sábado, 28 de fevereiro de 2015

Restaurante Obá, nos Jardins. Os sabores de quatro países em um ambiente cheio de cor.

Eu já havia estado no Obá para jantar, mas devo dizer que, dada sua atmosfera alegre e diurna, acho a casa mais agradável para o almoço. Estive lá com amigas num sábado e havia bastante gente. Duas coisas tornam o restaurante um bom lugar para se fazer uma refeição: a primeira é o ecletismo do cardápio. E a segunda, o charme da decoração aliado a uma ótima localização. Os ambientes têm piso e mesas de madeira e são bastante coloridos, com paredes e detalhes decorativos em cores quentes, o que confere ao lugar uma atmosfera calorosa e acolhedora.

Foto: Simone Catto

Foto: Sandra Pereira

Enquanto comíamos, São Francisco nos abençoava! - Foto: Simone Catto

Foto: Sandra Pereira

Pode-se dizer que o diferencial da casa é a variedade de nacionalidades que estão presentes no cardápio, com um mix de pratos inspirados na culinária de quatro países: México, Itália, Tailândia e Brasil. Uma verdadeira Torre de Babel. Os pratos são descritos em detalhes e, como alguns parecem realmente atraentes, pelo menos para meu paladar, na hora de escolher "bate" aquela dúvida.

Fiquei fortemente tentada a pedir um peixe como o chu chii pla (assado na folha de bananeira com um toque de creme de coco e curry vermelho acompanhado de arroz jasmim e relish de pepino), mas, como achei que a porção seria muito grande, acabei optando pelo pad thai, que também tem uma versão reduzida, como outros itens do menu. Para quem não sabe, pad thai é um macarrão de arroz feito na wok com camarão e ingredientes tradicionais. Em tempo: wok é um tipo de panela com formato de tigela, usada para cozinhar no fogão. Sinceramente, achei o prato apenas razoável, não morri de amores. Para quem está acostumada com o pad thai do Mestiço, decepciona um pouco.

O meu Pad Thai (R$ 36,50 o pequeno) - Foto: Simone Catto

Uma amiga pediu o filé de peixe em crosta de farinha de mandioca, com caldinho de peixe e tucupi, mandioca cozida e farofa d’água, e gostou muito. Para os menos gulosos, OK, já que a porção é pequena e não acompanha sequer uma porção de arroz. Se você for um bom garfo, porém, poderá acabar a refeição com fome se optar por esse prato.

O Filé de Peixe em crosta de farinha de mandioca, com caldinho de peixe e tucupi, mandioca cozida e farofa d'água: achamos a porção pequena! (R$ 57) - Foto: Sandra Pereira

Quanto às bebidas, pedi inicialmente um suco de melancia para forrar o estômago e, depois, uma taça do Espumante Brut Bossa n°1, da vinícola Hermann, no Rio Grande do Sul. Ambos combinaram perfeitamente bem com meu Pad Thai.

Meu suco de melancia em primeiro plano e, à esquerda, uma caipirinha de frutas vermelhas,Foto: Simone Catto



Tim-tim! - Foto: Simone Catto

E como não poderia faltar, no final o espresso caiu superbem.

Foto: Simone Catto

Devo fazer uma observação sobre o atendimento: naquele dia, pelo menos, os funcionários não pareciam trabalhar lá muito felizes. Não que eu tenha sido mal atendida, mas é difícil extrair um sorriso da equipe. Só que, para mim, quem atende em restaurante tem obrigação de ser simpático – ou, pelo menos, fingir que é. Senão, melhor trabalhar em outra coisa, né?

Agora vamos ao custo: minha refeição, isto é: porção menor do pad  thai + suco de melancia + taça de espumante + espresso, saiu por R$ 75,00 - dentro da média de restaurantes desse nível em São Paulo.

Se você quiser conhecer o OBÁ fica na Rua Melo Alves, 205 – Jardins. Tel.: 11 3086-4774 - www.obarestaurante.com.br.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

'Chá das 5'. Uma ótima ideia que se perdeu nas palavras.

Quando li a sinopse de Chá das Cinco, em cartaz no Teatro União Cultural, achei que a peça prometia boas risadas. Afinal, tratava-se de uma comédia com elenco totalmente masculino em que uma matriarca rabugenta se reuniria com as filhas para o tal chá das cinco e, daquela vez, a filha preferida, ausente há anos, avisara que se juntaria ao grupo. No mínimo, haveria muito humor com a "lavação" de roupa suja. 

Nove homens compõem o ótimo elenco, a começar pelo excelente Eduardo Martini, que criou uma caracterização muito bem estruturada para a matriarca que vive na cadeira de rodas, Dona Campainha. As rabugices e trejeitos da velha, cheia de cacoetes, são realmente o que há de melhor na peça.

Blota Filho e Eduardo Martini, ótimo como a matriarca velha e rabugenta.



As filhas, todas com nomes de flores, também ganham vida com bons atores. Malva Rosa, interpretada por Hugo Pichi, é uma mulher amarga e infeliz que mora e cuida da mãe. Ailton Guedes interpreta a irmã esotérica e Will Anderson a irmã gordinha e casada que sofreu bullying a vida inteira por causa do peso. A filha ausente que mora no exterior, interpretada por Alessandro Ramos, é chique e subiu na vida por ter se casado com um homem rico. Tem uma filha adolescente magrinha, entojada e preconceituosa. Há também a empregada, papel de Tiago Leal, e Blota Filho dá vida a uma senhora rica e falida que aparece no final da trama para envenenar ainda mais a relação das mulheres, já repleta de ódios, conflitos e traições.

Alessandro Ramos, que interpreta a filha preferida e ausente, e Eduardo Martini.

O figurino é kitsch, com perucas e maquiagens exageradas, lembrando um pouco a estética de Pedro Almodóvar – o que seria muito bom, se fosse bem explorado. A peça teria, enfim, todos os elementos para ser brilhante. A ideia de reunir irmãs com vários "esqueletos no armário" é ótima, ainda mais com um elenco todo composto por homens – e bons atores. O que faltou foi roteiro, isto é, trabalhar melhor o texto e, talvez, também um pouco de direção. Os diálogos foram mal explorados - uma trama tão interessante merecia diálogos mais elaborados e inteligentes, com tiradas mais engraçadas e profundas. Deu para sentir também alguns buracos no ritmo, uma certa falta de timing.

O que posso dizer, ao final de tudo, é que a peça valeu como diversão ligeira, e o que garantiu as risadas foi a ótima atuação de Eduardo Martini, que também assina a direção.

Quer conferir? CHÁ DAS 5 está em cartaz somente aos domingos, às 19h, no Teatro União Cultural - R. Mário Amaral, 209 – Paraíso. Tel.: 2148-2904. Os ingressos são vendidos somente na bilheteria, custam R$ 50, mas clientes da Porto Seguro têm 60% de desconto. Aceita os cartões Visa e MasterCard. Estacionamento a R$ 20, na R. Teixeira da Silva, 540. Até 29/3.

Ficha técnica parcial

Elenco:
Eduardo Martini (Dona Campainha, a matriarca)
Hugo Picchi (Malva Rosa, a filha que mora com a velha)
Alessandro Ramos (Magnólia, a filha preferida ausente há anos)
Ailton Guedes (Margarida, a filha esotérica)
Will Anderson (Madressilva, a filha gordinha)
Blota Filho (Dona Clematite, a vilã amiga das moças)
Nicolas Manfredini
Julio Castro
Samuel de Assis

Direção: Eduardo Martini

Texto: Regiana Antonini

'Caros Ouvintes', no Teatro das Artes: nostalgia para ver e ouvir.

Houve uma época em que famílias inteiras reuniam-se em torno de um rádio para ouvir uma... radionovela! Não, isso não é do meu tempo (rs), mas era uma forma de entretenimento que fazia sucesso no Brasil dos anos 30 até meados da década de 60, antes da invasão da televisão, que ainda era artigo de luxo na década de 50.

No início, a radionovela nada mais era do que um teatro "cego", isto é, um texto teatral adaptado para o veículo rádio. Os atores simplesmente liam esse texto sem interpretá-lo - depois é que surgiram as interpretações, sempre ao vivo. Então mudavam a entonação e empostação da voz de acordo com a emoção a ser transmitida, sonoplastas entravam em ação com ruídos para marcar as cenas e uma música orquestral valorizava o momento. Dramas lacrimosos, histórias sobrenaturais e grandes romances eram os gêneros que capturavam os ouvidos e hipnotizavam multidões ao pé do rádio. E entre um bloco e outro, entrava o anunciante.

 Nesta foto, está o ator Petrônio Gontijo no papel do produtor Vicente (último à direita), que depois foi substituído por Marcos Damigo, ator da versão à qual assisti - Foto: Priscila Prade - Folha Ilustrada.

A comédia Caros Ouvintes, atualmente em cartaz no Teatro das Artes, Shopping Eldorado, retrata justamente o último suspiro das radionovelas, em meados dos anos 60 – mais precisamente, durante o Golpe Militar de 64. Enquanto a televisão começava a ganhar adeptos, o som começava a perder a guerra contra a imagem, pelo menos no âmbito das novelas. Foi assim que o elenco de radioatores corria sério risco de ficar desempregado, o que realmente aconteceu, ao contrário da equipe de roteiristas e sonoplastas, que puderam ser aproveitados na telinha. Os atores que não fossem fotogênicos e não possuíssem uma bela "estampa", por assim dizer, não vingariam na televisão. Ocorre que o sucesso dessas radionovelas, naturalmente, devia-se à fantasia das românticas ouvintes que, na ausência de imagens, podiam imaginar o que bem entendessem. Não raro, os galãs das radionovelas eram interpretados por atores gordos e carecas e as mocinhas já eram senhoras, exatamente como ocorre na peça com a personagem Ermelinda Penteado (Agnes Juliani), uma radioatriz que interpreta dois papéis, a mãe e a filha criança da mocinha.

Da esquerda para a direita: Pércles Gonçalves, um ex-galã (Eduardo Semerjian), Ermelinda Penteado, radioatriz (Agnes Zuliani), Petrônio Gontijo e Natália Rodrigues (Conceição, Neves a mocinha)

A peça mostra as agruras e os esforços heroicos do elenco para gravar o último capítulo da radionovela 'Espelhos da Paixão' e se despedir do público em um palco armado do lado de fora da rádio. Tudo isso em meio ao desalento e à dor da despedida e do desemprego, tendo como pano de fundo a perturbação política do Golpe Militar. A única atriz do elenco que continuaria na carreira seria a bela mocinha Conceição Neves, que havia sido convidada por uma emissora a estrelar uma novela televisiva, agora com o nome artístico de Suzana Pascoal.

Com forte tom nostálgico, a peça não empolgou, mas valeu como registro de uma época que não existe mais ao nos transmitir uma boa ideia de como funcionavam os bastidores das radionovelas, gravadas ao vivo e ensaiadas exaustivamente. Contudo, saí do teatro com a sensação de que um tema tão interessante poderia ter sido melhor explorado com um texto e diálogos à altura.

CAROS OUVINTES está no Teatro das Artes (Shopping Eldorado), Av. Rebouças, 3970 – 3º piso – Pinheiros. Tel.: 3034-0075. Horários: sexta às 21h30, sábado às 21h e domingo às 20h. Ingresso: R$ 50 (dom.), R$ 60 (sex.) e R$ 70 (sáb.). Clientes da Porto Seguro pagam meia. Até 15/3.

Ficha técnica parcial

Elenco:
Marcos Damigo (Vicente, o produtor da radionovela)
Alex Gruli (Eurico, o sonoplasta)
Natállia Rodrigues (Conceição Neves, a mocinha)
Rodrigo Lopez (Wilson, o locutor)
Eduardo Semerjian (Péricles Gonçalves, um ex-galã)
Alexandre Slaviero (Vespúcio, o publicitário que representa o patrocinador)
Amanda Acosta (Leonor Praxedes, uma cantora decadente)
Agnes Zuliani (Ermelinda Penteado, atriz de radionovela).

Texto e Direção: Otávio Martins

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Prazer que não murcha: há vinte anos o Insalata é gostoso e faz bem.

Outro dia retornei a um restaurante que também já pode ser considerado um clássico de São Paulo: o Insalata, inaugurado há duas décadas na Al. Campinas. É aquele tipo de lugar aonde você pode ir de olhos fechados, sem medo de errar. Normalmente me lembro da casa no verão ou quando o dia está mais quente, por causa de sua maior especialidade, as saladas, e também pela arquitetura arejada, ampla e agradável, com muito verde e madeira.

A fachada da casa já promete! - Foto: www.insalata.com.br

A área de espera, do lado externo, tem bancos e mesinhas de apoio, caso a gente queira petiscar ou beber algo enquanto aguarda mesa. Por isso nem senti o tempo passar em minha última visita, num sábado após o teatro, quando a casa estava bem cheia.

A agradável área de espera - Foto: Simone Catto

O salão maior - Foto: www.insalata.com.br

Mas justiça seja feita: é preciso dizer que o Insalata não é um restaurante apenas de "saladas". Embora estas sejam mais abundantes e se destaquem pelo sabor, fartura e criatividade, a casa também prepara – e bem! – pratos que atendem a todos os gostos. Tortas, sanduíches, massas, risotos, grelhados e quiches também fazem parte do extenso cardápio, que peca apenas pelas parcas opções de sobremesa.

Como cheguei meio tarde naquela vez, quis comer alguma coisa mais levinha. Então optei pela porção menor da Salada Casablanca, que – como diria minha avó, "Benza Deus!" – é bem grandinha. Imagino o tamanho da porção inteira! Ela é composta por um mix de folhas, cuscuz marroquino, uvas passas, frango desfiado, amêndoas, tomatinhos e molho à base de azeite. Estava saborosíssima e realmente satisfaz. Não dá para sentir fome ao cabo de um pratão de salada daqueles! Além disso, achei os preços razoáveis para os padrões de São Paulo: a meia porção que, como eu disse, já é bem grande, custa R$ 28,50, e a inteira sai por R$ 37,50.

Minha salada Casablanca: essa é a meia porção, acredite!! - Foto: Simone Catto

Outra vista do salão, com o bar à frente - Foto: Simone Catto

A vista de nossa mesa... - Foto: Simone Catto

E para acompanhar, o tinto levinho agradou em cheio a quem não estava ao volante! (rs)

Foto: Simone Catto

Depois de muitas garfadas, alguns goles e boas risadas, o espresso bem tirado fechou o jantar com chave de ouro.

Foto: Simone Catto

Quer conhecer o INSALATA? Aproveite o verão e vá lá! Fica na Al. Campinas, 1478 – Jardins. Tel.: 2308-9153. Vale a pena dar uma olhada nas fotos e detalhes do cardápio em www.insalata.com.br. A casa não aceita reservas, mas abre de segunda a quinta e feriados das 12h à 0h, sextas e sábados das 12h à 0h30 e domingos das 12h às 23h30.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

'Leonardo da Vinci – A Natureza da Invenção': um pálido retrato do maior gênio da história.

Quando falamos em Leonardo da Vinci, é inevitável: a primeira imagem que nos ocorre é o manjadíssimo retrato da Mona Lisa, a obra de arte que, possivelmente, só perde em popularidade para o retrato de Che Guevara estampado nas camisetas dos incautos que desconhecem a história.

Mas Leonardo pintou também 'A Última Ceia', é claro. E esculpiu. E arquitetou. E filosofou. E também foi músico, poeta, matemático, físico, cientista, geólogo, engenheiro, botânico, zoólogo e - ufa!... anatomista. Sim, é indiscutível que o florentino Leonardo da Vinci (1452-1519) foi o maior gênio da história da humanidade. É realmente assombroso como um único homem pôde reunir tanta criatividade, tantos talentos diferentes e, mais do que isso, ter conseguido explorá-los e desenvolvê-los em apenas 67 anos de vida. Para ele, arte e ciência caminhavam juntas.

Foto: Simone Catto
É por tudo isso que, ao visitar a exposição Leonardo da Vinci – A Natureza da Invenção, no Centro Cultural Ruth Cardoso, na Fiesp, saí com a sensação de ter visto algo que não fazia jus à grandeza do homem mais inventivo, criativo e genial que o mundo já viu.

Visionário e observador apaixonado da natureza, Leonardo estudou o voo dos pássaros, o comportamento dos insetos e os movimentos dos seres vivos para criar máquinas, instrumentos de engenharia e os mais diversos objetos utilitários. A calculadora é um deles. Há também o tear, que Leonardo desenvolveu a partir da observação de como as aranhas construíam suas teias. Ao observar o voo dos pássaros, criou também um protótipo de helicóptero e fez descobertas que, futuramente, lançariam as bases da indústria aeronáutica. Inventou máquinas fabulosas cujos princípios mecânicos são utilizados até hoje.

Foto: g1.globo.com

Foto: J.Dura Machfee/Folhapress

A mostra da Fiesp apresenta um conjunto de projetos, desenhos, protótipos e maquetes produzido em 1952 para celebrar o quinto centenário do nascimento de Leonardo. Na ocasião, pesquisadores e engenheiros estudaram e analisaram seus manuscritos para criar as peças apresentadas ao público um ano mais tarde e que hoje se encontram no Museu Nazionale dela Scienza e dela Tecnologia Leonardo da Vinci, em Milão. É parte desse conjunto que está exposto em São Paulo.

Foto: Tauany Cattan

É natural que as peças da exposição possam ser interessantes para quem aprecia física e engenharia, mas a forma como estão sendo exibidas, meio espremidas no espaço, inibem a leitura das poucas placas explicativas e a interatividade necessária para manejarmos algumas engenhocas. Sem falar que no dia de minha visita havia gente demais. Por isso, senti falta de monitores que pudessem explicar ao público leigo – eu, inclusive - o que Leonardo pretendeu ao criar cada uma daquelas peças, como as criou e para que serviam.

Foto: Divulgação / Centro Cultural Fiesp - Ruth Cardoso
  
Leonardo pretendia reunir seus conhecimentos na forma de uma grande enciclopédia, mas, devido à sua atividade febril, não teve tempo para isso. Após sua morte, seus livros e folhetos ficaram aos cuidados de um aluno chamado Francesco Melzi (1491-1570), que herdou os trabalhos artísticos e científicos do mestre, administrou seus bens e compilou alguns textos em uma obra denominada ‘Trattato dela Pittura’.

No total, o material produzido pelo gênio equivale a 120 livros, mas a maioria foi desmembrada ou vendida - somente um terço desse acervo restou. Atualmente, existem dez conjuntos de folhas, preservados por algumas instituições culturais europeias, e um deles foi adquirido por Bill Gates em 1994, por 25 milhões de dólares.

O fato é que, ao tomarmos conhecimento das façanhas artísticas e intelectuais de Leonardo da Vinci, é difícil não achar a exposição da Fiesp acanhada para dar conta de toda a genialidade do homem mais iluminado da Renascença e, possivelmente, o ser mais inteligente que já existiu na faça da terra.

Se você quiser conferir mesmo assim, vá la: LEONARDO DA VINCI - A NATUREZA DA INVENÇÃO - Galeria de Arte do Centro Cultural Fiesp – Ruth Cardoso - Av. Paulista, 1313 – São Paulo. Tel.: (11) 3146-7406. Abre de segunda a domingo, das 10h às 19h40. Até 10/5. 

domingo, 1 de fevereiro de 2015

São Paulo Companhia de Dança: fique de olho na temporada 2015!

Toda vez que vou a um espetáculo de dança e vejo o teatro lotado, devo dizer que fico extremamente feliz. Isso mostra que, em meio à horda de ogros que habita São Paulo, é possível encontrar, aqui e acolá, lampejos de arte, cultura e sensibilidade. 

Felizmente, todos os espetáculos da São Paulo Companhia de Dança aos quais assisti - foram vários! - tiveram sala cheia. O último foi no final do ano passado, em novembro, quando tive o privilégio de assistir, no Teatro Sergio Cardoso, à última apresentação de um dos quatro programas da temporada daquele mês: o programa 4, de gala, com convidados internacionais. 

O primeiro número, Bachiana nº1, teve coreografia de Rodrigo Pederneiras. do Grupo Corpo, e foi inspirado nas Bachianas Brasileiras nº 1, de Heitor Villa-Lobos (1887-1959). Composta em 1930, essa bachiana tem uma estrutura que lembra as fugas de Bach, porém as harmonias e a melodia têm um caráter genuinamente nacional facilmente identificável. Dividida em três movimentos, no dia do espetáculo ela foi interpretada lindamente por oito violoncelistas da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). O Pas de Deux ficou a cargo de Pamela Valim e André Grippi, e mais treze bailarinos compuseram o elenco.  

Bachiana no.1 - Foto: SPCD - Wilian Aguiar

A apresentação seguinte foi, em minha opinião, uma das melhores: tratou-se do Grand Pas de Deux do clássico balé Dom Quixote, inspirado na novela de Miguel de Cervantes. Romântico e vigoroso, o número mostra a alegria do encontro do casal Kitri e Basilio, personagens principais da obra, no dia de seu casamento. A música é de Leon Minkus (1826-1917) e a coreografia foi criada especialmente para a SPCD por Mario Galizzi e inspirada no original de 1911 de Michel Fokine (1880-1942). Os intérpretes foram Thamiris Prata e Daniel Camargo, bailarino convidado. Nascido em Sorocada, interior de São Paulo, Daniel é hoje o primeiro bailarino do Stuttgart Ballet, na Alemanha. Orgulho nacional!

A bailarina Thamiris Prata em Don Quixote - Foto: SPCD - Marcela Benvegnu

Na sequência tivemos o romântico e conhecidíssimo Le Spectre de La Rose, com coreografia de Mario Galizzi baseada no original de Michel Fokini que estreou em 1911 nos Ballets Russes de Diaghilev. Inspirada no poema homônimo de Théophille Gautier e composta por Carl Maria Von Weber (1786-1826), a música Convite à Valsa foi orquestrada por Hector Berlioz e renomeada como Convite à Dança. Inversamente ao que estamos habituados a ver nos balés românticos, aqui o solo masculino se sobressai ao feminino. Naquele dia, o número foi apresentado por Luiza Yuk e o excelente Yoshi Suzuki.

Yoshi Suzuki e Luiza Yum em Le Spectre de La Rose - Foto: SPCD - Clarissa Lambert

E finalmente, o espetáculo foi encerrado com o belo Grand Pas de Deux de O Cisne Negro, também coreografado por Mario Galizzi a partir da obra de Marius Petipa (1818-1910) com data de 1895. Esse duo integra o terceiro ato de O Lago dos Cisnes e marca o encontro do príncipe Siegfried com Odile, o Cisne Negro maldoso e ardiloso. Com a belíssima música de Tchaikowsky (1840-1893), este é, sem dúvida, um dos balés mais populares do mundo. Os intérpretes foram Luiza Lopes e o premiado brasileiro Thiago Soares, desde 2006 primeiro bailarino do The Royal Ballet, em Londres. Um belo número!

Luiza Lopes como o Odile, o Cisne Negro de O Lago dos Cisnes - Foto: SPCD - Wilian Aguiar

Não sabemos se a São Paulo Companhia de Dança apresentará esse repertório também em 2015, mas, como todos os seus espetáculos são da mais alta qualidade, se você gosta de balé, recomendo assistir a pelo menos um. Confira a programação em www.http://spcd.com.br/agenda.php.