Andar, respirar, subir, contemplar, voltar, olhar de novo,
suspirar... essa foi minha reação ao visitar Oppède-le-Vieux, uma vila medieval
de 1.400 habitantes no flanco norte do Lubéron, na Provence francesa.
Empoleirada no topo de um rochedo invadido por vegetação, em meio a um cenário
de florestas selvagens, aclives e ruínas, a vilinha tem uma atmosfera mágica
com seu silêncio secular e suas estruturas de pedra que sobem pelas escarpas.
Tudo bem que cidades e villages
com maior ou menor número de resquícios medievais estão espalhados por
praticamente toda a Provence, mas esse me atraiu de maneira particular. Logo ao
estacionar o carro, no pé da colina, já deu para perceber que não se tratava de
um lugar comum. O único ruído que eu ouvia era o canto dos pássaros. Não havia
turistas. Aliás, não havia praticamente ninguém, o que achei maravilhoso. Ao
olhar para o rochedo, já visualizei as antigas ruínas de pedras, a igreja do
século XII no cume e o que sobrou do castelo feudal, tudo misturado à vegetação. Na
foto abaixo, vemos a antiga igreja no alto, à esquerda, e as ruínas do castelo,
logo à sua direita.
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Foto: Simone Catto |
Comecei a subir a pé, seguindo as placas. A esse respeito, vale dizer
que, apesar de minúsculo, o vilarejo é bem sinalizado.
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Foto: Simone Catto |
Em determinado momento, topei com um painel de azulejos
coloridos formando um mapa da região. Ao ler a inscrição, descobri que foi
criado pelas crianças da escola de Oppède, em junho de 1995, e reproduzido na
cerâmica em abril de 1998. Fiquei encantada com a iniciativa. Do jeito que os
franceses são nacionalistas, não é de admirar que incutam nas crianças, desde cedo,
o senso de civilidade e de pertencimento.
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O painel de cerâmica criado com base no desenho das crianças locais - Foto: Selma |
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Foto: Simone Catto |
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Foto: Simone Catto |
A subida pela colina é irregular, não acontece em linha reta.
A cada patamar, um lance de escadas de pedra nos conduz a uma nova clareira. E
a cada clareira, eu parava, respirava e contemplava a paisagem, encantada.
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Foto: Simone Catto |
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Como diria uma amiga querida... vamos sentar e conversar? - Foto: Simone Catto |
Finalmente, cheguei ao centro do Vieux Village, a Cidade Velha. Estava igualmente deserta, à exceção
de um casal de ciclistas aventureiros e de outro que passeava com uma
criancinha. Parênteses: a região da Provence tem muitos ciclistas, sejam
pessoas que utilizam a bicicleta como meio de transporte (e isso inclui gente dos
9 aos 90 anos), sejam esportistas que levam o ciclismo a sério e pedalam por
quilômetros. Se por um lado a disposição dos franceses é invejável, por outro é perfeitamente compreensível! Como não ter fôlego em um cenário como esse?
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A praça central de Oppède, pura paz! - Foto: Simone Catto |
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Detalhe do sino da praça - Foto: Selma |
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Neste ângulo da praça, podemos ver um mapa da cidade - Foto: Simone Catto |
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Ainda a praça... - Foto: Simone Catto |
O restaurante da praça ainda estava fechado porque era cedo, mas dali a pouco abriria para receber os poucos turistas, já que o verão ainda não estava no auge.
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Foto: Selma |
As estruturas intramuros de Oppède foram estabelecidas no início
da Idade Média e o traçado atual das ruas remonta àquela época, mas os
primeiros registros de ocupação humana no local são bem mais antigos, do
período romano.
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Foto: Simone Catto |
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Foto: Simone Catto |
À medida que subia pelos caminhos e pavimentos de paralelepípedos,
parecia que eu estava sendo transportada a outra dimensão.
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Foto: Selma |
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Foto: Simone Catto |
Em alguns momentos da caminhada, deparei com grutas escavadas
nas rochas, as quais abrigavam antigas residências e estabelecimentos
comerciais.
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Foto: Simone Catto |
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Foto: Simone Catto |
Após pertencer a diversos senhores feudais, Oppède tornou-se
propriedade papal em 1274, assim que os papas se instalaram em Avignon. A
partir dali, transformou-se em um burgo importante que dialogava com outros
dois importantes feudos da vizinhança, Apt e Cavaillon. Ostentando
orgulhosamente seu castelo e sua igreja no topo da colina e defendida por suas
muralhas, a vila teve sua época de maior prosperidade no século XIV, quando
contava então com 900 habitantes.
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Foto: Simone Catto |
Uma característica interessante do lugar é que as primitivas
construções medievais às vezes são entremeadas por casas do século XV, já do
final da Idade Média, e do século XVI, início da Renascença. Muitas vezes,
deparamos com esses diferentes estilos lado a lado, o que torna o cenário ainda
mais pitoresco. A foto abaixo, que parece mostrar uma construção do século XVI
apoiada sobre uma base de pedras medievais, retrata bem essa integração de gêneros arquitetônicos.
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Foto: Selma |
Vez ou outra, eu topava com algumas dessas residências
renascentistas restauradas e transformadas em charmosas pousadas, restaurantes
ou casas de veraneio. Soube, inclusive, que alguns artistas, escritores e
outras celebridades, os quais compreensivelmente preferem manter o anonimato,
adquiriram propriedades na região com esse fim.
Ao olhar a figurinha esculpida em metal pendurada à entrada da
casa, na foto abaixo, pensei se tratar de um restaurante, mas era, na verdade, uma
hospedaria. Na França, as pessoas podem alugar para turistas até cinco
quartos por habitação particular - são os chamados chambres d'hôtes, ou "quartos para hóspedes". Achei esta uma graça,
ainda mais com as lavandinhas floridas ao lado da porta.
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Foto: Simone Catto |
Um outro aspecto curioso que constatei não apenas em
Oppède, mas em outros lugarejos da Provence, são seus resquícios de
religiosidade: não raro, algumas residências têm a parte externa ornamentada com santos e crucifixos. No exemplo da foto a seguir, novamente temos uma união "erótico-arquitetônica" entre dois estilos: a construção cor-de-rosa, mais moderna, literalmente se agarrou à outra com estruturas aparentemente medievais, à sua esquerda, e parece que não vai soltar tão
cedo. O santo entre ambas, coitado, finge que não vê essa "pouca-vergonha", rs.
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Duas construções contrastantes em flagrante ato libidinoso
e o santo que faz vista grossa, rs - Foto: Simone Catto |
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Foto: Simone Catto |
Acredito que em Oppède a presença desses sinais de religiosidade
se justifica de maneira especial porque a vila foi propriedade dos papas de Avignon. Por
falar nisso, vamos agora para o alto do rochedo entrar na igreja Notre-Dame D'Alidon,
uma das poucas edificações antigas que não estão em ruínas. Originalmente
construída no século XII, no estilo românico, a igreja foi reformada a partir
de 1500, ganhou traços góticos em 1592 e foi restaurada em 1815 e 1869. Atualmente
está novamente em reforma, com o patrocínio de doadores particulares. Sim, muitos ricos que moram na França contribuem para a preservação do patrimônio e certamente recebem incentivos para isso.
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A foto do altar da igreja Notre-Dame d'Alidon saiu meio desfocada, mas dá para ter uma ideia da beleza de seu interior restaurado - Foto: Simone Catto |
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Foto: Simone Catto |
A vista lá de cima é fantástica e tive um momento único de "embasbacamento" turístico-existencial.
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Foto: Selma |
Se eu voltaria a Oppède-le-Vieux? Sim, um milhão de vezes. À la prochaine!
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