sábado, 23 de julho de 2016

'Um Belo Verão', cinema que aquece o inverno de Sampa.

O ano é 1971. Delphine é uma jovem que mora no campo e tem uma rotina pesada. Acorda cedo para ajudar os pais agricultores, dirige tratores, ara, planta, colhe, cuida da terra. Delphine é gay e, após sofrer uma desilusão amorosa com uma garota com a qual mantinha um relacionamento secreto, decide passar uns tempos em Paris. Ao chegar lá, encontra uma cidade efervescente de estudantes e um clima de debate sobre a liberdade sexual e a condição feminina, temas que ocupavam o centro das discussões à época. Delphine acaba fazendo amizade com um grupo feminista e nele conhece Carole, que vive com o jornalista Manuel. Delphine se aproxima cada vez mais de Carole, acaba se apaixonando pela amiga e não tarda a conquistá-la. Esta é a trama de Um Belo Verão, filme exibido no Festival Varilux de Cinema Francês este ano e atualmente em cartaz em São Paulo. Aliás, devo dizer que achei o título em português um tanto simplista e forçado, melhor seria terem mantido a tradução do título original, "A Bela Estação" (La Belle Saison). Coisas de um marketing às avessas.

As feministas faziam barulho, e lá estava Carole (Cécile de France).

De qualquer forma, a história de amor entre as duas moças convence e vai caminhando num crescendo no qual não faltam os esperados conflitos paralelos: o fato de Carole viver com um companheiro compreensivo que a ama e, sobretudo, a diferença de estilos de vida e expectativas entre a jovem oriunda de um ambiente rural e a outra eminentemente urbana. Contudo, Carole realmente ama Delphine e se esforça para o romance dar certo. Quando esta última precisa retornar ao campo devido a um problema de saúde do pai, Carole dá um jeito de ir encontrá-la, passa a viver a rotina da outra e, nesse momento, sentimos as dificuldades de um amor entre duas pessoas de meios sociais e objetivos de vida tão diferentes. A questão do preconceito contra a relação homoafetiva faz-se presente no ambiente rural ultraconservador de Delphine, mas passa ao largo da Paris libertária retratada no filme.   

Carole e Delphine (Izïa Higelin)

Bem feito e bem dirigido por Catherine Corsini, o filme não é excepcional, mas, sem dúvida, trata-se de um bom filme. A fotografia é bonita, até porque as paisagens da França ajudam muito, as atrizes são ótimas e o romance entre as moças é narrado com a dose certa de sensualidade. Há cenas de sexo e nudez, porém sem resvalarem para a vulgaridade. O mais importante, porém, é que existe química entre as atrizes, ao contrário do filme 'Carol', baseado no romance de Patricia Highsmith, que abordou igualmente um romance entre duas mulheres, mas que carecia de calor – em minha opinião, parecia haver uma verdadeira "Sibéria" entre as protagonistas, uma delas interpretada pela magnífica Cate Blanchett.


Obviamente não vou contar o final do filme, até porque, "tout compte fait", como diriam os franceses, vale a pena conferir Um Belo Verão. Portanto, se você ainda não assistiu, corra, porque está em cartaz somente no Caixa Belas Artes, numa única sessão às 16h10. Aproveite o fim de semana e vá conferir!

Ficha técnica parcial

Direção: Catherine Corsini

Elenco: Izïa Higelin (Delphine), Cécile de France (Carole), Benjamin Bellecour (Manuel), Noemi Lvovsky (Monique, mãe de Delphine), Kévin Azaïs (Antoine) e outros.

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