domingo, 24 de fevereiro de 2013

Corra, USP, corra! O MAC merece virar um museu de verdade.

Eu ainda não conhecia a nova sede do Museu de Arte Contemporânea da USP, no prédio do Ibirapuera projetado por Oscar Niemeyer onde era o antigo Detran. Lembro que, da época em que foi anunciada a reforma (que custou aos cofres da Secretaria de Estado da Cultura declarados R$ 76 milhões) até a inauguração, há cerca de um ano, fiquei superanimada com a possibilidade de ter, bem mais próximo de casa, um museu com cerca de 10 mil obras de arte.

Pois é. Ontem, finalmente, tive a oportunidade de conhecer a nova sede do MAC ao receber um convite para a abertura da exposição das doações mais recentes ao museu. Qual não foi minha surpresa ao constatar que, com um prédio daquele tamanho, somente o térreo e o mezanino estão efetivamente funcionando? É isso aí. Lá estão apenas 18 esculturas, enquanto que as milhares de obras-primas do MAC ainda estão guardadas numa reserva técnica na Cidade Universitária, à espera que a inépcia e a burocracia do estado as tire de lá. Sim, porque esse novo espaço, cedido à USP pelo Governo do Estado, tem dez vezes o tamanho da atual sede do museu da universidade.


Uma das obras doadas recentemente ao museu: sem título, s.d. - chapa metálica pintada, de autoria de Emmanuel Nassar (1949) - doação do Itaú/AAMAC - foto: Simone Catto   

Outra das doações recentes: 1o. Eu, 2000-12 - mármore e granito, de Roberto Keppler (1951) - doação do artista. 
Foto: Simone Catto 

Ao tentar saber o porquê de todo esse atraso para que o novo prédio do MAC se transforme num museu de verdade, descobri, em primeiro lugar, que as obras da reforma terminaram três anos após a data prevista e que um outro imbroglio havia começado para que a Secretaria conseguisse licitar e comprar o sistema de segurança. Compreensivelmente, Tadeu Chiarelli, o respeitado crítico e especialista em história da arte e também diretor do museu, se recusa a levar Picasso, Modigliani, De Chirico e outros gênios da arte moderna para um local sem segurança. Nem ele, e nenhum gestor com um mínimo de bom senso, cometeriam essa insanidade.

Como se não bastasse esse atraso de um lado, a própria USP está atrasando o processo do outro. Primeiro porque, segundo Chiarelli, a reitoria da universidade ainda não lhe ofereceu garantias de que os elevadores vão funcionar. Oras, qualquer pessoa que visite o prédio percebe que a circulação interna só pode ser feita com elevadores, já que a construção é vertical. Portanto, o diretor está ocupando somente o térreo e o mezanino da construção porque, em casa de sinistro, seria mais fácil salvar peças que estão nos andares mais baixos.

Um dos salões do térreo: o espaço é agradável, falta ocupá-lo por inteiro! - Foto: Simone Catto 

Henry Moore (1898-1986) - Figura Reclinada em Duas Peças: Pontos, 1969-70 - bronze - permuta com Tate Gallery of London. 
Foto: Simone Catto

Além disso, a USP ainda não abriu licitação para ocupar as outras áreas do espaço. Logo que cheguei, por exemplo, notei a falta de um estacionamento no local. E depois de visitar a exposição, perguntei-me como um museu daquele porte não tinha sequer um café à disposição dos visitantes, como ocorre em qualquer museu que se preze ao redor do mundo. Lojinhas de souvernirs "artísticos", então, nem pensar!

Sérvulo Esmeraldo (1929) - Quadrados, 1981 - aço pintado - doação do artista.
Foto: Simone Catto   

Cildo Meirelles (1948) - Parla, 1982 - granito, madeira e couro - aquisição do MAC - Foto: Simone Catto

Soube, depois, que um restaurante ocupará a cobertura do prédio, o que, provavelmente, deverá proporcionar uma bela vista do Parque Ibirapuera. Descobri, também, que um café deverá funcionar no mezanino. E que, sim, o museu terá uma loja que será uma filial da Edusp, a editora da USP. Agora resta-nos nos perguntar QUANDO teremos tudo isso. Porque é uma lástima que um espaço tão agradável e com dimensões tão gigantescas fique ocioso, com tantas obras-primas à espera de vir à tona. Corra, USP, corra! 

MAC USP - Nova Sede - Av. Pedro Álvares Cabral, 1301 - São Paulo - tel.: (11) 5573-9932 - de terça a domingo das 10h às 18h - entrada gratuita.

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