A exposição Mondrian e o Movimento De Stijl, atualmente
no Centro Cultural Banco do Brasil - SP, mostra como o holandês Piet Mondrian (1872-1944) influenciou gerações de pintores,
designers e publicitários após se engajar no movimento que é considerado a mais
importante contribuição da Holanda para a cultura do século XX. No post anterior falei sobre a fase figurativa do artista, que constituiu a
maior parte de sua obra, e agora abordo sua fase mais conhecida, a abstrata,
onde se insere sua atuação no movimento De Stijl ('O Estilo').
O CCCB entrou no clima de cima a baixo! - Foto: Simone Catto |
Foi no ano de 1912 que Mondrian começou a nomear seus trabalhos
como "Composições", um título típico de
arte abstrata, porque se sentia menos comprometido com o tema do que com a
impressão geral que a obra exerceria no espectador. Naquele ano o artista residia
em Paris, onde permaneceria até 1914. No período parisiense assimilou o
vocabulário cubista e, pouco a pouco, foi rumando cada vez mais à abstração.
Piet Mondrian - 'Composição em oval com planos de cores 2' (1914) - óleo s/ tela Foto: Simone Catto |
Entre 1914 e 1919, o artista residiu na Holanda e buscou
inspiração na imensidão do mar. Foi nesse intervalo, no ano de 1917, que cunhou
pela primeira vez o termo neoplasticismo. A essa altura, sua
arte havia se tornado abstrata em quase toda a sua totalidade, e as linhas
horizontais e verticais, bem como os planos coloridos, tornaram-se mais
frequentes em suas composições.
Piet Mondrian - 'Autorretrato' (1918) - óleo s/ tela Imagem: Gemeentemuseum, Den Hagg, Holanda |
O ano de 1917 iria marcar para sempre a carreira de Mondrian. É a data da criação, na Holanda, da revista De Stijl ('O Estilo'), cujo impacto
foi tão grande que acabou batizando um movimento artístico. Com periodicidade
mensal, a revista foi fundada por Theo
van Doesburg (1883-1931), escritor, crítico de arte, poeta e artista que
tinha a intenção de reunir o que havia de mais moderno em termos de arte,
arquitetura, design, música e literatura.
Theo se associou a outros arquitetos, designers e artistas, entre eles Mondrian, para lutar contra o chamado "individualismo", isto é, coletivizar a arte e integrá-la ao dia a dia das pessoas. O movimento De Stijl tencionava transformar a vida em arte e, para isso, abandonou a descrição realista e adotou a abstração radical, numa tentativa de criar uma linguagem universal. A ideia era abolir a distinção entre a arquitetura e a pintura, entre a publicidade e o design. Os projetos arquitetônicos, por sua vez, se transformariam em esculturas, ou melhor, em objetos no espaço. A destruição seria mais importante que a construção, e a abstração mais importante que a utilidade. E assim, num mundo dinâmico, em movimento perpétuo, a arte dominaria a vida.
A cadeira vermelha e azul do designer Gerrit Rietveld (1888-1964), um ícone do modernismo, é por si só um objeto de arte e tornou-se uma das peças mais emblemáticas do movimento De Stij.
Gerrit Rietveld - Cadeira vermelha azul (1923) - madeira de bétula pintada Foto: Simone Catto |
Segundo os princípios do De Stijl, o artista deveria escolher
a forma mais simples e usar apenas linhas retas (horizontais ou verticais) e
cores contrastantes para “expressar plasticamente” o espiritual e o puro. Pretendia-se,
assim, uma arte que geraria clareza no caos da modernidade.
Vilmos Huszár (1884-1960) - 'Composição' (1923) - aquarela e guache - Foto: Simone Catto |
Na arquitetura, os
espaços seriam fluidos: uma casa não deveria mais trancar-se ao mundo exterior,
e sim abraçá-lo e se integrar a ele.
Theo van Doesburg / Cornelius van Esteering (1897-1988) - maquete de casa particular (1923) - Foto: Simone Catto |
O último número da
revista foi publicado em 1932 pela esposa de Theo von Doesburg, Nelly, e
dedicado a seu marido e fundador da publicação, que havia falecido prematuramente
um ano antes, de ataque cardíaco.
Dentro do contexto do De Stijl, Mondrian tinha como objetivo
criar uma arte universal e fundamentou suas ideias na teosofia, movimento
espiritual que rejeita o materialismo em busca de uma sabedoria interior alcançada
pelo desenvolvimento da mente. Entre 1917 e 1918, antes de retornar a Paris em 1919, realizou experiências com
pinturas sem linhas, planos retangulares de cores com tamanhos diferentes e também com seu oposto: pinturas
nas quais a cor e a composição se reduziam a um mínimo e o que predominava, ao contrário, era a linha. Esses experimentos
estavam inseridos na busca de um equilíbrio e uma harmonia que se estendessem a
todo o espaço, como um modelo para as relações harmoniosas que ele idealizava na
vida das pessoas.
Piet Mondrian - 'Composição com grade 8: composição xadrez com cores escuras' (1919) Imagem: Gemeentemuseum, Den Hagg,Holanda |
Piet Mondrian - 'Composição com grande plano vermelho, amarelo, preto, cinza e azul' (1921) óleo s/ tela - Foto: Simone Catto |
A partir de 1930, Mondrian já era amplamente conhecido dos grupos
vanguardistas e aparecia com frequência nos periódicos sobre arte abstrata. No
ano de 1932, começou a multiplicar as linhas, criando maior dinamismo visual. E
um ano depois, em 1933, pintou a primeira de suas obras com linhas coloridas: a
Composição Lozenge, com quatro linhas
amarelas. Essa peça não está presente na exposição, mas você pode vê-la abaixo.
Piet Mondrian - 'Composição Losenge com quatro linhas amarelas' (1933) - óleo s/ tela Imagem: Gemeentemuseum, Den Hagg,Holanda |
O próprio estúdio do artista em Paris era a prova viva de que se
podia viver dentro de uma pintura.
Estúdio de Mondrian em Paris, 1933 - Foto: Simone Catto |
A partir de 1940, Mondrian passou a residir em Nova York e a
festejar os ritmos de jazz e os sons da metrópole, o que conferiu vida nova a
seu estilo com obras como Victory Boogie Woogie, que
permaneceu inacabada devido a sua morte, aos 72 anos, de pneumonia. Essa obra-prima repleta de cores primárias e vivacidade também
não está exposta no CCBB porque, por ser extremamente delicada, dificilmente sai de seu país natal. Porém, é importante mostrá-la aqui!
Piet Mondrian - 'Victory Boogie Woogie' (1944) - óleo, fitas, papel, carvão vegetal e lápis s/ tela Imagem: Gemeentemuseum, Den Hagg, Holanda |
Após conhecer as obras abstratas que fizeram a fama de Mondrian, clique aqui para ver as obras figurativas do mestre, produzidas na primeira fase de sua carreira, também expostas no CCBB!
Foto: Simone Catto |
Se
você ainda não visitou a exposição MONDRIAN E O MOVIMENTO DE STIJL, não perca!
O Centro Cultural Banco do Brasil fica à Rua Álvares Penteado, 112 – Centro,
pertinho da estação São Bento do metrô. Tel.: (11) 3113-3651. Abre de quartas a
segundas, das 9h às 21h, e você pode agendar sua visita pelo site www.culturabancodobrasil.com.br/portal/sao-paulo.
Até 4 de abril.
Magnifico
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