quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

'Jovem e Bela'. Um retrato cínico e niilista da indiferença e frieza juvenis.

O que faria com que uma adolescente parisiense bonita, bem-nascida, bem de vida, com pais amorosos e um irmãozinho fofo passasse a se prostituir? Essa é a pergunta que não quer calar no filme 'Jovem e Bela', de François Ozon. A adolescente em questão, Isabelle (Marine Vatch), tem 17 anos e, aparentemente, não lhe falta nada que uma garota de sua idade poderia desejar – incluindo uma deliciosa casa na praia onde passa as férias com a família carinhosa e de boa condição social. O filme, aliás, começa mostrando as férias da menina, que toma sol tranquilamente na praia ao lado do irmão menor. É lá que Isabelle desperta para o sexo, perde a virgindade com um namoradinho alemão e detesta a experiência. Então as férias acabam, a família volta a Paris e Isabelle começa a anunciar seus serviços sexuais na Internet, sem mostrar o rosto.

Isabelle (Marine Vatch) e seu irmão Victor (Fantin Ravat).

Aqui, a garota com a mãe atenciosa e carinhosa, Sylvie (Géraldine Palhias).

A menina e Felix, o namoradinho alemão com quem perdeu a virgindade nas férias (Lucas Prisor).

Os clientes aparecem, na grande maioria homens de meia-idade, idosos e com uma condição econômica suficientemente boa para poderem arcar com os trezentos euros que a garota cobra pelos programas. Assim Isabelle vai acumulando dinheiro e uma vida dupla, até que ocorre um incidente com um cliente assíduo e ela acaba desmascarada pela família. Aí advém o drama, o inconformismo - justificado - da família e a promessa de que ela não mais voltaria a se prostituir. No entanto, assim que as coisas parecem voltar ao normal, já que ninguém na escola da menina havia ficado sabendo do ocorrido, Isabelle começa a se entediar novamente e tudo dá a entender que ela não tardaria a retomar sua antiga atividade.

Isabelle e seu cliente mais assíduo, um homem com idade para ser seu avô.

Nesta cena, Isabelle é humilhada por um cliente que sequer lhe permite tomar banho ao final do programa e se recusa a pagar o valor combinado.

O que choca, nisso tudo, é o cinismo e a frieza de uma garota europeia, tão jovem e tão bem tratada, em relação à vida e ao sexo. Não se vislumbra, em seu rosto, nenhum traço de emoção – nem de prazer carnal ou de alegria, nem de nojo ou de tristeza. É como se ela fosse uma autômata, um ser absolutamente desprovido de alma e incapaz de esboçar emoções de qualquer espécie. Choca o contraste entre as “duas vidas” de Isabelle. De manhã, ela frequenta a escola. Os jovens de sua classe discutem poemas de Rimbaud na aula de literatura e a melhor amiga pensa que ela ainda é virgem. À tarde, a menina encontra os homens em hotéis em troca de dinheiro. Sai de casa com suas roupas de adolescente, se troca em banheiros públicos e chega aos hotéis com “vinte anos” (ela mente a idade para os clientes), vestida com um tailleur de executiva, uma blusa social roubada da mãe e equilibrando-se em saltos altos. É triste. É cínico. E, sobretudo, assustador, ao imaginarmos que essa indiferença pela vida, pelo sexo e pelas pessoas ao redor se manifeste em tantos outros jovens, de diferentes países, que fazem coisas ainda piores do que se prostituir. É um filme que perturba e dá o que pensar. Se você tiver a oportunidade de assistir, não perca!

Atualmente, ‘JOVEM E BELA’ está passando apenas na sala 5 do Espaço Itaú de Cinema – Augusta, às quartas e quintas, às 14h20.

 

Ficha técnica parcial

 

Direção: François Ozon

Elenco: Marine Vacth (Isabelle), Géraldine Pailhas (Sylvie, sua mãe), Frédéric Pierrot (seu padrasto), Fantin Ravat (Victor, o irmão), Lucas Prisor (Felix, o namoradinho alemão), Charlotte Rampling (esposa de um cliente) e outros.

Duração: 95 minutos

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