O que faria com que uma adolescente parisiense bonita, bem-nascida,
bem de vida, com pais amorosos e um irmãozinho fofo passasse a se prostituir?
Essa é a pergunta que não quer calar no filme 'Jovem e Bela', de François Ozon.
A adolescente em questão, Isabelle (Marine Vatch), tem 17 anos e,
aparentemente, não lhe falta nada que uma garota de sua idade poderia desejar –
incluindo uma deliciosa casa na praia onde passa as férias com a família
carinhosa e de boa condição social. O filme, aliás, começa mostrando as férias
da menina, que toma sol tranquilamente na praia ao lado do irmão menor. É lá
que Isabelle desperta para o sexo, perde a virgindade com um namoradinho alemão
e detesta a experiência. Então as férias acabam, a família volta a Paris e
Isabelle começa a anunciar seus serviços sexuais na Internet, sem mostrar o
rosto.
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Isabelle (Marine Vatch) e seu irmão Victor (Fantin Ravat). |
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Aqui, a garota com a mãe atenciosa e carinhosa, Sylvie (Géraldine Palhias). |
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A menina e Felix, o namoradinho alemão com quem perdeu a virgindade nas férias (Lucas Prisor). |
Os clientes aparecem, na grande maioria homens de meia-idade,
idosos e com uma condição econômica suficientemente boa para poderem arcar com
os trezentos euros que a garota cobra pelos programas. Assim Isabelle vai acumulando
dinheiro e uma vida dupla, até que ocorre um incidente com um cliente assíduo e
ela acaba desmascarada pela família. Aí advém o drama, o inconformismo - justificado
- da família e a promessa de que ela não mais voltaria a se prostituir. No
entanto, assim que as coisas parecem voltar ao normal, já que ninguém na escola
da menina havia ficado sabendo do ocorrido, Isabelle começa a se entediar
novamente e tudo dá a entender que ela não tardaria a retomar sua antiga
atividade.
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Isabelle e seu cliente mais assíduo, um homem com idade para ser seu avô. |
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Nesta cena, Isabelle é humilhada por um cliente que sequer lhe permite tomar banho ao final do programa e se recusa a pagar o valor combinado. |
O que choca, nisso tudo, é o cinismo e a frieza de uma garota
europeia, tão jovem e tão bem tratada, em relação à vida e ao sexo. Não se
vislumbra, em seu rosto, nenhum traço de emoção – nem de prazer carnal ou de alegria,
nem de nojo ou de tristeza. É como se ela fosse uma autômata, um ser absolutamente
desprovido de alma e incapaz de esboçar emoções de qualquer espécie. Choca o contraste
entre as “duas vidas” de Isabelle. De manhã, ela frequenta a escola. Os jovens
de sua classe discutem poemas de Rimbaud na aula de literatura e a melhor amiga
pensa que ela ainda é virgem. À tarde, a menina encontra os homens em hotéis em troca
de dinheiro. Sai de casa com suas roupas de adolescente, se troca em banheiros
públicos e chega aos hotéis com “vinte anos” (ela mente a idade para os
clientes), vestida com um tailleur de executiva, uma blusa social roubada da
mãe e equilibrando-se em saltos altos. É triste. É cínico. E, sobretudo,
assustador, ao imaginarmos que essa indiferença pela vida, pelo sexo e pelas pessoas ao redor se manifeste em tantos outros jovens, de diferentes países, que fazem coisas ainda piores do que se
prostituir. É um filme que perturba e dá o que pensar. Se você tiver a oportunidade de
assistir, não perca!
Atualmente, ‘JOVEM E BELA’ está passando apenas na sala 5 do
Espaço Itaú de Cinema – Augusta, às quartas e quintas, às 14h20.
Ficha técnica parcial
Direção: François
Ozon
Elenco: Marine Vacth (Isabelle), Géraldine Pailhas (Sylvie,
sua mãe), Frédéric Pierrot (seu padrasto), Fantin Ravat (Victor, o irmão),
Lucas Prisor (Felix, o namoradinho alemão), Charlotte Rampling (esposa de um
cliente) e outros.
Duração: 95 minutos
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