Toda vez que vou a um espetáculo de dança e vejo o teatro
lotado, devo dizer que fico extremamente feliz. Isso mostra que, em meio à horda de ogros que
habita São Paulo, é possível encontrar, aqui e acolá, lampejos de arte, cultura e sensibilidade.
Felizmente, todos os espetáculos da São Paulo Companhia de Dança aos quais assisti - foram vários! -
tiveram sala cheia. O último foi no final do ano passado, em novembro, quando
tive o privilégio de assistir, no Teatro Sergio Cardoso, à última apresentação de um dos quatro
programas da temporada daquele mês: o programa 4, de gala, com
convidados internacionais.
O primeiro número, Bachiana nº1,
teve coreografia de Rodrigo Pederneiras. do Grupo Corpo, e foi inspirado nas Bachianas
Brasileiras nº 1,
de Heitor Villa-Lobos (1887-1959).
Composta em 1930, essa bachiana tem uma estrutura que lembra as fugas de Bach, porém as harmonias e a
melodia têm um caráter genuinamente nacional facilmente identificável.
Dividida em três movimentos, no dia do espetáculo ela foi interpretada lindamente
por oito violoncelistas da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). O
Pas de Deux ficou a cargo de Pamela Valim e André Grippi, e mais treze
bailarinos compuseram o elenco.
Bachiana no.1 - Foto: SPCD - Wilian Aguiar |
A apresentação seguinte foi, em minha opinião, uma das melhores:
tratou-se do Grand Pas de Deux do clássico balé Dom Quixote, inspirado na
novela de Miguel de Cervantes. Romântico e vigoroso, o número mostra a alegria
do encontro do casal Kitri e Basilio, personagens principais da obra, no dia de
seu casamento. A música é de Leon Minkus (1826-1917) e a coreografia foi criada
especialmente para a SPCD por Mario Galizzi e inspirada no original de 1911 de
Michel Fokine (1880-1942). Os intérpretes foram Thamiris Prata e Daniel Camargo, bailarino convidado. Nascido em Sorocada, interior de São Paulo,
Daniel é hoje o primeiro bailarino do Stuttgart Ballet, na Alemanha.
Orgulho nacional!
A bailarina Thamiris Prata em Don Quixote - Foto: SPCD - Marcela Benvegnu |
Na sequência tivemos o romântico e conhecidíssimo Le
Spectre de La Rose, com coreografia de Mario Galizzi baseada no
original de Michel Fokini que estreou em 1911 nos Ballets Russes de Diaghilev.
Inspirada no poema homônimo de Théophille Gautier e composta por Carl Maria Von Weber (1786-1826), a
música Convite à Valsa foi orquestrada
por Hector Berlioz e renomeada
como Convite à Dança. Inversamente ao que estamos habituados a ver nos balés românticos,
aqui o solo masculino se sobressai ao feminino. Naquele dia, o número
foi apresentado por Luiza Yuk e o excelente Yoshi Suzuki.
Yoshi Suzuki e Luiza Yum em Le Spectre de La Rose - Foto: SPCD - Clarissa Lambert |
E finalmente, o espetáculo foi encerrado com o belo Grand
Pas de Deux de O Cisne Negro, também coreografado
por Mario Galizzi a partir da obra de Marius Petipa (1818-1910) com data de 1895.
Esse duo integra o terceiro ato de O Lago dos Cisnes e marca o encontro
do príncipe Siegfried com Odile, o Cisne Negro maldoso e ardiloso. Com a
belíssima música de Tchaikowsky (1840-1893), este é, sem dúvida, um dos balés
mais populares do mundo. Os intérpretes foram Luiza Lopes e o premiado brasileiro
Thiago Soares, desde 2006 primeiro bailarino do The Royal Ballet, em
Londres. Um belo número!
Luiza Lopes como o Odile, o Cisne Negro de O Lago dos Cisnes - Foto: SPCD - Wilian Aguiar |
Não sabemos se a São Paulo Companhia de Dança apresentará esse repertório também em
2015, mas, como todos os seus espetáculos são da mais alta
qualidade, se você gosta de balé, recomendo assistir a pelo menos um.
Confira a programação em www.http://spcd.com.br/agenda.php.
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