domingo, 14 de junho de 2020

A marca de Aubrey Beardsley no decadentismo fin-de-siècle.

O artista gráfico Aubrey Bredsley (1872-1898) era o que muitos, hoje, chamariam de "figura fora da curva". Poucos artistas imprimiram, como ele, a marca de sua personalidade de maneira tão indelével em seu tempo. Esse jovem que morreu prematuramente de tuberculose em 1898, com apenas 25 anos, já havia se tornado um dos artistas mais celebrados da Europa no fim do século XIX. Chocou e encantou os anos derradeiros da Londres vitoriana com seus extraordinários desenhos em preto e branco criados com uma técnica admirável e um estilo inconfundível. Explorou o erótico e o elegante, o humorístico e o grotesco, conquistando admiradores de todo o mundo e personirficando a essência do decadentismo da década de 1890.

Aubrey Beardsley - 'Autorretrato' - 1892
Museu Britânico - Londres
O GÊNIO ADOLESCENTE

A carreira artística de Beardsley foi breve, durando pouco menos de sete anos, entre 1891 e 1898. Quando tinha 18 anos, ele conheceu o pintor pré-rafaelita Edward Burne-Jones, o qual admirava profundamente. Ao ver o portfólio de Beardsley, Burne-Jones, que de bobo não tinha nada, comentou: "Eu raramente ou nunca aconselho alguém a assumir a arte como profissão, mas no seu caso não posso fazer mais nada." Não poderia ter sido mais profético. Por recomendação de seu ídolo, o jovem artista assistiu, durante um tempo, às aulas na Westminster School of Art.

Beardsley ansiava por fama e reconhecimento e cultivou, como ninguém, uma autoimagem de dândi e esteta. Esse caráter é identificado em seus inúmeros autorretratos e também em retratos do artista realizados por seus contemporâneos. Espirituoso, alto, "impecavelmente limpo e bem arrumado", Beardsley logo se destacou por seu dandismo. Caracterizado pelo culto ao refinamento e por uma certa artificialidade, tanto nos trajes quanto nos modos, o dandismo era uma postura inerente à estética decadentista. Alguns contemporâneos, inclusive, relacionaram a extrema magreza e a aparência física frágil do artista a ideias de morbidade também associadas ao espírito decadente do fin de siècle. Embora Beardsley rejeitasse esse rótulo, seu trabalho explora muitos desses aspectos, como o fascínio pelo "antinatural" e o bizarro, pela liberdade sexual e a fluidez de gênero.

Aquilo que o mundo de hoje identifica como estética LGBTQIA+ estava apenas começando a se delinear naquele tempo. Beardsley se sentia atraído pelas mulheres, mas foi pioneiro em representar o que muitos atualmente denominariam como queer. Embora fosse fascinado por todos os aspectos da sexualidade, é provável que suas experimentações nesse sentido tenham ocorrido principalmente na literatura e na arte.

Foto de Beardskey por Frederick Evans - 1893
Wilson Centre for Photography - Londres 
A INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA

No início de 1892, Beardsley recebeu sua primeira encomenda importante. Um amigo, o fotógrafo e livreiro Frederick H. Evans, o apresentou a J.M. Dent, editor enérgico e empreendedor que procurava um ilustrador para Le Morte D'Arthur, a versão do século XV de Sir Thomas Malory das lendas do Rei Arthur. Dent planejava uma edição robusta, ao estilo dos livros da Kelmscott Press, a editora de William Morris que se caracterizava pelo alto padrão artístico do design e da tipologia. Entre o outono de 1892 e junho de 1894, Beardsley produziu 353 desenhos, incluindo ilustrações de página inteira e dupla, elaborados desenhos de bordas e numerosos títulos ornamentais para capítulos do livro. Recebeu pelo trabalho a quantia de 250 libras, o que lhe deu liberdade para abandonar um odiado emprego de balconista e se concentrar em sua arte.

No entanto, Beardsley gradualmente se cansou desse empreendimento extenuante e detalhes subversivos começaram a pipocar em seus desenhos. Personagens incongruentes como sereias, sátiros e criaturas híbridas com pernas de cabra, alusivas à mitologia clássica, passaram a aparecer nos trabalhos.

Suas ilustrações foram reproduzidas por um processo de impressão em bloco de linha, relativamente novo e econômico, no qual os desenhos são transferidos para chapas de impressão de maneira fotográfica. Inicialmente, Beardsley ficou desapontado com o resultado, mas rapidamente adaptou seu estilo para esse processo de impressão que podia reproduzir as linhas com precisão e também grandes áreas planas de preto.

"ALGO QUE LEMBRA O JAPÃO”

A partir da década de 1860, os europeus tinham desenvolvido um gosto pela cultura visual japonesa por causa do restabelecimento das relações comerciais com o Japão, e Beardsley cresceu cercado por interpretações ocidentais da arte nipônica. No verão de 1891, junto de sua irmã Mabel, visitou a mansão londrina do magnata da navegação Frederick Leyland e lá viu a Peacock Room, uma fabulosa sala criada quinze anos antes pelo artista americano expatriado James McNeill Whistler. Decorada com motivos japoneses retrabalhados, essa obra-prima tornou-se um dos interiores mais célebres de Londres à época. Hipnotizado por essa visão, Beardsley começou a introduzir detalhes orientais em seus próprios desenhos.

A 'Peacock Room' que encantou Beardsley na casa do magnata Frederyck Leyland, em Londres.

As xilogravuras japonesas (Ukiyo-e) também foram uma influência importante e Beardsley adotou suas convenções gráficas, passando a incluir áreas de padrão plano contrastadas com figuras desenhadas com precisão contra fundos abstratos ou vazios. Como vários artistas da época, Beardsley também gostava do formato elegante, alto e estreito dos tradicionais rolos japoneses de kakemono, a pintura sobre rolos de seda. Em uma carta a um amigo, se gabou: "Criei para mim um método totalmente novo de desenho e composição, algo que lembra o Japão... Os temas eram bastante loucos e um pouco indecentes".

Aubrey Beardsley - 'A Capa Negra' - 1893 - Princeton University Library - Princeton, EUA

DESENHAR PARA PROVOCAR

A arte de Beardsley veio a público em abril de 1893, quando se tornou tema do artigo principal - A New Illustrator - da primeira edição da nova revista de arte The Studio. Nele, o especialista em artes gráficas Joseph Pennell elogiou o trabalho de Beardsley afirmando que ele era "tão notável em sua execução quanto em sua inventividade: uma combinação muito rara". O artigo destacou como a impressão fotográfica de bloco de linhas tinha o poder de revelar a verdadeira qualidade do traço de um artista.

As reproduções no artigo da The Studio incluíam ilustrações medievais e pré-rafaelitas realizadas para Le Morte D'Arthur, que seria publicado em breve, e exemplos do trabalho de Beardsley inspirado em xilogravuras japonesas. Isso mostrou sua versatilidade e fez com que ele recebesse novas encomendas para livros e revistas populares, como a Pall Mall Magazine. J.M. Dent, editor de Le Morte D'Arthur, receando que Beardsley se cansasse daquele projeto monumental, e para mantê-lo interessado, convidou-o a criar centenas de pequenas ilustrações "grotescas" para a série Bon-Mots (Boas Palavras), composta de três livros em miniatura de ditos espirituosos. Nesse contexto, o termo "grotesco" se refere à distorção ou exagero das formas para criar um efeito de fantasia ou estranheza. Uma ideia coerente com o modo como Beardsley via o mundo, uma vez que mais tarde ele próprio afirmaria, a respeito de sua arte: "Não sou nada se não for grotesco".

Aubrey Beardsley - 'A Mulher Gorda' - 1894 - Tate Britain, Londres

Aubrey Beardsley - 'A Dama das Camélias' - 1894 - Tate Britain, Londres

Além de se inspirar na arte pré-rafaelita e nas gravuras japonesas, Beardsley também ficou impressionado com os vasos gregos que viu no Museu Britânico e com a arte renascentista. Vale lembrar que as figuras alongadas que incluía em seus desenhos também estavam presentes na arte de seu primeiro mentor, o pré-rafaelita Edward Burne-Jones. A combinação de todas essas fontes contribuiu para moldar seu estilo e, com apenas 21 anos, Beardsley já era aclamado como um grande ilustrador.

Aubrey Beardsley - 'Ave Atque Vale' - 1896 - coleção particular

DANÇA DOS SETE VÉUS

Em 1892, Beardsley fez por conta própria um desenho para Salomé, peça de Oscar Wilde originalmente escrita em francês e baseada no famoso relato bíblico. Salomé se apaixona por Iokanaan (João Batista) e, quando este a rejeita, ela exige sua cabeça ao padrasto, Herodes Antipas, como recompensa por dançar a dança dos sete véus. Beardsley ilustrou Salomé prestes a beijar a cabeça decepada de Iokanaan, Wilde gostou do desenho e, ao lado de seu editor, John Lane, convidou-o para ilustrar a tradução em inglês da peça. As ilustrações tecem temas de sensualidade e morte e exploram uma ampla gama de desejos sexuais. Como era de se esperar, a publicação da peça gerou furor, trazendo em seu rastro a publicidade tão desejada por Wilde e seu jovem ilustrador.

Beardsley adorava ocultar elementos provocativos em seus desenhos. Lane certa vez afirmou que "era preciso colocá-los sob um microscópio e olhá-los de cabeça para baixo" a fim de descobrir suas "provocações". Ao ver os desenhos para Salomé, censurou detalhes que considerou "problemáticos" na folha de rosto e na ilustração criadas por Beardsley, além de rejeitar completamente dois projetos da primeira edição. Mesmo assim, Lane falhou em perceber muitos detalhes eróticos ocultos e, surpreendentemente, permitiu a publicação de desenhos que incluíam caricaturas de Wilde.

O desenho abaixo, denominado 'Herodias Entra', mostra o momento em que a mãe de Salomé entra no palco. No canto inferior direito, há uma caricatura de Oscar Wilde segurando uma cópia do texto da peça. Embora Herodias esteja coberta por uma grande capa, seus seios estão expostos. John Lane exigiu que Beardsley cobrisse a genitália da personagem à direita com uma folha de figueira, mas não percebeu as velas no primeiro plano desenhadas em formato de pênis e a ereção da figura à esquerda. Sim, podemos dizer que Beardsley "pregou peça na peça".

Aubrey Beardsley - 'Entrada de Herodias' - 1893 (publicada em 1907) - coleção particular

No total foram criadas dezoito ilustrações, mas apenas dez apareceram na primeira impressão da peça.

PARIS EM CARTAZ

Ao viajar pela primeira vez a Paris, em 1892, o jovem artista ficou encantado com a multiplicidade de pôsteres e cartazes que adornavam a cidade. Os pôsteres franceses mostravam as possibilidades desse novo formato outdoor produzido em massa e o potencial de reprodução de cores em larga escala. Mais do que depressa, Beardsley passou a criar seus pôsteres também. Entendendo que eles seriam vistos pelas pessoas de passagem, muitas vezes a distância, concebeu projetos com formas arrojadas e simplificadas e sólidos blocos de cores. Considerava a publicidade essencial para a vida moderna e uma oportunidade de integrar a arte à experiência cotidiana. Como ele mesmo afirmou, "a beleza tomou conta da cidade".

No outono de 1894, foi aberta em Londres a primeira exposição inglesa de pôsteres. Cartazes pictóricos desfrutavam então um boom na Grã-Bretanha e começaram a ser reconhecidos como uma forma de arte. A exposição contou com obras de artistas franceses famosos como Jules Chéret e Henri de Toulouse-Lautrec, conhecidos como os "pais" do pôster moderno, e não por acaso incluiu também vários trabalhos de Beardsley. Além de colocar seus pôsteres em pé de igualdade com a arte que o inspirara, essa exposição atestou a importância de Beardsley no desenvolvimento do design de pôsteres britânicos.

Abaixo está uma ilustração para a ópera Siegfried, de Richard Wagner. Minuciosamente detalhada, ela mostra o estilo de desenho de Beardsley em linhas extremamente finas.

Aubrey Beardsley - 'Siegfried', Ato II' - 1892-3 - Victoria and Albert Museum, Londres

GLÓRIA ENTRE AMIGOS

O brilhante artigo na revista The Studio e o sucesso com Le Morte D’Arthur revelaram Beardsley ao público quando tinha apenas 20 anos. Depois disso, uma sequência de encontros fortuitos com importantes figuras culturais da época o levou ao coração da vanguarda dos círculos literários e artísticos londrinos na década de 1890.

Espirituoso, talentoso e culto, Beardsley foi rapidamente adotado por um grupo de jovens artistas e escritores que se identificavam como estetas, extremamente sensíveis à arte e à beleza. Entre eles estavam o pintor de retratos William Rothenstein, o ensaísta e caricaturista Max Beerbohm e o crítico e negociante de arte Robert Ross, amigo e ex-amante de Oscar Wilde. A fama de Beardsley cresceu com a publicação de suas ilustrações em Salomé, de Wilde, e seu envolvimento com a popular e elegante revista The Yellow Book. A partir dali, seu grupo de amigos começou a se expandir rapidamente. Porém, com a queda de Oscar Wilde no início de 1895, Beardsley mudou-se para Dieppe e passou pouco tempo na Inglaterra.

O ILUSTRADOR ROUBA A CENA

Foi em 1894 que Beardsley tornou-se editor de arte da The Yellow Book, uma revista que se tornaria a publicação mais icônica da década, com seu design elegante e sofisticado. O amarelo era moderno, urbano, irônico e ousado, lembrando os invólucros amarelos dos populares romances eróticos franceses. O primeiro volume foi um sucesso instantâneo e controverso, colocando arte e literatura em pé de igualdade. Mas foram os desenhos de Beardsley que roubaram a cena e deram à revista sua reputação de vanguarda. Seu estilo arrojado e sua ousada modernidade receberam elogios e desprezo na mesma medida e, a cada nova edição, a notoriedade do ilustrador aumentava. Para muitos, a publicação incorporou o espírito decadente da época e, como bem observou um crítico, "para a maioria, Aubrey Beardsley É a Yellow Book".

No entanto, o sucesso meteórico de Beardsley teve vida curta. Em 1895, Oscar Wilde foi julgado por manter relações sexuais com homens e processado por "grave indecência". Enquanto o escândalo atravessava Londres, a reação se voltou para a famosa revista e seu audacioso editor de arte. Na opinião do público, Beardsley estava vinculado a Wilde por causa de suas ilustrações para Salomé e, para piorar, Wilde foi visto na prisão carregando um livro amarelo (na verdade, um romance francês, não a Yellow Book) e o público erroneamente imaginou uma associação romântica entre o escritor e o artista. Após multidões ultrajadas quebrarem as janelas da editora, John Lane, o editor, sucumbiu à pressão e demitiu Beardsley.

Capa do primeiro número da revista Yellow Book, com ilustração de Beardsley - 1894.

As cartas de Beardsley revelam que ele se sentia atraído por prostitutas, mas pouco se sabe sobre sua sexualidade. No entanto, o artista frequentemente representava a atração pelo mesmo sexo e a fluidez de gênero em suas obras, o que era raro na era vitoriana. Na obra abaixo, Black Coffee, vemos duas mulheres sentadas uma ao lado da outra. A mulher de preto está escondendo as mãos, talvez cobrindo a mão da companheira, que também tem a mão no colo. A mulher de preto tem um chifre de diabo, mais uma dica para os contemporâneos sobre seu comportamento supostamente "pecaminoso". Embora muitas pessoas que viram essa ilustração na época ficassem chocadas com a exibição de uma relação entre pessoas do mesmo sexo, não há nenhum julgamento de valor por parte do artista. Black Coffee é apenas uma das muitas ilustrações de Beardsley que retratam mulheres desafiadoras e livres para agir como bem entendessem.

Aubrey Beardsley - 'Black Coffee' - 1895 - Harvard Museums / Fogg Museum


































TRANSGRESSÃO EM REVISTA 

Demitido da The Yellow Book, Beardsley enfrentou a perda de sua renda e uma atmosfera agora hostil em Londres. Apesar de sua fama internacional, sua situação financeira era precária e ele foi forçado a vender sua casa. Partiu então para Dieppe, o balneário francês preferido dos escritores e artistas ingleses. Lá encontrou Leonard Smithers, um editor empreendedor (e ocasionalmente pornógrafo) que lhe propôs criar uma nova revista para rivalizar com a The Yellow Book.

Com Beardsley como editor de arte e o poeta Arthur Symons a cargo da literatura, The Savoy foi lançada em 1896, inicialmente com periodicidade trimestral. No entanto, após somente duas edições, Smithers imprudentemente decidiu tornar a revista mensal, mas a pressão financeira fez com que The Savoy desaparecesse após apenas um ano. Mesmo assim, com apenas oito números, tornou-se uma das "revistas pequenas " mais significativas e belas do período.

The Savoy foi publicada na Grã-Bretanha, mas o conservadorismo social e artístico estava em ascensão no país após o julgamento de Wilde. Smithers era o único editor que se dispunha a imprimir trabalhos de Wilde ou Beardsley naquele momento. Alguns livreiros, como W.H. Smith, recusaram-se a exibir obras de Beardsley em suas vitrines e W.B. Yeats sustentou que The Savoy havia valentemente declarado uma "guerra contra o público britânico em um momento em que tínhamos todos contra nós".

A propósito, os colegas da The Savoy, como Yeats e Symons, bem como o pintor Charles Conder, foram amigos constantes de Beardsley em seus últimos anos de vida. O rico poeta e escritor franco-russo Marc-André Raffalovich tornou-se um importante apoiador e patrono, mas seu principal amigo nesse período foi o editor Leonard Smithers, tido como um homem cativante, porém sem escrúpulos.

O ROUBO DA MECHA

Beardsley também foi um grande admirador do poeta Alexander Pope (1688-1744), embora Oscar Wilde ridicularizasse seu gosto poético, alegando que "existem duas maneiras de não gostar de poesia: uma maneira é não gostar, e a outra é gostar de Pope". Assim, em 1896, Beardsley pôs-se a ilustrar o poema épico-satírico de Pope O Roubo do Cacho (The Rape of the Lock), de 1712. No título de Pope, a palavra "rape", que atualmente significa "estupro", é usada em seu sentido original de "roubo" ou "sequestro", e não de agressão sexual. O poema zomba de um incidente real durante o qual lord Petre (renomeado "Barão") corta uma mecha do cabelo de Arabella Fermor ("Belinda", no poema) sem a permissão da moça, causando um conflito entre as famílias. Inspirado pelas gravuras francesas em chapa de cobre do século XVIII, as quais admirava e colecionava, Beardsley desenvolveu um novo estilo altamente decorativo. O texto da folha de rosto, em tom arguto e bem-humorado, menciona que Beardsley "bordou" as ilustrações, dada a complexidade da trama de seus desenhos.

Aubrey Beardsley - 'A Caverna de Spleen' (ilustração para o poema 'O Roubo da
Mecha', de A. Pope) - 1896 - Museum of Fine Arts, Boston - EUA

MADEMOISELLE DE MAUPIN

Entre fevereiro e outubro de 1897, Beardsley trabalhou nas ilustrações do romance Mademoiselle de Maupin (1835), de Théophile Gautier, para Leonard Smithers. O herói da história, D'Albert, está à procura da mulher perfeita, mas, em vez disso, acaba irremediavelmente atraído por um rapaz. O objeto de seu desejo é finalmente revelado como Madelaine de Maupin, uma mulher que não se enquadra nas expectativas de gênero da época, sobretudo no vestuário, e é atraída por homens e mulheres. O enredo reflete sobre uma unificação ideal de atributos masculinos e femininos, ideia amplamente discutida nos círculos literários e artísticos da Europa do século XIX.

Em seu prefácio, Gautier promove a "arte pela arte", a doutrina do "movimento estético" que surgiu na Inglaterra no final do século XIX para promover a beleza acima de tudo, inclusive do significado ou da moralidade na arte. O encontro sexual entre D'Albert e a mademoiselle é descrito em termos de perfeição estética, mas a moça abandona o amante logo depois.

Beardsley também fez desenhos em aquarela para criar um novo estilo decorativo mais suave e seu amigo Robert Ross inclusive sugeriu que essa técnica era "menos exigente" no momento em que sua saúde estava em franco declínio. Mas tarde, porém, o artista voltou a adotar uma abordagem mais detalhada, mostrando que estava simplesmente explorando novos modos de expressão.

FASCÍNIO ERÓTICO

Enquanto se recuperava no sul da Inglaterra durante o verão de 1896, Beardsley iniciou suas duas séries de desenhos mais explícitos até então, ambas inspiradas em fontes clássicas. A primeira foi um conjunto de oito desenhos para a antiga comédia grega Lysistrata, de Aristófanes. Na famosa peça satírica, as mulheres atenienses e espartanas acabam com o conflito ao se recusarem a fazer sexo com seus homens em guerra até que a paz fosse restabelecida entre as duas cidades. O outro conjunto de desenhos igualmente escandalosos de Beardsley foi criado para a Sexta Sátira de Juvenal, um ataque misógino à moral e aos hábitos sexuais das mulheres da Roma Antiga.

Esses temas condiziam com o humor irreverente e o fascínio de Beardsley por todos os aspectos da sexualidade - e, talvez, com suas próprias frustrações sexuais. Smithers, que se orgulhava de "publicar o que todos os outros têm medo de tocar", sem dúvida o encorajou. Combinando com o erotismo exuberante dos textos, Beardsley adotou um estilo totalmente linear nesses desenhos, um inovador e ousado direcionamento inspirado em seu conhecimento da pintura de vasos da Grécia Antiga e de gravuras eróticas japonesas.

Muito poucos contemporâneos de Beardsley tiveram acesso a esses desenhos. Sua suposta "indecência" significava que eles não podiam ser publicados ou divulgados da forma usual, sendo disponibilizados por Smithers apenas para um seleto grupo de colecionadores por meio de uma assinatura particular. Em determinado momento, porém, Beardsley parece ter sentido um certo arrependimento por ter criado tais desenhos, talvez motivado por sua crescente fé católica. No leito de morte, escreveu a Smithers implorando para que ele destruísse todos os seus "desenhos obscenos", um pedido que o outro simplesmente ignorou.

Aubrey Beardsley - 'Duas Mulheres Atenienses Aflitas' - 1896 - Victoria and Albert Museum,
Londres

Aubrey Beardsley - 'Messalina e sua Acompanhante' - 1895 - Tate Britain,
Londres

TRAÇO INTERROMPIDO

Após uma viagem a Bruxelas, na primavera de 1896, Beardsley sofreu uma hemorragia pulmonar muito mais grave, da qual nunca se recuperou completamente. Dolorosamente consciente de sua própria finitude, ele passou a se mudar de um lugar para outro em busca do ar "mais saudável" recomendado pelos médicos. Embora o avanço de sua condição fosse implacável, a cada mudança de local surgia nova inspiração. Seus últimos anos são caracterizados por um entusiasmo em assumir novos projetos, mas ele não conseguia conclui-los devido ao cansaço e às más condições de saúde. Enquanto seu foco e energia diminuíam gradualmente, seus últimos trabalhos mostram que o mesmo não acontecia com sua ambição, seu intelecto, sua imaginação e o poder de sua técnica.

Beardsley morreu em Menton, no sul da França, em 16 de março de 1898. A seu lado, estavam a mãe e a irmã Mabel, companheiras constantes ao longo de toda a sua breve vida. Segundo as palavras de seu amigo Robbie Ross, "não é preciso haver tristeza por uma possível não realização. A velhice não é um complemento mais necessário para a realização do gênio do que a morte prematura. Durante seis anos, ele produziu obras de arte que poderia até ter repetido, mas jamais superado."

O FIM DE UMA ERA

A queda de Oscar Wilde foi um golpe do qual o mundo artístico e literário decadente do fin de siècle europeu nunca se recuperou completamente. Mas foi a morte de Beardsley, em 1898, que realmente marcou o fim de uma era. Seu amigo Max Beerbohm percebeu essa atmosfera ao escrever sobre si mesmo: "pertenço à era Beardsley". Os desenhos de Beardsley foram muito imitados quando ele ainda vivia e, após sua morte, muitos jovens ilustradores tentaram ocupar seu lugar. Alguns imitavam seu estilo e outros ainda fizeram falsificações deliberadas de seu trabalho, mas poucos manifestaram sua habilidade como desenhista ou a riqueza de sua prodigiosa imaginação.

Edições dos desenhos de Beardsley publicadas após sua morte divulgaram seu trabalho a um público ainda mais amplo, influenciando artistas não apenas na Grã-Bretanha, mas também no resto da Europa, Rússia e Japão.

BEARDSLEY REVIVE

No início do século 20, a maioria dos contemporâneos de Beardsley foi esquecida e seus trabalhos descartados por não representarem valor no mundo moderno. Porém, a obra de Beardsley continuou a ter relevância para muitos artistas mais jovens e, na década de 1960, a era vitoriana foi "redescoberta". Uma grande exposição de Beardsley em 1966, no Victoria and Albert Museum, gerou uma crescente onda de interesse pela arte do século XIX em geral e especialmente do fin de siècle. O Art Nouveau reconquistou os ingleses. A mostra atraiu um público jovem que descobriu, nos desenhos de Beardsley, ideias que combinavam com seus próprios valores anti-establishment, lembrando que estilos de vida ditos experimentais e "alternativos" passaram a ser valorizados naquela década. Trabalhos de Beardsley começaram a decorar pôsteres, capas de discos e revistas underground e psicodélicas, tendo influenciado também a publicidade convencional, o design comercial e a decoração de interiores. Seus desenhos pareciam estar em toda parte.

As estranhas figuras de cabelos longos em trajes extravagantes, presentes em tantas de suas ilustrações, também tiveram um impacto na moda dos anos 1960. Butiques independentes surgiram para atender à demanda de jovens "liberadas", bem como uma nova moda masculina que rejeitava as convenções. Assim como na "era Beardsley", estilo e imagem tornaram-se novamente a expressão essencial de uma sensibilidade subversiva que caracterizou a contracultura.

Atualmente, em boa parte da arte contemporânea, parece que sobram protestos e subversão, porém a beleza e o refinamento passam longe. Que falta um Beardsley faz.



domingo, 31 de maio de 2020

Reflexões de quarentena: sobre raízes, pontes e miragens.

Embora eu tenha trabalhado bastante nesses meses de confinamento, muitas vezes me flagro fazendo reflexões. Acho que é normal, uma vez que, com raras exceções, permanecemos dentro de casa o dia todo e sobra mais tempo para o exercício de pensar na vida. Sem falar que a própria situação de pandemia que estamos vivendo, com o rastro de tragédias que ela já começou a deixar atrás de si, cria um ambiente propício para nos entregarmos aos mais variados pensamentos. 

E no meio de tantos devaneios, acabei por me flagrar pensando em minha relação com as pessoas. Ou a falta dela. Nesses últimos meses, apesar da distância física e social, tive a oportunidade de reforçar os laços com amigos muito queridos. Alguns bem antigos, outros mais recentes, mas todos pessoas que já deixaram, indelevelmente, marcas positivas em minha vida. É gente que pode contar comigo e com a qual eu sei que posso contar também. Gente com a qual gosto de estar, conversar, rir e, por vezes, até chorar, quando a vida não se mostra tão gentil. Pessoas que não falham em sua amizade, coerentes no caráter e constantes no afeto. Algumas delas são do tipo que faz questão de telefonar no meu aniversário para bater papo em vez de enviar um cumprimento protocolar no WhatsApp, daqueles em que a mensagem é substituída por um gif engraçadinho. Nada contra gifs, mas, para quem não lembra, celulares foram criados originalmente para as pessoas conversarem. E para quem também não lembra o que significa "conversa", vale refrescar a memória: é uma verbalização que envolve troca de palavras e ideias entre seres humanos. Implica um emissor, um receptor e uma mensagem transmitida com o auxílio das cordas vocais. Lembrou? Que bom.

'O Almoço dos Barqueiros' (1880-1881), de Pierre-Auguste Renoir - óleo s/ tela - 130 X 173 cm - The Phillips Collection, Washington, D.C., EUA. Renoir foi um dos artistas que mais retrataram as alegrias da ternura e da amizade em suas obras.

'Duas Jovens Lendo' (1890-1891), de Renoir - óleo s/ tela - 56,5 X 48,2 cm - The Los Angeles County
Museum of Art (LACMA), EUA.

Outros amigos, normalmente os mais jovens ou que conheço há menos tempo, preferem enviar mensagens pelo WhatsApp. Escrevem palavras carinhosas cuja sinceridade reconheço, recebo com alegria e faço questão de retribuir. Porém, mais dia, menos dia, a gente acaba se falando ou se encontrando. Em tempos de pandemia, por motivos óbvios, esses encontros têm acontecido somente pelas chamadas de vídeo, mas, de uma forma ou de outra, sempre tenho o prazer de ouvir suas preciosas e tão necessárias vozes.

'The Stepping Stones' (data indefinida), de Thomas Brooks - óleo s/ tela - 89,0 X 63,5 cm
coleção particular.

E reflexão vai, reflexão vem, deparo-me com uma outra categoria de pessoas, felizmente rara: as que já foram amigas – ou pelo menos que eu julgava que fossem – mas que, por razões misteriosas e alheias a meu entendimento, deixaram de ser. É gente que parou de se comunicar, de retornar ligações ou mensagens, mesmo após minhas tentativas. Um desses casos ocorreu há muito tempo, mas, como mencionei anteriormente, nesse período dentro de casa temos mais tempo para remexer as "gavetinhas" do cérebro. E hoje, olhando em retrospectiva para o referido caso, percebo que mesmo na época em que tínhamos amizade, a pessoa em questão já dava sinais sutis de possuir uma psique meio disfuncional, por assim dizer. Reconheço que talvez esteja afirmando, eufemisticamente, que ela tivesse um distúrbio de personalidade, mas tive esse insight anos atrás, após um episódio incompreensível envolvendo uma brusca mudança de comportamento em um intervalo de menos de 24 horas. Foi muito triste porque se tratava de uma amizade de longa data, mas não vejo outra explicação a não ser um possível distúrbio psíquico. Afinal, muitas vezes não é preciso ser psiquiatra ou psicólogo para detectar problemas em alguém - basta um mínimo de sensibilidade e experiência de vida. Nesse caso, quando não podemos ajudar a pessoa (como infelizmente não pude), resta-nos lhe desejar boa sorte.

Porém, excetuando-se os casos supostamente "patológicos", há também pessoas que são egoístas, pura e simplesmente. Algumas abrem mão de amizades de anos sabe-se lá por que, talvez embrutecidas por uma certa mesquinhez de espírito que mine aquela generosidade, delicadeza e disposição internas essenciais à preservação das raízes e vínculos humanos. E outras, ainda, fechadas em seus mundos virtuais, são incapazes de estabelecer ou sustentar pontes que as conectem ao outro e à vida real. Uma vida na qual gente de carne e osso se encontra, troca experiências, ri junto, debate e por vezes discorda, porém criando, na alegria, na tristeza ou na "braveza", um reservatório mútuo de afetos que minimiza as agruras da existência. Suspeito, aliás, que muitas vezes a deficiência emocional desse tipo de gente tenha origem, entre outras razões, no fato de essas pessoas não terem "aprendido o afeto" na infância com quem tinha o papel e o dever de lhes ensinar: suas mães e pais. É fato que crianças que não recebem o devido carinho materno durante o período que os neurologistas denominam "janela de oportunidade", nos primeiros anos de vida, têm suas conexões cerebrais fechadas para a compreensão e a expressão do sentimento de amor saudável, ao mesmo tempo em que, como uma forma inconsciente de autodefesa, tornam-se por vezes apáticas e reativas, quando não francamente rudes ou violentas, dependendo do meio social onde estão inseridas. E antes que você pense que eu esteja arriscando um "psicologês" de botequim, já adianto que muitas de minhas reflexões sobre relações de amizade nesse período de quarentena receberam um input extra do psiquiatra Norman Doidge, autor de um excelente livro sobre neurociência que estou tendo o prazer de reler neste momento. Fato é que, independentemente dos motivos que levem alguém a não corresponder às nossas iniciativas de preservar, estabelecer ou retomar laços de amizade, apesar de nossa boa-vontade, só nos resta duas coisas a fazer: esquecer a pessoa e voltar o rosto para quem faz sentido.

'Un Idylle de la Petite Enfance' (1900), de William-Adolphe Bouguereau - óleo s/ tela - 130 X 102 cm - Denver Art Museum, EUA.

E por falar em gente que faz sentido, essa quarentena também me permitiu, graças às redes sociais, resgatar o contato com ótimos amigos que haviam ficado para trás na minha linha do tempo. Como verdadeiros tesouros perdidos que as ondas do mar tivessem devolvido à costa pela correnteza, essas pessoas reapareceram afáveis, gentis, exatamente do jeito como eram quando as conheci há anos, e ávidas para retomar um contato que nunca deveria ter sido interrompido. E no que depender de mim, não mais será. Um brinde aos novos, antigos e antigos novos amigos!

terça-feira, 24 de março de 2020

Pousada Serra Vista, Gonçalves e o apelo do infinito.

Sempre acho bom retornar a lugares onde tenha me sentido especialmente feliz. Está certo que nem sempre consigo reproduzir as emoções que me fizeram sorrir um dia, mas o fato de visitar esses locais novamente me alegra duas vezes: pela lembrança do vivido e pela vivência do presente. Às vezes mudam as companhias, mudam as pessoas ou circunstâncias, mas, quando o lugar visitado basta por si só, o prazer e a alegria sempre acham um jeito de se infiltrar.

Quem me conhece um pouco sabe que, desde que visitei Gonçalves pela primeira vez, fiquei irremediavelmente enfeitiçada. E antes que você pense que Gonçalves seja o nome de algum macho alfa, pode tirar a cabrita do pasto: é algo muito melhor. Trata-se de um minúsculo município do sul de Minas Gerais, encravado na Serra da Mantiqueira, alguns quilômetros além da cidade paulista de São Bento do Sapucaí. Pisei lá a primeira vez em 2009 e... zás!... fui capturada para todo o sempre. Só lamento que, em virtude das demandas da vida, não tenha conseguido voltar para lá com a frequência que gostaria. Ainda assim, o universo tem conspirado a meu favor.

A maioria das estradas de Gonçalves é assim: de terra batida e cercadas de vegetação - Foto: Simone Catto

Outro dia, pouco antes da pandemia do coronavírus estourar no Brasil, uma leitora do blog escreveu contando que havia visitado Gonçalves pela primeira vez no último Carnaval e ficou apaixonada pelo lugar, afirmando se identificar com minha narrativa e as sensações que descrevi em outra matéria sobre a cidade. Não é para menos. Gonçalves é caracterizada por uma paisagem natural particularmente exuberante, com suas montanhas cobertas pela Mata Atlântica, belas cachoeiras e trilhas que levam a gente para perto do céu. E o melhor é que algumas das pessoas que me acompanharam lá também compartilham meu gosto pelo contato com a natureza, o que, naturalmente, aumenta ainda mais o prazer da viagem. É indescritível a sensação de se aventurar nas trilhas acima das montanhas, sentar lá no topo, sorver o ar puro e deixar o espírito vagar livre na imensidão em volta. Tenho consciência de que nem todo mundo valoriza essa simbiose com a natureza com a mesma intensidade que eu, mas sei que não estou sozinha.

Essa foto me dá saudade! Passei inúmeras vezes por essa bifurcação. - Foto: Viaje na Viagem

Assim que essa tenebrosa fase pandêmica passar, espero retornar em breve à pousada Serra Vista, uma das melhores de Gonçalves e lugar do qual só tenho boas lembranças. Quando nela estive pela primeira vez, a correria da rotina na volta a São Paulo não me permitiu escrever sobre minha experiência de hospedagem. Uma nova visita, contudo, só veio a reforçar minha impressão positiva sobre esse encantador refúgio rural que tem, como hóspedes permanentes, a paz, o sossego e o deleite. Para começar, a pousada está bem escondida, situada ao final de uma longa e estreita estrada de terra batida, longe dos olhares e dos pneus. Essa estrada sem saída é o único acesso a ela e só permite a passagem de um carro por vez, o que dá um certo "medinho" de que venha outro na direção contrária bem no momento em que estamos passando. No entanto, o proprietário garantiu que é muito raro ocorrer de dois carros cruzarem a estrada ao mesmo tempo - o que me tranquilizou um bocado, já que eu estava em uma respeitável SUV.

A estrada de acesso à Pousada Serra Vista, onde fiquei rezando para que não viesse nenhum carro na direção contrária! Foto: Simone Catto

A pousada Serra Vista tem poucos chalés, situados a boa distância uns dos outros, o que garante a privacidade dos hóspedes – muitos deles casais apaixonados. Todos os chalés são confortáveis, com lareira e assoalho em madeira para aguentarmos o friozinho noturno das montanhas, e alguns têm hidromassagem, um mimo usual em quase todas as pousadas da região.

Foto: Simone Catto

A sede com a recepção está instalada em um belo e amplo casarão campestre construído com muita madeira e uma atmosfera aconchegante com sua decoração fofa de cores quentes.

Fachada da Pousada Serra Vista - Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

Detalhe fofo da decoração - Foto: Simone Catto

Porém, o maior atrativo do local, inquestionavelmente, é a belíssima vista para as montanhas da Mantiqueira, um presentão que o Criador ofereceu ao povo mineiro e a quem mais tenha o privilégio de contemplá-las. Dá vontade de ficar olhando e deixar o pensamento voar naquele mar com tons de verde a perder de vista. É como se uma paisagem como aquela tornasse nossos sonhos possíveis, talvez porque o cérebro ative algum mecanismo que, automaticamente, associe a natureza infinita à infinidade de possibilidades que o mundo oferece... sabe-se lá.

Vista da pousada - Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

A pousada está cheia de cantinhos acolhedores e recantos charmosos ao ar livre para que a gente possa apreciar a paisagem e oxigenar o cérebro e o espírito.

Flagrante...

Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

À noite é só acender o fogo, pegar uma taça de vinho e prosear olhando o céu! - Foto: Simone Catto

O restaurante onde é servido o café da manhã é aconchegante, tem janelas envidraçadas de ponta a ponta e, nem é preciso dizer, uma linda vista para o verde e as montanhas. O café é preparado com capricho e servido por uma equipe gentil e boa de prosa. É de deixar a gente em estado de graça saborear todas aquelas gostosuras mineiras contemplando aquele quadro natural da janela. Os quitutes do café incluem pães variados, frios, queijos da região, ovos mexidos, sucos naturais, frutas, geleias e bolos caseiros, biscoitos de polvilho e, é claro, pães de queijo quentinhos. Muitas coisas são preparadas no fogão a lenha que fica ali mesmo. Com esse café e essa energia, dá para fazer trilha até onde Deus quiser!

O restaurante da Pousada Serra Vista, em uma foto que tirei beeeem cedinho... - Foto: Simone Catto

Nosso café da manhã... repare nos biscoitos de polvilho perto do bolo! Nham... - Foto: Simone Catto

O fogão a lenha não poderia faltar! - Foto: Simone Catto

E já que falei em trilha, além de repetir a Trilha das 3 Cachoeiras (Retiro, Sete Quedas e Cruzeiro), que ficam próximas à pousada, conheci também a Cachoeira dos Henriques, a mais longe da cidade e uma das poucas da região que ainda não havia visitado. Situada na direção do bairro dos Martins, a nove quilômetros da zona urbana, ela tem várias quedas d'água e algumas piscinas naturais onde é possível tomar banho. No entanto, é preciso cuidado porque trombas d'água não são incomuns por ali. Quando lá estive vi apenas um casal tomando banho, sossegado, em uma piscina que não representava perigo algum. Aliás, o único perigo de visitar lugares como esse é ficar tão apaixonado que se torna absolutamente impossível não retornar. Gonçalves, me aguarde!

Piscina da Cachoeira dos Henriques e o casal só curtindo, à direita... - Foto: Simone Catto

Da estrada mal dá para visualizarmos a Cachoeira dos Henriques, oculta entre as árvores - Foto: Simone Catto

Cachoeira do Retiro - Foto: Simone Catto

Cachoeira Sete Quedas - Foto: Simone Catto

Cachoeira do Cruzeiro - Foto: Simone Catto

A Cachoeira do Cruzeiro, lá de cima... - Foto: Simone Catto