terça-feira, 26 de junho de 2012

Forneria & Grill Dona Ana. Cardápio vasto como coração de mamma.

Sabe aqueles dias em que você só quer bater um papo gostoso e jantar alguma coisa sem grandes pretensões? Pois é. Foi num dia assim que fui parar na Forneria & Grill Dona Ana, uma casa ampla, simpática e polivalente localizada no Campo Belo.

Foto: www.forneriadonana.com.br

Foto: Simone Catto

Segundo o garçom, a jabuticabeira no centro do salão abasteceu muitas caipirinhas 
nos cinco primeiros anos da casa Foto: Simone Catto

A Forneria é um lugar simples, despretensioso, onde se pode comer absolutamente de tudo num clima informal. São mais de cem opções salgadas no cardápio!

Para começar, há rodízio de pizza todas as noites, ao preço de R$ 25,00 por pessoa. Quem me conhece sabe que essa jamais seria a minha opção (rs), mas, pelo que pude notar, é o grande hit da casa. Em compensação, se a ideia for só tomar uma cerveja ou drink e beliscar, pode-se pedir um sanduíche ou um dos cerca de vinte tipos de petiscos clássicos, como filet mignon aperitivo, lulas à doré, bolinhos de arroz e outros.

E se a fome for maior, resolve-se o problema com um grelhado, saladas ou um dos caprichados pratos que foram batizados, assim como as pizzas e sanduíches, em homenagem a mulheres que deixaram sua marca nas artes e na história. Os grelhados são sempre servidos com molho vinagrete, farofa e dois acompanhamentos.

Algumas das divas que inspiraram os nomes dos pratos da casa. 
Foto: Simone Catto

Como nossa intenção era jantar, optamos pelos pratos, todos bem generosos. O meu foi o Maria Stuart (Paillard de filet mignon grelhado com fetuccine ao molho branco), que estava muito bom.

Meu Maria Stuart fez bonito! - Foto: Simone Catto

Os outros pratos pedidos foram o Dercy Gonçalves (Escalopinho saltimboca no molho barolo, acompanhado de risoto de açafrão) e o Joana d’Arc (Medalhão de filé envolto em bacon, acompanhado de purê de batata com alho-poró), tão bem-servidos quanto o meu. Ambos também agradaram.

O Dercy Gonçalves tem um molho de cor um tanto exótica, mas quem comeu, gostou. - Foto: Simone Catto

Essa Joana d'Arc tem colesterol... rs - Foto: Simone Catto

Como a noite estava fria e chuvosa, não iríamos dispensar o vinho tinto, é claro! Nossa escolha recaiu no Espino Carmenère 2010, um chileno que combinou perfeitamente com nossas refeições à base de carne. E para rebater o vinho... um cafezinho no final!

Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

Portanto, se você quiser beber ou comer algo sem compromisso num clima descontraído, a Forneria & Grill Dona Ana é uma boa pedida! O endereço é Av. Vereador José Diniz, 3.560 – Campo Belo. Tels.: 5542-7181 / 5044-4574. Consulte o cardápio e informe-se sobre o almoço e promoções especiais no site www.forneriadonana.com.br 

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Ça-Va Restaurant. Um francês que não está entregando o que oferece.

Não era de agora que eu queria conhecer o Ça-Va, um bistrozinho de aspecto simpático atrás do MASP. Aproveitei o fato de que era um dos participantes da Semana Francesa, que se encerrou domingo, para conferir a casa no fim de semana. O bistrô é pequenino (cerca de 40 lugares), acolhedor e decorado com pôsteres de paisagens parisienses e de pinturas como aqueles que são vendidos pelos bouquinistes às margens do Sena. O espaço minúsculo e a atmosfera intimista não me encorajaram a tirar fotos porque, grâce à Dieu e à educação que recebi, consigo discernir onde termina o perfeccionismo e começa a deselegância.

Foto: Rafael Wainberg

Foto: Divulgação

A noite fria, de celebração entre amigos, pedia um bom vinho tinto. Como queríamos algo menos encorpado, solicitamos um carmenère chileno. Não havia. A garçonete acrescentou, ainda, que "a casa estava sem vinhos carmenère no momento", sugerindo-nos um pinot noir. Aceitamos a sugestão, o vinho era leve e bom, mas é inaceitável uma casa oferecer dois rótulos de carmenère e não possuir nenhum na adega. Se por algum motivo eles estivessem em falta, seria obrigação substituí-los por opções semelhantes da mesma uva. No início do ano, vivi uma situação parecida no Pecorino, também relatada no blog, a qual me desencorajou a retornar lá.  

Outro ponto negativo: ao solicitarmos o cardápio, aliás bem enxuto, em nenhum momento fomos informados da Semana Francesa, da qual o restaurante participava com duas opções de menu formule (que inclui entrada, prato principal e sobremesa), por R$ 78,00 e R$ 88,00. Se não fôssemos bem informados e não tivéssemos solicitado esse menu específico à garçonete, ele iria simplesmente 'passar batido'.

De qualquer forma, o cardápio da Semana Francesa não nos apeteceu e indagamos sobre as outras opções de menu formule divulgadas no site do restaurante, batizadas com nomes de mestres da pintura. Então tivemos mais uma surpresa desagradável: a garçonete explicou que "o site estava desatualizado e que aqueles menus não eram mais servidos porque a chef mudou". Neste caso, o Ça-Va errou duplamente: primeiro, ao deixar de servir aquelas formules que pareciam tão apetitosas e, provavelmente, já eram tradição na casa. E segundo, ao não atualizar seu site e, assim, desapontar os clientes. 

Partimos, então, para o menu disponível. Como entrada, todos nós optamos pela Sopa de Cebolas, que estava muito boa. Para prato principal, pedi o Steak au Poivre com Purê de Batatas, também ótimo. No entanto, quando um de meus amigos solicitou o Confit de Canard (Coxa de Pato), ouvimos que a casa "estava sem o confit no momento"! Como é possível faltarem pratos num cardápio já tão restrito? É inadmissível.

O pinot noir Adobe Reserva 2011, um bom chileno, e a gostosa Sopa de Cebolas:
os sabores e a ótima companhia salvaram a noite! - Foto: Simone Catto (a única 
que consegui tirar sem ser deselegante...)

Por fim, chegou a hora da sobremesa. Nem pensei duas vezes: pedi imediatamente o Souffle au Chocolat / Fruits (suflê aerado quente de chocolate ou frutas vermelhas, banhado na própria calda), que havia me chamado a atenção no cardápio. Adivinhe? Havia acabado. Outra frustração. A garçonete então me ofereceu Profiteroles, uma sobremesa que, felizmente, me agrada muito e, no entanto, não constava no cardápio. Meus amigos ficaram com o Crême Brulée e o Petit Gâteau.

Saldo da noite: embora os pratos saboreados fossem bons, o Ça-Va Restaurant pecou pela falta de tantos itens oferecidos no cardápio e pela displicência na comunicação, com a desatualização do site e a omissão, por parte dos atendentes, em informar que a casa participava da Semana Francesa. Uma pena, porque o local é charmoso e merecia mais cuidado para não perder clientes em meio à concorrência gastronômica de São Paulo.

Endereço: Rua Carlos Comenale, 277 – Cerqueira César. Nem arrisco colocar o telefone... vai que o do site está desatualizado! Aliás, o site é www.cavacafe.com.br - mas não acredite no cardápio que está lá, sob risco de se decepcionar.

terça-feira, 19 de junho de 2012

'O Ilustre Molière'. Uma comédia musical elevada ao mais alto nível da dramaturgia.

Há muito tempo eu não ria tanto numa peça de teatro. O Ilustre Molière, atualmente encenada no Teatro Aliança Francesa pela Companhia D'Alma, é um espetáculo como poucas vezes a gente vê por aí, apesar da enorme produção teatral de Sampa. A peça, que faz parte da programação da Semana Francesa, já havia tido uma temporada este ano, no teatro do SESI, e eu estava me lamentando muito por tê-la perdido. Ainda bem que consegui assistir!

Guilherme Sant'Anna contracena com Amanda Acosta.

Vida e obra de Molière (1622-73) se misturam num inteligente encadeamento metalinguístico nessa deliciosa comédia musical ambientada no século XVII. Dirigida pela premiada diretora e atriz Sandra Corveloni, a peça retrata a trajetória real do genial dramaturgo francês e sua companhia de teatro, por meio da colagem de cenas de obras que o imortalizaram por elevar a comédia ao status de crítica social. Ninguém escapa aos olhos implacáveis do mestre: clérigos hipócritas, fidalgos aproveitadores, novos-ricos sem refinamento, damas falsamente virtuosas e outros personagens que são reconhecíveis nas cenas de clássicos como 'O Burguês Fidalgo', 'Tartufo' e 'O Doente Imaginário'.

O excelente Guilherme Sant'Anna como Molière.

Peça dentro da peça: Guilherme Sant'Anna interpreta Monsieur Jourdain
o burguês ridículo da comédia O Burguês Fidalgo, de Molière.
                                                                                                                                  
A produção é de primeiríssima e os atores da Companhia D'Alma deram um verdadeiro show. Do elenco, eu já conhecia Amanda Acosta, atriz e cantora jovem, porém veterana de musicais. Guilherme Sant'Anna (Prêmio APCA) e Paulo Marcos quase me fizeram engasgar de tanto rir na cena em que o primeiro, caracterizado como Monsieur Jourdain (o novo-rico ignorante de 'O Burguês Fidalgo'), dialoga com o segundo, o professor de filosofia contratado para lhe dar um mínimo de verniz cultural para que não passe vergonha nos salões da aristocracia. Só essa cena já vale a peça!!! Se você gosta de teatro, portanto, não pode perder O Ilustre Molière. E os ingressos, ainda por cima, estão com ótimos preços.

A dupla Paulo Marcos e Guilherme Sant'Anna, interpretando o professor de filosofia e Monsieur Jourdain: quase rolei da cadeira de tanto rir!

Meus aplausos para o excelente elenco da Companhia D'Alma.

E os meus aplausos, também, para os outros profissionais envolvidos na peça!

Direção: Sandra Corveloni
Direção musical: Fernanda Maia
Preparação corporal: Inês Aranha
Cenografia e figurino: Zé Henrique de Paula
Assistente de figurino: Cy Teixeira
Elenco: Guilherme Sant'Anna, Paulo Marcos, Amanda Acosta, Angela Fernandes, Caio Salay, Lara Hassum, Mateus Monteiro
Produção: Corveloni De Simone Produções Artísticas Ltda.
Diretor de produção: Maurizio De Simone
Iluminador: Nelson Ferreira
Fotógrafo: Ronaldo Gutierrez

Próximas apresentações: 21, 22 e 23 de junho (quinta-feira, sexta e sábado), sempre às 20h. Faixa etária: 12 anos. Duração: 1h40min.
O Teatro Aliança Francesa fica na Rua General Jardim, 182 - Vila Buarque.
Ingressos: R$ 30,00 a inteira e R$ 15,00 a meia-entrada. Alunos da Aliança Francesa e membros da APFESP pagam R$ 10,00. Bilheteria: quinta a sábado, a partir das 16h. Ingresso Rápido: (11) 4003-1212 - www.ingressorapido.com.br

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Saj Restaurante. Um árabe honesto e simpático na Vila Madalena.

Nem a sofisticação do Arábia, nem a impessoalidade do Almanara. O Saj Restaurante, especializado em culinária libanesa, está no meio-termo. (Não que eu não goste do Almanara: a comida de lá é boa, mas o décor das casas poderia ter mais charme). O fato é que jantei no Saj a semana passada e tive ótima impressão. O ambiente é gostosinho, com iluminação à meia-luz, e o salão onde fiquei tem teto retrátil.

Fiquei neste salão - Foto: www.sajrestaurante.com.br

Minha mesa... - Foto: Simone Catto

Outro ângulo do salão - Foto: www.sajrestaurante.com.br

O menu oferece clássicos árabes como charutinhos de folha de uva e de repolho, kibes (cru, assado e vegetariano), falafel, beirutes e esfihas variadas, entre outros pratos, por preços bem razoáveis (média de R$ 50,00 por pessoa).

A grande estrela da casa, porém, é o pão-folha assado na hora em uma chapa metálica convexa aquecida a gás e chamada 'saj' – daí o nome do restaurante. Esse pão deve ter vindo mesmo das mil e uma noites!! Fininho e supermacio, tem uma espessura que lembra mesmo a de uma folha de papel e vem com um tempero delicioso.

O preparo do delicioso pão-folha da casa - Foto: www.sajrestaurante.com.br

O pão-folha veio na cesta de pães frescos que pedimos para saborear com o Trio de Pastas, que inclui babaganuch (uma pasta de berinjela que adoro!), homus (pasta de grão-de-bico) e coalhada fresca. Tudo saboroso. A esfiha aberta de carne e a kafta que comi na sequência também estavam ótimas. A esfiha chegou delicada, macia e com o recheio bem temperado, e a kafta também estava muito bem feita.

O Trio de Pastas com a cesta de pães fresquinhos - Foto: Simone Catto

Toda essa expertise não é por acaso: o pai de um dos sócios, Paulo Abbud Filho, é proprietário do restaurante árabe Farabbud, em Moema. É know-how transmitido de pai para filho. A casa também vende iguarias e temperos importados do Líbano, que ficam expostos numa prateleira à entrada.

Foto: www.sajrestaurante.com.br

O salão da entrada - Foto: www.sajrestaurante.com.br

O balcão também é convidativo - Foto: Simone Catto

Detalhe simpático: o estacionamento, a cargo de manobristas, é cortesia da casa. Isso faz toda a diferença, dadas a dificuldade para estacionar na Vila Madalena e a ausência de estacionamentos no quarteirão do restaurante.

Por tudo isso, se você aprecia comida árabe, vale a pena conhecer o Saj! Fica na Rua Girassol, 523 – Vila Madalena. Tel.: 3032-5939. Consulte horários e cardápio no site:  www.sajrestaurante.com.br.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Ciclo Cinema e Psicanálise. A cada domingo, um novo mergulho nas profundezas da psique.

É inacreditável a riqueza de associações que a mente de um esquizofrênico pode suscitar. Uma profusão de imagens e símbolos inunda a psique dessas pessoas e, quando mediados pela análise de um profissional competente, eles surpreendem pela frequência com que o inconsciente coletivo se manifesta. 

Domingo pude, mais uma vez, conferir isso pessoalmente no Ciclo Cinema e Psicanálise TRADIÇÃO-INVENÇÃO, que vai até 7 de outubro na Cinemateca. Assisti ao terceiro e último filme da trilogia Imagens do Inconsciente, de Leon Hirszman: A Barca do Sol (1983-1986, 70), que relata mais um caso clínico da grande psiquiatra Nise da Silveira. Desta vez, o foco era Carlos Pertuis, um carioca com pai e avós franceses que, a exemplo de Adelina Gomes, paciente abordada no primeiro filme do Ciclo, foi internado com diagnóstico de esquizofrenia.

Carlos Pertuis - www.ccs.saude.gov.br

Carlos nasceu em 4 de dezembro de 1910 e era o único filho homem da família, em meio a três irmãs. Curiosamente, assim como Adelina, consta que também era muito apegado à mãe (será que essa é uma característica dos esquizofrênicos ou trata-se de simples coincidência?). Fisicamente frágil e psicologicamente imaturo, Carlos possuía uma natureza sensível e religiosa. Sua instrução era primária, mas ele gostava de ler. Com a morte do pai, entretanto, deixou de estudar e foi trabalhar numa fábrica de calçados.

Carlos Pertuis em foto do
 Museu Imagens do Inconsciente - RJ
Numa manhã de setembro de 1939, raios de sol incidiram sobre um pequeno espelho de seu quarto. Carlos ficou deslumbrado com aquele brilho extraordinário e teve uma espécie de visão cósmica: viu algo que, segundo suas palavras, designou como '"O Planetário de Deus". Ele gritou e chamou a família, pois queria compartilhar com todos aquela visão celestial. No mesmo dia foi internado como louco. Tinha 29 anos.

Em 1946, Carlos começou a frequentar o ateliê da Seção de Terapêutica Ocupacional do Centro Psiquiátrico Pedro II, levado pelo artista plástico Almir Mavignier, que ajudou a Dra. Nise da Silveira a montá-lo. Almir tomou essa iniciativa ao saber que Carlos guardava os desenhos que fazia em caixas de sapatos na enfermaria.

A visão do "Planetário de Deus" havia ficado gravada em sua mente. Assim que teve a oportunidade de pintar, oito anos depois, Carlos sentiu forte necessidade de representá-la sobre papel. Ele, que nunca havia frequentado escolas de pintura, conseguiu o feito com os meios simples de que dispunha. Veja o resultado abaixo: a representação do universo numa espantosa mandala macrocósmica. O centro é uma flor de ouro, símbolo do sol e da divindade.

Carlos Pertuis - Planetário de Deus - sem data - óleo s/ papel 36,5 cm X 55 cm 
Foto: www.museuimagensdoinconsciente.org.br

Carlos amava o museu, o ateliê de pintura e a oficina de encadernação. Sentia-se verdadeiramente em casa e inclusive fazia pequenos serviços no local, como consertar os tacos soltos. Ao final do expediente, sempre verificava se as janelas estavam fechadas. Essas atitudes surpreendiam a equipe do hospital, pois sua expressão verbal era praticamente ininteligível. Ele criava, inclusive, muitos neologismos que dificultavam ainda mais a compreensão de sua linguagem.

A arte era a única forma pela qual Carlos conseguia dar certa ordem a seu caos psíquico, pois a imagem é uma forma direta de expressar os processos inconscientes profundos. Com a palavra isso não era possível, pois, segundo a Dra. Nise, "a linguagem verbal é, por excelência, o instrumento do pensamento lógico, das elaborações e do raciocínio". Curiosamente, porém, quando um cão ao qual Carlos era muito afeiçoado machucou a pata (o contato com animais de estimação fazia parte da terapêutica dos pacientes), ele foi até uma farmácia e conseguiu verbalizar perfeitamente o que desejava para os balconistas, comprando os itens necessários para fazer um curativo no cãozinho. Daí concluirmos que a necessidade movida por vínculos afetivos pode ajudar pacientes esquizofrênicos a elaborar uma linguagem ordenada.

Algumas obras surpreendem pela harmonia cromática e a beleza da composição. Carlos participou de diversas exposições coletivas e individuais, no Brasil e no exterior, e até sua morte, em 21 de março de 1977, havia produzido cerca de 21.500 trabalhos, entre desenhos, pinturas, modelagens, xilogravuras e escritos.

Carlos Pertuis - Foto: www.museuimagensdoinconsciente.org.br

Ao estudar a produção artística de seus pacientes, a Dra. Nise notou a abundância de imagens circulares muito semelhantes àquelas utilizadas para meditação ou à representação da divindade em religiões orientais (mandalas), lembrando que o círculo é símbolo de unidade e ordenação. Não por acaso, inúmeras obras de Carlos apresentam essas mandalas – a começar pela representação de sua visão cósmica, o "Planetário de Deus", mostrada anteriormente. Quando a Dra. Nise consultou Carl Jung sobre o significado dessas imagens, ele respondeu que eram mesmo mandalas e que "correspondiam ao potencial autocurativo da psique, em oposição à dissociação (...) uma manifestação do inconsciente para compensar a situação caótica vivida por esses indivíduos".

Carlos Pertuis - Mandala - Foto: www.ccs.saude.gov.br

Carlos Pertuis - Mandala - www.ccs.saude.gov.br

Abaixo, Jung observa mandalas criadas por pacientes na exposição "A Esquizofrenia em Imagens", apresentada pelo Museu de Imagens do Inconsciente durante o 2o. Congresso Internacional de Psiquiatria, em Zurique - 1957.


As composições com forte presença de figuras geométricas dispostas simetricamente também se configuram como outra tentativa do inconsciente para organizar seu caos.

Carlos Pertuis - Imagem mostrada no filme 'A Barca do Sol'

Os rituais também são repetidos pelo homem através dos tempos como uma tentativa de domar as forças desconhecidas e o imponderável. Presentes em vários trabalhos de Carlos, eles também constituíam um esforço de sua psique para lidar com seu lado mais obscuro.

Carlos Pertuis - belíssima imagem de ritual! - óleo s/ papelão (1951) - 50 cm X 67.5 cm Foto: www.museuimagensdoinconsciente.org.br

No último período da vida de Carlos, suas pinturas giraram cada vez mais em torno do tema mítico do sol. É impressionante como muitas dessas imagens têm figuras masculinas de grandes proporções munidas de coroas e outros atributos divinos muito próximos das descrições de Mithra, um deus indo-persa, feitas por seus adeptos. Mithra é um deus solar e herói, cujo mito narra a "dolorosa procura da consciência que o homem de todos os tempos vem representando sob mil faces".

Carlos Pertuis - Sem título (1975) - lápis de cera s/ papel - 51 cm X 30 cm
Foto: www.museuimagensdoinconsciente.org.br

Carlos Pertuis - Barca do Sol (1976) - lápis de cera s/ papel - 33 cm X 48 cm
Foto: www.museuimagensdoinconsciente.org.br 

Ao analisarmos tudo isso, constatamos, com espanto, que os símbolos e mitos do inconsciente coletivo são recorrentes através dos tempos e resgatados das profundezas para suprir determinadas necessidades de nossa psique.

A transmissão do filme foi seguida de debate com a psicanalista Nilde Parada Franch e o psiquiatra e psicanalista Plínio Montagna, com mediação da psicanalista Inês Sucar.

O próximo encontro do Ciclo Cinema e Psicanálise vai acontecer no dia 24 de junho, às 18h, com a transmissão do filme 'E Deus Criou a Mulher', de Roger Vadim, e debate com outros profissionais.

A Cinemateca Brasileira fica no Largo Senador Raul Cardoso, 207 - Vila Mariana. Informações: (11) 3512-6111 – ramal 215 – www.cinemateca.org.br. Os ingressos custam R$ 8,00 (inteira) e R$ 4,00 (meia-entrada). Maiores de 60 anos e estudantes do Ensino Fundamental e Médio de escolas públicas têm entrada gratuita mediante a apresentação de documento. Não perca!

terça-feira, 12 de junho de 2012

Gopala Hari. Sabores da Índia com o charme alternativo da Consolação.

Comecei a frequentar o Gopala há quase dez anos, quando trabalhava na Av. Paulista. Minha preferência pelo restaurante indiano era bem conhecida dos amigos com quem eu costumava almoçar. O lugar, que à época se chamava Gopala Prasada e era tocado por duas sócias, fazia tanto sucesso que elas acabaram abrindo outro espaço na mesma rua, duas casas depois. Era o mesmo restaurante com dois endereços que, invariavelmente, tinham uma fila que se estendia pela calçada na hora do almoço. Uma fila enfrentada por todos com a paciência e a serenidade de um Mahatma seguro de merecer o paraíso.
                                                                                                                         
Até que as sócias se separaram, cada uma ficou com uma casa e cada casa ganhou novo nome. O primeiro endereço virou Gopala Madhava, e o outro, ao qual voltei para almoçar no sábado, passou a se chamar Gopala Hari. As filas continuam tanto em um quanto em outro, e não é para menos. Está para nascer, em São Paulo, um almoço que tenha tão bom custo-benefício. Eu, particularmente, tenho um carinho especial por ambas as casas, já que as duas me trazem ótimas lembranças!

A fachada do Gopala Hari - Foto: Google Maps

A escada repleta de pétalas de rosas é marca registrada do Gopala - Foto: Simone Catto

Vamos começar pelo ambiente. A exemplo do Gopala Madhava, o Gopala Hari também está instalado num sobrado amplo, antigo e muito gostoso. São várias salas, umas maiores e outras menorzinhas, mas todas agradáveis. A decoração tem peças importadas da Índia e algumas, inclusive, podem ser adquiridas na loja anexa ao restaurante.

Na mesinha abaixo estão alguns chás e um aperitivo à base de gengibre que eu adoro! Tudo cortesia para os clientes.

Cantinho charmoso no salão maior - Foto: www.gopalahari.com.br 

Os clientes têm a opção de aguardar mesa num pequeno corredor lateral, todo florido - Foto: Simone Catto

A pia também fica no corredorzinho externo - Foto: Simone Catto

Fiquei instalada no andar de cima, ao lado de uma salinha meio 'privé' onde as pessoas almoçam sentadas em almofadas no chão. Um charme! (Detalhe: já existia uma salinha assim no antigo Gopala Prasada e ela certamente deve continuar lá, agora incorporada ao Gopala Madhava).

Foi nesta salinha aconchegante que fiquei - Foto: Simone Catto

Essa tapeçaria indiana fica na sala contígua àquela onde eu estava. Na foto acima dá para vê-la ao fundo, à esquerda. 
Foto: Simone Catto 

A salinha 'privé' é boa para um almoço com amigos - Foto: Simone Catto 

A cada dia, a casa de orientação lactovegetariana oferece duas opções de prato principal e cinco de sobremesa, sob o comando da chef Nrihari Devi. Optei pelo Combinado 1 servido aos sábados ímpares, que oferece duas opções de arroz e acompanhamentos fixos. Escolhi o Arroz Negro com Talos de Agrião, que vem com Tadka Dahl (Dahl de grão-de-bico, um tipo de ensopado que fica saboroso em cima do arroz), Pakora (Legumes diversos empanados com especiarias, uma delícia!), Pimenta Doce Recheada e Alu ki Tikki (Croquetes de batata com top de berinjela defumada). Estava tudo muito bom!!! E para as pessoas que comem menos, ainda há a possibilidade de pedir meia porção - foi o meu caso. 

Este foi meu Combinado (meia porção) - Foto: Simone Catto

Os Combinados são sempre precedidos de uma salada, que chega à mesa junto com o suco do dia e uma opção de sobremesa. No sábado foi servido um saboroso suco de morango com maracujá, e quem tiver muita sede pode repetir sem custo extra. Uma cortesia simpática que, somada a tantas outras qualidades da casa, deve contribuir, e muito, para atrair tantos clientes.

A saladinha, o suco, a sobremesa e um aperitivo especial (não-alcoolico, naturalmente!) - Foto: Simone Catto 

As sobremesas também são um verdadeiro 'nirvana' para o paladar! As opções de sábado eram: Pudim de Iogurte com Banana e Caramelo, Gulab Jamun (Doce lácteo aerado com calda de rosas), Torta Baby de Doce de Leite, Gajar Halav (Doce de cenoura condensada no leite servida com pistache) e Banana Celestial (Banana gratinada com açúcar mascavo).

Optei pelo Pudim de Iogurte com Banana e Caramelo, para experimentar. Gostei muito, mas nenhum desses doces se compara, em minha opinião, à Banana Celestial. Essa faz jus ao nome: é simplesmente dos deuses!!! 

A Banana Celestial, simplesmente divina! (Meia porção)
Foto: Simone Catto

Os preços são excelentes. Como pedi meia porção, paguei apenas R$ 20,50. A porção inteira sai por R$ 26,50 (valores cobrados aos sábados). De segunda a sexta-feira, as refeições saem ainda mais em conta: R$ 18,50 e R$ 22,50, respectivamente.

O Gopala Hari fica na Rua Antônio Carlos, 429 – Consolação. Tels.: (11) 3283-1292 e 3262-5591. Horários: de segunda a sexta-feira, das 11h30 às 15h, e sábados, das 12h às 15h. Confira o menu diário no site www.gopalahari.com.br, escolha seu Combinado e... Namastê!!