segunda-feira, 30 de abril de 2012

Um Método Perigoso. Freud, Jung, sexo e neurose na telona.

Sexo rende. Dá o que falar. E no caso do filme Um Método Perigoso, de David Cronenberg, dá muito o que pensar. Ainda mais quando por trás desses pensamentos estão Freud e Jung, os dois gênios da psicanálise.

Tudo começa quando a jovem Sabina Spielrein (a ótima Keira Knightley), uma judia russa de família abastada, é internada num hospital psiquiátrico da Suiça em 1904 para se tratar de ataques histéricos. Lá é atendida pelo jovem Gustav Jung, o discípulo de Freud que, além de constatar as tendências masoquistas da moça, descobre que elas remontam à mais tenra infância, no prazer físico que a menina extraía das surras do pai. Assim, trata a paciente com bem-sucedidas sessões de psicanálise.

Jung e Sabina nas sessões de psicanálise.

Jung e seu mentor Freud em uma de suas conversas longas e intelectualmente instigantes.

Dr. Jung é interpretado por Michael Fassbender, o mesmo ator que, curiosamente, protagonizou o último filme que resenhei neste blog, 'Shame', que também aborda um desvio sexual. Coincidência? A julgar pelas teorias do dr. Jung, pode não ser simples coincidência...

Sabina Spielrein realmente existiu. Foi paciente de Jung em 1904 e 1905, estudou medicina e tornou-se posteriormente assistente do médico, antes de filiar-se a Freud (Viggo Mortensen). Assim como na vida real, no filme Sabina torna-se amante de Jung, um burguês "respeitável" casado com Emma (Sarah Gadon), uma mulher bela, doce e igualmente rica que não sossegou enquanto não lhe deu um filho homem. Sabina é o contraponto "selvagem" e intelectualmente estimulante que incendiou a libido do médico nesse affair duplamente ilícito: tanto do ponto de vista da ética médica quanto da ética social.


Carl Jung e a esposa Emma.

O filme mostra o momento em que Freud e Jung começaram a divergir, até o rompimento final. Freud acusou Jung de abraçar o misticismo e afastar-se da ciência. Além disso, o judeu supostamente invejaria a riqueza do colega "ariano". Jung, por sua vez, ressente-se da inflexibilidade do mestre e também de sua recusa em lhe contar um sonho que havia tido, alegando que isso "acabaria com sua autoridade".

Freud e Jung em suas caminhadas em Viena (quisera eu fazer caminhadas diárias num cenário desses!)

Graças às sessões de psicanálise às quais havia sido submetida, Sabina, após compreender e aprender a lidar com seus instintos sexuais masoquistas, torna-se médica e uma brilhante teórica da psicanálise. É atribuída a ela, inclusive, a formulação pioneira da teoria da pulsão de morte. Sabina casa-se e aparece, ao final do filme, grávida e bem-ajustada. Contudo, o amor que nutria pelo médico e que este também sentia por ela aparentemente permanecia lá, escondido e inabalável. Impediram-no as convenções sociais e a necessidade de se manter o status quo.

O cenário romântico e idílico é apenas pano de fundo para a relação amorosa sadomasoquista entre médico e paciente.

Sabina Spielrein, na vida real, acabou assassinada por nazistas numa igreja russa, em 1942, ao lado de suas duas filhas. Aliás, a ferida do antissemitismo, que culminou no holocausto da II Guerra Mundial, está presente nas entrelinhas em todo o filme, e às vezes de forma não tão sutil assim. Em determinado momento, por exemplo, o ariano Jung diz a sua paciente: "Os anjos falam alemão". Em outro, o judeu Freud diz a Sabina que fica feliz por ela desistir de seu "príncipe ariano Siegfried", fazendo alusão à ópera de Wagner.

O trio na vida real: Carl Jung, Sabina Spielrein e Sigmund Freud.

Com produção do Reino Unido, Alemanha, Áustria e Canadá, Um Método Perigoso tem uma fotografia belíssima e excelente reconstituição de época. Eu, particularmente, tenho uma predileção por dramas de época, sobretudo os europeus. A temática fascinante, aliada ao apuro técnico, à sensibilidade do texto, à expressividade dos atores e à beleza da fotografia, mais do que justificam uma ida ao cinema.

Mas corra, porque UM MÉTODO PERIGOSO está atualmente em poucas salas, entre elas o Espaço Unibanco 1 e Playarte Bristol 3 – UOL. 

2 comentários:

  1. fiquei ainda mais curiosa para assistir a esse filme!

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  2. De produções cinematográficas com sucesso na disciplina de psicologia. Pessoalmente esta questão e hipnose são dois que eu adoro ver em produções deste tipo. Eu trago série O Hipnotizador, onde se pode ver a história de um homem enigamtico, revelando segredos e memórias inimagináveis foram esquecidos por esta prática. O que eu recomendo iguais.

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