domingo, 12 de abril de 2015

Drosophyla - Madame Lili. O prazer de beber e petiscar em um palacete centenário.

Quem conheceu o Drosophyla, um bar com quase três décadas instalado em uma casa da década de 40 na rua Pedro Taques, Consolação, deve se lembrar do jeitão alternativo do lugar, com um décor apinhado de objetos exóticos e/ou inusitados.

Pois eis que, após tantos anos naquele endereço, o Drosophyla fechou para reabrir em outro local, uma casa ainda mais antiga e numa rua – digamos – ainda mais "alternativa": a Nestor Pestana, no Centro boêmio da cidade. Agora o bar, que ganhou o complemento "Madame Lili" no nome, divide a calçada com as instalações mais discretas da icônica boate Kilt, que antes reinava absoluta sobre os inferninhos da região com seu castelinho fake, um monumento kitsch do outro lado da rua, em um ponto agora transformado no canteiro de obras de um provável edifício.

Não há como negar: o local onde o Drosophyla - Madame Lili está instalado agora é, inegavelmente, um tremendo diferencial, e é grandemente responsável pelo charme do bar. Trata-se de uma belíssima mansão tombada, daquelas que infelizmente a gente quase não vê mais em São Paulo, construída em 1920 e com projeto atribuído a Abelardo Soares Caiuby. A proposta da nova casa é diferente da do bar anterior, privilegiando um clima mais intimista em detrimento dos grandes e ruidosos grupos de pessoas. Tanto é, que só são aceitas reservas para o máximo de dez pessoas. Eu, pelo menos, prefiro assim! 

Na noite em que lá estive fui a primeira de meu grupo a chegar e, enquanto aguardava as outras pessoas, bati um papo com um dos garçons e também com a simpática proprietária do bar, Lili, que se sentou à minha mesa e contou um pouco da história da casa. Perfeitamente preservada em parceria pelos proprietários do imóvel e também pela inquilina, a mansão realmente tem uma linda arquitetura.

O ambiente é superaconchegante! - Foto: Divulgação

O belo vitral na escadaria do primeiro para o segundo andar - Foto: Simone Catto

Curiosidade: o site do Drosophyla menciona uma suposta Lili Wong, chinesa amante das artes e da literatura que teria se casado com um alemão, vindo para o Brasil e habitado a mansão. Uma mística curiosa e bem-humorada que, sem dúvida, deve atrair mais clientes ao bar. Isso explica por que a casa está decorada em dois estilos: alemão, no andar inferior, e oriental, no superior. Assim que entrei, fiquei imaginando como deviam viver as pessoas que lá habitavam - sem dúvida, famílias de posses. Se não me engano, o terreno pertencia à Dona Veridiana Prado.

As paredes do salão onde fiquei, o alemão, são de madeira e o teto é todo trabalhado. Magníficas janelas e detalhes de vidro e espelho dão um charme todo especial aos diferentes ambientes que, em tempos áureos, deviam ser luxuosas salas. Além das mesinhas, há também confortáveis sofás espalhados pelo espaço, dando um clima de aconchego.

O salão em estilo alemão - ficamos na mesinha perto do bar, à esquerda - Foto: Divulgação

Detalhe do teto e de alguns detalhes de vidro e espelho - Foto: Simone Catto

Lili explicou que o friso superior próximo ao teto, que parece um papel de parede, foi, na realidade, pintado a mão. O trabalho é mesmo muito bonito. E aprendi mais uma: em imóveis tombados, os quadros devem ser pendurados com ganchos, e não com pregos, porque furos nas paredes não são permitidos.

Detalhe do teto e do friso abaixo dele, pintado a mão - Foto: Simone Catto

A proprietária do bar contou, também, ter investido em uma reforma pesada na parte elétrica e hidráulica da casa, além de outros itens importantes, para que o bar pudesse funcionar a contento e com segurança. Depois me ciceroneou por todo o espaço e me conduziu ao grande terraço, que tem uma bela vista para a Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, do outro lado da rua. Naquela noite, o andar superior, bem como o terraço, estavam fechados, mas nas noites de verão o terraço promete! Na parte de cima também há uma colorida lojinha com itens vintage e curiosos.

A vista do terraço: uma delícia! - Foto: Simone Catto

O fato é que o delicioso ambiente da casa é parte fundamental do prazer que desfrutamos no local. As comidas e bebidas do extenso cardápio, naturalmente, são um capítulo à parte. Embora a casa ofereça grande variedade de drinks exóticos e tentadores, naquela noite de quarta-feira comecei com um drink não alcoólico à base de limão chamado 'Mentirinha', porque tem todo o aspecto de um drink normal, mas não contém um pingo de álcool. Depois, à medida que fui forrando o estômago, dividi com uma amiga um cabernet sauvignon chileno, o Casa Rivas. Não é um vinho top de linha, naturalmente, mas caiu bem naquele momento. 

O drink Mentirinha: me engana que eu gosto! (rs)
Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

Na hora de escolher os quitutes, pedimos uma sucessão de porções – uma mais gostosa que a outra. No princípio éramos apenas três "boquitas" esfomeadas após um longo dia de trabalho, mas no decorrer da noite chegaram mais três. Começamos pelo delicioso Francesinho Mon Amour, uh-là-là!!! Trata-se de um queijo Camembert assado inteiro ao forno com pesto de manjericão, cogumelos e lascas de alho. Acompanha pão. Ah, como é gostoso esse francês!!! 

O Francesinho Mon Amour, que despertou paixões na mesa inteira (R$ 44,50) - Foto: Simone Catto

Na sequência, pedimos os quadradinhos de tapioca com queijo coalho e geleia de pimenta, uma iguaria que tive o prazer de conhecer, em outra versão, no restaurante Mocotó e que foi preparada divinamente também no Drosophyla. É uma  perdição, quando a gente começa a comer não quer mais parar. Amo!

Os quadradinhos de tapioca, nham... (R$ 28) - Foto: Simone Catto

A próxima pedida foi a porção de bolinhos de shimeji. Até então, eu só conhecia o shimeji cozido tradicionalmente servido nos restaurantes japoneses. Bolinhos desse cogumelo foi a primeira vez que experimentei. E gostei!

Os bolinhos de shimeji também estavam bons! - Foto: Simone Catto

E como naquela noite estávamos insaciáveis, não faltou também uma clássica porção de filé aperitivo com molho mostarda, acompanhada de fatias de pão italiano. Também agradou. 

Filé aperitivo com molho mostarda - Foto: Simone Catto

Em resumo: minha primeira experiência no novo Drosophyla foi ótima em todos os sentidos e pretendo voltar, como bem está assinalado no cartão do bar...!

Foto: Andrea Longov

Em tempo: não se preocupe com o quesito "parar o carro": há dois estacionamentos pertinho, na mesma calçada, com valores bem razoáveis. Um deles é o Estapar, que ainda dá desconto de 30% para clientes da Porto Seguro. Outro item que facilita a vida de muitos: a comanda do bar é individual. 

Pode ir ao DROSOPHYLA - MADAME LILI sem medo que certamente você vai gostar! Anote aí: Rua Nestor Pestana, 163 – Consolação. Tel.: (11) 3120-5535 – www.drosophyla.com.br. Abre às terças-feiras das 18h às 24h, quartas e quintas-feiras das 18h à 1h e sextas e sábados das 18h às 2h. Fica a dica!

sexta-feira, 6 de março de 2015

Armadilha, no Teatro João Caetano. Uma trama de suspense que merecia mais apuro.

Em algumas resenhas, a peça Armadilha, atualmente em cartaz no Teatro João Caetano e encenada pela primeira vez no Brasil, é descrita como um "suspense de sucesso apresentado na Broadway". O texto, premiado internacionalmente, é de autoria do norte-americano Ira Levin (1929-2007), considerado um grande dramaturgo do gênero suspense. É dele, por exemplo, o romance 'A Semente do Diabo', que deu origem a um filme clássico de terror do final dos anos 60, 'O Bebê de Rosemary', dirigido por Roman Polanski. E agora, além de inédita no Brasil, Armadilha é também a peça de estreia de um novo grupo teatral, a Cia. Goya de Teatro.

O enredo é interessante. Um dramaturgo de meia-idade e nenhum escrúpulo atravessa uma fase de bloqueio criativo e dispõe-se a qualquer coisa para recobrar o prestígio, o dinheiro e o sucesso perdidos – até cometer um crime, se for preciso. Com quatro personagens em cena, a trama tem boas surpresas e reviravoltas, o que supostamente garantiria o envolvimento do público. Porém, faltou algo. Não impactou.

O elenco da peça - Foto: Divulgação

A iluminação é lúgubre e o cenário, bem como os figurinos, são predominantemente escuros, com muito negro - talvez um recurso proposital para transmitir visualmente a atmosfera de "armadilha" que define o enredo. Até aí, tudo bem. No entanto, o fato de termos uma produção assumidamente minimalista e sombria não seria justificativa para um descuido dos detalhes cênicos. Muito pelo contrário, é justamente na simplicidade que a atenção deve ser redobrada para não empobrecer o resultado. Porque simplicidade é uma coisa e simplismo é outra. O fato é que, aqui, especialmente, a cenografia deveria ser um elemento destinado a agregar mais intensidade dramática à trama de suspense e cuidadosamente pensado para ajudar a concentrar o interesse do público. No entanto, infelizmente, não foi o que constatei.

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação
Essa deficiência, pelo menos para mim, tornou-se mais evidenciada pela fragilidade de um texto que, não sei se por um problema de tradução ou de interpretação, soou também simplório e repetitivo. Faltou brilho. Um sentimento surpreendente, já que, como mencionei anteriormente, a qualidade do texto foi reconhecida com prêmios conferidos por entidades respeitadas no exterior. Não sou especialista em teatro, veja bem, estou apenas sendo honesta ao relatar minha experiência como mera espectadora. Este é o objetivo deste blog. Ocorre que assisti à peça com amigos e, coincidência ou não, todos emitiram as mesmas opiniões à mesa do jantar depois do teatro.

Se você quiser conferir se a sua opinião também coincide com a nossa, anote: ARMADILHA está em cartaz no Teatro João Caetano – R. Borges Lagoa, 650 - Vila Clementino. Tels.: (11) 5573-3774 e 5549-1744. Há apresentações às sextas e sábados às 21h e domingos às 19h. Obs.: não haverá espetáculo nos dias 6, 7 e 8 de março. Duração: 75 minutos. Ingresso: R$ 10,00. Até 29/3.

Ficha técnica parcial

Texto: Ira Levin
Tradução: Jorge Minicelli
Direção: Susanne Walker

Elenco: André Magalhães, Jorge Minicelli, Lu Grillo e Marília Persoli.

segunda-feira, 2 de março de 2015

O Homem de La Mancha. Produção primorosa para os fãs de musicais.

Confesso que a temática do musical O Homem de La Mancha, em cartaz no Teatro do Sesi, não me atraía. Mesmo assim, fui assistir ao espetáculo a convite de uma pessoa querida que conseguiu os ingressos, bastante concorridos, com antecedência. Além do mais, o fato de ser encenada no Teatro do Sesi já é, por si só, um aval de qualidade para qualquer peça. Para falar a verdade, não me lembro de ter assistido, lá, a qualquer apresentação que pudesse ter sido classificada como "ruim". No entanto, é natural que, por uma questão de gosto pessoal, nem tudo o que vi por lá me apaixonou – como é o caso deste musical e de outro, 'A Madrinha Embriagada', igualmente dirigido por Miguel Falabella.

Contudo, a soma dos pontos positivos, isto é: a garantia de qualidade, a boa companhia e a entrada franca venceram meu desinteresse pelo tema e pelo gênero "musical" em geral. E realmente, a produção de O Homem de La Mancha é de primeiríssima. O elenco também é muito bom. Já as músicas, bem... juntaram-se a meu desinteresse pela temática e não me empolgaram. Porém, como afirmei anteriormente, trata-se de uma questão de gosto. Pode ser que você assista e tenha opinião diferente!

Foto: www.abroadwayeaqui.com.br

Foto: www.sproad.com.br

A história se passa na década de 30 e mostra um paciente sendo internado em um hospital psiquiátrico. O homem se apresenta como Miguel de Cervantes e está acompanhado de outro que seria seu fiel criado, Sancho. Destituído de seus pertences pelos outros loucos do hospital, Cervantes solicita apenas que lhe devolvam o manuscrito de uma peça de teatro de sua autoria. Para lhe dar uma oportunidade de ter seu pedido atendido, o líder dos loucos, denominado "Governador", realiza um julgamento no qual Cervantes, o réu, organiza sua defesa convidando os demais internos a encenar com ele sua peça de teatro. A "peça dentro da peça" nada mais é do que a história de D. Quixote de La Mancha, o Cavaleiro Errante que luta contra os males da humanidade.

Foto: www.blogdofranciscolimma.blogspot.com

A montagem, notadamente os figurinos do protagonista, foram assumidamente inspirados na obra do artista sergipano Arthur Bispo do Rosário (1909/11-1989), um homem simples que teve várias profissões, sofreu um surto psicótico em 1938 e, diagnosticado como esquizofrênico-paranoico, foi transferido para a Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá - RJ. Bispo do Rosário ficou internado por cerca de cinquenta anos e começou a criar seus trabalhos artísticos apenas no final da década de 60 , produzindo, até sua morte, cerca de mil obras usando objetos do cotidiano que comprava ou trocava e sobras de materiais descartadas pelo próprio hospital. Porém, não se considerava artista. Dizia apenas ter recebido a missão de fazer um "inventário do mundo", para que, quando morresse, pudesse entregá-lo reconstruído a Deus. Foi descoberto em 1980 por Samuel Wainer Filho, que mostrou sua produção em uma reportagem do 'Fantástico', da Rede Globo. Veja algumas imagens de sua obra aqui, expostas na 30ª Bienal de Arte de São Paulo.

O figurino de D. Quixote, claramente inspirado em peças criadas por Arthur Bispo do Rosário.
Foto: www.alvareezcomz.blogspot.com

Quer conferir? O HOMEM DE LA MANCHA está em cartaz no Teatro do Sesi – Av. Paulista, 1313 – Bela Vista – São Paulo. Apresentações de quartas a sextas-feiras às 21h, aos sábados às 17h e às 21h, e domingos às 15h e às 19h. Entrada franca. Até 28/6.

Mas atenção: para adquirir seus ingressos, você precisa se cadastrar e reservar aqui: www.sesisp.org.br/meu-sesi. Para apresentações entre os dias 1º e 15 do mês, as reservas são liberadas no dia 25 do mês anterior, a partir das 8h. Para apresentações entre os dias 16 e 31 do mês, as reservas são liberadas no dia 10 do mesmo mês, a partir das 8h. Ingressos remanescentes são distribuídos nos dias das apresentações, a partir do horário de abertura da bilheteria (de quarta a sábado, das 13h às 21h, e domingos, das 11h às 19h30).

Ficha técnica parcial

Elenco: Cleto Baccic, Sara Sarres, Guilherme Sant'Anna, Jorge Maya e outros.
Direção e versão: Miguel Falabella
Texto: Dale Wasserman
Músicas: Mitch Leigh
Direção Cênica: Floriano Nogueira
Direção Musical: Carlos Bauzys
Coreografia: Kátia Barros
Cenografia: Matthew Kinley
Designer de Som: Gabriel D'Angelo

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Restaurante Obá, nos Jardins. Os sabores de quatro países em um ambiente cheio de cor.

Eu já havia estado no Obá para jantar, mas devo dizer que, dada sua atmosfera alegre e diurna, acho a casa mais agradável para o almoço. Estive lá com amigas num sábado e havia bastante gente. Duas coisas tornam o restaurante um bom lugar para se fazer uma refeição: a primeira é o ecletismo do cardápio. E a segunda, o charme da decoração aliado a uma ótima localização. Os ambientes têm piso e mesas de madeira e são bastante coloridos, com paredes e detalhes decorativos em cores quentes, o que confere ao lugar uma atmosfera calorosa e acolhedora.

Foto: Simone Catto

Foto: Sandra Pereira

Enquanto comíamos, São Francisco nos abençoava! - Foto: Simone Catto

Foto: Sandra Pereira

Pode-se dizer que o diferencial da casa é a variedade de nacionalidades que estão presentes no cardápio, com um mix de pratos inspirados na culinária de quatro países: México, Itália, Tailândia e Brasil. Uma verdadeira Torre de Babel. Os pratos são descritos em detalhes e, como alguns parecem realmente atraentes, pelo menos para meu paladar, na hora de escolher "bate" aquela dúvida.

Fiquei fortemente tentada a pedir um peixe como o chu chii pla (assado na folha de bananeira com um toque de creme de coco e curry vermelho acompanhado de arroz jasmim e relish de pepino), mas, como achei que a porção seria muito grande, acabei optando pelo pad thai, que também tem uma versão reduzida, como outros itens do menu. Para quem não sabe, pad thai é um macarrão de arroz feito na wok com camarão e ingredientes tradicionais. Em tempo: wok é um tipo de panela com formato de tigela, usada para cozinhar no fogão. Sinceramente, achei o prato apenas razoável, não morri de amores. Para quem está acostumada com o pad thai do Mestiço, decepciona um pouco.

O meu Pad Thai (R$ 36,50 o pequeno) - Foto: Simone Catto

Uma amiga pediu o filé de peixe em crosta de farinha de mandioca, com caldinho de peixe e tucupi, mandioca cozida e farofa d’água, e gostou muito. Para os menos gulosos, OK, já que a porção é pequena e não acompanha sequer uma porção de arroz. Se você for um bom garfo, porém, poderá acabar a refeição com fome se optar por esse prato.

O Filé de Peixe em crosta de farinha de mandioca, com caldinho de peixe e tucupi, mandioca cozida e farofa d'água: achamos a porção pequena! (R$ 57) - Foto: Sandra Pereira

Quanto às bebidas, pedi inicialmente um suco de melancia para forrar o estômago e, depois, uma taça do Espumante Brut Bossa n°1, da vinícola Hermann, no Rio Grande do Sul. Ambos combinaram perfeitamente bem com meu Pad Thai.

Meu suco de melancia em primeiro plano e, à esquerda, uma caipirinha de frutas vermelhas,Foto: Simone Catto



Tim-tim! - Foto: Simone Catto

E como não poderia faltar, no final o espresso caiu superbem.

Foto: Simone Catto

Devo fazer uma observação sobre o atendimento: naquele dia, pelo menos, os funcionários não pareciam trabalhar lá muito felizes. Não que eu tenha sido mal atendida, mas é difícil extrair um sorriso da equipe. Só que, para mim, quem atende em restaurante tem obrigação de ser simpático – ou, pelo menos, fingir que é. Senão, melhor trabalhar em outra coisa, né?

Agora vamos ao custo: minha refeição, isto é: porção menor do pad  thai + suco de melancia + taça de espumante + espresso, saiu por R$ 75,00 - dentro da média de restaurantes desse nível em São Paulo.

Se você quiser conhecer o OBÁ fica na Rua Melo Alves, 205 – Jardins. Tel.: 11 3086-4774 - www.obarestaurante.com.br.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

'Chá das 5'. Uma ótima ideia que se perdeu nas palavras.

Quando li a sinopse de Chá das Cinco, em cartaz no Teatro União Cultural, achei que a peça prometia boas risadas. Afinal, tratava-se de uma comédia com elenco totalmente masculino em que uma matriarca rabugenta se reuniria com as filhas para o tal chá das cinco e, daquela vez, a filha preferida, ausente há anos, avisara que se juntaria ao grupo. No mínimo, haveria muito humor com a "lavação" de roupa suja. 

Nove homens compõem o ótimo elenco, a começar pelo excelente Eduardo Martini, que criou uma caracterização muito bem estruturada para a matriarca que vive na cadeira de rodas, Dona Campainha. As rabugices e trejeitos da velha, cheia de cacoetes, são realmente o que há de melhor na peça.

Blota Filho e Eduardo Martini, ótimo como a matriarca velha e rabugenta.



As filhas, todas com nomes de flores, também ganham vida com bons atores. Malva Rosa, interpretada por Hugo Pichi, é uma mulher amarga e infeliz que mora e cuida da mãe. Ailton Guedes interpreta a irmã esotérica e Will Anderson a irmã gordinha e casada que sofreu bullying a vida inteira por causa do peso. A filha ausente que mora no exterior, interpretada por Alessandro Ramos, é chique e subiu na vida por ter se casado com um homem rico. Tem uma filha adolescente magrinha, entojada e preconceituosa. Há também a empregada, papel de Tiago Leal, e Blota Filho dá vida a uma senhora rica e falida que aparece no final da trama para envenenar ainda mais a relação das mulheres, já repleta de ódios, conflitos e traições.

Alessandro Ramos, que interpreta a filha preferida e ausente, e Eduardo Martini.

O figurino é kitsch, com perucas e maquiagens exageradas, lembrando um pouco a estética de Pedro Almodóvar – o que seria muito bom, se fosse bem explorado. A peça teria, enfim, todos os elementos para ser brilhante. A ideia de reunir irmãs com vários "esqueletos no armário" é ótima, ainda mais com um elenco todo composto por homens – e bons atores. O que faltou foi roteiro, isto é, trabalhar melhor o texto e, talvez, também um pouco de direção. Os diálogos foram mal explorados - uma trama tão interessante merecia diálogos mais elaborados e inteligentes, com tiradas mais engraçadas e profundas. Deu para sentir também alguns buracos no ritmo, uma certa falta de timing.

O que posso dizer, ao final de tudo, é que a peça valeu como diversão ligeira, e o que garantiu as risadas foi a ótima atuação de Eduardo Martini, que também assina a direção.

Quer conferir? CHÁ DAS 5 está em cartaz somente aos domingos, às 19h, no Teatro União Cultural - R. Mário Amaral, 209 – Paraíso. Tel.: 2148-2904. Os ingressos são vendidos somente na bilheteria, custam R$ 50, mas clientes da Porto Seguro têm 60% de desconto. Aceita os cartões Visa e MasterCard. Estacionamento a R$ 20, na R. Teixeira da Silva, 540. Até 29/3.

Ficha técnica parcial

Elenco:
Eduardo Martini (Dona Campainha, a matriarca)
Hugo Picchi (Malva Rosa, a filha que mora com a velha)
Alessandro Ramos (Magnólia, a filha preferida ausente há anos)
Ailton Guedes (Margarida, a filha esotérica)
Will Anderson (Madressilva, a filha gordinha)
Blota Filho (Dona Clematite, a vilã amiga das moças)
Nicolas Manfredini
Julio Castro
Samuel de Assis

Direção: Eduardo Martini

Texto: Regiana Antonini

'Caros Ouvintes', no Teatro das Artes: nostalgia para ver e ouvir.

Houve uma época em que famílias inteiras reuniam-se em torno de um rádio para ouvir uma... radionovela! Não, isso não é do meu tempo (rs), mas era uma forma de entretenimento que fazia sucesso no Brasil dos anos 30 até meados da década de 60, antes da invasão da televisão, que ainda era artigo de luxo na década de 50.

No início, a radionovela nada mais era do que um teatro "cego", isto é, um texto teatral adaptado para o veículo rádio. Os atores simplesmente liam esse texto sem interpretá-lo - depois é que surgiram as interpretações, sempre ao vivo. Então mudavam a entonação e empostação da voz de acordo com a emoção a ser transmitida, sonoplastas entravam em ação com ruídos para marcar as cenas e uma música orquestral valorizava o momento. Dramas lacrimosos, histórias sobrenaturais e grandes romances eram os gêneros que capturavam os ouvidos e hipnotizavam multidões ao pé do rádio. E entre um bloco e outro, entrava o anunciante.

 Nesta foto, está o ator Petrônio Gontijo no papel do produtor Vicente (último à direita), que depois foi substituído por Marcos Damigo, ator da versão à qual assisti - Foto: Priscila Prade - Folha Ilustrada.

A comédia Caros Ouvintes, atualmente em cartaz no Teatro das Artes, Shopping Eldorado, retrata justamente o último suspiro das radionovelas, em meados dos anos 60 – mais precisamente, durante o Golpe Militar de 64. Enquanto a televisão começava a ganhar adeptos, o som começava a perder a guerra contra a imagem, pelo menos no âmbito das novelas. Foi assim que o elenco de radioatores corria sério risco de ficar desempregado, o que realmente aconteceu, ao contrário da equipe de roteiristas e sonoplastas, que puderam ser aproveitados na telinha. Os atores que não fossem fotogênicos e não possuíssem uma bela "estampa", por assim dizer, não vingariam na televisão. Ocorre que o sucesso dessas radionovelas, naturalmente, devia-se à fantasia das românticas ouvintes que, na ausência de imagens, podiam imaginar o que bem entendessem. Não raro, os galãs das radionovelas eram interpretados por atores gordos e carecas e as mocinhas já eram senhoras, exatamente como ocorre na peça com a personagem Ermelinda Penteado (Agnes Juliani), uma radioatriz que interpreta dois papéis, a mãe e a filha criança da mocinha.

Da esquerda para a direita: Pércles Gonçalves, um ex-galã (Eduardo Semerjian), Ermelinda Penteado, radioatriz (Agnes Zuliani), Petrônio Gontijo e Natália Rodrigues (Conceição, Neves a mocinha)

A peça mostra as agruras e os esforços heroicos do elenco para gravar o último capítulo da radionovela 'Espelhos da Paixão' e se despedir do público em um palco armado do lado de fora da rádio. Tudo isso em meio ao desalento e à dor da despedida e do desemprego, tendo como pano de fundo a perturbação política do Golpe Militar. A única atriz do elenco que continuaria na carreira seria a bela mocinha Conceição Neves, que havia sido convidada por uma emissora a estrelar uma novela televisiva, agora com o nome artístico de Suzana Pascoal.

Com forte tom nostálgico, a peça não empolgou, mas valeu como registro de uma época que não existe mais ao nos transmitir uma boa ideia de como funcionavam os bastidores das radionovelas, gravadas ao vivo e ensaiadas exaustivamente. Contudo, saí do teatro com a sensação de que um tema tão interessante poderia ter sido melhor explorado com um texto e diálogos à altura.

CAROS OUVINTES está no Teatro das Artes (Shopping Eldorado), Av. Rebouças, 3970 – 3º piso – Pinheiros. Tel.: 3034-0075. Horários: sexta às 21h30, sábado às 21h e domingo às 20h. Ingresso: R$ 50 (dom.), R$ 60 (sex.) e R$ 70 (sáb.). Clientes da Porto Seguro pagam meia. Até 15/3.

Ficha técnica parcial

Elenco:
Marcos Damigo (Vicente, o produtor da radionovela)
Alex Gruli (Eurico, o sonoplasta)
Natállia Rodrigues (Conceição Neves, a mocinha)
Rodrigo Lopez (Wilson, o locutor)
Eduardo Semerjian (Péricles Gonçalves, um ex-galã)
Alexandre Slaviero (Vespúcio, o publicitário que representa o patrocinador)
Amanda Acosta (Leonor Praxedes, uma cantora decadente)
Agnes Zuliani (Ermelinda Penteado, atriz de radionovela).

Texto e Direção: Otávio Martins

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Prazer que não murcha: há vinte anos o Insalata é gostoso e faz bem.

Outro dia retornei a um restaurante que também já pode ser considerado um clássico de São Paulo: o Insalata, inaugurado há duas décadas na Al. Campinas. É aquele tipo de lugar aonde você pode ir de olhos fechados, sem medo de errar. Normalmente me lembro da casa no verão ou quando o dia está mais quente, por causa de sua maior especialidade, as saladas, e também pela arquitetura arejada, ampla e agradável, com muito verde e madeira.

A fachada da casa já promete! - Foto: www.insalata.com.br

A área de espera, do lado externo, tem bancos e mesinhas de apoio, caso a gente queira petiscar ou beber algo enquanto aguarda mesa. Por isso nem senti o tempo passar em minha última visita, num sábado após o teatro, quando a casa estava bem cheia.

A agradável área de espera - Foto: Simone Catto

O salão maior - Foto: www.insalata.com.br

Mas justiça seja feita: é preciso dizer que o Insalata não é um restaurante apenas de "saladas". Embora estas sejam mais abundantes e se destaquem pelo sabor, fartura e criatividade, a casa também prepara – e bem! – pratos que atendem a todos os gostos. Tortas, sanduíches, massas, risotos, grelhados e quiches também fazem parte do extenso cardápio, que peca apenas pelas parcas opções de sobremesa.

Como cheguei meio tarde naquela vez, quis comer alguma coisa mais levinha. Então optei pela porção menor da Salada Casablanca, que – como diria minha avó, "Benza Deus!" – é bem grandinha. Imagino o tamanho da porção inteira! Ela é composta por um mix de folhas, cuscuz marroquino, uvas passas, frango desfiado, amêndoas, tomatinhos e molho à base de azeite. Estava saborosíssima e realmente satisfaz. Não dá para sentir fome ao cabo de um pratão de salada daqueles! Além disso, achei os preços razoáveis para os padrões de São Paulo: a meia porção que, como eu disse, já é bem grande, custa R$ 28,50, e a inteira sai por R$ 37,50.

Minha salada Casablanca: essa é a meia porção, acredite!! - Foto: Simone Catto

Outra vista do salão, com o bar à frente - Foto: Simone Catto

A vista de nossa mesa... - Foto: Simone Catto

E para acompanhar, o tinto levinho agradou em cheio a quem não estava ao volante! (rs)

Foto: Simone Catto

Depois de muitas garfadas, alguns goles e boas risadas, o espresso bem tirado fechou o jantar com chave de ouro.

Foto: Simone Catto

Quer conhecer o INSALATA? Aproveite o verão e vá lá! Fica na Al. Campinas, 1478 – Jardins. Tel.: 2308-9153. Vale a pena dar uma olhada nas fotos e detalhes do cardápio em www.insalata.com.br. A casa não aceita reservas, mas abre de segunda a quinta e feriados das 12h à 0h, sextas e sábados das 12h à 0h30 e domingos das 12h às 23h30.