Faz uns dois meses que fui à exposição Joan Miró – A força da matéria,
no Instituto Tomie Ohtake e, para ser franca, relutei um bocado para começar a
escrever esta resenha. E eu sei por quê: há artistas que respeitamos, mas não
amamos. E para mim, Joan Miró (1893-1983) é um deles. De qualquer modo, a
exposição está classificada como uma das melhores de São Paulo pela crítica
especializada e eu não quis perdê-la. Sem falar, é claro, que o programa foi
valorizado pelo delicioso café que tomei depois, na Ofner em frente ao
Instituto, embalado por uma ótima conversa.
Dividida em três blocos cronológicos, a exposição mostra cerca
de 50 anos da produção do artista, reunindo mais de 100 obras entre pinturas,
esculturas, desenhos, gravuras e objetos (pontos de partida para as esculturas),
além de fotografias sobre a trajetória do pintor catalão. As peças pertencem à
Fundação Joan Miró, de Barcelona, e a coleções particulares.
Mulher na noite (1973) - acrílica s/ tela - Fundação Joan Miró, Barcelona |
Confesso que, particularmente, não conheço muito a vida e obra de Miró. Sei que, em sua juventude, ele se preparava para seguir uma carreira no mundo dos negócios, mas, após um colapso nervoso, decidiu tornar-se artista. Após vencer a resistência inicial da família, pôs-se a pintar, produzindo uma obra influenciada pelo fauvismo, cubismo e surrealismo, movimento do qual chegou a participar. Na realidade, o artista absorveu elementos dessas três escolas para criar seu próprio estilo.
A Manicure cabeça-de-vento (1975) - água-forte e água-tinta - Fundação Joan Miró, Barcelona |
Miró esteve em Paris pela primeira vez na década de 20 e, na ocasião, ficou tão impactado pelas descobertas artísticas e culturais na cidade, que ficou meio "paralisado", por assim dizer: não pintou nada durante toda a sua estada. Foi nessa época que ele conheceu Picasso e também ficou bastante impressionado com as ideias de Tristan Tzara, o grande agitador do movimento Dada, além de fazer amizade com inúmeros intelectuais. André Breton, líder do Surrealismo, afirmou: "Miró é o mais surrealista de todos nós", ao se referir aos outros artistas dessa escola. No entanto, embora tenha sentido grande simpatia pelo movimento, Miró sempre permaneceu independente – uma independência e liberdade que caracterizariam sua trajetória artística pela vida toda.
O Sonâmbulo (1974) - água-forte, água-tinta e carborundo Fundação Joan Miró, Barcelona |
No final dos anos 20, Miró manifestou de forma explícita seu propósito de "assassinar a pintura", no sentido de acabar com a concepção clássica da pintura de cavalete. Nesse momento, começou a criar colagens e objetos a partir de assemblages de diferentes materiais. Em sua permanente experimentação com a matéria, também conheceu e se aproximou das técnicas dos povos primitivos.
Mulher III (1965) - óleo e acrílico s/ tela - Fundação Joan Miró, Barcelona |
Podemos dizer que a espontaneidade é um dos traços mais notados e mencionados a respeito da obra de Miró. As cores vivas e blocadas preenchendo as figuras, bem como algumas formas abstratas, transmitem uma boa dose de ingenuidade – muitas obras parecem ter sido feitas por crianças (e cá entre nós, poderiam ser, mesmo!). O artista faz uso abundante do preto e das cores primárias - o vermelho, o amarelo, o azul - em composições repletas de energia em que se destacam a liberdade e a fluidez do traço. Às vezes este começa mais fino, quase caligráfico em suas curvas, e depois se alarga gradativamente. Aqui e acolá, vemos as onipresentes bolinhas e pontinhos pretos que são marca registrada do artista. Lembro-me, aliás, que sempre distingui várias obras de Miró pelos tais pontinhos.
Dois personagens caçados por um pássaro (1976) - óleo s/ tela - coleção particular Olhe os indefectíveis pontinhos, aí! |
Embora eu não seja apaixonada por sua obra, como afirmei no início deste texto, é inegável reconhecer que Miró inovou à sua maneira e criou pinturas extremamente vigorosas.
Quer
conferir? Corra, porque JOAN MIRÓ – A FORÇA DA MATÉRIA ficará em cartaz somente
até o próximo fim de semana (23/8).
Instituto
Tomie Ohtake - R. Coropés, 88 – tel.: (11) 2245-1900 - www.institutotomieohtake.org.br
Horário da bilheteria: terça a domingo, 10h às 19h - Horário
de entrada: 11h às 19h.
Quanto
custa: quarta a domingo - R$10,00 a inteira / R$5,00 a meia / terça-feira –
entrada franca. É preciso retirar senhas na bilheteria (2 por pessoa).
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