sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

'Blue Jasmine', uma Cate Blanchett soberba em um Woody Allen melancólico.

Quando a gente entra no cinema para assistir a um filme de Woody Allen, imagina que verá uma comédia fina destilando o melhor do humor irônico e, normalmente, com final feliz. Não é o que acontece com 'Blue Jasmine', última produção do diretor. Jasmine (Cate Blanchett) é uma bela socialite nova-iorquina de meia-idade que perdeu toda a fortuna após seu marido Hal (Alec Baldwin), um magnata das finanças espertalhão, ser preso por suas falcatruas e cometer suicídio na prisão. O filme começa quando Jasmine, depauperada e à beira de um colapso nervoso, chega a São Francisco de mala - Louis Vuitton, claro - e cuia para morar uns tempos com a irmã Ginger (Sally Hawkins), uma simplória caixa de supermercado. As irmãs, adotivas, cresceram no mesmo lar, mas, enquanto uma se casou com o milionário bonitão e trapaceiro, a outra reside em um apartamento modesto e namora tipos grosseiros que a irmã, sem a menor cerimônia, caracteriza como "perdedores".

Jasmine (Cate Blanchett) e Ginger (Sally Hawkins) entre os amigos "trogloditas" de Ginger: Eddie (Max Casella) e Chili (Bobbi Canavale).

As cenas iniciais, que mostram o choque cultural e social entre a sofisticada Jasmine e sua irmã proletária, nos induzem a pensar que, apesar dos percalços divertidos que podemos antever dessa convivência forçada, em algum momento Jasmine se dará bem. No entanto, no decorrer do filme, vemos as tentativas desesperadas da mulher para sobreviver após sua derrocada financeira e, um após outro, os sucessivos fracassos que precipitam também seu colapso emocional.

Jasmine, à beira de um ataque de nervos no modesto apartamento da irmã.

Jasmine, que na juventude havia interrompido a faculdade para se casar com Hal e levava uma vida luxuosa à qual assistimos em flashbacks, vê-se obrigada a aceitar um emprego de recepcionista em um consultório dentário de terceira categoria para poder custear um curso de informática que lhe possibilitaria trabalhar como decoradora de interiores, a única atividade de que supostamente teria certo know-how para exercer. Até que o dentista passa a assediá-la e tenta agarrá-la no consultório, pondo um ponto final a sua tentativa. E quando Jasmine parece se reerguer, encontrando um pretendente rico, charmoso e bem-nascido (Peter Sarsgaard), sofre um novo golpe, e por culpa das mentiras que conta ao tentar esconder seu passado. Vemos, assim, uma Cate Blanchett em uma interpretação soberba, com os olhos permanentemente marejados, os nervos à flor da pele e, como o mais fino cristal Baccarat onde devia servir vinho aos convidados, pronta para se estilhaçar em mil pedaços a qualquer instante.

Em flashback vemos a antiga boa vida de Jasmine: luxo e amigos em jantares intermináveis.

Mais um flash da doce vida de outrora.

Jasmine e Dwight (Peter Sarsgaard), o pretendente a quem Jasmine mente sobre seu passado, com
consequências nefastas.

Ao mesmo tempo em que o contraste entre Jasmine e o universo da irmã nos fornece alguns momentos divertidos de humor negro, a sombra do drama que paira sobre a pobre mulher causa um permanente desconforto que vai se intensificando à medida que seu desespero e insanidade mental aumentam. Ao final do filme, o sentimento é de perplexidade – afinal, como uma mulher tão rica, refinada e bem relacionada pode acabar assim? Medo!... Assista ao filme que vale a pena. E tire o chapéu para Cate.

Ficha técnica parcial

Direção e roteiro: Woody Allen
Elenco: Cate Blanchett, Alec Baldwin, Sally Hawkins, Peter Sarsgaard, Bobbi Canavale, Max Casella, Alden Ehrenreich e outros.


Atualmente ‘BLUE JASMINE’ está em cartaz em apenas três cinemas que, coincidentemente (ou não!) estão entre meus preferidos: Espaço Itaú de Cinema – Augusta, Cine Livraria Cultura e Reserva Cultural. Se você estiver em Sampa, tente assistir ainda este ano!

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