O que você
faria se comprasse algo pelo Mercado Livre e descobrisse que o objeto adquirido
é muito mais valioso do que você ou o próprio vendedor imaginavam? Foi
exatamente isso o que aconteceu com uma irlandesa de 51 anos chamada Karen Ievers.
Interessada em fotos antigas da aristocracia vitoriana, ela comprou de um
americano, em novembro, uma coleção de fotos pela plataforma eBay, esperando
encontrar imagens de nobres anônimos na confortável intimidade de suas mansões
e propriedades. Sua intenção inicial era pesquisar a ascendência familiar do marido, Norman, e a história de seu país.
Karen Ievers |
Dispostas num
velho álbum, as fotos incluíam retratos de excelente qualidade e nitidez, bem
como os nomes dos retratados, escritos a lápis sob as imagens. Justificando a
proverbial curiosidade e tradição detetivesca dos britânicos, Ievers fez uma
busca dos nomes no Google e, para sua surpresa e alegria, descobriu que os
retratos correspondiam a nada mais, nada menos que a membros da família de Jane
Austen, uma das mais aclamadas romancistas da era vitoriana e da história
literária mundial. E como se essa descoberta já não fosse suficientemente
impressionante por si só, descobriu-se também que as vidas das pessoas nos
retratos possuíam enredos tão dramáticos e fascinantes quanto aqueles extraídos
das páginas dos romances da famosa escritora.
A própria Jane Austen, cujos trabalhos incluem 'Orgulho e
Preconceito', 'Razão e Sensibilidade' e 'Emma', lembrados frequentemente por
pertencerem ao rol dos maiores romances já escritos, nunca foi retratada em
fotos, até porque partiu deste mundo antes que a fotografia fosse inventada. Contudo,
essa descoberta notável fornece aos historiadores uma visão sem precedentes
sobre a inspiração da autora para criar alguns de seus personagens mais memoráveis,
embora as próprias fontes de inspiração – pessoas de sua família – supostamente
não tivessem consciência de que suas vidas estivessem tão atreladas aos personagens
dos livros.
Os especialistas afirmam que o valor do álbum não pode ser mensurado, mas sabemos que ele foi montado por um certo Lord George Augusta Hill, aristocrata que, segundo minha fonte, se casou com duas sobrinhas de Austen, ambas filhas de seu irmão mais velho, Edward. Só me pergunto como ele se casou duas vezes, já que supostamente ninguém se divorciava àquela época. Até onde sei, as pessoas permaneciam casadas para manter as aparências, mesmo nas uniões mais desastrosas. Enfim, preciso me informar melhor a respeito.
A legenda da foto abaixo diz 'Lady George Hill', o que nos leva a imaginar que a mulher à esquerda seja uma das sobrinhas de Austen. Curiosamente, ela parece estar sorrindo - note que, antigamente, não era usual as pessoas sorrirem em fotos. Todas pareciam tristes, mesmo que estivessem absolutamente alegres. Hoje é o contrário. Todas parecem alegres, mesmo que estejam miseravelmente tristes.
A foto abaixo é a preferida de Karen Ievers por várias razões, principalmente por lançar uma luz sobre as pessoas mais próximas da escritora. Mostra o casamento de Elizabeth Knight, uma de suas sobrinhas, realizado no ano de 1865 em Chawton House, mansão elisabetana na propriedade da família em Alton. Foi lá que Jane Austen escreveu suas obras nos últimos anos de vida. O noivo, capitão Edward Bradford, é o barbudo em pé, à direta. Ele perdeu um braço ao ser atacado por um tigre enquanto caçava javalis na Índia, pouco antes do casamento, e aqui podemos perceber a manga frouxa de seu casaco pela ausência do membro. Diz a lenda que, mesmo após o ataque, ele continuou a caçar com seu cavalo, segurando as rédeas entre os dentes. Difícil acreditar, até para um herói inglês. "A quantidade de damas de honra é extraordinária. Você só percebe quem é a noiva porque ela segura o buquê maior", diz Ievers.
Os especialistas afirmam que o valor do álbum não pode ser mensurado, mas sabemos que ele foi montado por um certo Lord George Augusta Hill, aristocrata que, segundo minha fonte, se casou com duas sobrinhas de Austen, ambas filhas de seu irmão mais velho, Edward. Só me pergunto como ele se casou duas vezes, já que supostamente ninguém se divorciava àquela época. Até onde sei, as pessoas permaneciam casadas para manter as aparências, mesmo nas uniões mais desastrosas. Enfim, preciso me informar melhor a respeito.
A legenda da foto abaixo diz 'Lady George Hill', o que nos leva a imaginar que a mulher à esquerda seja uma das sobrinhas de Austen. Curiosamente, ela parece estar sorrindo - note que, antigamente, não era usual as pessoas sorrirem em fotos. Todas pareciam tristes, mesmo que estivessem absolutamente alegres. Hoje é o contrário. Todas parecem alegres, mesmo que estejam miseravelmente tristes.
A foto abaixo é a preferida de Karen Ievers por várias razões, principalmente por lançar uma luz sobre as pessoas mais próximas da escritora. Mostra o casamento de Elizabeth Knight, uma de suas sobrinhas, realizado no ano de 1865 em Chawton House, mansão elisabetana na propriedade da família em Alton. Foi lá que Jane Austen escreveu suas obras nos últimos anos de vida. O noivo, capitão Edward Bradford, é o barbudo em pé, à direta. Ele perdeu um braço ao ser atacado por um tigre enquanto caçava javalis na Índia, pouco antes do casamento, e aqui podemos perceber a manga frouxa de seu casaco pela ausência do membro. Diz a lenda que, mesmo após o ataque, ele continuou a caçar com seu cavalo, segurando as rédeas entre os dentes. Difícil acreditar, até para um herói inglês. "A quantidade de damas de honra é extraordinária. Você só percebe quem é a noiva porque ela segura o buquê maior", diz Ievers.
A foto a seguir mostra o mesmo casamento, com os noivos à direita.
Outras fotos mostram um sobrinho que escandalizou a família ao fugir para se casar com a enteada da irmã. Nelson Rodrigues teria adorado (rs). Também está no álbum a sobrinha favorita de Jane, Fanny Knight, considerada "quase uma irmã", segundo as palavras da própria escritora. Contudo, a verdadeira identidade de suas sobrinhas e sobrinhos só foi descoberta nos últimos anos. Segundo Ievers, "o álbum fornece um insight significativo porque a família de Jane era muito importante para ela, já que a romancista não tinha filhos. Ele nos permite aprender mais sobre a escritora por meio da vida de seus parentes".
Fanny Knight, sobrinha preferida de Jane Austen |
A mulher à direita parece ser Fanny Knight mais jovem, mas não dá para ter certeza. |
O álbum de capa dura estava sendo anunciado como pertencente a um certo Lord George Hill, do Castelo de Hillsborough, por US $ 2.800, mas Ievers deve ter barganhado e conseguiu adquiri-lo por módicos US $ 1.000. "Foi só quando comecei a pesquisar os nomes online que pensei: 'Espere um minuto'. Não pude acreditar quando percebi do que se tratava", afirma.
Ievers então contatou uma acadêmica pelo Twitter, Drª Sophia
Hillan, após descobrir que esta havia publicado, em 2011, um livro sobre as sobrinhas
de Jane Austen denominado 'May, Lou e Cass: as sobrinhas de Jane Austen na
Irlanda'. Hillan só descobriu a ligação dos Austens com Lord George Hill em
2006, por acidente, quando viu uma nota de rodapé sobre ele enquanto preparava
uma palestra. Isso a levou a uma caça ao tesouro de cinco anos através de
documentos históricos, e foram apenas os artigos online subsequentes, sobre o
livro, que permitiram a Ievers perceber que o álbum pertencia à família. Diretora-associada
aposentada do Instituto de Estudos Irlandeses da Universidade Queen's Belfast, a
Drª Hillan deu seu testemunho: "O álbum é extraordinário. Quando Karen
compartilhou algumas fotos comigo, eu mal podia acreditar".
Sabemos que as sobrinhas eram muito importantes para Jane
Austen, o que confere ao álbum um significado especial. Ela conhecia muito bem as
meninas – Cassandra, Marianne e Louisa – e por inúmeras vezes ajudou a cuidar
delas. A escritora consertava suas roupas, ouvia suas leituras, levava Marianne
ao teatro e ao dentista quando a garota tinha apenas doze anos e as deixava
ficar em seu quarto enquanto discutia as tramas dos romances com a irmã ou
escrevia notas para suas novelas. Jane realmente fazia parte da vida das meninas.
A escritora já havia falecido quando as sobrinhas cresceram, mas,
sem querer, elas viveram os enredos dos romances da tia. A vida de Marianne,
por exemplo, de certa forma ecoou a trama de 'Razão e Sensibilidade'. Assim
como a personagem Elinor, ela foi despejada de casa pelo próprio irmão clérigo.
Marianne nunca se casou e dedicou a vida à família. Na foto abaixo ela está
ao lado do irmão desalmado, Reverendo Charles Bridges Knight, e um certo George
Hill criança. Creio que este seja o lorde que, posteriormente, montou o álbum
de fotos.
Abaixo está o Reverendo Charles Bridges Knight, o sobrinho clérigo de Jane Austen, entre duas mulheres sem identificação.
Quando a outra sobrinha, Cassandra, se apaixonou pelo Lord George Hill, a mãe do rapaz não aprovou o namoro porque ela não tinha posses. Assim como é relatado no romance 'Persuasão', o casal precisou se separar por oito anos até que, a exemplo do personagem Capitão Wentworth, o lorde retornou e finalmente pôde desposar a moça. Parece que àquela época as pessoas tinham mais paciência para lutar por um amor ou mesmo esperar por ele. O comportamento da mãe de Lord George, por sua vez, foi muito semelhante ao de Lady Catherine de Bourgh, de 'Orgulho e Preconceito'.
A foto a seguir, de qualidade inferior, mostra Lord George ao lado dos irmãos de Cassandra e Louisa: o famigerado Rev. Charles Bridges Knight e a dedicada Marianne. O menino, com o pomposo nome de George Marcus Wandsbeck Hill, é filho de Louisa. Dá para perceber que, tal como nos romances de Austen, o álbum de fotos mostra clérigos, oficiais da marinha e militares, além de mulheres que foram pressionadas a realizar bons casamentos ou precisaram viver de favor e depender da boa vontade de familiares do sexo masculino. E à semelhança de algumas de suas heroínas, certas mulheres da família perderam um dos pais em tenra idade. Cassandra morreu no parto, assim como sua mãe.
Todas essas semelhanças revelam a autenticidade das percepções de Jane Austen, lembrando-nos de sua capacidade de observar o funcionamento do mundo a seu redor e os dilemas que as moças e rapazes de seu tempo e de sua classe social enfrentavam. Essa percepção aguda dos sentimentos e angústias humanos se traduz nas obras em verdades profundas, tornando o trabalho da autora realmente universal.
No momento, historiadores estão se debruçando sobre o álbum e, futuramente, especialistas pretendem fazer uma exposição das fotos. Vamos aguardar! Quem sabe não damos um pulinho até o Reino Unido?
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