domingo, 6 de abril de 2014

'Classicismo, Realismo, Vanguarda: Pintura Italiana no Entreguerras'. Um tesouro a descobrir.

Em se tratando de arte, sempre ouvimos nomes como Monet, Renoir, Van Gogh, Picasso, Kandinsky, Pollock, Tarsila, Portinari... e muitos outros. Porém, é preciso dizer que existe muuuuita arte boa por esse mundo afora e que a gente mal conhece. Arte como essa que está sendo exibida em uma mostra que talvez seja uma das mais importantes em cartaz atualmente no Museu de Arte Contemporânea da USP. É fácil descobrir por quê. A exposição 'Classicismo, Realismo, Vanguarda: Pintura Italiana no Entreguerras' apresenta 71 pinturas italianas adquiridas no espaço de dez meses, entre 1946 e 1947, por Francisco Matarazzo Sobrinho - o famoso 'conde Ciccillo' - e sua esposa Yolanda Penteado, para a criação do antigo MAM de São Paulo. Transferidas para a Universidade de São Paulo em 1963, essas obras formam uma das mais importantes coleções de pintura moderna italiana da primeira metade do século XX fora da Itália e, talvez, a principal em todo o continente americano. Apesar disso, não são obras muito conhecidas fora do universo dos aficionados por arte. Está aí, portanto, uma ótima oportunidade para descobri-las! 

Além dos italianos, a exposição exibe dez pinturas de artistas brasileiros que estavam vinculados, de alguma forma, ao ambiente artístico da Itália e do entreguerras. Segundo informações do MAC, ocorria um intenso intercâmbio de informações entre os nossos modernos e os italianos do período. Pesquisas mostram que o artista brasileiro Paulo Rossi Osir, por exemplo, mantinha contato com a crítica de arte italiana Margherita Sarfatti, enquanto que o galerista veneziano Carlo Cardazzo e Pietro Maria Bardi também se engajaram na aquisição das obras pelo casal Ciccillo e Yolanda. 

Vale ressaltar, também, que o conjunto de obras italianas revelaria "outra faceta do modernismo europeu, cuja experiência até então era muito focada no período vanguardista e no contexto da Escola de Paris", conforme a curadora Ana Magalhães. 

Curiosidade: cinco pinturas italianas da coleção possuem obras também no verso, o que não era usual das práticas artísticas do período. Uma das possíveis explicações para essa prática é a escassez de papel do período. 

Enquanto você não visita a exposição pessoalmente, veja uma amostra das belezas que encontrará por lá. Vamos começar pelos italianos.  

Felipe Casorati - 'Nu Inacabado' (1943) - óleo s/ tela - foto: Simone Catto

Casorati destaca-se pela pesquisa cromática e uma meticulosa sobreposição de cores em sua busca pelo realismo. Realizou grande número de nus femininos em interiores e essa tela é uma daquelas que mencionei anteriormente, que possuem outra pintura no verso. No caso, trata-se de uma obra de sua esposa, a inglesa Daphne Maugham Casorati (1897-1982), sobrinha do escritor William Somerset Maugham.

Massimo Campigli - 'Três Mulheres' (1940) - óleo s/ tela - foto: Simone Catto

Note que a pintura acima lembra muito os belíssimos afrescos encontrados nas ruínas de cidades do Sul da Itália, como Pompéia e Herculano. 

Ardengo Soffici - 'O Caminho' (1908) - óleo s/ papelão - foto: Simone Catto

Gino Severini - 'Mulher e Arlequim' (1946) - óleo s/ tela - foto: Simone Catto

O motivo da Commedia dell'Arte era um dos assuntos favoritos de Severini. Léonce Rosenberg, que foi seu galerista por cerca de vinte anos, o estimulava a concentrar sua produção nesse motivo porque a receptividade do mercado era grande e o assunto havia se tornado uma espécie de "marca registrada" sua. No caso de 'A Mulher e o Arlequim', Severini se apropriou das linguagens desenvolvidas pelas vanguardas artísticas do inicio do século XX. Impossível, aliás, não notar a semelhança desta e outras obras suas com o estilo de Henri Matisse, um mestre que o artista admirava e que aqui é lembrado pelo uso abundante de cores e do preto como cor, pelos contornos espessos e os elementos decorativos como tapete, almofada, papel de parede e arabescos.

Piero Marussig - 'Mulheres à Beira do Riacho' (1915) - óleo s/ tela - foto: Simone Catto

Já ao observar a pintura acima, não tive como não notar a semelhança com Cézanne, seja pela simplificação das formas, seja pela cor predominante, o verde, que aparece em várias tonalidades.

Filippo de Pisis - 'Rua em Veneza' (1946) - óleo s/ tela - foto: Simone Catto

Neste outro caso, não estaríamos falando nenhuma bobagem se disséssemos que Filippo de Pisis bebeu na fonte do Impressionismo. É ou não é?

Mario Sironi - 'Invocação' (1946) - guache sobre papel sobre madeira - foto: Simone Catto 
A foto saiu tremida, mas dá para sentir a mais pura angústia expressionista!

Agora vamos a alguns brasileiros da exposição:

Aldo Bonadei - 'Natureza-morta' (1950) - óleo s/ tela - foto: Simone Catto

Cândido Portinari - 'Retrato de Paulo Rossi Osir' (1935) - óleo s/ tela - foto: Simone Catto

Mario Zanini - 'Canindé' (c. 1940) - óleo s/ tela - foto: Simone Catto

Alberto da Veiga Guignard - 'Autorretrato' (1931) - óleo s/ tela - foto: Simone Catto

Importante: para mais detalhes sobre a exposição, vale a pena acessar o site do MAC USP. Lá você encontrará textos muito esclarecedores dos curadores sobre algumas obras e artistas, o que é particularmente útil para conhecer melhor os italianos ali expostos.

Depois de se inteirar do assunto, vale a pena visitar o MAC para conferir essa bela exposição de perto. O endereço é Av. Pedro Álvares Cabral, 1301 – Ibirapuera. Tel: 5573-9932 - www.mac.usp.br. Abre às terças-feiras das 10h às 21h, e de quarta a domingo das 10h às 18h. Entrada franca.

E já que você estará lá, aproveite para visitar, também, outras exposições do MAC que você não pode perder:



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