sábado, 6 de fevereiro de 2021

Obra da oficina de Leonardo da Vinci é encontrada em armário de Nápoles.

Apesar de todas as probabilidades que o roubo de uma obra de arte importante tem para dar errado, pelo menos na Europa, parece que os ladrões de arte não sossegam. 

Há cerca de vinte dias, em 16 de janeiro, a polícia italiana encontrou uma cópia de 500 anos da pintura ‘Salvator Mundi’, de Leonardo da Vinci, escondida em um armário de Nápoles. Pertencente ao museu da Basilica di San Domenico Maggiore, a obra estava no apartamento de um homem de 36 anos não identificado que foi preso imediatamente sob suspeita de roubo. O curioso da história toda é que a equipe do museu sequer havia dado falta da pintura datada do início de 1500 e atribuída à escola do mestre da Renascença.

À esquerda, a pintura 'Salvator Mundi' atribuída a Leonardo. E à direita, a cópia produzida na oficina do mestre que havia sido furtada.

Devido à pandemia de Covid-19, “a sala onde a pintura é mantida não era aberta há três meses”, relatou o promotor de Nápoles Giovanni Melillo à Agence France-Presse (AFP), o que explica o museu não ter notado o roubo. As autoridades não encontraram sinais de invasão, tornando incerto quando e como ocorreu a ação dos ladrões. “Quem quer que tenha levado a pintura a desejava, e é plausível que se tratasse de um roubo encomendado por uma organização que trabalha com o comércio internacional de arte”, acrescentou Melillo.

De acordo com a Associated Press (AP), a polícia de Nápoles prendeu o proprietário do apartamento depois que ele compartilhou uma história "nada verossímil" sobre a compra "casual" da pintura em um mercado de pulgas.

O ‘Salvator Mundi’ roubado é uma das cerca de 20 cópias remanescentes atribuídas aos seguidores de Leonardo. Assim como a original, a pintura retrata o Cristo com longos cachos, segurando um globo de cristal em uma mão e levantando a outra num sinal de bênção.

Em 2017, o ‘Salvator Mundi’ de Leonardo foi vendido em um leilão por assombrosos US$ 450 milhões, apesar das dúvidas sobre sua autenticidade. Uma das cerca de 20 pinturas amplamente atribuídas ao artista, a obra foi produzida na oficina de Leonardo com pouquíssima participação do mestre propriamente dito, segundo alguns críticos. Deveria ser exibida no Louvre de Abu Dhabi em setembro de 2018, mas o museu cancelou inesperadamente a exposição e ela não foi mais vista em público desde então.

Embora os especialistas não possam determinar em definitivo a autoria da cópia recentemente recuperada, estudiosos acreditam que alguém da oficina do artista a tenha criado entre 1508 e 1513. O site do museu sugere que seu autor é um aluno de Leonardo chamado Girolamo Alibrandi, mas, segundo o Art Newspaper, um proeminente restaurador de Leonardo indica outra atribuição: Gian Giacomo Caprotti, mais conhecido como Salaì, ou “Pequeno Diabo”. Independentemente do criador principal da obra, "uma contribuição do mestre não pode ser excluída", observa o museu. Outra página em seu site descreve a cópia como um “refinado esboço pictórico” do original.

Produzido em Roma, a cópia foi provavelmente levada a Nápoles por Giovanni Antonio Muscettola, embaixador de Carlos V junto ao Papa Clemente VII. Em 2019, foi exibida após ser emprestada à Villa Farnesina para a exposição “Leonardo em Roma: Influências e Legado”, que a restaurou como parte de um estudo técnico para a mostra.

Esperemos que o episódio sirva para que, daqui em diante, os responsáveis por essas preciosidades sejam minimamente mais atentos e nem pensem em desgrudar os olhos de seus tesouros.

Fonte: Smithsonian Magazine