segunda-feira, 28 de outubro de 2013

'Jazz Sinfônica Especial – 100 Anos de Vinícius' – um espetáculo à altura do grande poetinha.

Sábado fiquei duplamente feliz. Primeiro, porque tive a oportunidade de assistir a um belíssimo concerto em homenagem ao querido Vinícius de Moraes, no Auditório Ibirapuera: o espetáculo 'Jazz Sinfônica Especial – 100 Anos de Vinícius'. E segundo, porque tive o prazer de reencontrar um amigo de décadas: o pianista, maestro e arranjador Marcelo Ghelfi, que fazia bagunça comigo desde os tempos do conservatório e depois se tornou meu colega também na UNESP, quando cursamos a faculdade de Música.

Auditório Ibirapuera - foto: www.veja.abril.com.br
Marcelo acompanhou todo o concerto da orquestra Jazz Sinfônica no teclado e solou ao piano o número final, a 'Suíte Canção do Amor Demais', de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, com arranjo de Amilton Godoy e orquestração de Rodrigo Morte. Extremamente talentoso e carismático, meu amigo cativou a plateia com sua interpretação, seu sorriso e sua eterna simpatia com o público. A orquestra, vigorosa, foi conduzida pelo maestro João Maurício Galindo, outro colega dos tempos da UNESP que, assim como Marcelo, desenvolveu uma promissora carreira musical.

Não por acaso, o Auditório Ibirapuera estava lotado de gente que curte boa música, boa  poesia e boa companhia. O programa teve onze canções no total, sendo que dez Vinícius criou com diferentes parceiros, também com arranjos e orquestrações de diferentes mestres. Cada número era precedido de um pequeno vídeo que contextualizava a música a seguir, um recurso que complementou o espetáculo de forma agradável e funcionou muito bem como apoio.

O solista Marcelo Ghelfi - foto: www.marceloghelfi.mus.br
Do primeiro bloco, intitulado 'Orfeu da Conceição', destaco 'Manhã de Carnaval', música mais conhecida da dupla Luiz Bonfá e Antônio Maria, com arranjo e orquestração de Hudson Nogueira e solo de trompete de Nahor Gomes. Embora essa tenha sido a única canção a não ter autoria de Vinícius, ela faz parte da trilha do filme 'Orfeu Negro', baseado na peça 'Orfeu da Conceição', aí sim de autoria do poeta, que assinou outras canções da trilha sonora. O filme, belíssimo, é uma produção franco-brasileira que conquistou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1959, além da Palma de Ouro em Cannes, e ao qual pude assistir... na Suécia! Sim, foi em Estocolmo que tive contato com essa obra-prima, a convite de amigos suecos que quiserem me fazer uma surpresa. Adorei!

Vinícius de Moraes, o poetinha...
O segundo bloco do concerto, 'Baden Powell e os Afro-Sambas', era composto por três músicas que Vinícius criou com Baden Powell: 'Samba em Prelúdio' e 'Labareda', com arranjo e orquestração de Rodrigo Morte, e 'Canto de Ossanha', com arranjo e orquestração de Maurício de Souza. Nas três canções, embora o ritmo e o batuque popular da percussão estivessem sempre presentes, era visível, na harmonia, a influência da música erudita. A integração desses elementos ficou perfeita, gerando uma sonoridade de grande beleza que a orquestra sob regência de Galindo soube valorizar.

Naturalmente não poderiam faltar números que Vinícius criou com o inseparável parceiro Toquinho, do qual destaco dois em especial: 'Tarde em Itapoã' e 'Regra Três'. Como esse bloco possuía canções mais conhecidas, a direção do espetáculo utilizou um recurso simpático: projetou as letras das músicas no fundo do palco, para que as pessoas pudessem cantar e acompanhar.

A orquestra Jazz Sinfônica - Foto: www.marceloghelfi.mus.br

Depois do número final, a 'Suíte Canção do Amor Demais', é claro que todos pediram bis... e fomos contemplados com a eterna 'Eu Sei que vou te Amar', novamente com um belo solo de Marcelo ao piano e os talentos da Jazz Sinfônica em um espetáculo que deve ter deixado o poetinha bem feliz do lado de lá. E viva Vinícius!

domingo, 27 de outubro de 2013

Restaurante Matsuya. Um japa despretensioso e com custo acessível.

Embora São Paulo concentre a maior comunidade japonesa fora do Japão, o que talvez explique a quantidade de restaurantes japoneses na capital, é fato que boa parte oferece um cardápio adaptado ao gosto nacional, por assim dizer – e, portanto, diferente daquilo que se come no Japão. Cada casa apresenta suas invenções e adaptações, algumas mais sofisticadas, outras menos, mas elas apresentam grande diferença de qualidade entre si.

Essa semana fui conferir a unidade da Vila Mariana da rede de restaurantes 'Matsuya' após uma providencial reforma de quatro meses. A casa, mais conhecida pelo sistema de rodízio, ficou mais moderna, bem mais confortável e agradável. Sabe aquele restaurante de bairro que te socorre quando você não está a fim de cozinhar num domingo à noite e, ao mesmo tempo, não quer gastar muito? Pois é. O Matsuya é bem desse tipo.

Depois da reforma, as mesas ganharam espaço maior entre si, garantindo mais privacidade aos clientes. Além disso, foram criados alguns cantinhos e ambientes estratégicos para grupos que desejam uma refeição mais tranquila.

O salão superior - Foto: Simone Catto

Esta mesinha no mezanino é perfeita para grupos que buscam mais privacidade - Foto: Simone Catto

Essa salinha privé é ótima para grupos fechados - Foto: Simone Catto

Em relação ao rodízio, a qualidade dos itens serviços permaneceu a mesma, isto é, OK. No entanto, não espere aquela criatividade e variedade de sushis e sashimis encontrada em outros rodízios japoneses do bairro, como o Kiichi ou o Koji, por exemplo. Lá também não encontramos aquelas simpáticas porções-cortesia que nos surpreendem nessas casas, até porque o rodízio do Matsuya tem custo bem inferior ao de outros restaurantes da região: sai por R$ 43,90 no jantar do fim de semana.

O combinado do Matsuya - só faltou o peixe-prego, que estava em falta... - Foto: Simone Catto

De qualquer forma, o rodízio inclui sushis, sashimis, temakis, teppanyaki de salmão (grelhado na chapa com legumes), yakissoba, tempurá, missoshiru, guiozá, harumaki e shimeji – isto é: uma oferta vasta que, se tomarmos o custo-benefício, vale a pena. Os peixes dos sushis e sashimis estavam bem fresquinhos. No dia de minha visita, porém, o garçom avisou que o peixe-prego estava em falta.

Este mereceu repetição! - Foto: Simone Catto

É evidente que nunca peço todos os itens do rodízio, mas gostei daqueles que experimentei nessa última vez. O tempurá estava crocante e saboroso e o teppanyaki de salmão uma delícia – arrisco dizer que este último foi o melhor item do cardápio!

O tempura estava bom - Foto: Simone Catto

O teppanyakki de salmão estava campeão! - Foto: Simone Catto

Outras pessoas da mesa experimentaram o guiozá e o harumaki e também gostaram bastante, embora os harumaki me parecessem bem oleosos - eu não experimentei. De qualquer forma, a refeição foi de bom tamanho pelo preço que pagamos.

Nunca como o guiza e o harumaki, sempre dou prioridade aos outros itens... - Foto: Simone Catto

Se você mora na região da Vila Mariana, gosta de comida japonesa e estiver a fim de um jantar despretensioso e sem gastar muito, o MATSUYA pode ser uma boa pedida. Fica na Rua Leandro Dupré, 848. Tels.: 5594-1215 / 5589-1108. Preço do rodízio: jantar de segunda a quinta-feira - R$ 40,90; jantar de  sexta a domingo e feriados - R$ 43,90;  almoço de segunda a sexta-feira - R$ 31,90 (exceto feriados). Confira horários no site www.matsuya.com.br

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O piano de Rogério Tutti e a alegria de descobrir vida nova no teclado.

Em um país onde predominam as nulidades musicais, algumas gritantemente óbvias e outras mais camufladas para os ouvidos incautos, é um alento constatar que ainda exista uma moçada com sensibilidade e talento para a música erudita. Isso ficou patente no último fim de semana, quando fui assistir ao recital do pianista Rogério Lourenço dos Santos Tutti, da série de recitais que o MUBE – Museu Brasileiro da Escultura promove aos domingos, sempre às 15h30.

Retrato de um jovem Franz Liszt
por Henri Lehmann (1840)
O que me atraiu de imediato foi o repertório divulgado na newsletter eletrônica do museu, composto por peças de Franz Liszt (1811-1886) e Frédéric Chopin (1810-1849), dois grandes poetas do piano e ícones máximos do romantismo dos teclados no século XIX. Isso sem falar de minha assumida predileção por Chopin, o que não é raro para quem, em algum momento da vida, já teve contato estreito com o piano.

Contudo, não há Chopin ou Liszt que resistam a um mau pianista. Por isso, um outro fator que me atraiu para o recital foram as credenciais do jovem intérprete. Conforme o currículo divulgado pelo museu, Rogério Tutti nasceu em Bauru e tem desenvolvido uma consistente carreira internacional como pianista. Estudou com grandes mestres no Brasil e no exterior, conquistou prêmios em vários concursos internacionais de piano, tocou em países como Itália, Estados Unidos, Rússia, Cuba, Chile e Portugal, já apresentou um programa de música erudita na Rede Vida, gravou um DVD e... ufa!... ainda escreveu o método de ensino de piano em grupo para o Projeto Guri-SP. E se você acha que isso é muito para um pianista tão jovem, o moço ainda é professor de piano da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e doutorando em Musicologia pela Universidade de São Paulo.

Rogério Tutti
Pelas credenciais de Rogério, fui para o recital com a certeza de ouvir um ótimo intérprete, e não me enganei. Ele encarou peças de altíssima dificuldade técnica e saiu-se muito bem. A começar pelos seis Grandes Estudos de Paganini, obra de Liszt considerada um verdadeiro desafio para os pianistas e baseada em composições do lendário violinista e compositor italiano que, dizia-se, tinha pacto com o diabo dado seu virtuosismo nas cordas do violino.

Depois desse desafio, só mesmo uns Noturnos de Chopin para o pobre pianista respirar um pouco! Rogério escolheu os Noturnos Op. 27 de números 1 e 2. Só senti falta de um pouco mais de paixão em alguns trechos do Noturno nº 1 que demandavam mais peso de mão, já que sempre senti Chopin mais intenso, mais "derramado", por assim dizer, e nunca tive pruridos em me soltar e me deixar levar nos fortíssimos. Mas enfim, é uma questão de estilo e interpretação de cada um.

Meu querido Chopin em daguerreótipo de 1849,
pouco antes de sua morte prematura.
E quando achávamos que o programa pararia por aí, tivemos uma grata surpresa: Rogério brindou o público com os 'Três Movimentos de Petrouschka', do russo Igor Stravinsky (1882-1971), uma obra de dificílima execução baseada no balé 'Petrouschka', composta pelo mesmo autor. Repleta de dissonâncias e contrastes de intensidade, glissandos sem fim e saltos no teclado que exigem verdadeira "pontaria" do pianista, a obra revelou-se mais um desafio vencido com bravura por Rogério, que, calculo, deve ter perdido uns três quilos ao final do recital (rs). Palmas para ele, que tem talento de sobra para dominar – ou "domar"! – cada vez mais seu teclado. E que ele possa inspirar outros jovens por esse Brasil afora a desenvolver seu talento e sensibilidade, resgatando-os da avassaladora mediocridade musical que assola nosso país.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Exposição Musas & Divas, de Takita. A luz das estrelas em rastros de tinta.

Estrelas que incendiaram a imaginação de multidões. Estrelas que por aqui passaram e ascenderam a seu lugar de origem deixando um rastro de luz. Estrelas que ainda estão entre nós e já não brilham tanto, mas cuja luz sempre foi tão intensa que ainda aquecem o mundo. Estrelas que ainda têm muito a brilhar. Divas do cinema, divas da música, musas e divas de diferentes eras que fizeram arte e história com sua beleza, seu talento ou os dois juntos. Mulheres que inspiraram e continuam inspirando outros talentos como Claudio Takita, artista plástico que lhes rende tributo em uma bela exposição de pinturas acrílicas na Galeria Marcelo Neves.

Veja só quem estava recebendo os convidados do vernissage, do lado de fora da galeria... - Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

A primeira coisa que saltou aos olhos, logo que entrei na galeria e me depararei com as obras de Takita nessa exposição intitulada, sintomaticamente, 'Musas & Divas', é a bela harmonia de cores com que ele compõe seus quadros de forte viés pop, inserindo suas musas em fundos que por vezes lembram colagens e utilizando elementos pictóricos que ora remetem à imagem que elas projetam sobre o mundo, ora fazem alusão a suas trajetórias artísticas.

Nesta obra, parece que a diva de todas as divas, a Vênus de Botticelli, zela pela Vênus alguns séculos
mais jovem, Marilyn Monroe - Foto: Simone Catto

Grace Kelly pensando o que vai jantar ao sair do set... escargots? Camarões? Ou apenas uma salada
para manter a linha? - Foto: Simone Catto

Estão lá Audrey Hepburn com seu famoso pretinho básico em um elegante fundo escuro no qual se destaca um abajur vermelho, uma Brigitte Bardot pop, montada em uma motocicleta com uma Torre Eiffel propositalmente kitsch ao fundo, uma Angelina Jolie deitada de bruços em um canapé, com uma pose provocante complementada pela emblemática figura de uma negra segurando um buquê de flores, em uma clara alusão à 'Olympia' do mestre Manet, e por aí vai. É claro que não poderiam faltar lendas como Marilyn, Sophia e Grace, ao lado das divas contemporâneas que também incluem Uma Thurmann, Annie Lenox e Amy Winehouse, entre outras.

Uma Angelina Jolie despudorada, invejando outra diva ainda mais despudorada que ela, a quem uma escrava entregou 
as flores trazidas por um suposto amante: a enigmática Olympia, de Édouard Manet! - Foto: Simone Catto

A eterna lady, doce e saudosa Audrey Hepburn... - Foto: Simone Catto

E aqui, uma diva que de lady não tinha nada... e nem precisava, com aquela voz!
Pobre Amy, deixou saudades - Foto: Simone Catto

Um outro aspecto que precisa ser ressaltado é que Takita sabe desenhar muito bem, o que – vamos  falar claro – é uma virtude que não vemos com frequência por aí, até mesmo por existir, na arte contemporânea, um injustiçado preconceito contra a arte figurativa. Não entendo por que, nos dias de hoje, a arte sempre precisa "incomodar", "protestar" ou "chocar" de alguma maneira, como se a exibição de belas formas fosse um crime ou heresia nesse mundo que já exibe, graças à Internet e aos meios de comunicação, um leque de mazelas capaz de deixar o inferno parecendo um jardim da infância. Por que os artistas não teriam o direito, então, de criar uma arte para deleitar os olhos e evocar imagens que fazem bem ao espírito e à imaginação? As musas e divas de Takita merecem todo o nosso respeito como obras de arte que resgatam a alegria de contemplar o belo e a fruição estética 'per se', livres de compromissos políticos ou sociais. E o melhor é que você ainda pode levar uma delas para casa – sim, todas as pinturas da exposição estão à venda.

Uma Thurman, a musa underground de Pulp Fiction - Foto: Simone Catto

Se você também sente saudades de apreciar obras de arte que se destaquem por um mix de beleza, bom gosto e talento, vale a pena dar uma passada na Galeria Marcelo Neves para conferir as MUSAS & DIVAS de Takita. Endereço: Rua Mateus Grou, 280 – Pinheiros. Horários de visitação: de segunda a sexta-feira das 10h às 19h e sábados das 10h às 14h. Se você quiser bater um papo com Takita para saber mais sobre seu trabalho, ele estará na galeria Marcelo Neves no próximo sábado, dia 26/10. A exposição vai até 1º/11.

Em tempo: assista, aqui, ao processo de criação do artista neste belo vídeo.



quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Pizzaria Famiglia Mancini. Festa para os olhos e para o paladar.

Se existe lugar em São Paulo onde a tristeza passa longe é a rua Avanhandava no período noturno. Depois que Walter Mancini revitalizou a área anos atrás, instalando por lá bares e restaurantes reluzentes e de boa qualidade, aquele pequeno trecho no coração de Sampa virou sinônimo de agito e alto-astral. Lá a gente sempre tem a garantia de encontrar boa comida e bebida idem, bom atendimento e uma atmosfera agradável.

A reluzente Rua Avanhandava, obra e território de Walter Mancini - foto: Simone Catto

Na noite de sábado fui jantar na 'Pizzaria Famiglia Mancini', que antes se chamava 'Avanhandava 34' e já pertencia à rede de casas de Walter Mancini. Cheguei lá com alguns amigos relativamente cedo, às 20h30, e já havia espera. A casa é grande, com inúmeros ambientes em níveis diferentes, e tem música ao vivo de bom gosto com elegantes intérpretes de MPB, jazz e bossa-nova. A frequência é eclética, indo de casais e grupos de amigos a famílias, mas normalmente gente com aparência produzida e bem cuidada.

Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

Fomos até o bar aguardar nossa mesa e também outros amigos que iriam chegar. Não tardou para que conseguíssemos lugares junto ao balcão e a espera foi amenizada com o "Prosecco Salton", que estava delicioso, mas há um detalhe: a denominação "prosecco" só pode ser usada no espumante proveniente da Itália, e em tese não poderia ser utilizada pela Salton. Enfim... Também não demorou muito para que uma gentil recepcionista nos conduzisse a uma boa mesa. Aliás, arrisco dizer que não existe, na pizzaria, uma mesa que não seja boa. De qualquer ângulo de visão, sempre temos um belo panorama do todo ou de vários detalhes decorativos, como os lustres monumentais, as amplas janelas que dão para a Rua Avanhandava, peças de cerâmica e porcelana e também a área dos músicos. Tudo bem que por vezes o décor resvala para o kitsch, mas não há como negar que enche os olhos.

Uma das atrações do local é o balcão de antepastos e acepipes que também fez a fama da lendária cantina Famiglia Mancini, a primeira casa do grupo que até hoje tem lotação máxima. A qualidade e variedade dos quitutes impressionam. Queijos diversos, entre eles um parmesão dos deuses, aliche, sardella, fundo de alcachofra, cogumelos, tomate seco, salmão defumado, pão de calabresa... nham!... tudo isso, ao lado de outros itens, torna essa parte da refeição uma tentação irresistível. Foi uma ótima pedida para acompanhar o Prosecco e embalar nosso papo, que estava delicioso.

Esse salão com janelões para a rua Avanhandava é muito agradável. Refletidos no espelho, à direita, dá para ver o bar onde degustamos nosso Prosecco e a fotógrafa, isto é... eu! (rs) - Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

O balcão de acepipes é simplesmente IR-RE-SIS-TÍ-VEL!!! - Foto: Simone Catto

Os queijos, deliciosos, não ficam atrás! - Foto: Simone Catto

As pizzas de massa média que pedimos também estavam com aparência ótima. Depois de experimentar tantas delícias do balcão de antepastos, consegui comer apenas uma fatia da pizza Portuguesa, que estava saborosíssima, com a massa no ponto certo e fartamente recheada com ingredientes de excelente qualidade. E para finalizar a refeição, tomei um café que chegou à mesa acompanhado de um simpático pratinho de petit-fours. Valeu cada momento! Gasto médio: R$ 60,00.

Se você deseja comer uma pizza de primeira em um ambiente com ótima energia e astral, não tem erro: a PIZZA & PASTA FAMIGLIA MANCINI é o lugar certo. Fica na Rua Avanhandava, 25 – Bela Vista. Tel.: 3255-6599. Horário: de domingo a quarta-feira das 12h à 01h, quinta das 12h às 02h, sexta e sábado das 12h às 03h. É cobrado couvert artístico todos os dias a partir das 19h30.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Renato Brolezzi apresenta Ingres, o neoclássico com alma romântica.

Já perdi a conta de quanto tempo faz que assisto às aulas do prof. Renato Brolezzi no MASP. Só sei que comecei a frequentá-las quando ainda cursava pós-graduação em História da Arte, e isso deve fazer uns sete ou oito anos. E novamente lá fui eu, desta vez para uma aula sobre Jean Auguste Dominique Ingres (Montauban, 1780-Paris, 1867), na qual analisamos mais uma pintura pertencente ao maravilhoso acervo do MASP, 'Angélica Acorrentada'.

Ingres - 'Angélica Acorrentada' (1859), a tela do MASP.

Não se sabe ao certo a data de execução da obra, mas sabemos que ela não é "filha única": tem "irmãzinhas" em outros museus do mundo. A versão do MASP, apesar de estar quase 100% acabada, é na verdade um esboço para outro quadro que está no Museu do Louvre, de 1819. Há também uma versão na National Gallery, em Londres, e outro esboço no Castelo Condé, em Chantilly.

Mas quem seria a pobre 'Angélica' que está acorrentada a uma colina e, ainda por cima, completamente nua? Vamos lá. A obra é baseada no poema maneirista de Ludovico Ariosto, 'Orlando Furioso', em que o herói Rogério mata um monstro marinho para libertar a donzela Angélica com o auxílio de um escudo mágico que emite uma luz mortal. Segundo o poema, apenas quem portasse um anel encantado ficaria imune ao poder de destruição da luz. Por isso, Rogério deu à jovem o anel para protegê-la, antes de se aproximar montado em um ser mitológico chamado 'hipogrifo' - híbrido de cavalo, águia e dragão – e matar a criatura que a ameaçava. Note que, na pintura, Angélica porta o anel mágico que ganhou do herói. 

Ingres - 'Rogério libertando Angélica' (1819), versão que está no Louvre.
Um detalhe importante é que apenas a versão do MASP é fiel ao poema de Ariosto, deixando claro que a criatura marinha foi dizimada pela luz do escudo mágico. Nas pinturas do Louvre e da National Gallery, no entanto, Rogério mata a fera com uma lança - e não com o escudo.

Agora vamos falar um pouco do autor dessa obra-prima. Sabemos que Ingres tocava violino antes de se tornar pintor e que chegou a Paris em 1797. Lá, estudou no ateliê do clássico Jacques-Louis David (1748-1825), presidente da Académie Française. Consta que, pelo ateliê de David, circularam mais de 1.300 alunos.

Ingres - 'Autorretrato aos 24 anos' (1804)

Ingres, contudo, não gostava de Paris e, tão logo teve a oportunidade, mudou-se para Roma e lá fez fama, permanecendo na cidade por longos anos. Conquistou mecenas como Caroline Murat e tornou-se amigo dos poderosos. Em 1801, ganhou o Grande Prêmio de Roma de Pintura Histórica com a obra 'Aquiles recebendo os Embaixadores de Agamenon' e ficou quatro anos por lá a partir de 1806. Em 1834, se tornaria o diretor da Academia Francesa naquela cidade.

'Aquiles recebendo os embaixadores de Agamenon' (1801), obra com a qual Ingres conquistou o Prêmio de Roma.

Vale lembrar que, àquela época, os franceses dominavam Roma politicamente e Ingres era bonapartista, tendo pintado alguns retratos de Napoleão. Detalhe curioso: Napoleão sofria de dores terríveis no estômago, motivo pelo qual é sempre retratado com uma das mãos sobre o órgão. Posteriormente, descobriu-se que ele sofria de um câncer de estômago... e àquela época não havia quimioterapia! Pobre Napoleão.

Ingres - 'Bonaparte, primeiro cônsul' (1801) - ao fundo está a cidade de Liège.

Ingres - 'Napoleão no trono imperial' (1811) - a perfeição das
texturas 
é impressionante! Quase podemos sentir o veludo vermelho.

Obsessivo, extremamente meticuloso e perfeccionista em suas pinturas, Ingres era capaz de levar meses ou mesmo anos para terminar um quadro. Nunca estava satisfeito e, vira e mexe, só entregava uma encomenda quando considerasse a pintura acabada. Todo esse zelo estava a serviço da linha e dos detalhes, que o mestre procurava depurar à obsessão. É curioso como ele alongava anormalmente suas figuras, criando pescoços e membros inverossímeis, a fim de "corrigir os defeitos da natureza" e criar um equilíbrio só seu. Para ele, não interessava reproduzir fielmente a anatomia, mas somente sua ideia de perfeição dos traços. Braços e pernas enormes, pescoços compridos e gorduchos e modelos com costelas sobrando são liberdades que Ingres se permitiu com frequência. Repare no pescoço exagerado de Angélica na pintura do MASP, por exemplo. Um outro exemplo famoso é a pintura abaixo, de 1808, na qual Ingres retrata uma jovem banhista da família Valpinçon, família de colecionadores também próxima a Degas. Note o dorso anormalmente longo da mulher. Do mesmo ano é a pintura 'Édipo e a Esfinge', uma entre as dezenas de obras com temas mitológicos criadas pelo mestre.

Ingres - 'A Banhista Valpinçon' (1808)

Ingres - 'Édipo e a Esfinge' (1808)
Situado a meio caminho entre o neoclássico e o romântico, segundo o prof. Brolezzi, Ingres não pode ser considerado um clássico absoluto, embora suas pinturas sejam inspiradas na estatuária greco-romana (Ingres colecionava peças arqueológicas) e sua temática seja frequentemente clássica. A liberalidade que expressava no desenho, contudo, o distanciava dos clássicos canônicos e o aproximava do romantismo. Na obra abaixo, 'Júpiter e Tétis', pintada no ano de 1811 em Roma, note as dimensões exageradas do pescoço de Tétis.

Segundo a mitologia grega, Tétis era mãe do herói Aquiles. Naqueles tempos, as mulheres tinham muitos filhos, mas Tétis só conseguiu gerar um. E tinha tanto medo de perdê-lo que implorou aos deuses para que protegessem o filho. Obteve, então, permissão para banhar o bebê Aquiles no rio mágico de Hades. Segundo a lenda, todas as partes do corpo que tivessem contato com as águas do rio ficariam invulneráveis. Como Tétis pegou o bebê pelo calcanhar ao banhá-lo no rio, somente essa parte do corpo, o calcanhar, ficou desprotegida - daí a expressão "calcanhar de Aquiles". Vivendo e aprendendo! 

Ingres - 'Júpiter e Tétis'  (1811) - nesta pintura, Tétis tenta seduzir o deus Júpiter para evitar
que seu filho Aquiles seja morto.

Pintura de um aluno de Ingres, Jean Alaux, retratando
o mestre em seu ateliê em Roma (1814). Em primeiro plano,
está Madeleine Chapelle.

No ano de 1813, Ingres casou-se em Roma com Madeleine Chapelle, o grande amor de sua vida, e consta que foi muito feliz. Em 1856, Madeleine faleceu e o mestre casou-se novamente.

Em 1820, Ingres foi para Florença. Poucos anos mais tarde, em 1824, fez uma grande exposição em Paris e foi reconhecido definitivamente. No entanto, só retornou a essa cidade em 1841, lá permanecendo até o final da vida.

Criada em 1814 e exposta em 1819, 'A Grande Odalisca' é uma das mais célebres obras de Ingres.

Na pintura a seguir, 'A Apoteose de Homero', Ingres presta uma homenagem aos grandes mestres clássicos das letras, das artes e do teatro. Ao centro, está o próprio poeta Homero ladeado por Ilíada e Odisseia, sentadas no degrau. À sua direita, estão mestres clássicos antigos, como Corneille, Racine, Diderot etc., e à esquerda estão os mais "modernos", como o pintor Poussin (de negro, em primeiro plano), entre outros.

Ingres - 'A Apoteose a Homero' (1827)

Ingres também tornou-se muito solicitado como retratista e tornou-se conhecido por sua grande habilidade em retratar grandes damas, como atesta a belíssima pintura abaixo, que mostra a jovem Condessa de Haussonville, sobrinha da famosa escritora Mme. de Stäel.

Ingres - 'A Condessa Rebelde' (1845)

Já o próximo retrato mostra Louis-François Bertin, um bem-sucedido empresário burguês, dono de um jornal e de outros negócios. Vale ressaltar que, àquela época, a gordura masculina era sinal de boa nutrição, riqueza e prosperidade. Não por acaso, suas mãos parecem as garras de uma águia prestes a levantar voo, como se Ingres quisesse retratar a agressividade do senhor capitalista. 

Ingres - 'Retrato de Louis-François Bertin (1832)

A tela 'O Banho Turco', criada quando o mestre já contava 82 anos, mostra a atmosfera de lascívia predominante em um harém turco e é uma de suas obras mais conhecidas. Vale ressaltar que o Oriente sempre atiçou a imaginação dos europeus do século XIX, que fantasiavam um mundo de prazeres exóticos e belas mulheres.

Ingres - 'O Banho Turco' (1862)

A foto ao lado, tirada por Etienne Cariat (1828-1906) em 1862 – mesmo ano em Ingres criou 'O Banho Turco', mostra um homem excepcionalmente vigoroso para a avançada idade de 82 anos.

Ingres era sem dúvida um grande mestre, e vale a pena dar um pulo no MASP para conferir de perto sua 'Angélica Acorrentada'. E se você se interessa por história da arte, não perca a próxima aula do Prof. Renato Brolezzi, que será ministrada no dia 9 de novembro (sábado), das 11h às 13h, e tem entrada franca. Ah, o tema será Picasso. Até lá!

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Vila Milagro. Boa pizza, ambiente agradável e alguns pontos a melhorar.

Em uma noite de sábado com temperatura particularmente agradável e companhia idem, fui à pizzaria 'Quintal do Braz', já resenhada neste blog, conhecida pela excelente qualidade de suas pizzas e pelo ambiente alto-astral. Estacionamos o carro um quarteirão adiante e, de longe, já dava para avistar a enorme quantidade de pessoas do lado de fora. Não deu outra: o lugar estava superlotado, com gente apinhada nas escadas, no amplo terraço para espera e, por absoluta falta de espaço, também na calçada. Perguntamos ao atendente a previsão de espera: uma hora. Mesmo assim, resolvemos arriscar. Quem sabe não teríamos sorte e saísse uma leva de clientes de uma vez? Ficamos lá por 40 minutos, a fome aumentando, e nada. Aí desistimos. Fomos então para outra pizzaria da Vila Mariana, bem menor e com perfil mais tranquilo, mas também agradável e propícia para uma boa conversa: a Vila Milagro.

Sem aquela badalação toda da 'Quintal do Braz', a Vila Milagro é uma pizzaria boa para noites quentes como aquela. Logo à entrada, há uma área pequenina com jeitão rústico, mesas e bancos de madeira. É lá que ficamos e não havia espera.

A área externa é bem gostosinha - Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

Lá dentro, o salão não é muito maior, mas não sei por que cargas d'água o povo insiste em colocar música ao vivo em lugares pequenos como aquele. Ainda por cima música ruim. Naquele sábado havia um cantor com um violão sofrível - lá de fora dava para ouvir as notas erradas, uma lástima! E ainda nos cobraram couvert artístico de R$ 6,00 por pessoa, o que é incompreensível, já que nos sentamos na área externa e - felizmente! - ficamos bem longe da música. Vai ver era esse o motivo de não haver espera!

O salão interno também é pequenino e aquele músico à esquerda estava sobrando! - Foto: Simone Catto

Outro ambiente interno - Foto: Simone Catto

Enfim. A Vila Milagro se diferencia das demais pizzarias do bairro por oferecer pizzas no formato quadrado, em tábuas com oito ou dez pedaços. Em nosso caso, a de oito pedaços serviu muito bem. Pedimos uma pizza meia Rio Grande (molho de tomate, mussarela, peito de peru defumado, abacaxi grelhado, castanha de caju e parmesão) e meia Shitake (molho de tomate, mussarela e shitake). A massa é mais para fina e ambos os recheios estavam muito bons. O toque de abacaxi, na pizza Rio Grande, confere um saborzinho adocicado especial ao todo, criando um contraste delicioso com os queijos.

A pizza quadrada de 8 pedaços - Foto: Simone Catto

Como só eu iria beber vinho e não havia vinhos disponíveis em taças, optei por uma caipirinha de limão com cachaça Salinas. Estava ótima e caiu superbem naquele calor.

A caipirinha, em perfeito 'composé' com o suco de abacaxi com hortelã! Foto: Simone Catto

Quanto ao atendimento, não achamos dos melhores. Às 23h10 o garçom nos avisou que a cozinha iria fechar, o que é muito estranho para uma noite de sábado - inclusive pontuei isso para ele. Mais estranho ainda achei quando, lá pela meia-noite, entrou uma família que foi atendida normalmente. Ao final do jantar, perguntamos pelas sobremesas da casa e, novamente, o dito cujo disse que iria verificar "se a cozinha não havia fechado". Ué, que pizzaria é essa que fecha a cozinha antes da meia-noite em pleno sábado? Bem, o que posso dizer é que o jantar valeu pela pizza, pela caipirinha, pelo ambiente externo e, é claro, pelo papo delicioso com quem compartilhou a pizza comigo. O jantar para duas pessoas saiu por R$ 110,00, com os 10% de serviço e o couvert artístico.

Em tempo: este blog enviou um e-mail à pizzaria Vila Milagro para confirmar o horário de funcionamento da cozinha aos sábados e comentar que a presença de músicos ao vivo é não só desnecessária mas indesejável, porém não obteve resposta.

De qualquer modo, se você mora na região e quiser experimentar, a pizzaria VILA MILAGRO fica na Rua Áurea, 313 – Vila Mariana. Tel.: 5083-1734 – www.vilamilagro.com.br. Mas sente na área externa para ficar longe da música, OK?