quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Famosa coleção de arte saqueada pelos nazistas é exibida em Jerusalém.

Quem estiver em Jerusalém neste momento está tendo uma rara oportunidade para conferir dezenas de obras de grandes mestres da arte que ficaram ocultas por décadas dos olhos do mundo. A infame coleção de aproximadamente 1.590 obras que o recluso Cornelius Gurlitt herdou do pai marchand, um colaborador nazista, e ficou escondida em seu apartamento, está chegando a Israel. Uma exposição com cerca de cem peças, incluindo obras de Pierre-Auguste Renoir, Édouard Manet, Otto Dix e Max Ernst, bem como desenhos inéditos de Eugène Delacroix, está sendo exibida no Museu de Israel até 24 de janeiro de 2020.

Reunida por Hildebrand Gurlitt, a coleção de arte foi descoberta pelas autoridades alemãs durante uma investigação fiscal em 2012. Como as atividades e a proximidade do ancião Gurlitt com o Terceiro Reich eram amplamente conhecidas, a procedência das obras, encontradas em Munique e Salzburgo, foi imediatamente questionada. Quantas foram vendidas sob coação por famílias judias ou simplesmente confiscadas pelos nazistas? Ainda não sabemos.

Sabemos, porém, que essa exposição no Museu de Israel, intitulada 'Escolhas fatídicas', marca a primeira viagem de obras do tesouro de Gurlitt para aquele país. A mostra inclui o 'Retrato de Maschka Mueller', de Otto Mueller, declarado "degenerado" pelos nazistas e adquirido por Gurlitt em 1941, assim como o autorretrato 'Fumando', de Otto Dix, apreendido pelo Exército dos EUA em 1945 e restituído a Hildebrand Gurlitt em 1950. Outros trabalhos, como a colagem de Max Ernst 'A casa da Soldado', não têm a bandeira vermelha que pudesse associá-los aos nazistas.

"As circunstâncias históricas por trás desse tesouro tornam responsabilidade nossa expô-lo ao público", disse o diretor do museu, Ido Bruno, em comunicado. "'Escolhas fatídicas' descreve o destino da arte na Europa nos anos sombrios do regime do Terceiro Reich e gera uma discussão profunda sobre a conexão entre arte e ética, bem como a diferença entre preferências políticas e gostos pessoais".

Antes de morrer, Gurlitt legou toda a sua coleção ao Kunstmuseum (Museu de Belas Artes) de Berna, Suíça. O museu, que está ajudando a organizar a mostra do Museu de Israel, realizou a primeira exposição dos trabalhos em parceria com o Bundeskunsthalle em Bonn, Alemanha, em 2017 e 2018.

Jornalistas na pré-exibição das primeiras obras-primas de propriedade de Carnelius Gurlitt no Museu de Belas Artes de Berna, Suíça, em 7/7/2017. Foto: Valeriano Di Domenico | AFP | Getty Images

Esculturas de Auguste Rodin na exposição 'Inventory Gurlitt', no Bundeskunsthalle em Bonn, Alemanha.
Foto: Oliver Berg | Getty Images 

Em Jerusalém, a exposição abordará questões relacionadas à origem das obras, e o 'Projeto de Pesquisa Gurlitt de Proveniência', em andamento e liderado pelo estado, está trabalhando para identificar quaisquer obras potencialmente saqueadas com vistas à restituição. Foram encontradas seis peças roubadas até o momento. 

Quando a exposição foi anunciada, em outubro, Monika Grütters, comissária do governo federal da Alemanha para a cultura e a mídia, afirmou à imprensa que esperava que ela estimulasse esforços para identificar os proprietários judeus das obras de arte. 

"Queríamos ser abertos e transparentes e mostrar ao público alemão e internacional o que havia efetivamente nesse tesouro de Gurlitt e esclarecer a história a fundo, as negociações de arte durante a Segunda Guerra Mundial e o período nazista", afirmou ao 'Times' de Israel Rein Wolfs, diretor do Bundeskunsthalle e membro do comitê consultivo de exposições do Museu de Israel. "Há muitas perguntas delicadas referentes à restituição". Pena que a possibilidade de que essas obras sejam expostas no Brasil um dia seja tão remota quanto as chances de eu vir a ter um Monet na parede de casa.

Fonte: Artnet

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