Guillaume é um rapaz tímido, sensível, intelectual,
franzino, meio desajeitado... um doce, enfim. Pertence a uma família abastada,
tem dois irmãos e nutre profunda adoração pela mãe, uma loira alta,
voluntariosa e autocentrada que o trata com displicência e, o que é pior,
confunde a identidade sexual do garoto ao tratá-lo como a filha que nunca teve. Esse menino cresce, vira um homem maduro e torna-se um ator competente totalmente resolvido com sua sexualidade. Agora o detalhe
inusitado: o ator que interpreta Guillaume adolescente é o mesmo que o
interpreta adulto, e também interpreta... sua mãe! Sim. Se você assistisse ao
filme sem saber disso, JA-MAIS diria que Guillaume e sua mãe são a mesma
pessoa.
E que filme é esse? Estou falando de 'Eu,
mamãe e os meninos', que conquistou vários prêmios no César 2014, o 'Oscar' do cinema francês, entre eles o de melhor ator, filme e roteiro. O ator
que interpreta magistralmente esses papéis é Guillaume Gallienne, que tem 42 anos, pertence à prestigiada
Comédie Française e também atuou como diretor e roteirista desse filme, que,
segundo soube, tem um fundo autobiográfico.
Guillaume Gallienne dá um show interpretando, ao mesmo tempo, o adolescente 'Guillaume' e sua mãe. |
E ainda por cima, o ator de 42 convence como adolescente! |
Profundamente expressivo, o filme mostra os
conflitos psicológicos do rapaz e seu relacionamento com a mãe desnaturada de uma forma leve, sensível e extremamente divertida. Enquanto seus irmãos mais
velhos gostam de brincadeiras de meninos, Guillaume não tem nenhum jeito
para os esportes, tomando tombos homéricos nas aulas de equitação ou sendo atropelado pelos colegas do time de rugby, dentre os vários esportes que tenta praticar sem sucesso. O menino, que sentia profunda empatia por qualquer mulher que cruzasse
seu caminho, incluindo a avó e as tias, preferia imitar a imperatriz 'Sissi' no
segredo de seu quarto. Como se não bastasse, sua admiração pela mãe era tão cega, que ele
fazia de tudo para se parecer com ela. Um dia, essa mãe que mal lhe ouvia enviou-o
à Espanha e Guillaume acabou aprendendo a dançar flamenco como uma mulher,
virando motivo de chacota. Previsivelmente, sofreu bullying em todas as escolas
por que passou, devido a sua suposta homossexualidade, e chegou mesmo a pensar
estar apaixonado por um colega.
Ao vestir-se de 'Sissi', a imperatriz, Guillaume é flagrado pelo pai e dá uma desculpa esfarrapada. |
E assim o pobre Guillaume vai experimentando
com a vida e realizando tantas atividades diferentes quanto seu dinheiro
permite para tentar encontrar sua identidade sexual e seu lugar no mundo. À medida
que vai tomando consciência de si mesmo por meio de seus desejos, seu
sentimento pela mãe vai sofrendo uma transmutação e o amor cego transforma-se
em um mix de ternura, raiva e ironia.
Ninguém diz que Guillaume e sua mãe são a mesma pessoa! |
Apesar do humor agridoce, o filme arranca
muitas risadas em situações verdadeiramente hilariantes, como a cena em que a
avó, que começa a ficar senil e a trocar as palavras, diz verdadeiras
barbaridades à mesa em uma refeição com a família. Infelizmente, não sei por
que cargas d’água, o filme que estreou em São Paulo há apenas um mês já saiu de
cartaz! Não dá para entender, já que é tão bom. Contudo, se você
tiver a oportunidade de assistir, de uma forma ou de outra, não perca! Trata-se de excelente cinema em um filme sensível como poucos.
Françoise Fabian interpreta a chique avó de Guillaume em uma das cenas mais hilárias do filme. |
Ficha técnica parcial
Título original: Les garçons et Guillaume, à table!
Direção: Guillaume
Gallienne
Elenco: Guillaume
Gallienne (Guillaume e sua mãe), André Marcon (pai de Guillaume), Françoise Fabian (avó), Diane
Kruger (Ingeborg)
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