Foto: Simone Catto |
Confesso que essa exposição, que já
passou por Brasília e seguirá para o Rio de Janeiro, não estava em minha lista
de prioridades. No entanto, fiquei animada pelo dia ensolarado e sobretudo
pelas ótimas companhias que teria no passeio, sem falar que seria uma grande
oportunidade para eu conhecer o CCBB, já que – vergonha das vergonhas! – eu nunca
havia visitado o espaço, acredite se quiser. Aliás, gostei tanto do CCBB que
criei um post para divulgar um pouco de sua arquitetura. Para acessar, clique aqui.
No lado externo do Centro Cultural, na
rua Álvares Penteado, esquina com a rua da Quitanda, a gente já avista algumas
obras do chinês suspensas no espaço. São aviões, helicópteros e outros
artefatos voadores surreais pendurados por cabos de aço que se misturam aos
edifícios antigos e conferem uma dimensão lúdica à rua do Centro de São Paulo.
Os curiosos artefatos voadores são avistados de longe. Na faixa branca vertical, ao fundo à direita, lê-se: 'O que é importante não é se você pode voar' - Foto: Simone Catto |
Foto: Simone Catto |
No total, são 14 instalações de
grande porte que ocupam tanto o espaço do CCBB e seu entorno quanto o Prédio
Histórico dos Correios. Com curadoria de Marcello Dantas, a mostra adapta-se ao
contexto cultural e arquitetônico das cidades que a sediam.
Logo ao entrarmos no belo saguão
circular, deparamos imediatamente com uma gigantesca tela do artista que lembra
um pergaminho clássico chinês gigante desenrolado, intitulada 'Birds
and Flowers of Brazil', com 18 m de altura por 4 m de largura. Criada em
Brasília especialmente para a etapa paulista da mostra, a obra mostra pássaros
e flores da fauna brasileira desenhados com pólvora com a ajuda de voluntários
locais e a assessoria de especialistas em ornitologia e botânicos.
O painel 'Birds and Flowers of Brazil', de Cai Guo Qyang, estende-se pelos cinco andares da exposição - Foto: Simone Catto |
Outras salas apresentam mais telas
criadas com essa técnica, todas com temática brasileira e realizadas na unidade
do CCBB em Brasília com a ajuda de voluntários. Segundo o
artista, que assistiu a ensaios de escolas de samba em 2012, a pólvora
revelou-se um material perfeito para expressar a energia do Brasil. Em uma obra sobre o
Carnaval, aliás, ele usou tanta pólvora que o papel até queimou em algumas
partes. Alguns espaços exibem vídeos do making-of de obras criadas com essa técnica.
Cai Guo-Qyang - 'Corcovado e Fantasia' (2013) - pólvora s/ papel Foto: Simone Catto |
Além dos desenhos com pólvora,
destacam-se na exposição dezenas de robôs criados por camponeses chineses. São
engenhocas feitas de lata, fios, objetos descartados e uma infinidade de
materiais de sucata, que realizam diferentes movimentos. Há anos Cai Guo-Qiang coleta esses
objetos nos rincões mais remotos da China como uma forma de homenagear a
genialidade espontânea e a individualidade desses artesãos anônimos cuja
inventividade passa ao largo da tecnologia numa sociedade em que a massa e o
coletivo sobrepujam o individual. Daí o nome da exposição, aliás – cá entre nós
- um tanto pueril: 'Da Vincis do povo'. Esse
tributo à gente simples de sua terra certamente tem explicação, também, na
origem camponesa do artista, cuja família trabalhou nas plantações de arroz. Apesar
de ser agricultor, seu pai era um admirador da
caligrafia tradicional chinesa e, além de semear arroz, pode ter semeado também o embrião de talento no filho.
Algumas salas do complexo e a área externa
são ocupadas pelos irreverentes robôs criados por um inventor chinês chamado Wu Yulu, da vila Tongzhou, em Pequim.
Nascido em 1962, Yulu despertava riso nos vizinhos por sua excentricidade, até
que, em 1987, fez sucesso com um robô de 20 cm que podia andar e dançar. A
partir daí, seus robôs começaram a perambular alegremente pela vila. Em 25
anos, o homem criou mais deles, batizados de 'Big Wu'. Alguns andam ou
engatinham, outros cospem tinta ou pintam superfícies, emulando o trabalho de
artistas plásticos como Jackson Pollock e Damien Hirst.
Um dos divertidos robôs de Wu Yulu - Foto: Simone Catto |
As crianças adoraram os robôs ratinhos que andavam pelo espaço - Foto: Simone Catto |
... e nas paredes, as obras de arte que eles criaram! Puro Jackson Pollock... Foto: Simone Catto |
Acima da claraboia do prédio, está a instalação 'Marcas'. São nove berços com flores nativas brasileiras e, acima deles, 84 pipas nas quais Cai Guo-Qyang fez uma homenagem aos camponeses escrevendo, de próprio punho, o nome de cada um em cada pipa.
Cai Guon-Qyang - 'Marcas' - Foto: Simone Catto |
Uma das salas tem uma instalação
multimídia com 40 pipas de bambu e seda presas ao chão por hastes e sopradas
por ventiladores. Elas ganham vida e cor através de projeções de vídeo que homenageiam
cada um dos inventores representados na mostra.
As pipas com projeções - Foto: Simone Catto |
Por fim, serei sincera, já que a sinceridade é condição sine qua non para este blog. A exposição é interessante? É. Valeu como curiosidade? Valeu. Porém, creio que não a teria visitado se ela não estivesse inserida no lugar onde está. Não tiro seu mérito, evidentemente, mas, pelo menos para mim, ela não teria a mesma graça e nem causaria o mesmo impacto se não estivesse abrigada no lindo espaço do CCBB e seu entorno.
Quer conferir a exposição, apreciar a
arquitetura do CCBB, tomar um café por lá ou fazer tudo isso junto? Anote aí:
CAI GUO-QIANG – DA VINCIS DO POVO (PEASANT DA VINCIS)
Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – R. Álvares
Penteado, 112 – Centro (próximo às estações Sé e São Bento do
Metrô) - tel.: 3113-3651/3652 – www.bb.com.br. Abre de terça a domingo das 9h às
21h. Até 23 de junho.
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