No último feriado encontrei um amigo que há tempos não via e que,
recentemente, voltou de uma viagem de aventura no exterior com um grupo de
conhecidos. Quando lhe perguntei sobre a experiência, ele começou a descrever
os bosques incríveis que conhecera, as paisagens deslumbrantes que visitara, as
corredeiras onde praticara esportes radicais. Fiquei babando. Ao comentar que
sua viagem devia ter sido maravilhosa, qual não foi minha surpresa, ao ouvir: -'Maravilhosa?
Foi uma droga!' (Detalhe: estou usando a palavra "droga" por uma questão de
decoro, mas, na realidade, meu amigo usou expressão beeem diferente!).

Levei um susto e perguntei o motivo da insatisfação. Aí ele
contou que havia viajado com gente que não conhecia direito e que, por conta
disso, havia pago o maior mico. Explico: as pessoas eram mal-educadas e desconheciam
as normas da boa convivência num local que exigia total respeito à natureza e
uma postura mais discreta e contida com relação à população nativa. O pior,
disse ele, é que se tratava de uma viagem pré-programada, totalmente vinculada
à prática de ecoturismo e esportes radicais e, por isso mesmo, ele não tinha sequer
a opção de se separar do grupo e seguir sozinho.
Lamentei profundamente e, mais do que isso, não tive como não relembrar uma situação parecida que vivi numa viagem à Europa e que me
deixou uma grande lição: viajar na companhia de pessoas que possuam gostos, educação
e valores diferentes dos nossos é o caminho mais curto para uma roubada. Porque
vamos falar claro: se já é difícil conviver com gente grosseira e de índole
ruim em situações sociais pontuais, imagine, então, numa viagem que dura dias
ou semanas. Pois é. Nessa viagem que fiz, por exemplo, havia uma "senhora" que
era a prova viva de que o ser humano é descendente direto do homem de
Neanderthal. Até hoje me pergunto de que caverna ela saiu.
Para começar, a dita cuja não falava, vociferava. Imagine a
cena: você está fazendo compras no supermercado de uma pacata cidadezinha da
França e de repente ouve alguém gritar seu nome umas dez gôndolas adiante, a altos
brados, pedindo-lhe para traduzir o rótulo de um pacote de bolachas. Dali a
pouco, você ouve a fina perguntar a outra pessoa do grupo, a uns trinta metros
de distância, onde fica o banheiro. Mico máster. Deu dó dos sensíveis
ouvidos locais submetidos àquela trombeta do Apocalipse.
E isso não era nada comparado com algo ainda pior: a infeliz não
respeitava as leis de trânsito das estradas europeias, dirigia em altíssima
velocidade e ainda respondia com grosserias quando alertada sobre
o perigo. Sentiu o drama? Pois é. O único problema é que a ogra não estava sozinha no carro. Porque vamos
e venhamos: se a criatura quisesse se matar, problema dela. Mas que fizesse
isso sozinha e poupasse a civilização à qual NÃO pertence, certo?
Esses foram apenas alguns dos tristes episódios do show de
horrores perpetrado por alguém que não possuía a menor noção de civilidade, não sabia
se comportar em lugar algum e ainda por cima era a encarnação da negatividade. Aliás, cá entre
nós: aquilo não era uma mulher, era uma perturbação! (Digo "era", porque - Deus
é pai! - nunca mais trombei com a criatura e, no que depender de mim, isso nunca
mais acontecerá! rs.) Nem é preciso dizer, naturalmente, que a digníssima "senhora" não demonstrava o mínimo interesse pela cultura, pela arte e tampouco pela
história dos encantadores locais que visitamos. Porque vamos combinar: ninguém
nasce sabendo, mas os espíritos minimamente iluminados sentem pelo menos uma centelha
de curiosidade em aprender algo novo e extrair algum ensinamento de uma viagem
– ainda mais uma viagem à Europa! Esse triste desinteresse cultural, diga-se de
passagem, não era exclusividade da dita cuja - infelizmente, era também característica
de outras pessoas do grupo. Pelo menos aí tive mais sorte que meu amigo: pude
me separar ocasionalmente dos demais para visitar, vivenciar e, principalmente,
sorver com todos os meus sentidos a beleza, o encanto e os detalhes de lugares tão
ricos em história e civilização.
É evidente que, tivesse estado eu em melhor companhia, minha
viagem teria sido muito mais rica e proveitosa por eu poder compartilhar, com pessoas
afins, minhas opiniões e impressões sobre tantas coisas interessantes. Salvaram-me
minha infinita curiosidade, uma sensibilidade para o belo que tantas alegrias
me traz e, sobretudo, o desejo de aprender cada vez mais.
Nós sabemos que, muitas vezes, é somente na convivência que
passamos a conhecer verdadeiramente as pessoas – para o bem ou para o mal. Mas
há alguns sinais, emitidos pelo outro, que já nos dão algumas pistas de que a
pessoa não é legal ou não tem nada a ver com a gente. O problema é que, em
nossa boa-fé, muitas vezes não queremos enxergar esses sinais e damos um "desconto", acabando por relevar e estragar momentos que poderiam ser muito mais
prazerosos.
Portanto, fica a dica. Quando embarcar para sua próxima viagem, seja
no Brasil ou no exterior, escolha bem seus parceiros. Se você é amante de
esportes radicais, por exemplo, não faz sentido viajar com alguém que perde o
fôlego no primeiro quarteirão. Se você gosta de arte e museus, não viaje com quem
só quer saber de fazer compras ou, o que é pior, só viaja para postar as fotos
no Facebook e exibir como é... hã?... "feliz". E, principalmente, se você é uma
pessoa educada e do bem, desconfie de quem não tem modos ou classe e perde
facilmente o controle, tratando os outros com grosseria. O negócio é usar o bom
senso. Fique atento aos sinais alheios, escolha bem seus companheiros e... boa
viagem!!!