domingo, 6 de janeiro de 2019

Alex, jazz, swing e histórias: que os próximos sábados do ano sejam como o primeiro.

Conheci o Alex "Espaguete" na época da faculdade de Música. Ainda bem garoto, ele já arrasava ao piano da Banda 150 Night Club, que se apresentava na boate do hotel Maksoud Plaza, considerado então o mais sofisticado da América Latina. A casa era frequentada por casais e grupos que gostavam de dançar e ouvir música da mais alta qualidade, o que incluía jazz, blues, bossa nova, swing, standards românticos americanos. Para você ter uma ideia do naipe que se apresentava por lá, basta dizer que Frank Sinatra, Billy Eckstine, Bobby Short, Alberta Hunter e Anita O’Day, entre outros nomes que deixaram sonoras marcas na memória auditiva da história, fizeram temporadas na boate – alguns por mais de uma vez, como Bobby Short, que gostava de vir ao Brasil na primavera. Meus pais frequentavam o lugar. O maître Prado, quintessência do gentleman discreto e gentil, sabia que minha mãe gostava de doces e, invariavelmente, aparecia à mesa com uma bandeja de prata repleta de guloseimas – "cortesia para a madame", como costumava dizer. Era ele também que a socorria correndo, quando, míope até o último grau, minha mãe não conseguia enxergar as placas à porta dos toaletes e confundia o banheiro feminino com o masculino. "Madame, madame! É a outra porta..."

Era nesse ambiente que Espaguete se apresentava ao piano com a banda, cujo repertório tinha hits à altura das estrelas convidadas e do nível da casa: sucessos de Cole Porter, Gershwin, Dave Brubeck, Duke Ellington, Tom Jobim - só para citar alguns. E o jovem pianista, talentoso e carismático, dava shows de técnica e interpretação com dedos espertos e um onipresente sorriso no rosto.

O tempo passou, a cultura musical do Brasil despencou, a boate fechou e o hotel entrou em inexorável decadência. Soube, depois, que Espaguete estava morando no Japão e não ouvi falar nele por anos. Isso até ontem, ao receber um convite para assistir a seu show no Ton Ton, uma casa de jazz em São Paulo.

Alex "Espaguete" Frontera, Gina e a banda hipnotizando a plateia - Foto: Simone Catto

Espaguete, hoje conhecido como maestro Alex Frontera, cresceu profissionalmente. Amadureceu. Além de pianista, tornou-se um arranjador de primeiríssima. Maneja teclados simultaneamente com o timing e a destreza de um malabarista de planetas. E seu piano, que já era incendiário, tornou-se demoníaco. Some-se a isso o talento de Sérgio, no baixo, e de Samuca, na batera, e não tem pra ninguém. Entre um set e outro, Espaguete (desculpe, maestro, só consigo te chamar assim! rs) sentou-se à minha mesa, logo à frente do palco, e nos brindou com algumas histórias. Contou que morou também na Alemanha, deu aulas numa universidade por lá, mas seu sangue italiano e sua afetividade latina não se adaptaram ao frio pragmatismo germânico. Retornou ao Brasil para não cair em depressão. Sorte nossa, que temos o prazer de vê-lo e ouvi-lo por aqui. E sorte dupla de quem esteve no Ton Ton na noite de ontem. Não bastasse o show de Alex e sua banda, ganhamos de presente uma vibrante canja de swings por Gina Garcia, que não deixou ninguém parado com sua voz potente e presença escaldante. Diante de tudo isso, só posso desejar que os próximos sábados de 2019 sejam exatamente como o primeiro. Absolutamente memorável.

Ambiente do Ton Ton, antes da casa lotar - Foto: Simone Catto

Se você também aprecia música de verdade, boa notícia: Espaguete, isto é, Alex Frontera e sua banda, se apresentarão no Ton Ton Jazz & Music também no sábado que vem, dia 12/1. A casa fica na Al. do Pamaris, 55 – Moema. Reservas e informações: 94722-0417 (whatsapp) | www.tonton.com.br

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