domingo, 19 de janeiro de 2020

O Aperol mais caro de minha vida.

Ontem, ao jantar com uma amiga, ela contou que um conhecido, em visita ao Museu de História Natural de Londres, sentiu fome em determinado momento e resolveu comer uma salada de frutas na lanchonete da instituição. Comeu bem feliz suas frutinhas, sem sequer verificar o preço, repondo as energias para continuar o passeio. Na hora de pagar, o susto: descobriu que a tal salada de frutas custava a bagatela de doze libras, o que equivale, no câmbio atual, a quase sessenta e cinco reais. Digerir esse preço é como engolir as frutas com caroço e tudo, eu diria. Confesso que não estou a par do atual custo de vida em Londres, mas acredito que, até para um londrino, pagar doze libras por uma salada de frutas seja too much, oh my Lord. Ao retornar, o moço contou o episódio à minha amiga, indignado, comentando que aquela havia sido a salada de frutas mais cara que havia consumido na vida.

Comigo aconteceu algo parecido, e nem precisei ir a Londres para isso. Foi bem aqui, em um dos pontos mais amados de São Paulo. Num sábado desses, um grupo de amigas me convidou para admirar o pôr do sol e tomar alguma coisa no bar Obelisco, localizado na cobertura do prédio onde se situa o MAC, Museu de Arte Contemporânea da USP. Eu já conhecia o Vista Café, localizado no mezanino mais abaixo, mas não o bar, de modo que achei a oportunidade ótima para conhecê-lo, além do que iria encontrar gente com a qual gosto de conversar. Quem frequenta o museu sabe que o topo do edifício, mais precisamente o terraço do oitavo andar, oferece uma vista muito bonita da Av. Pedro Álvares Cabral e do Obelisco do Ibirapuera. Muitas pessoas sobem até lá apenas para tirar fotos e "turistar", sem precisarem necessariamente entrar no bar ou no restaurante Vista, contíguo a ele.

Tirei essa foto logo que cheguei - Foto: Simone Catto

Crepúsculo... - Foto: Simone Catto

Chegamos pouco depois das 18h, quando o sol já estava se pondo e o lusco-fusco começava a tomar conta do céu com uma bela luz. Algumas amigas chegaram ao mesmo tempo que eu. Beijos, fotos, risadas, mais beijos, mais fotos. Logo à entrada do bar ficam os caixas, com umas três atendentes jovens e bem maquiadas. De cara, já deixamos setenta reais. Só para entrar. Eu achava que o valor incluiria algum drink, mas não. Paga-se esse valor apenas para adentrar o recinto, inclusive a título de couvert artístico, já que – descobri depois - uma banda se apresentaria no salão interno do bar.

Vista da Av. Pedro Álvares Cabral - Foto: Simone Catto

Esta foi a Renata que tirou. Um arraso.

Na hora de sentar, queríamos uma mesa no terraço externo, naturalmente. Chegamos cedo inclusive para isso. Além de fazer calor, não havia sentido algum ir a um lugar daqueles e não apreciar a vista, até porque no salão interno, envidraçado, o ar condicionado gritava alto. Estranhamente, a quase totalidade das mesas do terraço já estava ocupada, algo incompreensível para um lugar que havia aberto às 18h, ou seja, pouco antes de chegarmos. Várias mesas estavam reservadas, mas um atendente nos conseguiu uma mesa externa após cair a reserva de alguém que foi pra Portugal. O ambiente do terraço é muito bonito e a vista, agradável.

O bar em um momento "pré-muvuca" - Foto: Simone Catto

Nossa mesa - Foto: Simone Catto

Sentamos, começamos a conversar, tiramos mais fotos, conversamos mais, pedimos bebidas. Todas as amigas, invariavelmente, seguiram a sugestão de uma delas, habituée do lugar, que costuma tomar um drink chamado Jos Mule, à base de "cachaça Jos, suco de limão, xarope de açúcar e espuma de gengibre", conforme descrição do cardápio. Como prefiro drinks menos doces, fui do contra e pedi um Aperol Spritz, que nunca me decepciona. Só para constar: o preço do tal Jos Mule passava dos R$ 40,00. Meu Aperol custou exatos R$ 32,00, faixa de preço normalmente cobrada pela bebida em São Paulo.

Mais duas pessoas chegariam para brindar... - Foto: garçom gentil

O Jos Mule ao lado de meu Aperol Spritz, em foto artística da Eliane.

Por várias vezes nos levantamos para apreciar a vista noturna que lembra uma pintura de Gregório Gruber. Sim, vista de cima, a cidade de São Paulo pode ser muito poética.

E fez-se a noite... - Foto: Simone Catto

O Obelisco do Ibirapuera, ao fundo... - Foto: Simone Catto

À medida que o tempo passava, porém, o bar começava a lotar mais e mais e os decibéis subiam. Às oito horas da noite já não dava mais para manter um diálogo razoável. A faixa etária dos clientes, que ao chegarmos era variada, começava a diminuir à medida que o ruído aumentava. A música do bar, lá dentro, ecoava pelo terraço onde estávamos, provavelmente por meio de alto-falantes que não conseguia visualizar. Nem adianta perguntar que tipo de música tocava: o que chegava a meus ouvidos era uma massa sonora amorfa e ininteligível. 

A vista é bonita, já o barulho... - Foto: Simone Catto

Percebi, enfim, que o bar transforma-se numa espécie de "baladinha", algo de que fujo como o capiroto foge da cruz. Para me fazer ouvir era preciso gritar, e conversar tornou-se inviável. Não deu sequer vontade de pedir algo para comer, porque saborear um petisco num bar ou fazer uma refeição, para mim, são experiências que requerem certa tranquilidade. E se estou na companhia de pessoas de quem gosto, comer vira um ato social, um momento de conversar e compartilhar. Mas quando não dá para trocar ideias, é hora de trocar de lugar. E foi o que fiz, convicta de que esse bar não é para meu perfil. Valeu para conhecer, mas não pretendo voltar. Fui a segunda do grupo a sair, mas não saí sozinha. Parei no Rancho da Empada, não muito longe dali, e matei minha fome em boa companhia.

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