Em
se tratando de arte, sempre ouvimos nomes como Monet, Renoir, Van Gogh, Picasso,
Kandinsky, Pollock, Tarsila, Portinari... e muitos outros. Porém, é preciso
dizer que existe muuuuita arte boa por esse mundo afora e que a gente mal
conhece. Arte como essa que está sendo exibida em uma mostra que talvez seja
uma das mais importantes em cartaz atualmente no Museu de Arte Contemporânea da
USP. É fácil descobrir por quê. A exposição 'Classicismo,
Realismo, Vanguarda: Pintura Italiana no Entreguerras' apresenta 71
pinturas italianas adquiridas no espaço de dez meses, entre 1946 e 1947, por
Francisco Matarazzo Sobrinho - o famoso 'conde Ciccillo' - e sua esposa
Yolanda Penteado, para a criação do antigo MAM de São Paulo. Transferidas
para a Universidade de São Paulo em 1963, essas obras formam uma das mais
importantes coleções de pintura moderna italiana da primeira metade do século
XX fora da Itália e, talvez, a principal em todo o continente americano. Apesar
disso, não são obras muito conhecidas fora do universo dos aficionados por
arte. Está aí, portanto, uma ótima oportunidade para descobri-las!
Além dos italianos, a exposição exibe dez pinturas de artistas brasileiros que estavam vinculados, de alguma forma, ao ambiente artístico da Itália e do entreguerras. Segundo informações do MAC, ocorria um intenso intercâmbio de informações entre os nossos modernos e os italianos do período. Pesquisas mostram que o artista brasileiro Paulo Rossi Osir, por exemplo, mantinha contato com a crítica de arte italiana Margherita Sarfatti, enquanto que o galerista veneziano Carlo Cardazzo e Pietro Maria Bardi também se engajaram na aquisição das obras pelo casal Ciccillo e Yolanda.
Vale ressaltar, também, que o conjunto de obras italianas revelaria "outra faceta do modernismo europeu, cuja experiência até então era muito focada no período vanguardista e no contexto da Escola de Paris", conforme a curadora Ana Magalhães.
Curiosidade: cinco pinturas italianas da coleção possuem obras também no verso, o que não era usual das práticas artísticas do período. Uma das possíveis explicações para essa prática é a escassez de papel do período.
Enquanto você não visita a exposição pessoalmente, veja uma amostra das belezas que encontrará por lá. Vamos começar pelos italianos.
Felipe Casorati - 'Nu Inacabado' (1943) - óleo s/ tela - foto: Simone Catto |
Casorati destaca-se pela pesquisa cromática e uma meticulosa sobreposição de cores em sua busca pelo realismo. Realizou grande número de nus femininos em interiores e
essa tela é uma daquelas que mencionei anteriormente, que possuem outra pintura
no verso. No caso, trata-se de uma obra de sua esposa, a inglesa Daphne
Maugham Casorati (1897-1982), sobrinha do escritor William Somerset Maugham.
Massimo Campigli - 'Três Mulheres' (1940) - óleo s/ tela - foto: Simone Catto |
Note que a pintura acima lembra muito os
belíssimos afrescos encontrados nas ruínas de cidades do Sul da Itália, como
Pompéia e Herculano.
Ardengo Soffici - 'O Caminho' (1908) - óleo s/ papelão - foto: Simone Catto |
Gino Severini - 'Mulher e Arlequim' (1946) - óleo s/ tela - foto: Simone Catto |
O motivo da Commedia
dell'Arte era um dos assuntos favoritos de Severini. Léonce Rosenberg,
que foi seu galerista por cerca de vinte anos, o estimulava a concentrar sua
produção nesse motivo porque a receptividade do mercado era grande e o assunto
havia se tornado uma espécie de "marca registrada" sua. No caso de 'A
Mulher e o Arlequim', Severini se apropriou das linguagens desenvolvidas
pelas vanguardas artísticas do inicio do século XX. Impossível, aliás, não
notar a semelhança desta e outras obras suas com o estilo de Henri Matisse, um
mestre que o artista admirava e que aqui é lembrado pelo uso abundante de cores
e do preto como cor, pelos contornos espessos e os elementos decorativos como
tapete, almofada, papel de parede e arabescos.
Piero Marussig - 'Mulheres à Beira do Riacho' (1915) - óleo s/ tela - foto: Simone Catto |
Já ao observar a pintura acima, não
tive como não notar a semelhança com Cézanne, seja pela simplificação das formas,
seja pela cor predominante, o verde, que aparece em várias tonalidades.
Filippo de Pisis - 'Rua em Veneza' (1946) - óleo s/ tela - foto: Simone Catto |
Neste outro caso, não estaríamos
falando nenhuma bobagem se disséssemos que Filippo de Pisis bebeu na fonte do
Impressionismo. É ou não é?
Mario Sironi - 'Invocação' (1946) - guache sobre papel sobre madeira - foto: Simone Catto A foto saiu tremida, mas dá para sentir a mais pura angústia expressionista! |
Agora vamos a alguns brasileiros da
exposição:
Aldo Bonadei - 'Natureza-morta' (1950) - óleo s/ tela - foto: Simone Catto |
Cândido Portinari - 'Retrato de Paulo Rossi Osir' (1935) - óleo s/ tela - foto: Simone Catto |
Mario Zanini - 'Canindé' (c. 1940) - óleo s/ tela - foto: Simone Catto |
Alberto da Veiga Guignard - 'Autorretrato' (1931) - óleo s/ tela - foto: Simone Catto |
Importante: para mais detalhes sobre a exposição, vale a pena acessar o site do MAC USP. Lá você encontrará textos muito esclarecedores dos curadores sobre algumas obras e artistas, o que é particularmente útil para conhecer melhor os italianos ali expostos.
Depois de se inteirar do assunto, vale a pena visitar o MAC para conferir essa bela exposição de perto. O endereço é Av. Pedro Álvares Cabral,
1301 – Ibirapuera. Tel: 5573-9932 -
www.mac.usp.br.
Abre às terças-feiras das 10h às 21h, e de quarta a domingo das 10h às 18h. Entrada franca.
E já que você estará lá, aproveite para visitar, também, outras exposições do
MAC que você não pode perder:
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