sábado, 19 de novembro de 2011

Verona, cidade dos amores mais que possíveis.

Não tem jeito: a primeira coisa que vem à cabeça quando ouvimos falar de Verona é a lenda de Romeu e Julieta, de Shakespeare, ambientada nessa cidade da região do Veneto. É fato que, se Verona ganhou fama no mundo inteiro, foi por obra e graça do "bardo", que tão bem traduziu as paixões universais.

Portanto, eu não poderia deixar de conhecer a "Casa di Giuletta", talvez a casa mais famosa, em todo o mundo, a ter abrigado alguém que nunca existiu – no caso, Julieta. Construído no século XIII, o prédio pertenceu por um longo período à família "Dal Cappello" – daí a associação com o sobrenome “Capuletto” e o início da crença popular de que ali tenha morado a mítica heroína de Shakespeare.

Fachada da "Casa di Giulietta" - Foto: Simone Catto

O aspecto atual da casa é resultado de uma radical restauração que foi realizada entre 1936 e 1940, durante a qual foram acrescentadas uma passagem em estilo gótico e o famoso balcão interior.

Interior da casa - Foto: Simone Catto

O balcão de "Julieta" (que não era de Julieta) - Foto: Simone Catto

A estátua de Julieta no jardim, em bronze, foi esculpida por Nereo Costantini. Diz a tradição que devemos colocar a mão em seu seio, para ter sorte no amor. Resultado: o seio direito da pobre Julieta está até desbotado de tanta "pegação"!! rs... repare na foto.

A estátua de Julieta com o seio desbotado - Foto: Simone Catto

Porém, a primeira coisa que avistei ao chegar a Verona não foi o fantasma de Shakespeare (o que teria sido uma honra!) e nem de algum membro da família "Dal Cappello". O que vi primeiro foi a magnífica Arena di Verona, uma edificação impressionante da primeira metade do século I d.C. construída pelos romanos para abrigar lutas de gladiadores – entre si e com animais selvagens, o que, cá entre nós, devia ser um espetáculo medonho. (Qualquer semelhança com as touradas espanholas não são mera coincidência...)  Esses espetáculos atraíam pessoas de várias regiões, muitas vindas de longe. Escavações sob a estrutura revelaram um complexo sistema hidráulico que permitia conduzir água para o interior, possibilitando a limpeza da arena depois das sanguinárias lutas.

A Arena di Verona - Foto: acervo pessoal

Originalmente, o anfiteatro havia sido construído fora dos muros da cidade para facilitar o acesso do público que vinha de outras cidades e também para prevenir brigas e tumultos, já que o espaço comporta cerca de 30.000 pessoas. Aliás, nesse quesito os romanos não eram nada bobos – basta ver o que acontece hoje nos estádios de futebol quando hordas de trogloditas se engalfinham. A civilização não evoluiu muito, não... Só no século III, época das invasões bárbaras, a Arena foi incluída dentro dos muros da cidade para fortalecê-la.

A muralha da cidade - Foto: Simone Catto

A fachada, da qual ainda resta uma pequena porção, era toda feita de grandes blocos de pedra calcárea branca e rosa proveniente da região de Valpolicella. Na Idade Média, vários duelos, combates e torneios foram realizados ali. Depois de um terremoto, em 1117, que quase destruiu o anel exterior, a Arena foi utilizada como pedreira para a construção de outros edifícios. As primeiras restaurações foram feitas no Renascimento, para a encenação de peças teatrais.

A partir de 1913, graças à sua impressionante acústica, a construção ficou famosa pelas magníficas temporadas de ópera – aliás, a Arena de Verona é o maior teatro lírico a céu aberto do mundo. Até que enfim deram à obra uma finalidade digna de sua beleza!
 
E já que cultura nunca é demais, uma curiosidade: o nome "arena", tão popular hoje, deriva de uma alusão à área central das antigas arenas romanas, que eram cobertas de areia - "arena" significa “areia” em latim. Você sabia disso? Eu não!

A Arena integrada à cidade - Foto: Simone Catto

Um dos lugares mais bonitos que visitei em Verona, à noite, foi a Piazza delle Erbe, emoldurada por palácios e edifícios que marcaram sua história. Na época romana, ali ficava o Forum, centro da vida política e econômica da cidade. Repare na cor do céu nas fotos abaixo, é um dos azuis mais bonitos que já vi.

Vista da belíssima Piazza delle Erbe - Foto: acervo pessoal

Piazza delle Erbe com vista parcial da Torre dei Lamberti - Foto: Simone Catto

Até hoje a praça abriga um colorido mercado que vende frutas, bijuterias, lenços, souvenirs, máscaras venezianas, peças de Murano e outros badulaques. 

Vista da praça com o mercado - o céu já estava mais escuro... - Foto: acervo pessoal

Como visitei a cidade perto do Halloween, as abóboras estavam bem visíveis na barraca, à espera do freguês! 

Foto: acervo pessoal

No centro da praça está a fonte da Madonna de Verona, construída em 1368 por um homem chamado Cansignorio. Na verdade, dizem que a escultura da Madonna é do século I e que Cansignorio completou algumas partes que faltavam, sobretudo a cabeça.

Fonte da Madonna di Verona - Foto: acervo pessoal

Abaixo está o Domus Mercatorum ("Casa do Comerciante"), um belo edifício de pedra construído em 1301 por Alberto I della Scala para abrigar o centro de comércio da cidade. Após sofrer inúmeras modificações, no final do século XIX o edifício recobrou sua forma original no estilo românico.

Domus Mercatorum - Foto: Simone Catto

Outra construção que merece atenção é o belíssimo Palazzo Maffei, um edifício em estilo barroco construído em 1668. Repare nos detalhes da fachada, abaixo. A balaustrada, no topo, tem 6 estátuas de divindades da mitologia greco-romana: Hercules, Júpiter, Vênus, Mercúrio, Apolo e Minerva.

Palazzo Maffei - Foto: acervo pessoal

Apesar de termos adorado a Piazza delle Erbe, resolvemos jantar em outra praça famosa, a Piazza Bra, onde fica a Arena. De frente para ela há vários restaurantes muito gostosos, com mesas no largo calçadão, e optamos por uma pizzaria. Fomos atendidos por um casal de jovens supersimpáticos e pedimos vinho e pizza.

Restaurantes em frente à Piazza Bra - Foto: Simone Catto

Este é o vinho que pedimos...

Foto: Simone Catto

Agora repare no tamanho da pizza! Sim, na Itália as pizzas são individuais, ou seja: vieram cinco destas!!! Para quem come no máximo dois pedaços, como eu, isso foi o cúmulo da esbórnia... rsrss. Ainda bem que a massa era fina e o recheio era bom, com funghi, presunto, queijo... rs.
 
Foto: acervo pessoal

Por tudo isso, e muitas outras "cositas mas", Verona é uma cidade linda que merece alguns dias de hospedagem. Fiquei no Hotel Leopardium excelente quatro estrelas com suítes amplas e confortáveis e um delicioso bufê de café da manhã. Apesar de não estar próximo do centro para caminhadas a pé, o hotel fica a poucos minutos de carro. Recomendo!

4 comentários:

  1. Si, eu amei Verona. Fiquei encantada com a beleza da cidade. É um lugar que eu vou voltar, com certeza.
    Nossa, olhando o blog, vi o vinho que vcs degustaram que é um autêntico Bardolino da região veronese. Eu, tb, bebi esse vinho na Itália, mas foi em Firenze...Aliás, o nome Munus em latim, significa Dádiva ! Como tem histórias nessa Itália, né ?
    bjs/ dedé

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  2. Pois é, Dedé!!! Eu lembro que aquele vinho era muito bom, mesmo. Quer dizer que "Munus" significa "dádiva"? Vivendo e aprendendo... Sendo assim, então podemos dizer que tudo naquela cidade é "Munus"!!! rs... Aliás, também quero voltar pra Verona!!

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  3. Querida Amiga Simone

    Adorei o post sobre Verona. Uma entrada no teu blog é sempre uma "viagem". Gosto do teu texto e das tuas fotos. O detalhe de alguns momentos; um comentário sobre a história. Valeu!!
    Quanto ao atendimento do povo italiano - também discordo de um comentário negativo. O italiano recebe carinhosamente. E, olha não falo niente de italiano. Mas, me comuniquei, fui bem atendido, orientado nas mesas dos restaurantes, nas lojas,...
    Um ovo gente, como nós.
    Obrigado pela "Viagem"
    Nunes

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  4. Olá, Nunes! Obrigada pelo comentário gentil! Realmente acredito que, quando visitamos uma cidade, nossas impressões pessoais também são importantes para guiar as outras pessoas. Porque vamos e venhamos: os pontos turísticos a gente acha facilmente na internet, certo? Mas as sensações experimentadas são únicas e particulares de cada um. E já que Verona é uma cidade que me despertou "sensações" tão boas, não só a recomendo como espero visitá-la novamente em breve! Um grande abraço e feliz 2012 a você, Nilma e Maria Clara!

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