Eu já havia ouvido falar maravilhas da cozinha do restaurante
Mocotó, que há tempos virou lenda na cidade com suas especialidades nordestinas.
Sabia que, nos fins de semana, não importa o horário da chegada, todo mundo
enfrenta esperas que passam fácil fácil de uma hora e meia, duas horas. E lá
fui eu num domingão tirar a prova heroicamente, incentivada por companhias tão ou
mais heroicas que eu.
Olhar o povo esperando na calçada dá desespero, mas isso já era previsto.
E já que havíamos chegado tão longe, estávamos para o que der e vier. Sim,
porque o Mocotó é muuuito longe para qualquer criatura que não more na Zona
Norte de São Paulo. GPS é fundamental, pois aquela tal de Vila Medeiros não
chega nunca! (rs)
Dê uma olhada na espera! Foto: Simone Catto |
Contudo, posso dizer tranquilamente que a espera valeu cada
minuto. A calçada tem bancos de madeira, algumas mesinhas de apoio e, enquanto aguarda
mesa, o pessoal fica petiscando e bebendo por lá mesmo. Felizmente, um desses
bancos logo vagou e pudemos nos sentar. Foi então que começou o festival de
delícias. Passou um garçom oferecendo miniescondidinhos de carne de panela individuais,
numa bandeja. Mais do que depressa, garantimos os nossos. Com um sabor e uma
delicadeza ímpares, o escondidinho é feito de purê de mandioca cremoso com
recheio de carne e requeijão e gratinado com queijo de coalho. Charme extra:
uma pimenta biquinho enfeita o topo. Sem exagero, foi o melhor escondidinho que
comi na vida!
O escondidinho de carne de panela é uma verdadeira iguaria! |
Na sequência, pedimos novos quitutes e bebidas para embalar o
papo e a espera. Tudo lá fora. O próximo alvo foram os fantásticos dadinhos
de tapioca. Aquilo é tão bom, mas tão bom, que não dá nem para
descrever! Estamos falando de cubinhos de tapioca preparados com queijo de coalho,
dourados e servidos com molho de pimenta agridoce. Como se não bastasse o
sabor divino, a textura é uma coisa de louco de tão gostosa. Estou até agora sonhando
com esses dadinhos! (rs).
Os inesquecíveis dadinhos de tapioca, já desfalcados! (R$ 12,90 - 6 unidades) - Foto: Simone Catto |
Enquanto a conversa corria solta, escolhemos nossa próxima
vítima: queijo de coalho com melado.
Dourado na manteiga de garrafa e acompanhado de melado de cana, o queijo também
é muito bem feito e uma ótima opção.
O saboroso queijo de coalho (unidade: R$ 6,90) - Foto: Simone Catto |
Só posso dizer que, com tantas coisas gostosas e um papo tão
bom, nem sentimos a hora passar. Quando finalmente foi liberada uma mesa para
nós, já se haviam passado duas horas e vinte minutos!
O ambiente, aconchegante, lembra boteco de interior - foto: Simone Catto |
A foto não saiu exatamente uma maravilha, mas dá para ter uma ideia também do outro salão - Foto: Simone Catto |
E aqui, uma espiada no pessoal fazendo mágica na cozinha! - Foto: Simone Catto |
O ambiente do restaurante lembra uma mistura de empório com
boteco antigo de interior. Ou seja: é bem colorido, simpático e acolhedor, sem
dúvida com o jeito de seu fundador, um pernambucano chamado José
Oliveira de Almeida que veio tentar a sorte em São Paulo no início dos anos 70,
começou a vender os quitutes de sua terra por aqui e o negócio prosperou à base
de muita dedicação e amor ao trabalho. Hoje a casa é tocada por seu filho
Rodrigo Oliveira, mas seu Zé faz questão de acompanhar pessoalmente o preparo
das receitas. Apaixonado por gastronomia, Rodrigo não só deu continuidade à fabulosa tradição
culinária do pai como a aprimorou ainda mais, incluindo no cardápio uma diversificada
carta de cachaças que também faz a fama da casa. E já que estamos falando em prazeres
etílicos, comecei a refeição pedindo o delicioso caju amigo preparado com cachaça,
caju em calda e suco de caju fresco.
Meu caju amigo do peito! (R$ 16,90) - Foto: Simone Catto |
Depois foi a hora de começar a comilança propriamente dita. Entre
a rica seleção de pratos típicos regionais como feijão de corda, atolado de vaca,
costelinha de porco e pirarucu assado, entre tantos outros, fomos primeiro de carne
seca desfiada com cebola roxa: carne seca puxada na
manteiga de garrafa, acompanhada de pimenta de bico, mandioca cozida e
jerimum assado com mel e especiarias (R$ 38,90). Estava divina. O jerimum,
aliás, estava um escândalo de tão bom.
É óbvio que não iríamos perder a oportunidade de provar também
outro quitute regional. Pedimos então o baião-de-dois, o famoso feijão
com arroz incrementado com queijo de coalho, linguiça, bacon e carne seca. O baião-de-dois vem acompanhado de um delicioso purê de mandioquinha e pode ser
servido em quatro porções: mini, pequena, média e grande, por preços que variam
de R$ 13,90 a R$ 36,90. Optamos pela pequena,
a R$ 17,90, que seria mais do que suficiente. Veja, a seguir, a prova do crime com
todas as evidências reunidas sobre a mesa!
Ai, os meus pecados! - Foto: Simone Catto |
E não parou por aí! É óbvio que não iríamos até o Mocotó sem experimentar ao
menos uma sobremesa. Pedimos então o maravilhoso e levíssimo pudim de tapioca,
que leva leite condensado, leite de coco e uma calda de coco queimado que vai
por cima. Que que é aquilo! O pudim é tão leve que derrete na boca, simplesmente
glorioso!
O pudim de tapioca, de uma delicadeza e um sabor celestiais! (R$ 11,90) - Foto: Simone Catto |
E para dar coragem de levantar no final... um delicioso
cafezinho para arrematar!
Foto: Simone Catto |
Enfim, o MOCOTÓ é um daqueles restaurantes que você deve conhecer
antes de morrer. Absolutamente obrigatório! Além disso, não sei se você reparou, mas os preços são bem camaradas. Sim, o Mocotó é honesto. Embora a comida
seja maravilhosa, o cliente não é esfolado e nem sai mais pobre, muito pelo
contrário: sai enriquecido por uma experiência gastronômica memorável valorizada
por um ambiente de gostosa e acolhedora simplicidade. Vá lá, mas não esqueça o
GPS! Fica na Av. Nossa Senhora do Loreto, 1100 – Vila Medeiros. Tel.: 2951-3056
– www.mocoto.com.br.
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