sexta-feira, 16 de novembro de 2012

'Tim Maia - Vale Tudo'. O tributo a um talento que poderia ter valido muito mais.

Outro dia fui assistir ao musical 'Tim Maia – Vale Tudo' e juro que me surpreendi. Já havia ouvido falar que era bom, mas não imaginei que fosse tanto. A temporada atual, no Teatro Sergio Cardoso, é protagonizada por Danilo de Moura, em substituição a Tiago Abravanel, que está participando das gravações da novela das nove da Rede Globo. Não assisti a nenhum espetáculo com Tiago, mas, se me dissessem que Danilo de Moura tivesse protagonizado o musical desde a estreia, teria acreditado sem pestanejar porque o moço é mesmo muito bom. Além de ter um vozeirão possante e uma tessitura invejável, é um excelente ator que incorporou a postura e os trejeitos do saudoso e tresloucado Sebastião Rodrigues Maia, o Tim Maia (1942-1998), que nos deixou muito antes do que deveria por, justamente, levar sua vida como um insensato ''vale tudo''.

Danilo de Moura e seu excelente 'Tim Maia'.

Pois essa vida de ''vale tudo'' é contada por meio de blocos temáticos que retratam os altos e baixos de Tim Maia desde sua infância na Tijuca, na zona norte do Rio, e sua atuação nas primeiras bandas. Ainda muito jovem, Tim conheceu gente do calibre de Roberto Carlos, Erasmo e Jorge Benjor. Não tinha nem vinte anos quando viajou para os Estados Unidos em busca de fama e voltou seis meses depois, deportado após uma prisão por roubo de carro e porte de drogas. Seguiu-se, então, um período de grande sucesso – sim, Tim voltou influenciado pela black music da lendária gravadora Motown e começou a plantar, por aqui, as sementes da soul music brasileira. Para nossa alegria, é esse som negro que predomina no musical. 

Reiner Tenente diverte a plateia com sua
caracterização de Roberto Carlos. 
Acompanhado por excelentes músicos que simulam a formação da Banda Vitória Régia, que acompanhou o cantor por 22 anos desde 1976, o protagonista Danilo de Moura interpreta 25 canções imortalizadas na voz de Tim, como Primavera, Sossego, Não quero dinheiro, Me Dê Motivo e, naturalmente, Vale Tudo. Entre os outros personagens do musical, vale a pena prestar atenção no ator que interpreta Roberto Carlos, Reiner Tenente, que faz uma genial e hilária paródia do ''rei''.

Entre um sucesso e outro, o espetáculo mostra as inúmeras tempestades na trajetória do cantor, como a turbulenta relação ''ioiô'' com a mulata Janete, seu primeiro grande amor. Uma relação cheia de idas e vindas, beijos e sopapos, já regada pelo abuso de álcool e drogas que tanto prejuízo causariam à saúde, à carreira, às finanças e aos afetos de Tim, tornando-o um homem, antes de tudo, extremamente solitário. Bem... suspeito que, quando alguém acha que na vida ''vale tudo'', também deve achar que sua vida não vale nada. O que é uma pena, sobretudo quando isso acontece com talentos como o de Tim Maia e tantos outros, como Cássia Eller, Elis, Amy Winehouse e outras estrelas que partiram cedo para brilhar em outro lugar.

Danilo de Moura e o ótimo elenco do musical.

A direção do espetáculo é de João Fonseca e o texto de Nelson Motta. Amigo de Tim Maia desde a juventude e produtor musical de alguns de seus shows, este último testemunhou vários de seus desvarios e chegou a passar grandes apuros com o recorrente hábito de Tim de deixar a plateia esperando por horas a fio ou simplesmente não aparecer.

Mas agora, quem deve aparecer nesse espetáculo é você! Danilo de Moura faz um Tim Maia impecável e despudoradamente carismático com seu vozeirão, suas molecagens e aquele seu jeitão debochado. A direção musical e os arranjos de Alexandre Elias também são de primeiríssima, transmitindo toda a vibração do melhor som de Tim e sua banda, colocando a plateia - literalmente - para dançar em mais de um momento do espetáculo. E como se não bastasse, tudo isso está com preços populares – somente R$ 40,00 a inteira. Mas corra, porque o musical estará em cartaz só até domingo!

TIM MAIA – VALE TUDO
Teatro Sérgio Cardoso – R. Rui Barbosa, 153 - Bela Vista - São Paulo. Tel.: 3288-0136 -www.timmaiaomusical.com.br. Quinta e sábado, 21h; sexta, 21h30; domingo, 18h.
Bilheteria: 15h/19h (quarta); a partir das 15h (quinta a domingo). Ingresso: R$ 40,00. Até 18/11.

domingo, 11 de novembro de 2012

Restaurante Lilló. Alta gastronomia com charme e frescor.

O bairro da Vila Clementino precisaria ter mais restaurantes como o Lilló. Público, certamente, haveria. Basta dizer que, na última vez em que lá estive, não era sexta nem sábado: era uma terça-feira, e o lugar estava lotado. É fácil descobrir por quê. Há mais de uma década a casa está instalada no local oferecendo uma excelente cozinha em um ambiente extremamente agradável e bem frequentado. Casais, grupos de amigos e famílias, boa parte moradores do bairro, se misturam democraticamente a executivos e profissionais liberais que trabalham na região.

Foto: www.restaurantelillo.com.br

O salão principal, amplo, tem um pé direito altíssimo e é repleto de plantas, o que confere ao ambiente uma atmosfera de agradável frescor. Essa sensação é reforçada pela presença de uma mangueira e um cambuci, árvores que já estavam no imóvel construído na década de 60 e que pertencia à família de um dos sócios. É o tipo de local onde, apesar da amplidão, você pode ter um agradável jantar romântico ou bater um papo gostoso com amigos ou pessoas queridas sem ser incomodada(o) por excesso de decibéis. 

A entrada também é agradável... - Foto: Simone Catto

O bar da casa - Foto: www.restaurantelillo.com.br

Vista parcial do bar e do salão - Foto: Simone Catto

Meu jantar foi realmente delicioso. Depois de uma taça de vinho para abrir o apetite, optei por um Ravioli Negro Recheado com Camarão ao Molho Cremoso de Alho-Poró (R$ 41,90). Massa leve, recheio saboroso, enfim... para se comer de joelhos!

O Ravioli Negro Recheado com Camarão ao Molho Cremoso de Alho-Poró: delícia! - Foto: Simone Catto

Outro pedido da mesa foi o Raviolone de Manjericão Recheado de Alcachofra ao Molho de Ervas Finas com Tomate Concassé (41,90). Não experimentei, mas garanto que, quem comeu, gostou! (rs) 

Raviolone de Manjericão Recheado de Alcachofra ao Molho de Ervas Finas com Tomate Concassé. 
Foto: Simone Catto

Uma amiga pediu o Linguado grelhado ao Molho de Alho-Poró e Risoto de Limão (52,) e também ficou plenamente satisfeita.

Linguado que, segundo ouvi, era tão bonito quanto gostoso! - Foto: Simone Catto

Embora minha massa fosse à base de molho branco, o tempo fresco e chuvoso pedia um vinho tinto. Assim, optamos pela meia garrafa do Alamos Malbec 2011, um vinho que aprecio bastante e que caiu superbem. A amiga que comeu peixe preferiu uma taça de vinho branco.

Foto: Simone Catto

E para finalizar uma refeição tãaao boa... não iríamos dispensar o cafezinho, tirado no capricho.

Foto: Simone Catto

Um músico costuma animar as noites por ali, mas, para ser franca, não vejo necessidade de música em um local que já se basta por si. De qualquer modo, o Lilló é um restaurante onde você pode ir sem erro. A cozinha e o ambiente são ótimos e o atendimento é OK. Anote o endereço: Rua Borges Lagoa, 1321 – V. Clementino – tels.: 5572-3177 / 3628-0252www.restaurantelillo.com.br

domingo, 4 de novembro de 2012

O que vi na PARTE, a feira de arte contemporânea que aproxima o público dos novos artistas.

Há muita gente, por aí, que aprecia arte e eventualmente até gostaria de adquirir alguma obra, mas se sente intimidada em entrar numa galeria para solicitar informações por ter a ideia pré-concebida de que uma obra de arte é sempre cara e inacessível. Só que há um detalhe importante do qual, creio, pouca gente se dá conta: "valor" e "preço" são coisas beeem diferentes. Isso mesmo. Nem tudo que vale custa muito, da mesma forma que nem tudo que custa muito vale tanto assim. Vou explicar. Da mesma forma como você pode se deparar com uma obra de arte que não te transmita absolutamente nada, mesmo que o preço da etiqueta corresponda a cinco anos de seu salário, pode ocorrer de você A-D-O-R-A-R uma obra pensando que ela é caríssima e descobrir que ela cabe no seu bolso. Sentiu a diferença entre valor e preço? Pois é. 

Uma boa demonstração do que estou dizendo estava na segunda edição da PARTE, feira de arte contemporânea realizada na segunda quinzena de outubro no subsolo do Paço das Artes, na USP. A ideia dessa feira, que reuniu obras de 42 galerias brasileiras, era oferecer arte de qualidade de artistas ainda em ascensão, por preços que fossem acessíveis. Para mim, foi uma ótima vitrine para saber o que a moçada anda fazendo por aí. Ao conferir as etiquetas, constatei que os preços (ou, se preferir, "investimento") realmente não eram de assustar. Vi obras por menos de mil reais e soube que o custo máximo de uma obra exposta ali não ultrapassava os R$ 18 mil. Os visitantes chegavam, olhavam e, se gostassem de alguma coisa, compravam no ato e já poderiam levar a obra para casa.

Foto: Simone Catto

De cara, logo ao entrar, vi uma parede cheia de telas e obras coloridas. Fui andando e eis que alguém me chama. Quando me virei para olhar, topei com o Allan Szacher, que cursou Comunicação comigo na FAAP há mais de uma década. Papo vai, papo vem, e Allan me contou que é o criador e editor da revista Zupi, publicação dedicada ao design gráfico, além de possuir uma sociedade na QAZgaleria de arte que prioriza a linguagem do grafite, da street art e da ilustração. Assim Allan foi me mostrando as obras e contando um pouco sobre os artistas. Alguns trabalhos eram bem divertidos, outros não me atraíram tanto, mas muitos se destacavam pelo vivo colorido, pela linguagem bem-humorada e pela harmonia da composição, mostrando que tem gente talentosa por aí. Por falar nisso, a bela composição abaixo, de Rodrigo Machado, foi a primeira a atrair meu olhar.

Obra de Rodrigo Machado - Galeria: QAZ - Foto: Simone Catto

Outro trabalho que teve um resultado esteticamente interessante é a pintura abaixo, sobre skate, de autoria de Gen Duarte.

Obra de Gen Duarte - Galeria: QAZ - Foto: Simone Catto

Notei que boa parte da galera da QAZ se inspira na linguagem das HQs e muitas obras mostram "criaturas" meio monstros, meio gente, que também lembram muito personagens de desenhos animados.

Obra de Cadu Mendonça - Galeria: QAZ - Foto: Simone Catto 

Obra de Insane - Galeria: QAZ - Foto: Simone Catto

Obra de Cena 7 - Galeria: QAZ - Foto: Simone Catto

Outros artistas representados pela QAZ partem claramente para a paródia – é o caso de Ozi que, de certa forma, mesclou a fantasia infantil com a fantasia sexual. Pois se alguém aí nunca imaginou transar com a Fada Sininho, já pode começar a pensar no assunto! (rs)

Obra de Ozi - Galeria: QAZ - Foto: Simone Catto
Ops... saiu com reflexo! (rs)

E o que dizer da Branca de Neve que, cansada de maçãs envenenadas, resolveu provar outra fruta???

Obra de Ozi - Galeria: QAZ - Foto: Simone Catto

E já que estamos falando de nossos instintos mais primitivos e ancestrais, as imagens de pinturas rupestres pré-históricas vieram imediatamente à minha cabeça quando topei com as obras de Jaime Prades.

Obras de Jaime Prades - Galeria: QAZ - Foto: Simone Catto

Continuando minha caminhada pela exposição, fui parar no stand da Galeria Papel Assinadoque chamou minha atenção pelas obras de Eduardo Sued – clássicas, elegantes, de extremo bom gosto.

Obras de Eduardo Sued (exceto a de baixo à esquerda, que é de
Leon Ferrari) - Galeria: Papel Assinado - Foto: Simone Catto

À esquerda, vista do stand da Galeria Papel Assinado - Foto: Simone Catto

Mais adiante, gostei muito do vigor e da alegria das obras de Renato Sant'Anna, representado pela galeria carioca Tramas.

Obra de Renato Sant'Anna - Galeria: Tramas - Foto: Simone Catto

Vista do stand da galeria Tramas - Foto: Simone Catto

Havia muitas obras expostas nesta PARTE e devo dizer que a grande maioria não despertou meu interesse. É provável, contudo, que muitos dos trabalhos que me foram indiferentes tenham atraído o olhar de outras pessoas, da mesma forma que o contrário também deve ter ocorrido: obras que considerei interessantes podem não ter despertado nenhuma emoção em outros visitantes. O critério aqui é pessoal, e não pretendo fazer nenhum julgamento de valor. Apenas inseri uma pequena amostra de algumas tendências que vi na feira e que me detiveram ou pela beleza, ou pela composição ou pelo humor. Espero que muitas outras feiras como essa sejam realizadas, para que as pessoas possam conhecer o que está sendo produzido por nossos artistas, educar seu olhar e, a partir daí, perder o medo de adquirir obras de arte. É isso aí!

terça-feira, 30 de outubro de 2012

'Intocáveis'. A comunhão de opostos num filme que não tem vergonha de ser feliz.

Normalmente, nossos vínculos de amizade mais fortes e duradouros costumam ser formados com pessoas de perfil semelhante ao nosso, com interesses, valores ou gostos afins. Só que, às vezes, a vida pode nos pregar uma peça. E se possuímos um mínimo lampejo de humanidade, podemos reconhecer um amigo em alguém que, por viver uma realidade totalmente oposta à nossa, dificilmente atravessaria as fronteiras de nosso mundo. É mais ou menos isso o que aconteceu com o personagem Philippe (François Cluzet) no filme Intocáveis.

Philippe (François Cluzet) e Driss (Omar Sy)

Philippe é um aristocrata viúvo que, após sofrer um grave acidente de parapente, fica tetraplégico e passa a depender de assistentes para realizar as tarefas mais simples do dia a dia. Depois de trocar inúmeras vezes de funcionário, acaba contratando o jovem Driss (Omar Sy), um argelino de família pobre recém-egresso da prisão que vive na marginalidade e habita o subúrbio de Paris. Driss é um tipo debochado, sem cultura e sem nenhuma experiência ou habilidade para cuidar de pessoas naquela situação. Aos poucos, porém, vai aprendendo a função e acaba por conquistar o milionário por seu bom humor, sua espontaneidade e também por não tratá-lo como um pobre coitado. Driss leva Philippe a fazer coisas que jamais imaginaria ser capaz de fazer em sua situação e, com sua alegria e entusiasmo, introduz um novo sopro de vida no dia a dia de seu rico patrão. Philippe, por sua vez, oferece a Driss uma boa dose de dignidade, respeito e oportunidades com as quais ele jamais poderia sonhar em sua vida. E assim, nesse intercâmbio de mundos, tornam-se amigos de verdade.

Driss, recém-chegado à mansão, fica encantado com o luxo de seus novos aposentos.

Ao lado do novo funcionário, Philippe ganha nova alegria de viver.

O aniversário do milionário, antes um poço de tédio, vira uma festa animada.

O resultado é que um filme que poderia soar deprimente, por mostrar as dificuldades de um deficiente físico, acaba causando um efeito exatamente contrário. A gente ri com as gafes de Driss e compactua com a alegria do aristocrata, torcendo e se identificando com a força e a leveza dessa amizade aparentemente tão improvável. A mensagem é a mais otimista possível.

Philippe entre Driss e Yvonne (Anne Le Ny), uma espécie de secretária particular.

Magalie (Audrey Fleurot), outra assistente do milionário. 

Além do roteiro impecável, da direção segura e da bem cuidada produção, os atores de primeiríssima contribuem para fazer de Intocáveis um filmaço. Tanto François Cluzet quanto Omar Sy dão um show de interpretação. Cluzet interpreta seu Philippe magistralmente, e seu mérito é tanto maior se lembrarmos que para isso ele conta apenas com sua expressão facial, uma vez que seu personagem é tetraplégico. Omar Sy, com seu "Driss", contribui para recobrar nossa fé na humanidade.

O mais comovente é que o filme é baseado numa história real e, ao final, são mostradas imagens dos verdadeiros "Philippe" e "Driss", que se chamam Philippe Pozzo di Borgo e Abdel Sellou, respectivamente. Abdel, que cuidou de Philippe por dez anos, vive hoje na Argélia e tem uma criação de frangos para a indústria. Philippe casou-se novamente e vive no Marrocos com sua segunda esposa e duas filhinhas. Uma amizade eterna que merece se perpetuar também em nossa memória. Assista correndo!

Os verdadeiros "Philippe" e "Driss": Philippe Pozzo di Borgo e Abdel Sellou.
Uma lição de vida e um tributo à verdadeira amizade!  

Direção: Eric Toledano e Olivier Nakache.
Elenco: François Cluzet, Omar Sy, Anne Le Ny (Yvonne), Audrey Fleurot (Magalie) e outros.

INTOCÁVEIS está em cartaz nos cinemas Reserva Cultural, Pátio Higienópolis Cinemark, Playarte Bristol e Espaço Itaú de Cinema – Augusta, entre outros. Não perca de jeito nenhum!

domingo, 28 de outubro de 2012

Rubi Wine Bar. Para degustar um bom vinho com o prazer que ele merece.

O atendimento é supersimpático e gentil. O lugar é pequenino, aconchegante e, ainda por cima, especializado num dos maiores prazeres da vida: os bons vinhos, que podem ser um ótimo "esquenta" para os "prazeres" que venham depois! (rs). Estou falando do Rubi Wine Bar que, como o próprio nome já revela, é uma casa especializada em vinhos que fica na região dos Jardins. É o tipo de lugar onde você pode (e deve!) se refugiar quando quiser degustar um vinho sossegada(o), num ambiente discreto, na companhia de gente muito especial e de tapas preparadas no capricho.

As mesas de madeira deixam o local mais aconchegante - Foto: Simone Catto

A casa tem uma 'pegada' rústica e agradável - Foto: Simone Catto

Outro ângulo do salão - Foto: www.rubiwinebar.com.br. 

A fachada é graciosa e discreta - Foto: www.rubiwinebar.com.br 

Quando fui conhecer a casa, dividi um tinto francês que o sommelier nos recomendou: o Côtes-du-Ventoux safra 2009, um vinho do jeito que eu gosto: pouco encorpado e de sabor delicado. Uma ótima pedida!

Foto: Simone Catto

Para acompanhar, escolhemos três das "Tapas do Mundo" que constam no cardápio. Como os temperos picantes estavam em nossa preferência do momento, começamos com a Panelinha de Camarão ao Curry com Torradinhas de Ciabatta (R$ 32). O camarão, que vem mergulhado num molho de curry com alguns legumes, é servido numa graciosa panelinha. Delícia!

Ao mesmo tempo, pedimos uma porção de Polentas Grelhadas com Ragu de Linguiça Calabresa (R$ 21). Eu, que não costumo comer polenta nem linguiça (sim, reconheço que sou uma italiana desnaturada! rs), me rendi depois que o garçom nos informou que a polenta da casa estava entre as melhores de São Paulo. De fato, a combinação estava saborosíssima!

A Panelinha de Camarão ao Curry e as Polentas Grelhadas com Ragu de Linguiça Calabresa: ambas excelentes! - Foto: Simone Catto 

Por fim, pedimos uma porção de Croquettas de Presunto Serrano e Parmesão (R$ 20), crocantes e muito bem feitas. Posso dizer que o sabor das três porções estava irrepreensível!

As crocantes croquettas, nham... - Foto: Simone Catto

As opções de tapas e bruschettas da casa se destacam também pela variedade, mas, quem preferir jantar, não fica decepcionado: o menu oferece alguns pratos que, a julgar pela qualidade das tapas, também devem ser muito bons.

Atualização em 24/7/2013: o bar acabou de me informar que promoverá uma série de encontros sobre vinhos para grupos de até 20 pessoas, com quatro temas:

1) Degustação com palestra sobre os vinhos (características da região, uva e país).
2) Degustação de iniciação ao mundo do vinho (como degustar e escolher um rótulo).
3) Degustação para empresas com harmonizações especiais.
4) Degustações verticais ou horizontais (podendo ser com vinhos dos clientes ou da carta da casa).

Os encontros estarão sob comando dos renomados sommeliers Fabiano Aurélio (Sommelier do Ano, Prêmio Gula 2007) e Tony Araújo (ex-Figueira Rubayat).

Para mais informações, ligue (tel. abaixo) ou acesse o site da casa.

Nem preciso dizer que super recomendo o RUBI WINE BAR a todos aqueles que apreciam uma combinação que, para mim, faz toda a diferença: um bom vinho + boa companhia + bom atendimento + paz!

O endereço é Al. Jaú, 1.595 – Jardins. Tel.: 4323-1667. www.rubiwinebar.com.br. Você ainda tem a comodidade de estacionar no "Pare Aqui", ao lado ( 1.607), que oferece desconto aos clientes da casa.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

As paredes orgânicas de Adriana Varejão atiçam os paulistanos no MAM.

Confesso que pouco conhecia da arte de Adriana Varejão, embora já houvesse ouvido falar muito nela. A exposição Histórias às Margens, no MAM Ibirapuera, está entre as mais bem cotadas de São Paulo.

Fui, então, conferir o trabalho dessa carioca nascida em 1964 que estudou arte enquanto cursava Engenharia no Rio de Janeiro e está entre as mais badaladas artistas plásticas contemporâneas do Brasil. Sim, a moça é bastante festejada. Já participou de mais de 70 exposições no Brasil e no exterior, em museus e instituições do porte da Bienal de São Paulo, da Tate Modern de Londres e do MoMa, de Nova Iorque. Em 2008, ganhou um pavilhão dedicado à sua obra no deslumbrante Centro Inhotim de Arte Contemporânea, no município de Brumadinho, próximo a Belo Horizonte.

A exposição atualmente no MAM exibe 42 obras da artista. Chamaram minha atenção aquelas que mostram azulejos com fendas que, como se fossem pedaços de "pele rasgada", deixam entrever vísceras e nesgas de carne vermelha escapando em relevos. Um contraste intrigante, mas esteticamente bonito. Resultado agradável de se ver, apesar de encerrar certo elemento de morbidez. Confira nas imagens a seguir:

Folds 2 (2003) - óleo s/ tela e poliuretano em suporte de alumínio e madeira. Obra pertencente à Fundação Gugggenheim, de Nova Iorque - Foto: Simone Catto

Ruína de Charque Santa Cruz - quina (2002) - óleo s/ madeira e poliuretano - Foto: Simone Catto

Parede com incisões à La Fontana (2000) - óleo s/ poliuretano em suporte de alumínio e madeira. 
Foto: Simone Catto

Língua com padrão sinuoso (1998) - óleo s/ tela e alumínio - Foto: Simone Catto

Deu para notar que Adriana também lança mão de imagens que aludem ao período colonial brasileiro, como azulejos portugueses e elementos do barroco, além de fazer citações visuais à arquitetura, presente na criação ou pintura de ambientes que lembram salas, banheiros ou saunas.

A instalação a seguir, por exemplo, mescla uma azulejaria que remete aos azulejos portugueses com esculturas de móveis e objetos de porcelana na criação de um fragmento de ambiente que lembra uma sala. Gostei do resultado.

Tea and Tiles II (1997) - óleo s/ tela, madeira e porcelana - Foto: Simone Catto

Minha opinião? Achei a exposição de Adriana Varejão beeem mais interessante do que a esmagadora maioria das obras da Bienal. Vale a pena dar um pulo lá para conferir!

O MAM fica na Av. Pedro Álvares Cabral, s/ nº, portão 3 - Parque Ibirapuera. 
Tel.: 5085-1300 - www.mam.org.br. Abre de terça a domingo, das 10h às 17h30
(com permanência até as 18h). Entrada franca. Até 16/12.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

30ª Bienal de São Paulo. Se toda arte é expressão, será que toda expressão pode ser arte?

De uns seis anos para cá, cada vez que visito a Bienal de Arte de São Paulo fica mais veemente meu questionamento interno sobre se o que tenho visto por lá pode ser realmente chamado de arte. Tudo bem que essa discussão não é nova e que até já virou clichê com relação à arte contemporânea. Só que, agora, a questão está ainda mais gritante. Adquiriu uma dimensão tal, que se tornou inevitável, pelo menos para mim, postar-me diante de certas obras e me perguntar se elas são mesmo arte ou apenas expressões pessoais, manifestações de uma individualidade que deseja comunicar algo ao mundo. Sim, porque, atualmente, "tudo" virou arte. A multiplicidade de meios e de plataformas utilizadas para a produção artística é tão grande, que qualquer tipo expressão, teoricamente, pode ser denominada "arte" se alguém assim o determinar. E quem seria esse "alguém"? O próprio artista, para começar, e depois os galeristas, críticos de arte, marqueteiros, as mídias e todo o entourage que lhes dá aval. O fato é que se toda arte é expressão, nem toda expressão é arte. Simples assim.

Vamos, então, dar alguns exemplos com base no que vi na 30ª Bienal em duas visitas que fiz à exposição. Vamos começar pelo próprio nome desta edição: Iminência das Poéticas. O que significa? Significa que, aqui, é o processo criativo, o que houve por trás da produção da obra que realmente importa. E não a obra acabada, o produto final. É a intenção do artista que está valendo. Daí a profusão de vídeos ininteligíveis, instalações aparentemente confusas e objetos desconexos, pelos quais vi tantos visitantes passarem reto sem entender lhufas. É isso aí, a arte de hoje precisa de bula para ser compreendida. Porque se você não souber o que o artista quis dizer ou pretendeu com aquilo, pode esquecer. Você até pode achar uma obra esteticamente curiosa ou interessante, mas daí a entendê-la são outros quinhentos.

Frase pintada em uma parede do térreo da Bienal - Foto: Simone Catto

O problema é que, no meu caso, além da dificuldade de entender, à primeira vista, tantas obras dessa Bienal, quase nada despertou a atenção de meus sentidos. Entre as poucas obras que me atraíram, estavam os livros entrelaçados de Odires Mlászho (1960, Mandirituba, Brasil). Se o artista pretendeu transmitir uma mensagem com a obra, sinceramente não sei. Só sei que achei o visual interessante. É arte? Também não sei. Mas que é curioso, é.

Obra de Odires Mlászho - Foto: Simone Catto

As obras que me atraíram na sequência foram realizadas, sintomaticamente, por um artista hoje reconhecido: Arthur Bispo do Rosário (1909/11-89), figura cuja arte adquire uma dimensão mais fascinante por estar diretamente associada aos problemas psiquiátricos de seu autor.

Obra que faz parte do 'Inventário do Mundo', de Arthur Bispo do Rosário - Foto: Simone Catto

Nascido em Sergipe, Bispo do Rosário mudou-se para o Rio de Janeiro em 1925. Entre as profissões que exerceu, foi boxeador, marinheiro e trabalhou na Light. Após sofrer um surto psicótico em 1938, foi diagnosticado como esquizofrênico-paranoico e  transferido para a Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá. Começou seus trabalhos artísticos apenas no final da década de 60 e criou, até sua morte, cerca de 1.000 obras usando objetos do cotidiano que comprava ou trocava e sobras de materiais descartadas pelo próprio hospital onde estava internado, tais como pentes, botões, toalhas, roupas e ferramentas. Além disso, executou inúmeros bordados com material de uniformes e lençóis que desfiava. Bispo do Rosário foi descoberto em 1980 por Samuel Wainer Filho, que mostrou sua produção em uma reportagem do 'Fantástico', da Rede Globo. Na ocasião, afirmou ter recebido a missão de fazer um "inventário do mundo", para que, quando morresse, pudesse entregá-lo reconstruído a Deus. O irônico é que Bispo do Rosário não se considerava artista. Mas mais irônico, ainda, é imaginar que muitos que se consideram não o são.

Parte do "inventário" de Bispo do Rosário - Foto: Simone Catto

Pentes, gravatas... objetos do cotidiano que Bispo do Rosário pretendia mostrar a Deus quando morresse.
Foto: Simone Catto

Arthur Bispo do Rosário - Foto: Simone Catto

Arthur Bispo do Rosário - Foto: Simone Catto

Sim, Bispo do Rosário mostrou a Deus que na Terra também havia automóveis. Coitado se tivesse vivido para ver o trânsito de São Paulo! - Foto: Simone Catto

Um trabalho que achei interessantíssimo são as Photo Notes, do holandês Hans Eijkelom (1949). Hans passou as últimas duas décadas coletando fotos de pessoas anônimas, em vários países do mundo, que mostrassem o mesmo padrão visual no vestuário. O resultado foram dezenas de séries que ocupam uma parede inteira da Bienal. Há as séries de homens de camisas xadrezes, de senhoras com estampas de oncinha, crianças com casacos coloridos e por aí vai.

As séries de Hans Heijkelom: praticamente um estudo antropológico! - Foto: Simone Catto

Aqui predominavam os homens de camisa xadrez.
Foto: Simone Catto

E aqui, senhoras de casaco branco! - Foto: Simone Catto

Segundo relatou a Profª Dra. Silvia Meira, historiadora de arte da USP que nos acompanhou em uma das visitas e havia presenciado o artista em ação na Rua Oscar Freire, em São Paulo, sua tática para tirar as fotos é muito engraçada. Ele fica horas parado discretamente num lugar, com sua câmera, e tão logo avista um pedestre com um padrão de indumentária que lhe interesse, tira a foto disfarçadamente. Assim que vê outro pedestre vestido no mesmo padrão, faz outra foto, e assim por diante. As pessoas, naturalmente, não sabem que estão sendo fotografadas. O resultado é quase um "estudo antropológico" visual no qual o artista tenta nos mostrar como a globalização está massificando e manipulando os gostos de todos em qualquer lugar do mundo. Está aí a indumentária para comprovar!

Os Rolling Stones agradam aos "tios"! rs - Foto: Simone Catto

Em frente aos trabalhos de Hans está outra enorme coletânea de séries de fotos, agora em preto e branco, realizadas com princípio semelhante. Trata-se da mais importante obra do alemão August Sander (1876-1964), denominada People of the 20th Century. Sander fotografou indivíduos de diversas esferas sociais, desde camponeses até capitalistas, criando um catálogo tipológico do povo alemão com mais de seiscentas imagens. Lá vemos séries de artistas circenses, de mulheres, casais burgueses, velhos camponeses etc. Algumas fotos são realmente impressionantes, sobretudo ao notarmos a mesma expressão no olhar de pessoas com funções ou posições sociais semelhantes. É inquietante imaginar que, provavelmente, a grande maioria daquelas pessoas capturadas num instante pela lente do fotógrafo já se foi. Sem dúvida, um belo trabalho.

O apanhado de tipos alemães de August Sander: impressionante! - Foto: Richard Vannucci 

Uma obra que achei perturbadora é Urine Reading, do venezuelano Eduardo Gil (1973). O artista fez uma instalação de colchões usados, recolhidos de orfanatos da cidade de São Paulo, e chamou videntes para "ler" as histórias das crianças que dormiam neles. As previsões foram gravadas em áudio e podemos ouvi-las, ao aproximarmos nossos ouvidos de cada colchão. Gostaria de saber quem são esses videntes e se essas pessoas realmente tiveram o poder de captar o que se passava nas mentes e corações das pobres crianças. De qualquer modo, é triste nos deparar-nos com aqueles colchões que, com ou sem vozes, carregam histórias de abandono.

Eduardo Gil e os colchões das criancinhas em sua instalação: tão triste quanto perturbador - Foto: Simone Catto

A instalação de Eduardo Gil - Foto: Simone Catto

Outra obra que me deteve um pouco foi O Teste do Homem sob a Chuva, de Martín Legón (1978, Buenos Aires). Consta que esse teste realmente existe e costuma ser aplicado a candidatos a vagas de trabalho, que devem desenhar pessoas sob a chuva e têm características de sua personalidade reveladas por meio da análise dos traços por psicólogos. Centenas de desenhos de candidatos foram expostos na Bienal e analisados por três profissionais: um psiquiatra, um curador de arte contemporânea e um profissional de RH. É interessante analisar as diferenças entre um desenho e outro, mas... novamente, faço a pergunta: seria isso arte?

Um dos desenhos da instalação 'Teste de Homem sob a Chuva', de Martín Legón.
Foto: Simone Catto
 

Dê um pulo na Bienal e tire suas próprias conclusões!

Pavilhão da Bienal – Parque Ibirapuera – Portão 3 – Av. Pedro Álvares Cabral,  s/n. Terças, quintas, sábados, domingos e feriados: das 9h às 19h (entrada até as 18h). Quartas e sextas-feiras: das 9h às 22h (entrada até as 21h). Há estacionamento no parque com Zona Azul (cada folha vale por duas horas). Mais informações: www.bienal.org.br