Vista do início da Ponte de Avignon, com o rio Ródano à esquerda - Foto: Simone Catto |
Talvez você esteja se perguntando por que cargas d'água esses
papas ficavam em Avignon e não em Roma, sede da cristandade. A resposta é
simples: por causa da força política do rei da França, Filipe IV. O então monarca
entrou em choque com a Igreja Católica, em Roma, porque o papa Bonifácio VIII não
permitia que ele cobrasse tributos da igreja francesa. Como àquela época era a
França que ditava as regras no mundo, o rei simplesmente deu uma "canetada" e
ordenou que o sucessor do Papa Bonifácio, Clemente V, permanecesse em Avignon.
Assim teve início a linhagem de papas franceses que residiram naquela cidade.
Rio Ródano - Foto: Simone Catto |
A passagem dos papas por Avignon marcou indelevelmente seu
traçado e sua arquitetura, notadamente a
partir da construção do Palácio dos
Papas, uma imensa e imponente fortaleza que simbolizou à perfeição o poder
temporal e espiritual que o papado exercia à época. Maior palácio gótico da
França e Patrimônio Mundial da Unesco, o edifício é tanto mais impressionante ao
sabermos que levou menos de vinte anos para ser erigido, entre 1335 e 1352.
Vista do Palácio dos Papas, em Avignon - Foto: Simone Catto |
Logo ao entrar no palácio, visualizei alguns operários montando
uma arquibancada de metal no pátio interno. Perguntei a uma funcionária do que
se tratava e ela me explicou que já eram os preparativos para o festival de
teatro, que acontece todos os anos em julho, auge do verão, quando o Palácio
dos Papas torna-se o principal palco para os concorridos espetáculos.
O palácio tem 25 salas abertas ao público e implantou uma
tecnologia genial que torna a visita infinitamente mais interessante: logo ao
entrarmos, podemos pegar o Histopad, um tablet que permite uma experiência
imersiva e interativa de realidade virtual. Cada aposento tem um enorme QR Code
e é só aproximarmos o tablet para visualizarmos como era o espaço na época dos pontífices.
À medida que caminhamos, vamos enxergando o mobiliário, os afrescos, as
tapeçarias, a decoração... é como uma viagem no tempo. Graças a essa reconstituição
em realidade aumentada, conseguimos rever os faustos da corte papal do século
XIV com grande exatidão. Além disso, comentários de áudio, mapas que acompanham
a visita e fundos musicais enriquecem ainda mais a descoberta das salas
reconstituídas. Portanto, se você for a Avignon visitar o palácio, não deixe de
pegar seu Histopad para sua experiência não ficar pela metade!
Maquete do Palácio - Foto: Selma |
Detalhes do palácio gótico. Acima, à direita, dá para visualizar a Virgem Maria dourada da Basílica Notre-Dame des Doms. Foto: Simone Catto |
Ainda hoje, as capelas e os apartamentos privados dos papas
conservam valiosos afrescos de escolas francesas e italianas de pintura, alguns
atribuídos ao pintor italiano Matteo Giovannetti. Os demais espaços do palácio
tinham diferentes funções: sacristias, salões de banquetes e de cerimônias,
tesouraria, escritório, biblioteca e muitas outras que conseguimos visualizar
mobiliadas e decoradas com o auxílio do Histopad.
O interior gótico do palácio - Foto: Selma |
Era na sacristia que os papas trocavam os trajes durante as
cerimônias realizadas na Grande Capela. Abaixo, vemos uma vista da Sacristia
Norte. Ela tem várias estátuas de gesso, a maioria presenteada por cidades da
Europa, representando figuras políticas e religiosas ou convidados de prestígio
recebidos no palácio pelos pontífices.
Estátuas de gesso da Sacristia Norte, a maioria doada por cidades europeias, mostram personagens ilustres. Foto: Simone Catto |
Na parte externa, terraços em torno da construção oferecem belas
vistas da cidade de Avignon e do rio Ródano (Rhône), que tem 812 km, percorre a
França e a Suíça e é mais lembrado pelos vinhos produzidos em suas margens: os
famosos Côtes du Rhône.
Vista de Avignon a partir dos terraços do palácio - Foto: Simone Catto |
Outra bela vista da cidade, um pouco mais à direita - Foto: Simone Catto |
Detalhe das esculturas do prédio à direita - Foto: Simone Catto |
E por falar na vista do terraço... quem visita o palácio tem
acesso à famosa Ponte Saint Bénezet,
mais conhecida como Ponte de Avignon,
também listada como Patrimônio Mundial da Unesco. Diz a lenda que o camponês
Bénezet, no século XII, recebeu ordens celestes para construí-la e, assim, unir
as duas margens do rio Ródano.
A Ponte de Avignon, saindo do palácio - Foto: Simone Catto |
Ponte de Avignon - Foto: Simone Catto |
Concluída em 1185, a ponte foi considerada uma verdadeira proeza
técnica com seus cerca de 900 metros e 22 arcos, mas, atualmente, ela não dá a
lugar algum: simplesmente acaba em nada, no meio do rio. E essa bizarrice
arquitetônica ocorre porque foi parcialmente destruída várias vezes pelas violentas
inundações do Ródano e reconstruída, sucessivamente, até que no século XVII, a
cidade deu um "basta" na situação, farta do transtorno interminável e
dispendioso dessa reconstrução sem fim. Dos 22 arcos originais, portanto, restaram
somente quatro e algumas capelas. Uma delas é a capela Saint Bénezet,
construída no século XII, que teria abrigado a sepultura do camponês que
construiu a ponte. Dizem que a capela sagrada é local de
milagres.
Vista da ponte, que acaba no meio do rio - Foto: Simone Catto |
O que pode ser considerado um verdadeiro milagre, mesmo, são as muralhas
medievais admiravelmente bem conservadas da cidade. Mas isso é assunto para o
próximo post, no qual vamos percorrer mais um pouco de Avignon. Clique aqui
para continuar o passeio!
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