Quarta-feira passada foi o vernissage de uma excelente exposição de Gregório Gruber (1951), desta vez na Pinacoteca da Associação Paulista de Medicina. Conheço o trabalho do artista desde
minha adolescência e nunca me esqueço de como fiquei hipnotizada ao me deparar
com uma obra sua pela primeira vez, uma paisagem monocromática de São Paulo na
capa de uma lista telefônica da Telesp, antiga estatal de telefonia.
Não consigo lembrar exatamente que paisagem era aquela – talvez o Viaduto do
Chá ou o Santa Ifigênia, não sei, mas lembro que ela tinha uma luz
sobrenatural, toda em tons azul-violáceos e envolta numa espécie de névoa. Como
desde pequena eu já tinha um "pezinho" na arte, procurei na contracapa do
catálogo telefônico o nome do artista, e então... voilà! Descobri Gregório. (Momento
flashback: quando criança, eu costumava recortar fotos de pinturas dos livros
de história da escola para colá-las na parede da casa das bonecas. Acho que
minhas 'Susis' eram as únicas que tinham, ao mesmo tempo, a Mona Lisa e o Balanço de Fragonard na sala!... rs.)
Ainda na adolescência, quando comecei a acompanhar a programação
cultural de jornais e revistas, vez ou outra lia alguma coisa sobre Gregório
Gruber e descobri que sua "especialidade", por assim dizer, eram as paisagens
da cidade de São Paulo. Em 2002 tive a oportunidade de visitar uma megaexposição
de suas pinturas no Centro e, anos mais tarde, Gregório tornou-se objeto de meu
trabalho de pós-graduação e também de um livro no qual discorri sobre o tema
pictórico que lhe deu notoriedade, sua amada São Paulo. De lá para cá venho
acompanhando sua produção de perto e posso dizer que essa exposição na APM é
uma ótima oportunidade para quem não conhece sua obra ter uma boa ideia do
estilo do artista.
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Vernissage com música tem um charme especial! - Foto: Simone Catto |
Gregório domina várias técnicas e lá encontramos uma pequena,
porém diversificada, amostra de sua produção: pinturas sobre tela e juta,
aquarelas, desenhos a carvão, gravuras e também os esfuziantes e coloridíssimos
assemblages.
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'Ciclista na Paulista' (2008) - pintura sobre juta - Foto: Simone Catto |
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'Cena Noturna' (2003) - pintura sobre tela Foto: Lorena Hollander (catálogo da exposição) |
Produzidos de uns cinco anos para cá, os assemblages consistem em composições construídas em camadas com
pedacinhos de madeira balsa formando relevos de grande engenhosidade e harmonia.
Exuberantes e com cores muito vivas, pertencem a um gênero bem diferente da
produção de Gregório à qual estamos acostumados, notadamente as pinturas. As
fotos a seguir dão apenas uma pálida ideia da inventividade dos assemblages do artista, o ideal é
apreciá-los ao vivo para ter noção da profundidade e sentir sua altíssima
qualidade estética.
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'Amanhecer' (2005) - assemblage com madeira balsa - Foto: Lorena Hollander (catálogo da exposição) |
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'Elevado' (2010) - assemblage com madeira balsa - Foto: Lorena Hollander (catálogo da exposição) |
Dentre as pinturas e aquarelas, não poderiam faltar algumas
realizadas com técnica análoga àquela que tanto me impressionou na capa da
lista da Telesp quando eu ainda nem era gente: monocromias com paisagens
envoltas em névoa, como se fossem cenários de sonho.
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'Estrada' (2007) - aquarela - Foto: Lorena Hollander (catálogo da exposição) |
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'Carro na Neblina' (2007) - aquarela - Foto: Lorena Hollander (catálogo da exposição) |
As obras da exposição estão didaticamente separadas por técnica,
um acerto da curadora Lorena Hollander que confere organização no conjunto e facilita,
para o espectador, a compreensão da obra do artista. As paisagens da cidade de
São Paulo predominam, mas aqui e acolá visualizamos um interior ou um cenário
mais bucólico.
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'Paulista' (2004) - pintura sobre juta - Foto: Lorena Hollander (catálogo da exposição) |
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'Saldanha Marinho II' (2004) - litografia - Foto: Simone Catto |
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'Interior com Piano' (2007) - carvão sobre papel - Foto: Lorena Hollander (catálogo da exposição) |
Um outro ponto a destacar é o cuidado que o Departamento
Cultural da Associação Paulista de Medicina teve com a confecção do catálogo da
exposição, fartamente ilustrado e com uma impressão de ótima qualidade. Vale
ressaltar, também, que no mesmo andar é exibida, em outra sala, parte do respeitável acervo
artístico da instituição, com obras de Tarsila do Amaral, Pancetti, Volpi,
Clóvis Graciano, Mario Zanini, Aldemir Martins, Di Cavalcanti e muitos outros
grandes artistas brasileiros. Dá para visitar ambas! Só não dá para entender
por que a exposição de Gregório Gruber na APM não consta nos guias semanais de
entretenimento da grande mídia, já que se trata de uma mostra tão importante.
Anote aí: GREGÓRIO GRUBER
na Pinacoteca da Associação Paulista de Medicina - Av. Brigadeiro Luís Antônio,
278 - 8º andar. Abre de segunda a sexta-feira, das 10h às 20h, com entrada
franca. Até 12/9. Em tempo: na noite do vernissage, deixei o carro num
estacionamento ao lado que cobra R$ 15,00, preço justo para os padrões de Sampa.
Não perca!
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