Anos atrás, sempre que passava pelo final da Avenida Paulista,
pertinho da Consolação, eu prestava atenção no formato interessante daquele bar
antigo e decadente, todo feito de tijolos de vidro e cercado por uma muretinha
de concreto vazado. A placa, acanhada, dizia 'Riviera Bar'. Então eu pensava
que aquele bar, naquele ponto tão privilegiado de Sampa, em seus dias de glória
devia ter sido um lugar supermoderno que "bombava" de gente. Curiosa, fui perguntar ao São Google. Descobri que o prédio que
abriga o estabelecimento, o Edifício Anchieta, foi fundado em 1941, é
residencial e considerado um dos grandes ícones do modernismo paulistano. O
bar, no térreo, foi fundado em 1949 e infelizmente despejado em 2006, porque
desde 1996 o proprietário não conseguia quitar as dívidas. Também, pudera! Com
os impostos acachapantes deste país, qualquer empresário precisa fazer mágica
para sobreviver.
Foto da Internet - sem créditos. |
O interno do bar - foto da Internet (sem créditos). |
A ideia inicial do Riviera era reunir senhoras chiques, mas essa
vocação high society logo caiu por
terra: na década de 50, o bar começou a atrair professores universitários,
políticos e esportistas. Nos anos 60 e 70, auge da ditadura, virou ponto de
encontro do pessoal de esquerda. Artistas, músicos, ‘culturetes’ (quando esse
termo ainda nem existia...) e figurinhas carimbadas da boêmia paulistana
discutiam ideias, namoravam e ferviam por ali, normalmente vários degraus etílicos
acima do aceitável. Pelas mesas do Riviera circularam nomes como Chico Buarque,
Elis Regina, Toquinho, Cláudio Tozzi, Zé do Caixão, os meninos do Dzi Croquetes
e os cartunistas Laerte, Chico e Paulo Caruso, entre outros frequentadores da night. Consta que a personagem
Rê-Bordosa, de Angeli, foi inspirada não em uma, mas em várias habituées do local.
Eu nunca havia entrado lá. Quando comecei a frequentar bares, o
lugar já estava decadente. Portanto, qual não foi minha alegria ao descobrir
que o lendário bar seria reaberto por obra e graça da dobradinha Facundo Guerra
e Alex Atala, duas referências de qualidade e profissionalismo em
entretenimento e gastronomia? Criador de várias casas noturnas bem-sucedidas,
Facundo Guerra, imaginei, não iria dar ponto sem nó. A primeira prova disso foi
a parceria com Atala, um dos chefs mais festejados do país e agora do mundo,
para recriar o cardápio do bar. No mínimo, teríamos comidinhas de qualidade. Dito
e feito.
O novo luminoso de néon - foto: Simone Catto |
Estive lá em uma terça-feira porque, desde a reabertura, no segundo
semestre do ano passado, a casa tem lotado, sobretudo de quarta a sábado,
quando há jazz ao vivo – uma novidade de Facundo Guerra. Embora eu não tenha
conhecido o bar em seus tempos áureos, parece-me que o projeto arquitetônico
atual, de autoria de Márcio Kogan, preservou e restaurou os principais
elementos originais, como as famosas paredes de vidro que visualizamos do lado
de fora e a escada que conduz ao mezanino. Eu soube, contudo, que a casa
reabriu com o dobro do tamanho da original. A única coisa que estranhei foi o
andar térreo que, no velho Riviera, era ocupado por mesas e atualmente está
todo tomado por um grande balcão vermelho em formato de ameba, nos mesmos
moldes do 'Bar Balcão', na Rua Melo Alves. OK, ficou bonito, é cool e facilita a aproximação das
pessoas, mas confesso que fiquei levemente decepcionada ao não encontrar as
famosas mesinhas. Enfim, é outra proposta.
O salão onde antes havia mesinhas - foto: Felipe Gombossy/Época SP |
E aqui, vista parcial do balcão e as famosas escadas que conduzem ao piso superior - foto: Simone Catto |
O andar de cima é um espaço superagradável e charmoso à
meia-luz. Ocupei uma deliciosa mesa encostada na parede de vidro, com vista
para o finalzinho da Avenida Paulista. Tudo de bom.
O aconchegante andar superior em foto do Facebook do Riviera. |
E aqui uma foto um tanto 'meia-boca' tirada do celular, já que eu estava sem câmera - foto: Simone Catto. |
A vista de minha mesa: finalzinho da Av. Paulista - foto: Simone Catto |
O menu é grande e
variado, com petiscos, sanduíches, pratos e coquetéis preparados com maestria. Como
ninguém estava morrendo de fome, fomos de petiscos. Para iniciar, pedimos a
porção de bolinhos de arroz. Saborosíssimos, com a crocância certa e um leve
toque de queijo, aqueles bolinhos estavam entre os melhores que já comi na
vida! O único senão é que a porção vem com apenas seis unidades. Poderia ser
mais bem servida, uma vez que o preço passa dos R$ 20,00. Para acompanhar,
tomei uma margarita que estava no ponto certo.
Os bolinhos de arroz são uma delícia, mas a porção é um tanto minguadinha - foto: Simone Catto |
Uma amiga pediu o Royal (R$ 31), um clássico repaginado do Riviera. Trata-se de um sanduíche montado no pão de forma e recheado com queijo,
rosbife, tomate e picles de pepino. É bem grande e dá para dividir tranquilamente.
Entre um gole e outro, conversa vai, conversa vem, os bolinhos
de arroz acabaram rapidinho - como já seria de se esperar. Aí pedimos uma
porção de mandioca frita, bem mais generosa. Pode parecer exagero, mas até uma
porção prosaica como essa pode (e deve!) ser preparada com primor. Pois esse
clássico dos barzinhos paulistanos tornou-se um show de sabor lá no Riviera. A
textura das mandiocas estava uma coisa de louco de tão boa. Ao mesmo tempo em
que eram crocantes, elas desmanchavam na boca de tão macias. Coisa de
alquimista de cozinha!
A porção de mandiocas era mais generosa e estava entre as melhores que já comi - foto: Simone Catto |
Como naquele dia eu estava com vontade de doce, pedi a Torta
Riviera, uma torre composta de massa de crepe com chantili em
camadas e laranjas em calda. Uma coisa leve que deixa na boca um gosto de céu.
Maravilha dos deuses!
A foto saiu péssima, mas garanto que a saborosíssima Torta Riviera deixou minhas endorfinas bem felizes! - Foto: Simone Catto |
Detalhe IM-POR-TAN-TÍS-SI-MO que faz a diferença: o Riviera abre
de domingo a domingo às 12h e sempre fecha depois da meia-noite. Ou seja: é um
daqueles refúgios que não deixam nenhum faminto na mão, com forte vocação para
se tornar um clássico do calibre de casas como Mestiço, Ritz e Spot, porém com preços mais
acessíveis.
Até breve, Riviera! - Foto: Simone Catto |
Em tempo: peço desculpas pelas fotos sofríveis, é que precisei tirá-las do celular. Mas pelo menos dá para ter uma
ideia do ambiente e da dimensão dos pratos.
O
RIVIERA está na Av. Paulista, 2584 – tel.: 3231-3705 - www.rivierabar.com.br. Abre
todos os dias a partir do meio-dia e, de quarta a sábado, tem jazz ao vivo à
noite. Já entrou para minha lista de preferidos!
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