Vinho é cultura, é tradição, é prazer. E no caso do Velho Mundo,
é também história, já que está intimamente incorporado aos hábitos de
determinados povos e teve um papel fundamental na formação da identidade de
vários países. É por isso que, quando inventei de estudar um pouco sobre as
origens e peculiaridades dessa bebida dos deuses, não me contentei e fui
procurar saber ainda mais. E lá fui eu fazer outro curso na mesma escola que
havia escolhido para minha iniciação: a 'Ciclo
das Vinhas', da jovem e excelente sommelière
Alexandra Corvo. Para quem não a conhece, Alexandra tem formação na Suíça e na
Espanha, trabalhou em vários países europeus e, atualmente, além de ministrar
cursos na escola que tem a sua marca, é colunista de vinhos da Folha de S.
Paulo e da rádio BandNews FM.
Desta vez, fiz o Curso Básico
sobre Países, que aborda as principais uvas, regiões, métodos de produção e viticultura dos
países produtores de vinho. Nesse curso aprendemos a interpretar um rótulo de
vinho, entendemos as denominações de origem e um pouco da legislação de cada país,
sem falar da melhor parte: a degustação de cinco rótulos de vinhos por aula e
sua harmonização com queijos típicos de cada país. Se saborear um bom vinho já
é uma experiência deliciosa por si só, eu garanto que a sensação de prazer fica
ainda maior quando conseguimos entender por que um vinho nos agrada ou não.
Vamos
lá. O curso tem 4 aulas noturnas no total, de três horas cada, e é ministrado
regularmente na escola. A primeira aula, como não poderia deixar de ser, fala
sobre os vinhos da França, onde tudo
começou, a grande 'mãe' de todas as
vinícolas do mundo. Alexandra discorre sobre as duas
principais regiões viticultoras do país, Bourgogne e Bordeaux, além do Vale do
Loire, o Rhône, Beaujolais e Alsácia. Aqui já são abordadas as principais uvas
internacionais: Sauvignon Blanc, Chardonnay, Riesling, Pinot Noir, Cabernet
Sauvignon, Merlot e Syrah.
Dos vinhos degustados na aula sobre a França, dois tintos se
destacaram para mim: o Côtes du Ventoux Grandes Serres 2011, do
Sul do Rhône, e o Chateau Bujeau la Grave 10, de Bordeaux. O primeiro lembra
groselha, tem um tanino mais grosso e mais extrato. Adorei! E o melhor: esse
vinho tem um custo bem razoável. Sim, vinho bom não precisa ser necessariamente
caro. O segundo vinho é beeem mais complexo. O paladar lembra madeira,
serragem, tem bastante tanino, boa acidez, mas precisa decantar um pouco. Um excelente
Bordeaux!
Vinícola na região de Bordeaux - foto: Wikimedia Commons |
Respeitando uma hierarquia por ordem de importância geográfica,
a segunda aula é dedicada à Itália. Os
sistemas DOC e DOCG são explicados, bem como as especificidades das regiões do Piemonte, Toscana, Veneto, Umbria, Abruzzo e o Sul da bota. Aqui aprendemos sobre as
principais uvas italianas, tais como Sangiovese, Nebbiolo, Barolo, Dolcetto,
Prosecco e outras uvas autóctones da Itália.
Nessa aula degustei o delicioso Montepulciano d'Abbruzzo DOP
Cantina Tollo 2009, um vinho "de menino", por assim dizer: encorpado, denso,
com um paladar que lembra caldo de carne, músculo, óleo diesel. Tem muito
tanino, muito sabor, final longo... eis um vinho de personalidade, amei! Detalhe:
ele combinou maravilhosamente bem com queijo gorgonzola e seu preço é ótimo.
Destaco também o Mandrarossa Costadune Sicilia IGT Nero d'Avola 2011, que tem um
caráter totalmente diverso do anterior: trata-se de um vinho levinho, até
infantil, que lembra geleia de morango. Gostosinho para ser saboreado sem
compromisso num dia de verão!
Foto: www.basilico.uol.com.br |
Já a terceira aula aborda a Península
Ibérica: é a vez da Espanha e de Portugal, com suas regiões e suas uvas.
Tempranillo, Garnacha e Macabeo, na Espanha, e Touriga Nacional, Alvarinho e
Aragonês, em Portugal, são algumas das variedades estudadas. Nessa aula
aprendemos sobre denominações de origem portuguesa conhecidas por aqui, como
Douro, Dão, Alentejo e Vinho Verde. Em tempo: ao contrário do que muita gente
pensa, o 'Vinho Verde' não se refere a um tipo de uva, mas sim à região onde ele
é produzido. Na realidade, trata-se de um vinho proveniente 'da região do Vinho
Verde'. O vinho que mais me agradou nessa aula foi o único branco degustado: o Ribeiro
Santo DOC branco 2011, floral, refrescante e com final longo. Delícia!
E por fim, a última aula abordou os vinhos do Novo Mundo. Essa aula foi ministrada
pela experiente sommelière Ana Paula
Montesso, formada na escola de Alexandra. Aqui entraram vários países que
desenvolveram a viticultura em épocas ulteriores: Austrália, Nova Zelândia,
Estados Unidos (região da Califórnia), África do Sul, Chile e Brasil. Curiosamente,
desta vez nenhum dos vinhos degustados me marcou de maneira especial. Suspeito
que isso tenha acontecido porque meu paladar já estava habituado aos sabores
mais típicos e elaborados do Velho Mundo, vai saber! O último vinho degustado
nessa aula, no entanto, conseguiu desagradar a todos os alunos, lembrando que a
degustação nos cursos é sempre às cegas para que ninguém fique sugestionado. E
adivinhe a procedência do vinho rejeitado? BRASIL! Sim, o Brasil tem
produzido bons espumantes, mas ainda deixa a desejar na produção de tintos e
brancos. Questões de clima, solo, topografia, cultura, enfim... o fato é que não
dá para reproduzir em terras tupiniquins as condições dos terroirs franceses. Daqui, melhor ficarmos com as cachaças! Quanto
aos vinhos, prefiro continuar experimentando bons rótulos estrangeiros e anotar
aqueles que mais me agradam.
A agradável livraria e biblioteca da escola - foto: www.alexandracorvo.wordpress.com |
Para quem deseja aprender um pouco sobre vinhos, portanto, a
escola Ciclo das Vinhas é um bom
começo. Dica: se você for completamente leigo no assunto, antes de fazer o Curso Básico sobre Países, recomendo fazer
primeiro o Curso Básico em 3 Aulas,
para aprender as primeiras noções. E na sequência você faz o outro. A escola
está instalada em um sobrado extremamente agradável no bairro do Paraíso e
ainda conta com uma livraria e biblioteca especializada. Vive le vin! Santé!
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