quarta-feira, 7 de maio de 2014

Jardim Botânico, um refúgio para lembrar que até Sampa pode ter vida de verdade.

No turbilhão da vida que levo em São Paulo, tenho sentido com frequência cada vez maior uma necessidade imperiosa de fazer aquilo que chamo de "escapada estratégica", isto é, buscar alguma forma de estar em contato com a natureza e me reconectar a minhas origens. Como nem sempre é possível sair da cidade, vivo procurando alternativas e acabo de achar um ótimo refúgio: o Jardim Botânico de São Paulo, localizado na Zona Sul da cidade.

Nunca me esqueci de quando o visitei pela primeira vez, ainda criança, levada por meu pai e meu avô. A imagem de uma imensa escadaria em um amplo jardim permaneceu para sempre em minha memória, ao lado de uma viva lembrança de ter sentido algo de muito positivo naquele lugar. Agora, tantos anos depois, retornei àquela imensa reserva florestal e fiquei muito feliz ao constatar que ela não só está muito bem preservada como também é bem frequentada, limpa e ainda conta com um excelente restaurante com mesas ao ar livre. 

O jardim com a escadaria que me impressionou desde criança - Foto: Simone Catto

Detalhe da escada - Foto: Simone Catto

A natureza em toda a sua beleza e exuberância no Jardim dos Sentidos - Foto: Simone Catto

Para começar, o lugar não lota. Nada das hordas de famílias e crianças normalmente encontradas no Jardim Zoológico, pouco mais à frente. É outro perfil de público, outro astral e outra vibe. Além disso, não é permitido a entrada com animais, bicicletas, skates, bolas ou afins, o que já garante a santa paz e o sossego do lugar. A impressão que temos ao entrar e respirar aquele ar já é mágica.

Foto: Simone Catto

O traçado desse jardim, chamado Jardim de Lineu, lembra o dos jardins franceses - Foto: Simone Catto

Estive no Jardim Botânico na última sexta-feira do feriadão de 1º de Maio e, como foi dia útil para muita gente, o parque estava quase vazio e pude explorar o espaço com tranquilidade. São 360 mil m² de área de visitação que incluem trilhas pavimentadas e de terra batida, lagos, estufas e até um museu. 

Foto: Simone Catto

O delicioso Túnel de Bambu - Foto: Simone Catto

Lago das Ninfeias - Foto: Simone Catto

Na ocasião estava acontecendo a 115ª Exposição Nacional de Orquídeas, com lindas e exuberantes espécies de diferentes regiões do Brasil.

Belíssimo exemplar da 115a. Exposição Nacional de Orquídeas - Foto: Simone Catto

As orquídeas, uma mais linda que a outra! - Foto: Simone Catto

Único no Estado a preservar uma reserva de Mata Atlântica, nosso Jardim Botânico tem uma paisagem exuberante que inclui uma enorme variedade de plantas e árvores, como palmeiras, sequoias, quaresmeiras, manacás, ipês e bicos-de-papagaio, entre outras, até espécies ameaçadas de extinção, como pau-brasil, imbuia e pinheiro-do-paraná (araucária). Palmitos, cipós e exóticas bromélias também fazem parte da luxuriante paisagem. Na Trilha da Nascente, podemos avistar macacos, tucanos e preguiças até a nascente do córrego Pirarungaua e ver a água límpida brotar da terra. Há até um lago circundado por bugios, aqueles macacos barulhentos de cara pouco amigável (rs). É realmente um deleite passear por lá, faz bem para corpo e alma!

Um belo panorama da mata com o Portão Histórico e o Lago das Ninfeias em primeiro plano - Foto: Simone Catto

O belíssimo Portão Histórico do final do século XIX - Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

O lugar é cheio de refúgios agradáveis... - Foto: Simone Catto

Nessa minha visita optei por almoçar no delicioso restaurante do lugar, que oferece um variado e saboroso bufê por quilo a preços justos e ainda tem mesas debaixo de um caramanchão, onde podemos saborear nossa refeição apreciando uma bela vista do parque.

Dá gosto almoçar aí! - Foto: Simone Catto

Aqui e acolá, em cantinhos privilegiados da floresta, vi mesas de madeira para piquenique – sim, piquenique pode! – e algumas estavam ocupadas por pequenos grupos que comiam e conversavam civilizadamente. Ao contrário do que ocorre em tantas cidades europeias, em São Paulo, infelizmente, é praticamente impossível encontrar lugares como esse para a gente fazer um piquenique sossegada. Lembro que, quando criança, fiz vários e inesquecíveis piqueniques no Pico do Jaraguá com minha família. Nunca mais voltei lá, mas tenho certeza de que hoje isso deve equivaler a um suicídio! Por isso, tive uma grata surpresa ao constatar que no Jardim Botânico ainda podemos fazer um piquenique. Quem sabe na próxima vez?

Um doa agradáveis recantos para piquenique - delícia! - Foto: Simone Catto

Ah, sim: também vi muitos japoneses no parque. Alguns estavam em grupos, sentados no chão e brincando com a prole, alegres e fofas criancinhas. Outros tiravam fotos com poderosas câmeras fotográficas e tripés. Sim, os japoneses apreciam a natureza e sabem o que é bom!

Foto: Simone Catto

Mas vamos explicar um pouco como tudo começou. No final do século XIX, o Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, como era então denominada a região, era uma vasta mata nativa ocupada por sítios e chácaras. Após uma desapropriação do governo para preservar os recursos hídricos e as nascentes do Riacho do Ipiranga, a área passou a chamar-se Parque do Estado e até 1928 serviu para a captação de águas que abasteciam o bairro do Ipiranga. Para nossa alegria, naquele mesmo ano, o naturalista Frederico Carlos Hoehne foi convidado a implantar um Jardim Botânico no local, e em 1938 ele foi oficializado.

Foto: Simone Catto

Se você é como eu e os japoneses e também gosta de paz, de caminhar e do contato com a natureza, o Jardim Botânico é um passeio imperdível. E, acredite, fica pertinho da “civilização”! Endereço: Av. Miguel Stéfano, 3687 - Água Funda. Tel.: 5067-6000 - www.jardimbotanico.sp.gov.br. Abre de terça a domingo e feriados, das 9h às 17h, e ainda por cima o ingresso tem preço justo: R$ 5,00 a inteira e R$ 2,50 a meia. O estacionamento também cobra um valor razoável: R$ 8,00. Corra pra lá!

2 comentários:

  1. Simone,
    Hoje, descobri o seu blog quando andava em busca de referências a Monet.
    Com o dia todo à minha disposição, não consegui mais daqui sair.
    Digo um "obrigada" na tentativa de expressar o meu encantamento com a sua sensibilidade, inteligência e, porque não, generosidade.
    Uma conterranea a viver em Portugal há quase 19 anos.

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    1. Obrigada pelas palavras gentis, Maria! Fico feliz que tenha gostado do blog. Realmente, ele nada mais é do que uma forma que encontrei para compartilhar com as pessoas coisas que me fazem bem. Abraço!

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