Sábado fiquei duplamente feliz. Primeiro, porque tive a
oportunidade de assistir a um belíssimo concerto em homenagem ao querido Vinícius
de Moraes, no Auditório Ibirapuera: o espetáculo 'Jazz Sinfônica Especial – 100
Anos de Vinícius'. E segundo, porque tive o prazer de reencontrar um
amigo de décadas: o pianista, maestro e arranjador Marcelo Ghelfi, que fazia bagunça comigo desde os tempos do
conservatório e depois se tornou meu colega também na UNESP, quando cursamos a
faculdade de Música.
Auditório Ibirapuera - foto: www.veja.abril.com.br |
Marcelo acompanhou todo o concerto da orquestra Jazz Sinfônica no teclado e solou ao
piano o número final, a 'Suíte Canção do Amor Demais', de
Tom Jobim e Vinícius de Moraes, com arranjo de Amilton Godoy e orquestração de
Rodrigo Morte. Extremamente talentoso e carismático, meu amigo cativou a
plateia com sua interpretação, seu sorriso e sua eterna simpatia com o público. A
orquestra, vigorosa, foi conduzida pelo maestro João Maurício Galindo, outro
colega dos tempos da UNESP que, assim como Marcelo, desenvolveu uma promissora
carreira musical.
Não por acaso, o Auditório Ibirapuera estava lotado de gente que curte boa música, boa poesia e boa companhia. O programa teve onze canções no total, sendo que dez Vinícius criou com diferentes parceiros, também com arranjos e orquestrações de diferentes mestres. Cada número era precedido de um pequeno vídeo que contextualizava a música a seguir, um recurso que complementou o espetáculo de forma agradável e funcionou muito bem como apoio.
O solista Marcelo Ghelfi - foto: www.marceloghelfi.mus.br |
Do primeiro bloco, intitulado 'Orfeu da Conceição',
destaco 'Manhã de Carnaval', música mais conhecida da dupla Luiz Bonfá
e Antônio Maria, com arranjo e orquestração de Hudson Nogueira e solo de
trompete de Nahor Gomes. Embora essa tenha sido a única canção a não ter autoria
de Vinícius, ela faz parte da trilha do filme 'Orfeu Negro', baseado na
peça 'Orfeu
da Conceição', aí sim de autoria do poeta, que assinou outras canções
da trilha sonora. O filme, belíssimo, é
uma produção franco-brasileira que conquistou o Oscar de melhor filme
estrangeiro em 1959, além da Palma de Ouro em Cannes, e ao qual pude assistir...
na Suécia! Sim, foi em Estocolmo que tive contato com essa obra-prima, a
convite de amigos suecos que quiserem me fazer uma surpresa. Adorei!
Vinícius de Moraes, o poetinha... |
O segundo bloco do concerto, 'Baden Powell e os Afro-Sambas', era composto por três músicas que
Vinícius criou com Baden Powell: 'Samba em Prelúdio' e 'Labareda',
com arranjo e orquestração de Rodrigo Morte, e 'Canto de Ossanha', com
arranjo e orquestração de Maurício de Souza. Nas três canções, embora o ritmo e
o batuque popular da percussão estivessem sempre presentes, era visível, na
harmonia, a influência da música erudita. A integração desses elementos ficou
perfeita, gerando uma sonoridade de grande beleza que a orquestra sob regência
de Galindo soube valorizar.
Naturalmente não poderiam faltar números que Vinícius criou com
o inseparável parceiro Toquinho, do qual destaco dois em especial: 'Tarde
em Itapoã' e 'Regra Três'. Como esse bloco
possuía canções mais conhecidas, a direção do espetáculo utilizou um recurso
simpático: projetou as letras das músicas no fundo do palco, para que as
pessoas pudessem cantar e acompanhar.
A orquestra Jazz Sinfônica - Foto: www.marceloghelfi.mus.br |
Depois do número final, a 'Suíte Canção do Amor Demais', é claro que todos pediram bis... e
fomos contemplados com a eterna 'Eu Sei que vou te Amar', novamente com
um belo solo de Marcelo ao piano e os talentos da Jazz Sinfônica em um
espetáculo que deve ter deixado o poetinha bem feliz do lado de lá. E viva Vinícius!
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