segunda-feira, 28 de outubro de 2013

'Jazz Sinfônica Especial – 100 Anos de Vinícius' – um espetáculo à altura do grande poetinha.

Sábado fiquei duplamente feliz. Primeiro, porque tive a oportunidade de assistir a um belíssimo concerto em homenagem ao querido Vinícius de Moraes, no Auditório Ibirapuera: o espetáculo 'Jazz Sinfônica Especial – 100 Anos de Vinícius'. E segundo, porque tive o prazer de reencontrar um amigo de décadas: o pianista, maestro e arranjador Marcelo Ghelfi, que fazia bagunça comigo desde os tempos do conservatório e depois se tornou meu colega também na UNESP, quando cursamos a faculdade de Música.

Auditório Ibirapuera - foto: www.veja.abril.com.br
Marcelo acompanhou todo o concerto da orquestra Jazz Sinfônica no teclado e solou ao piano o número final, a 'Suíte Canção do Amor Demais', de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, com arranjo de Amilton Godoy e orquestração de Rodrigo Morte. Extremamente talentoso e carismático, meu amigo cativou a plateia com sua interpretação, seu sorriso e sua eterna simpatia com o público. A orquestra, vigorosa, foi conduzida pelo maestro João Maurício Galindo, outro colega dos tempos da UNESP que, assim como Marcelo, desenvolveu uma promissora carreira musical.

Não por acaso, o Auditório Ibirapuera estava lotado de gente que curte boa música, boa  poesia e boa companhia. O programa teve onze canções no total, sendo que dez Vinícius criou com diferentes parceiros, também com arranjos e orquestrações de diferentes mestres. Cada número era precedido de um pequeno vídeo que contextualizava a música a seguir, um recurso que complementou o espetáculo de forma agradável e funcionou muito bem como apoio.

O solista Marcelo Ghelfi - foto: www.marceloghelfi.mus.br
Do primeiro bloco, intitulado 'Orfeu da Conceição', destaco 'Manhã de Carnaval', música mais conhecida da dupla Luiz Bonfá e Antônio Maria, com arranjo e orquestração de Hudson Nogueira e solo de trompete de Nahor Gomes. Embora essa tenha sido a única canção a não ter autoria de Vinícius, ela faz parte da trilha do filme 'Orfeu Negro', baseado na peça 'Orfeu da Conceição', aí sim de autoria do poeta, que assinou outras canções da trilha sonora. O filme, belíssimo, é uma produção franco-brasileira que conquistou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1959, além da Palma de Ouro em Cannes, e ao qual pude assistir... na Suécia! Sim, foi em Estocolmo que tive contato com essa obra-prima, a convite de amigos suecos que quiserem me fazer uma surpresa. Adorei!

Vinícius de Moraes, o poetinha...
O segundo bloco do concerto, 'Baden Powell e os Afro-Sambas', era composto por três músicas que Vinícius criou com Baden Powell: 'Samba em Prelúdio' e 'Labareda', com arranjo e orquestração de Rodrigo Morte, e 'Canto de Ossanha', com arranjo e orquestração de Maurício de Souza. Nas três canções, embora o ritmo e o batuque popular da percussão estivessem sempre presentes, era visível, na harmonia, a influência da música erudita. A integração desses elementos ficou perfeita, gerando uma sonoridade de grande beleza que a orquestra sob regência de Galindo soube valorizar.

Naturalmente não poderiam faltar números que Vinícius criou com o inseparável parceiro Toquinho, do qual destaco dois em especial: 'Tarde em Itapoã' e 'Regra Três'. Como esse bloco possuía canções mais conhecidas, a direção do espetáculo utilizou um recurso simpático: projetou as letras das músicas no fundo do palco, para que as pessoas pudessem cantar e acompanhar.

A orquestra Jazz Sinfônica - Foto: www.marceloghelfi.mus.br

Depois do número final, a 'Suíte Canção do Amor Demais', é claro que todos pediram bis... e fomos contemplados com a eterna 'Eu Sei que vou te Amar', novamente com um belo solo de Marcelo ao piano e os talentos da Jazz Sinfônica em um espetáculo que deve ter deixado o poetinha bem feliz do lado de lá. E viva Vinícius!

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