírio e seu mercadinho: há mais de meio século no bairro! Foto: Simone Catto |
Não dá para falar do bairro de Campos Elíseos sem mencionar duas
instituições tradicionalíssimas na região: a Igreja e o Liceu Sagrado Coração
de Jesus, que também têm uma longa história para contar.
Lindo gradil de uma construção pertencente ao Liceu Sagrado Coração de Jesus, comandado pelos padres salesianos. Foto: Simone Catto |
A Igreja foi fundada em 1879 pelos padres salesianos que vieram da
Europa. A construção do Liceu começou no início da década de 1880 e foi
finalizada em 1900. Inicialmente voltado à educação das crianças pobres, o
Liceu tornou-se uma escola particular em 1915, atraindo os filhos da
aristocracia cafeeira. Foram os padres salesianos, mais liberais e com uma
abordagem mais humanista da educação, que acabaram com a terrível prática de castigar
as crianças com palmatória. Tanto o Liceu quanto a Igreja são belíssimos – dá
gosto passear no átrio interno! A Igreja, no momento, não está aberta ao
público por estar em processo de restauração.
Detalhe da fachada do Santuário Sagrado Coração de Jesus - Foto: Simone Catto |
Ao lado de tantos imóveis preservados e restaurados, há outros, em
contrapartida, que não tiveram a mesma sorte. Ao visitar o palacete abaixo, por
exemplo, fiquei com dor no coração! Totalmente em ruínas, é conhecido como Casarão Princesa Isabel
ou Palacete Barão do Rio Pardo. Localizado na
esquina da Al. Ribeiro da Silva com a Al. Barão de Piracicaba, foi construído em 1883 e pertenceu ao Barão do Rio Pardo, tendo sido
uma residência de altíssimo padrão. De 1908 a 1913 a casa foi alugada para um
internato de rapazes, o Colégio Silvio Almeida.
Aqui o casarão ainda não havia sofrido o desmoronamento parcial, apesar de seu péssimo estado de conservação - Foto: www.saopauloantiga.com.br |
Após décadas de abandono e descaso, o imóvel, que já foi tombado, está
interditado pela Prefeitura desde 2005 devido aos riscos de desabamento. Parte dele já veio abaixo em 2010, provavelmente
devido às chuvas intensas que caíram sobre a cidade no verão daquele ano. Segundo
vizinhos, dois bustos femininos que enfeitavam as paredes externas da casa
supostamente representariam a Princesa Isabel, daí um dos nomes pelos quais o
palacete é conhecido. Infelizmente, esses bustos não estão mais lá para contar
a história e hoje restam apenas os contornos do enfeite.
Nesta foto, provavelmente de 2010, infelizmente vemos que boa parte do casarão havia desabado e o local está interditado - Foto: www.saopauloantiga.com.br |
Detalhe ornamental do casarão que, um dia, deve ter sido tão belo... que pena!!! Foto: www.saopauloantiga.com.br |
Parece-me que hoje o casarão está em disputa judicial porque, embora não haja
sequer um documento que comprove quem seria seu proprietário, um senhor jura de
pés juntos que ele pertence a sua família. Enquanto isso, resta-nos torcer para
que o casarão não desabe de vez!
Uma equipe da TV Gazeta acompanhou nosso passeio, que foi tema de uma bela
reportagem veiculada no Jornal da Gazeta. Clique aqui para assistir!
Sensacional!
ResponderExcluirObrigada, Gabriella! Creio que, quanto mais divulgarmos as riquezas arquitetônicas de nossa tão maltratada cidade, mais pessoas podem se conscientizar com relação à importância da preservação de nossa história. Abraço!
ExcluirOlá Simone... em primeiro lugar, parabéns pelo blog. Fiz o mesmo passeio no ultimo domingo (01-05-14) e foi maravilhoso. O pessoal do SPA e a Porto Seguro estão realizando um belíssimo trabalho e, em breve, novos roteiros serão oferecidos. A julgar pela qualidade deste, tenho certeza que também serão imperdíveis. Abraços.
ResponderExcluirObrigada, Luis! Esse passeio realmente é campeão. Já fui também ao Solar da Marquesa de Santos e ao Cemitério do Araçá com a turma do SPA e estou sempre de olho nas novidades. Fico feliz que tenha apreciado o blog, abraço!
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