sexta-feira, 9 de março de 2012

'Nara', no Teatro Jaraguá. Bossa nova com banquinho, violão e coração.

Quando a bossa nova surgiu, em 1958, faltava um bom tempo para eu chegar a este mundo. No entanto, não há como não me sentir tocada por certa dose de nostalgia sempre que ouço uma canção como 'Insensatez' ou 'O Barquinho', ambas gravadas por Nara Leão. Se estivesse viva, a cantora nascida em Vitória (ES) e criada no Rio de Janeiro teria completado 70 anos em janeiro deste ano. E agora, está recebendo uma justíssima homenagem no musical Nara que, após passar com sucesso pelo Rio e Brasília, está em cartaz no Teatro Jaraguá, no centro de São Paulo.

Fernanda Couto, a afinadíssima intérprete
de Nara Leão no musical.
Quem interpreta a 'musa da bossa nova' é Fernanda Couto, uma jovem cantora de voz doce, forte e afinadíssima, que ainda por cima tem ótima presença cênica. O espetáculo é valorizado por um elenco de músicos de alto nível, que contracenam em sintonia fina com a protagonista: William Guedes (violão), Rodrigo Sanches (percussão) e Guilherme Terra (teclado).

A montagem percorre a trajetória de Nara Leão com cerca de 20 canções que sua voz imortalizou, tais como: 'Diz Que Fui Por Aí' (Zé Kéti e H. Rocha), 'Opinião' (Zé Kéti), 'A Banda' (Chico Buarque), 'João e Maria' (Chico Buarque e Sivuca) e, é claro, 'Insensatez' (Tom Jobim e Vinícius de Moraes) e 'O Barquinho' (Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal), entre outras. Aliás, ficaram famosas as reuniões realizadas na década de 60 no apartamento da artista, em que os expoentes da bossa nova se reuniam para compor, tocar e jogar conversa fora.

Outras vertentes musicais também atraíram o talento da versátil Nara, que flertou com a tropicália, a jovem guarda, os sambas do morro e os clássicos americanos. Ao longo de sua carreira, a cantora gravou composições de Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Fagner, Nelson Sargento, Francis Hime, João Donato e Paulinho da Viola, entre outros. Mas foi o jovem Chico Buarque que se tornou um de seus compositores prediletos e gravou, ao lado da musa, um sucesso que a consagrou: 'A Banda', que venceu o Festival da Record em 1966 ao lado de 'Disparada', de Geraldo Vandré e Theo de Barros, na voz de Jair Rodrigues.  

Fernanda e, no primeiro plano, Rodrigo Sanches.

Entre uma canção e outra, o musical também passeia por alguns fatos da vida pessoal da cantora, como a dolorosa traição que sofreu do namorado Ronaldo Bôscoli, que teve um affair público com a cantora Maysa, passando pela polêmica declaração de Elis Regina de que Nara 'não sabia cantar', bem como seu casamento com o cineasta Cacá Diegues e suas posições políticas. Nara nos deixou ainda jovem, aos 47 anos, no ano de 1989, vítima de um tumor cerebral. Sua voz meiga, no entanto, continua a ecoar em iniciativas como esta, que resgata uma das fases que, em minha opinião, está entre as mais geniais da música brasileira.   

A intérprete, novamente ao lado de Rodrigo Sanches.

Com texto da própria Fernanda Couto e Márcio Araújo e direção deste último, o
espetáculo, de 70 minutos, estará em cartaz até o dia 18 de março. Portanto, corra para o Teatro Jaraguá e mate a saudade - mesmo que seja de uma época que você não viveu.

Endereço: Novotel Jaraguá – Rua Martins Fontes, 71 – tel.: 3255-4380.
Horários: sábados às 21h e domingos às 19h.
Ingressos: R$ 40,00 na bilheteria, pelo tel. 4003-1212, ou pelo site www.ingressorapido.com.br. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário