sábado, 4 de maio de 2013

'Da Vincis do Povo', no CCBB. Uma exposição curiosa valorizada pelo espaço que a recebe.

No feriado fui convidada a visitar a exposição 'Da Vincis do Povo', de Cai Guo-Qiang (pronuncia-se Tsai Guo Chang), no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). O artista chinês de 55 anos vive em Nova Iorque e já ganhou vários prêmios, entre eles o Leão de Ouro da Bienal de Veneza de 1999 e o Praemium Imperiale (equivalente a um Nobel das artes) de 2012. Além disso, é autor dos espetáculos pirotécnicos das cerimônias de abertura e encerramento das Olimpíadas de Pequim, em 2008.

Foto: Simone Catto

Confesso que essa exposição, que já passou por Brasília e seguirá para o Rio de Janeiro, não estava em minha lista de prioridades. No entanto, fiquei animada pelo dia ensolarado e sobretudo pelas ótimas companhias que teria no passeio, sem falar que seria uma grande oportunidade para eu conhecer o CCBB, já que – vergonha das vergonhas! – eu nunca havia visitado o espaço, acredite se quiser. Aliás, gostei tanto do CCBB que criei um post para divulgar um pouco de sua arquitetura. Para acessar, clique aqui.

No lado externo do Centro Cultural, na rua Álvares Penteado, esquina com a rua da Quitanda, a gente já avista algumas obras do chinês suspensas no espaço. São aviões, helicópteros e outros artefatos voadores surreais pendurados por cabos de aço que se misturam aos edifícios antigos e conferem uma dimensão lúdica à rua do Centro de São Paulo.

Os curiosos artefatos voadores são avistados de longe. Na faixa branca vertical, ao fundo
à direita, lê-se: 'O que é importante não é se você pode voar' - 
Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

No total, são 14 instalações de grande porte que ocupam tanto o espaço do CCBB e seu entorno quanto o Prédio Histórico dos Correios. Com curadoria de Marcello Dantas, a mostra adapta-se ao contexto cultural e arquitetônico das cidades que a sediam.

Logo ao entrarmos no belo saguão circular, deparamos imediatamente com uma gigantesca tela do artista que lembra um pergaminho clássico chinês gigante desenrolado, intitulada 'Birds and Flowers of Brazil', com 18 m de altura por 4 m de largura. Criada em Brasília especialmente para a etapa paulista da mostra, a obra mostra pássaros e flores da fauna brasileira desenhados com pólvora com a ajuda de voluntários locais e a assessoria de especialistas em ornitologia e botânicos.

O painel 'Birds and Flowers of Brazil', de Cai Guo Qyang, estende-se pelos cinco andares
da exposição - Foto: Simone Catto

Outras salas apresentam mais telas criadas com essa técnica, todas com temática brasileira e realizadas na unidade do CCBB em Brasília com a ajuda de voluntários. Segundo o artista, que assistiu a ensaios de escolas de samba em 2012, a pólvora revelou-se um material perfeito para expressar a energia do Brasil. Em uma obra sobre o Carnaval, aliás, ele usou tanta pólvora que o papel até queimou em algumas partes. Alguns espaços exibem vídeos do making-of de obras criadas com essa técnica.

Cai Guo-Qyang - 'Corcovado e Fantasia' (2013) - pólvora s/ papel
Foto: Simone Catto

Além dos desenhos com pólvora, destacam-se na exposição dezenas de robôs criados por camponeses chineses. São engenhocas feitas de lata, fios, objetos descartados e uma infinidade de materiais de sucata, que realizam diferentes movimentos. Há anos Cai Guo-Qiang coleta esses objetos nos rincões mais remotos da China como uma forma de homenagear a genialidade espontânea e a individualidade desses artesãos anônimos cuja inventividade passa ao largo da tecnologia numa sociedade em que a massa e o coletivo sobrepujam o individual. Daí o nome da exposição, aliás – cá entre nós - um tanto pueril: 'Da Vincis do povo'. Esse tributo à gente simples de sua terra certamente tem explicação, também, na origem camponesa do artista, cuja família trabalhou nas plantações de arroz. Apesar de ser agricultor, seu pai era um admirador da caligrafia tradicional chinesa e, além de semear arroz, pode ter semeado também o embrião de talento no filho.

Algumas salas do complexo e a área externa são ocupadas pelos irreverentes robôs criados por um inventor chinês chamado Wu Yulu, da vila Tongzhou, em Pequim. Nascido em 1962, Yulu despertava riso nos vizinhos por sua excentricidade, até que, em 1987, fez sucesso com um robô de 20 cm que podia andar e dançar. A partir daí, seus robôs começaram a perambular alegremente pela vila. Em 25 anos, o homem criou mais deles, batizados de 'Big Wu'. Alguns andam ou engatinham, outros cospem tinta ou pintam superfícies, emulando o trabalho de artistas plásticos como Jackson Pollock e Damien Hirst.

Um dos divertidos robôs de Wu Yulu - Foto: Simone Catto

As crianças adoraram os robôs ratinhos que andavam pelo espaço - Foto: Simone Catto

Alguns dos robôs artistas de Wu Yulu... - Foto: Simone Catto 

... e nas paredes, as obras de arte que eles criaram! Puro Jackson Pollock...
Foto: Simone Catto

Acima da claraboia do prédio, está a instalação 'Marcas'. São nove berços com flores nativas brasileiras e, acima deles, 84 pipas nas quais Cai Guo-Qyang fez uma homenagem aos camponeses escrevendo, de próprio punho, o nome de cada um em cada pipa.

Cai Guon-Qyang - 'Marcas' - Foto: Simone Catto

Uma das salas tem uma instalação multimídia com 40 pipas de bambu e seda presas ao chão por hastes e sopradas por ventiladores. Elas ganham vida e cor através de projeções de vídeo que homenageiam cada um dos inventores representados na mostra.

As pipas com projeções - Foto: Simone Catto

Por fim, serei sincera, já que a sinceridade é condição sine qua non para este blog. A exposição é interessante? É. Valeu como curiosidade? Valeu. Porém, creio que não a teria visitado se ela não estivesse inserida no lugar onde está. Não tiro seu mérito, evidentemente, mas, pelo menos para mim, ela não teria a mesma graça e nem causaria o mesmo impacto se não estivesse abrigada no lindo espaço do CCBB e seu entorno. 

Quer conferir a exposição, apreciar a arquitetura do CCBB, tomar um café por lá ou fazer tudo isso junto? Anote aí:

CAI GUO-QIANG – DA VINCIS DO POVO (PEASANT DA VINCIS)
Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – R. Álvares Penteado, 112 – Centro (próximo às estações Sé e São Bento do Metrô) - tel.: 3113-3651/3652 – www.bb.com.br. Abre de terça a domingo das 9h às 21h. Até 23 de junho.

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