sábado, 20 de setembro de 2014

Bar Balcão. O clássico do calor humano.

Em uma cidade com tantos bares que nascem, crescem, criam clones e morrem na velocidade de um gole, é um alento retornar a locais que já surgem com a vocação para ser clássicos. É o caso do Bar Balcão, instalado há anos em uma esquina da Rua Melo Alves, pertinho da Paulista. Não me pergunte há quanto tempo ele foi inaugurado porque não sei. Só sei que é o tipo de bar onde me sinto acolhida. Um bar que vai muito além dos modismos e que, mais do que sobreviver, tem vivido - e muito bem, obrigada! – com uma clientela fiel, satisfeita, descolada e interessante - pelo menos dentro daquilo que considero interessante, por assim dizer. A casa é frequentada por artistas, músicos, designers, jornalistas, profissionais liberais, o povo de comunicação, uma turma da happy hour – enfim, uma fauna diversificada e mais madura, felizmente com perfil bem diferente daquele que tem superpovoado boa parte da Vila Madalena de uns anos para cá.

A fachada já dá uma ideia do clima de aconchego no interior - Foto: Simone Catto

O Balcão ganhou esse nome porque seu salão é circundado por um enorme, único e sinuoso balcão contínuo, permitindo a aproximação das pessoas. Por isso, não é o tipo de bar aonde você deve ir para discutir a relação ou ter um tête-à-tête ao pé do ouvido. Mesmo assim, lá a gente sente uma grande sensação de "pertencimento" e, se houver clima, pode até acabar engatando um papo com a pessoa ao lado. Não foi meu caso, porque eu estava em ótima companhia, totalmente absorvida na conversa e meu propósito era outro. (rs)

Calor e proximidade: esse é o clima em torno do enorme balcão! - Foto: Simone Catto

A decoração do bar destaca-se por uma enorme pintura do artista norte-americano da pop art Roy Lichtenstein, que domina todo o salão. Nos fundos há também um mezanino, mas o espaço mais agradável é mesmo o do balcão amigo. A iluminação em tons alaranjados contribui para o clima de aconchego.

A tela de Roy Lichtenstein dá um charme pop ao lugar - Foto: Simone Catto

Detalhe bem bolado: caso o cliente saia para fumar, o centro do salão tem várias plaquinhas como esta abaixo para sinalizar que o lugar está ocupado. Assim ninguém corre o risco de perder o lugar ou de que o garçom recolha sua bebida da mesa!

Foto: Simone Catto

O cardápio tem opções etílicas para todos os gostos. Naquele dia tomei uma margarita, mas devo dizer que já provei melhores. Além disso, estranhei o copo, já que a bebida costuma ser servida naquelas taças com haste fina, formato triangular e boca larga.

Minha margarita... - Foto: Simone Catto

A Torta Pecã estava boa! - Foto: Simone Catto
Para comer, fomos de sanduíches. O meu, chamado Balcão Filé e Vegetais, levava filé mignon, cogumelos na manteiga, abobrinha e tomates grelhados, servidos no pão ciabata (R$ 26). Como o lanche tinha um tamanho respeitável, deu para dividir com uma amiga. Nem me atrevo a inserir a foto porque ficou ruim demais! 

Depois deu vontade de comer um doce e optei pela Torta Pecã, isto é, torta de nozes-pecã ao forno com sorvete de creme (R$ 16). Estava gostosa. A foto também não está lá essas coisas, mas seja o que Deus quiser.

Se você mora e/ou trabalha na região ou simplesmente gosta de papear num clima descontraído enquanto toma uma bebida, certamente vai encontrar um porto seguro no Balcão. Estive lá em plena terça-feira e o bar estava cheio, embora não estivesse lotado a ponto de não conseguirmos mesa. Anote aí: o BAR BALCÃO fica na Rua Dr. Melo Alves, 150 – Jardim Paulista – tel.: 3063-6091. Abre todos os dias das 18h à 01h.

sábado, 13 de setembro de 2014

'Bem-vindo a Nova York'. Depardieu dá show como o famoso tarado sexual processado por camareira.

Confesso que estava procrastinando um bocado para escrever sobre esse filme. Ele acabou de estrear em São Paulo, está com uma boa cotação nos guias especializados, mas devo dizer que o achei um tanto deprimente – talvez pela rudeza como a história, já pesada por si só, foi abordada e narrada. 

Para quem não sabe, o enredo de 'Bem-vindo a Nova York', filme de Abel Ferrara, é baseado em um escândalo sexual ocorrido há uns três anos nos Estados Unidos. Na ocasião, Dominique Strauss-Kahn, um francês sessentão todo-poderoso do Fundo Monetário Internacional e que inclusive aspirava à presidência da República pelo Partido Socialista, tentou violentar a camareira do hotel cinco-estrelas onde se hospedava em Manhattan, e ela meteu-lhe um processo. A história estourou na imprensa do mundo inteiro e o réu renunciou a seu cargo no FMI, embora não tenha permanecido quase nada atrás das grades.

No filme, o protagonista pervertido chama-se M. Devereaux e quem o interpreta é o excelente Gerard Dépardieu, magistral em sua caracterização. Já no início, percebe-se o tipo de homem que ele é: um sujeito totalmente devasso, repugnante e viciado em sexo que não poupa de suas investidas nenhuma mulher que cruze seu caminho. Logo de cara, há uma sucessão de cenas de orgia em que Devereaux e seus "amigos" divertem-se com prostitutas de luxo em hotéis e até no próprio local de trabalho. Em determinado momento, inclusive, ele tenta "empurrar" uma delas, sem pudor algum e sem sucesso, para cima de outro executivo de quem deseja obter vantagens. As cenas de sexo são mostradas com tal crueza, e o clima é tão barra-pesada, que é impossível não sentir asco por aquele homem.

Gerard Dépardieu em uma das cenas de orgia.

Para completar, Depardieu imprime todo o peso de sua imoralidade ao aspecto físico do personagem, um homem imenso que anda com dificuldade e se arrasta para lá e para cá com um corpanzil disforme e uma respiração constantemente ofegante.

Devereaux é casado com a elegante e discreta Simone, interpretada por Jacqueline Bisset, que até o escândalo estourar suporta heroicamente as traições e libertinagens do marido, fornecendo-lhe todo o apoio necessário para que se candidatasse à Presidência da República na França. Quando o homem vai para a cadeia, é ela que levanta o dinheiro para pagar a fiança milionária que irá libertá-lo. Apesar de passar por situações humilhantes na prisão, sobretudo se considerarmos sua posição social e financeira, Devereaux mal tem tempo de sentir o que significa realmente estar confinado numa cela. E em uma reflexão final, sua absoluta ausência de moralidade fica patente na forma autoindulgente como encara seus atos e seu comportamento.

Jacqueline Bisset interpreta 'Simone', a esposa elegantérrima com paciência de Jó e estômago de avestruz.

Momento da revista na prisão: humilhação em cena dantesca.

Naturalmente, conforme assinala um letreiro no início do filme, nem tudo o que é mostrado corresponde à realidade, inclusive porque seus realizadores não teriam como ter acesso a determinadas informações, como as nuances do relacionamento do próprio Strauss-Kahn com a esposa e alguns detalhes sórdidos de suas aventuras sexuais. Não sei se, caso o diretor tivesse tido uma mão mais leve e abordado o tema de forma mais branda, sobretudo nas cenas de sexo, minha impressão teria sido diferente. Desconfio, contudo, que a intenção tenha sido essa mesmo: chocar, para que o espectador fosse impactado com a sordidez da situação em toda a sua dimensão.

Ficou curioso(a)? ‘Bem vindo a Nova York’ está em cartaz no Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca, no Caixa Belas Artes, no Reserva Cultural e em outras salas.

Ficha técnica parcial

Direção: Abel Ferrara
Elenco: Gérard Dépardieu, Jacqueline Bisset, Marie Mouté, Amy Ferguson, Paul Calderon e outros.

domingo, 7 de setembro de 2014

'Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos'. Um tributo à altura do mito.

Meus pais sempre gostaram do Chico Buarque. Em determinada época, quando os discos ainda eram de vinil, eles ouviam muito um chamado 'Meus Caros Amigos', que continha belas músicas do Chico, dentre as quais a sensualíssima 'O Meu Amor', imortalizada na voz da Elba Ramalho. Ao contrário de meus pais, infelizmente não tive como assistir a musicais do Chico. Portanto, foi com surpresa que descobri, ao assistir ao espetáculo 'Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos', no Teatro FAAP, que muitas das músicas que eu ouvia e gostava quando criança haviam feito parte do repertório de musicais que marcaram época. Outras canções ficaram famosas não só por sua melodia e/ou letra, mas por terem sido gravadas por grandes intérpretes. É o caso da já citada 'O Meu Amor', com a Elba, da belíssima 'Sob Medida', que ficou conhecida na bela voz rouca da Fafá de Belém, da fofa 'João e Maria', que na realidade foi composta pelo Sivuca (Chico "só" escreveu a letra) e foi interpretada por Nara Leão, e de 'Bastidores', que ganhou várias doses extras de dramaticidade e purpurina na interpretação impagável de Cauby Peixoto.

O elenco do espetáculo.

Sob o comando da dupla mais quente dos musicais encenados em palcos tupiniquins, Charles Möeller e Claudio Botelho, o espetáculo na realidade não tem noventa minutos, mas cento e trinta e cinco – isto é, duas horas e quinze minutos - muito bem aproveitados. Concebido como uma homenagem ao Chico, que completou 70 anos recentemente, a montagem não é nem uma peça e nem um musical, mas uma espécie de "show dramatizado" no qual oito cantores/atores, inclusive o próprio Botelho, interpretem canções do artista – algumas bem conhecidas e outras nem tanto -, encenando as situações das letras. Botelho integra o elenco como o diretor de uma trupe teatral mambembe, o que fornece o ponto de partida para as interpretações das canções.

Claudio Botelho com o elenco ao fundo.

Além de temas presentes em musicais como 'Roda Viva' (1967), 'Calabar' (1973), 'Gota d'Água (1975), 'Ópera do Malandro' (1978), 'O Grande Circo Místico' (1982) e 'O Corsário do Rei' (1985), o espetáculo também tem músicas que fizeram parte da trilha sonora de filmes como 'Quando o Carnaval Chegar' (1972), 'Dona Flor e Seus Dois Maridos' (1976), 'Bye Bye' Brasil (1979) e 'Para Viver um Grande Amor' (1983).

Fiquei impressionada com a qualidade dos intérpretes. Todos eles, sem exceção, são excelentes. Têm belas vozes, são afinadíssimos e alguns inclusive apresentam uma tessitura vocal mais ampla - certamente já integraram o elenco de musicais que vêm fazendo sucesso por aqui, boa parte dos quais encenada por Möeller e Botelho.

Esta montagem ficou em cartaz no Teatro FAAP por apenas um mês, infelizmente, e hoje foi o último dia de apresentação. No entanto, quando fui assistir, no sábado passado, ao se despedir da plateia no final do show, Claudio Botelho não descartou a possibilidade de uma nova temporada. Não sei se no próprio Teatro FAAP ou em outro lugar, mas, de qualquer forma, é bom ficar de olho! Vamos torcer para que esse belo espetáculo retorne aos palcos de Sampa!

Elenco: Claudio Botelho, Soraya Ravenle, Malu Rodrigues, Davi Guilhermme, Estrela Blanco, Felipe Tavolaro, Lilian Valeska e Renata Celidonio.

Músicos: Thiago Trajano – violão, Luciano Correa – cello, Priscilla Azevedo – piano e acordeão, Marcio Romano – percussão.

Orquestração e arranjos: Thiago Trajano 

Arranjos vocais: Jules Vandystadt

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

'O Homem e seus Símbolos', de Jung. Uma fascinante viagem aos mistérios do inconsciente.

Nos sonhos, uma panela pode não ser só uma panela. Uma mesa pode não ser só uma mesa. E um macaco pode não ser só um macaco. Explico. Quando sonhamos, muitas das imagens que nos aparecem não possuem um significado literal, isto é, simbolizam algo que está além de sua interpretação imediata e oculto em nosso inconsciente. Esse "algo" pode ser uma necessidade, um desejo, uma intuição, uma neurose, um conflito, ou seja, uma gama infindável de coisas que estão lá, escondidinhas dentro de nós, só aguardando uma oportunidade para virem à tona. Isso acontece com frequência nos sonhos, na forma de símbolos. De fato, tudo pode assumir uma significação simbólica: objetos naturais como pedras, árvores, flores etc. ou aqueles fabricados pelo homem. O que ocorre é que, na vida dita "civilizada", sobretudo nas grandes cidades, passamos boa parte do tempo lutando contra o relógio e pela sobrevivência e, com isso, não prestamos atenção nos sinais à nossa volta e muito menos em nossos sonhos. 

Afinal, como os símbolos se manifestam nos sonhos? Em que medida a interpretação dessas imagens oníricas pode contribuir com nosso autoconhecimento, nos ajudar a restaurar o equilíbrio psíquico ou até mesmo a evitar que um desastre aconteça? Como os símbolos aparecem nas artes? As respostas a essas questões, e a muitas outras que na realidade nem sabemos que nos incomodam, estão nos cinco capítulos do livro 'O Homem e seus Símbolos', concebido e organizado por Carl Gustav Jung e publicado pela primeira vez em Londres no ano de 1964. Além de apresentar um capítulo de autoria do próprio Jung, a obra é uma compilação de artigos escritos por renomados colaboradores e estudiosos da mente convidados pelo mestre a dar sua contribuição.

O genial dr. Jung em seu estúdio.

O primeiro capítulo, 'Chegando ao Inconsciente', é aquele escrito por Jung e também o mais longo de todos, no qual ele discursa extensivamente sobre o poder e a carga energética das imagens simbólicas, abrindo caminho para os demais capítulos. É curioso notar como certos símbolos ancestrais, utilizados por nossos antepassados pré-históricos em objetos, esculturas e desenhos nas paredes de cavernas, são recorrentes nos sonhos do homem contemporâneo, levando Jung a concluir que existe um "padrão" simbólico universal que se repete e determinados arquétipos são recorrentes, independentemente de tempo, espaço e cultura. Contudo, a presença de um mesmo símbolo nos sonhos de diferentes pessoas – ex.: um urso - pode apontar para diferentes significados, dependendo da experiência individual de cada um. E essa análise só pode ser feita por um psicanalista, preferencialmente com a ajuda do paciente que anota e descreve diligentemente seus sonhos. Portanto, ao contrário do que vemos por aí, não existem manuais genéricos de "interpretação dos sonhos", e sim indicadores que podem servir como pontos de partida para um estudo mais profundo. 

Pinturas rupestres na famosa caverna de Lascaux, França, carregadas de simbologia.

O segundo capítulo, denominado 'Os Mitos Antigos e o Homem Moderno', é de autoria de Joseph L. Anderson, um dos mais eminentes psicanalistas junguianos dos Estados Unidos, e aprofunda aquilo que Carl Jung chamou de "inconsciente coletivo", mostrando como ele se manifesta de geração para geração por meio de imagens simbólicas, desde épocas ancestrais e em culturas totalmente antagônicas de diferentes pontos do globo. O que explica essa recorrência de visões entre povos tão diferentes que vivem e viveram em períodos históricos diversos? Entre as imagens arquetípicas recorrentes estão os símbolos heroicos, cuja necessidade surge, segundo o dr. Anderson, "quando o ego necessita fortificar-se", isto é, quando o consciente precisa de ajuda para alguma tarefa que não consegue executar sozinho. 

Conceitos como anima, animus e self, este último descrito por Jung como "a totalidade absoluta da psique", são abordados no terceiro capítulo da obra, 'O Processo de Individuação', de autoria da psicóloga suíça Marie-Louise von Franz, talvez a mais íntima amiga e confidente do dr. Jung. As manifestações da "sombra", a simbologia contida em formas geométricas como esferas e, por extensão, nas mandalas, bem como o fenômeno da "sincronicidade", também descrito por Jung, são outros tópicos analisados neste interessantíssimo capítulo.

O quarto capítulo do livro, denominado 'O Simbolismo nas Artes Plásticas' e de autoria de Aniela Jaffé, mostra como tudo pode assumir uma significação simbólica nas artes visuais – desde as pinturas rupestres de nossos antepassados pré-históricos, passando pelos símbolos de Cristo na arte religiosa da Idade Média até as formas circulares e quadradas da pintura abstrata do início do século XX. A dra. Jaffé dedica boa parte de seu estudo à análise das imagens simbólicas em obras de várias artistas modernos, dentre eles dois dos maiores representantes da vanguarda russa, Wassily Kandinsky e Kasimir Malevitch. A ideia de que o objeto significa "mais do que o olho pode perceber", compartilhada por muitos artistas surrealistas como Marcel Duchamp e Giorgio de Chirico, também ganha voz neste capítulo que exalta a dimensão do simbolismo nas artes. A autora observa que o inconsciente na obra de Marc Chagall, presente de uma forma solar, plena de calor e afetividade, é totalmente antagônico ao da obra de De Chirico, com seus dilemas metafísicos. Nesse estudo são também mencionados Max Ernst, Paul Klee e Jackson Pollock, entre outros grandes artistas do século XX que procuraram dar forma visível à "vida que existe por trás das coisas".

Belíssima obra de Wassily Kankinsky.

Obra de Marc Chagall, rica em imagens simbólicas.

O quinto e último capítulo da obra, 'Símbolos em uma Análise Individual', foi escrito pelo dr. Jolande Jacobi, que é, depois de Jung, o autor com maior número de publicações do círculo junguiano de Zurique. Como o próprio título indica, o dr. Jacobi relata, em seu estudo, o processo terapêutico de um paciente, um engenheiro de 25 anos a quem chamou de "Henry", por meio da análise de diversos sonhos do jovem.

Com uma linguagem absolutamente acessível até para quem não tiver formação em psicologia ou psicanálise, o livro nos proporciona, em suma, um mergulho fascinante nos meandros do inconsciente por meio de sua carga simbólica. O mais intrigante é que, apesar de ter sido publicada há exatos cinquenta anos, a obra revela-se incrivelmente atual. Impossível não vincular várias das explicações ali descritas acerca dos símbolos e das reações humanas a fatos da nossa contemporaneidade. Por isso, é recomendadíssima a todos que não apenas apreciam psicologia, mas também buscam novos caminhos para o autoconhecimento.

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segunda-feira, 25 de agosto de 2014

'Bistrô Romantique'. Um cardápio de dores de amor para todos os gostos.

Já ouvi falarem bem e mal de 'Bistrô Romantique', produção belga que acabou de estrear nos cinemas de Sampa. Alguns criticaram os clichês, outros disseram que a ideia foi melhor que a execução, enfim... o que posso dizer é que eu, no entanto, gostei. É um filme para a gente assistir sem compromisso e que prende a atenção ao relatar os dramas amorosos dos casais que jantam em um restaurante no Dia dos Namorados.

O restaurante, ou bistrô, pertence aos irmãos Pascaline e Angelo. Ela administra a casa com mão de ferro e ele é o chef. Angelo tem uma filha pré-adolescente muito afeiçoada à tia e Pascaline é uma solitária mulher de meia-idade. Para subirem na vida, ambos trabalharam arduamente. E naquela noite, preparam um menu especial para o Dia dos Namorados.

O chef Angelo (Axel Daeseleire) em ação.

O que Pascaline jamais poderia prever é que o primeiro cliente da noite seria justamente um namorado da juventude que a havia abandonado grávida e que ela não via há mais de vinte anos. O homem aparece sozinho para vê-la, sem reserva, e a tira dos eixos. Na sequência, começam a chegar os outros clientes que haviam reservado mesas e ficamos conhecendo suas histórias.

Pascaline (Sara de Roo) conversa com o ex-namorado Frank, que chegou do nada (Koen De Bouw).

Em uma das mesas estão os Roos, um próspero casal de meia-idade. O homem é um autocentrado, deselegante – e chato – vendedor de automóveis que fica atendendo o celular à mesa o tempo todo e só sabe falar de trabalho em plena comemoração de Dia dos Namorados. Um verdadeiro "mala", por assim dizer. Até que a mulher, farta, lhe revela que tem um amante. Bingo.

Em uma das mesas está Mia, uma jovem sensível e solitária que é dona de uma loja de chocolates e não consegue superar a perda do namorado que a trocou pela melhor amiga sete anos antes e que, naquele mesmo local, havia-lhe feito juras de amor com uma aliança. Enquanto aguarda os pratos, Mia fica comendo bombons compulsivamente, até que atrai a atenção do garçom Lesley.

Em primeiro plano está Mia (Ruth Becquart), a jovem de coração partido, logo atrás vemos o casal Roos (Barbara Sarafien
e Filip Peeters)
e, ao fundo, Pascaline em pé e Frank (o ex-namorado) sentado.

O garçom Lesley (Wouter Hendrickx) fica intrigado com a moça triste que não para de devorar bombons e puxa conversa.

Em outra mesa está mais um solitário, o tímido geólogo Walter, que havia marcado um encontro com uma jovem desconhecida pela Internet. Quando a mulher chega, uma loira alta, atraente e voluptuosa que fica atraída pelo homem desajeitado e sem-graça, imediatamente pensamos haver algo errado. E há mesmo. Mas isso você vai descobrir ao assistir ao filme.

A loira que deixa Walter (Mathijs Scheepers) embasbacado... aí tem!

Paralelamente às histórias amorosas dos clientes, desenrolam-se os conflitos entre os dois irmãos proprietários do restaurante até eles desembocarem em uma verdadeira "lavagem de roupa suja", ou melhor, de "panelas sujas".

Não há como não sentirmos empatia pelos personagens e seus dramas que, em alguns momentos, até provocam risadas. Tudo bem que algumas situações às vezes pareçam forçadas, mas isso não prejudica esse simpático filme europeu que diverte com leveza e sem grandes pretensões. Recomendo! 

'BISTRÔ ROMANTIQUE' está em cartaz no Caixa Belas Artes e no Espaço Itaú de Cinema - Augusta e Pompéia.

Ficha técnica parcial

Diretor: Joel Vanhoebrouck
  
Elenco: Sara de Roo (Pascaline), Axel Daeseleire (Angelo), Zoe Thielemans (Emma, filha de Angelo), Koen De Bouw (Frank, o antigo namorado de Pascaline), Barbara Sarafian e Filip Peeters (casal Roos), Ruth Becquart (Mia), Wouter Hendrickx (Lesley), Mathijs Scheepers (Walter), Anemone Valcke (Ingrid, uma ajudante de cozinha) e outros.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

'O melhor lance'. Arte e suspense pela ótica do diretor de 'Cinema Paradiso'.

Quando a gente ouve falar em Giuseppe Tornatore, não há como não associar seu nome ao inesquecível 'Cinema Paradiso', maior sucesso do diretor italiano. Por isso, quando soube que um filme chamado 'O Melhor Lance' ('La Migliore Offerta') estava em cartaz por aqui, duas coisas me chamaram a atenção. Primeira: ele é ambientado no universo dos leilões de arte. Segunda: a direção é de Tornatore, um aval de que o filme seria no mínimo bom. Como realmente é. Não vou dizer que seja excepcional, porque estaria mentindo, mas é um filme interessante, embora um tanto fantasioso e em certa medida previsível – pelo menos o foi para mim. Curiosidade: embora seja italiano, o filme é falado em inglês.

Desta vez, Tornatore não criou uma obra lacrimosa como 'Cinema Paradiso', mas um suspense estrelado pelo ótimo ator australiano Geoffrey Rush, que fez o papel do terapeuta no sucesso 'O Discurso do Rei'. Rush interpreta Virgil Oldman, um homem elegante e solitário, respeitado especialista em arte e leiloeiro que não é exatamente um poço de integridade. Virgil manipula os valores das obras nos leilões sob seu comando com a cumplicidade de Billy Whistler, um artista frustrado interpretado por Donald Sutherland que se senta na plateia fingindo ser um comprador e, com seus lances fictícios, manipula o valor das obras de arte.

O leiloeiro Virgil Oldman (Geoffrey Rush) almoça sozinho no luxuoso restaurante, sempre usando suas luvas.

Virgil em ação em um de seus leilões.

O artista frustrado Billy Whistler (Donald Sutherland) é parceiro de Virgil em jogadas pouco honestas no mercado de arte.

O leiloeiro não tem vida social e não gosta do contato com outras pessoas, chegando até mesmo a usar luvas para evitar tocá-las. Seu maior prazer é contemplar uma magnífica coleção de retratos femininos pintados através dos séculos, um verdadeiro tesouro que amealhou ao longo da vida e preserva nas paredes de um imenso salão-cofre de seu luxuoso apartamento.

Virgil mostra a Claire (Sylbia Hoecks) a magnífica coleção de retratos femininos que amealhou ao longo da vida.

O mistério começa quando uma jovem e misteriosa herdeira chamada Claire Ibbetson (Sylvia Hoecks) faz questão de contratar Virgil para avaliar e vender o espólio de seus pais, que se encontra em uma enorme e decadente mansão. Após um contato inicial por telefone, a moça marca vários encontros com o especialista, mas nunca aparece. Cada vez ela dá uma desculpa diferente, até Virgil descobrir que ela supostamente sofre de agorafobia – medo de espaços abertos e do contato com outras pessoas - desde os quinze anos de idade. A moça vive reclusa em um dos quartos da mansão e Virgil só consegue se comunicar com ela pelo buraco da fechadura e por um sistema de autofalante, o que é, no mínimo, esquisito.

A jovem herdeira Claire Ibbetson em sua mansão.

Para aumentar o mistério, a cada visita à mansão para realizar o trabalho com sua equipe, Virgil encontra uma diferente peça de metal que parece pertencer a uma rara engrenagem - e vai roubando-as, uma a uma, para que seu amigo mecânico Robert (Jim Sturgess) possa montá-las. Por fim, ambos descobrem que as peças pertencem a um antiquíssimo e estranho tipo de autômato.

Virgil e o mecânico Robert (Uim Sturgess) na loja onde este conserta engenhocas e monta o robô com as peças que Virgil achou na mansão.

Enquanto isso, Virgil vai ficando cada vez mais obcecado pela herdeira que não conhece – Claire - até o momento que, por fim, acaba por encontrá-la e apaixona-se perdidamente. Aparentemente, ele é correspondido e faz de tudo para conquistar aquela que é, na realidade, a primeira mulher de sua vida. O que começa a acontecer a partir daí, no entanto, gradualmente vai deixando de ser surpresa. Quando tudo parece ir bem demais, às mil maravilhas, é óbvio que algo de terrível está para acontecer e macular a felicidade do protagonista. Tornatore mostra que, a exemplo das obras de arte, sentimentos também podem ser falsificados para servirem a determinado fim. 

Embora o filme soe meio superficial às vezes, vale a pena assistir, sobretudo se você gosta de arte. Vale pelos ambientes, pela direção e pela elegância do protagonista Geoffrey Rush, que tem uma atuação impecável. 'O Melhor Lance' atualmente está em cartaz somente no cine Reserva Cultural. Foi lá mesmo que eu assisti, e inclusive cheguei mais cedo para tomar um café no delicioso Pain de France. Fica a dica!

Ficha técnica parcial

Direção: Giuseppe Tornatore
Elenco: Geoffrey Rush, Donald Sutherland, Sylvia Hoeks, Jim Sturgess e outros.
Duração: 131 minutos

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Restaurante Coco Bambu JK. Um mar de delícias do mar em clima de badalação.

Quando um restaurante lota em plena segunda-feira à noite, algum motivo deve haver. Tive essa experiência recentemente em um jantar no Coco Bambu da Av. Juscelino Kubitschek com uma turminha tão querida quanto festiva.

Foto: Simone Catto

Eu já havia ouvido falar dessa casa originária do Ceará que tem sucursais em vários pontos do Brasil, e parece que o lugar está na moda. Não conheço as outras unidades, mas a da JK é bem grande, com vários ambientes onde vemos uma profusão de vidros, paredes de pedra e mesas de madeira. O conjunto é bonito e o clima é de badalação - definitivamente, não é o lugar aonde você deve ir se estiver em busca de paz e privacidade.

A mesa redonda da frente era a minha. Veja a lotação do restaurante em plena noite de segunda-feira!
Coisas de São Paulo... - Foto: Simone Catto

Essa foto do site da casa mostra bem como o lugar é amplo - Foto: www.restaurantecocobambu.com.br
 
Não se deixe enganar: nossa mesa era a mais florida da noite! (rs) - Foto: Simone Catto

Ao abrir o cardápio, fiquei impressionada com o número de opções disponíveis, a maioria à base de camarão, peixes e frutos do mar, que eu adoro. Foi difícil escolher, dada a quantidade de pratos que pareciam bons. Enquanto aguardávamos todas as pessoas chegarem, pedimos a cesta de pães e torradas, que inclui pães de queijo e torradinhas crocantes amanteigadas. E para beber, optei pela 'caipicoco' - uma caipirinha de coco que, além de deliciosa, tem um visual inspirador!

A cesta de pães e torradas - Foto: Simone Catto

A 'caipicoco' com cachaça Ypioca estava nota mil! - Foto: Simone Catto

Na hora de escolher o prato, foi aquele dilema. Detalhe: a casa tem vários pratos que servem tranquilamente 3 ou 4 pessoas. Decidimos, então, pelos Camarões Jangadeiro, camarões recheados com catupiry e empanados servidos sobre arroz à grega e batatas gratinadas. Esse prato custa R$ 139,90, mas é gigante - serve 4 ou até 5 pessoas.

O prato de Camarões à Jangadeiro: enorme! - Foto: Simone Catto

Os camarões estavam saborosos e o arroz estava OK, mas achei o prato um pouco seco. Uma amiga inclusive comentou, à mesa, que de todos os pratos que já havia experimentado lá, esse era o de que menos gostara. Isso significa que preciso voltar para provar outros! De qualquer modo, a enorme porção alimentou, com folga, cinco "boquitas" esfomeadas.

As outras "boquitas" pediram Salada de Salmão (ceviche de salmão, alface americana, alface crespa, alface roxa, rúcula, azeitonas pretas e tomate cereja), Escondidinho de Caranguejo (carne de caranguejo refogada com requeijão, verduras e um toque de leite de coco, com cobertura de purê de batatas gratinado com queijo parmesão (R$ 26,90) e o Caldo de Peixe, que leva pimentão, cebola, alho, cheiro-verde e acompanha torradinhas. Comi um pouco da Salada de Salmão e realmente estava deliciosa: um prato leve, fresquinho e que satisfaz.

A Salada de Salmão estava uma delícia e bem temperada - Foto: Simone Catto

O Escondidinho de Caranguejo eu não experimentei, mas quem comeu disse que estava muito bom! - Foto: Simone Catto

E não é que, depois de tudo isso, ainda sobrou um cantinho no estômago para um doce? Pedimos, então, uma Cocada ao Forno com Sorvete de Creme e... oito colherzinhas, para que todo mundo pudesse provar. A cocada também tem um tamanho respeitável e foi mais do que suficiente para matar a nossa vontade. Servida quente, ela cria um delicioso contraste com a bola de sorvete que vai por cima.

A Cocada Assada com Sorvete de Creme estava uma perdição! E atrás, o prato com váaaarias colheres de sobremesa para ninguém passar vontade (rs) - Foto:  Simone Catto

Depois de tudo, para coroar uma refeição com muita conversa, risadas e regalos... um café com creme servido com um simpático brigadeiro! E ao final, a conta por pessoa não foi nenhum absurdo: deu cerca de R$ 60,00 para sete pagantes. 

O café com creme servido com brigadeiro foi o toque que faltava para encerrar um jantar que merece repeteco! 
Foto: Simone Catto

O COCO BAMBU JK é um restaurante ao qual eu gostaria de retornar para experimentar outros pratos que certamente devem ser muito bons. Se você gosta de peixes e frutos do mar, vale a pena conhecer também! O endereço é Av. Antônio Joaquim de Moura Andrade, 737 – Moema. Tel.: (11) 3051-5255 – www.restaurantecocobambu.com.br