Em um domingo de janeiro fui à exposição "Eliseu Visconti - A modernidade antecipada", inaugurada em dezembro de 2011 na Pinacoteca do Estado. Posso dizer que o prazer foi triplo. Primeiro, porque eu estava em ótima companhia. Segundo, porque é sempre um deleite visitar a Pinacoteca – sem dúvida, um de nossos mais belos e arejados museus. E terceiro, porque tomar contato com uma amostra tão abrangente da obra de Eliseu Visconti (1866-Itália – 1944-Brasil), considerado o primeiro pintor impressionista brasileiro, é uma experiência sensorial deliciosa.
'Autorretrato' (1902) - Imagem: www.eliseuvisconti.com.br |
A Pinacoteca em pleno sol... - Foto: Simone Catto |
A produção artística do mestre foi tão genial quanto abundante. Com cerca de 230 obras que abarcam todos os temas e gêneros de pintura, a exposição é composta por paisagens, retratos, arte decorativa, painéis, design, cerâmicas, ou seja, todas as vertentes de seu eclético trabalho. Trata-se de uma oportunidade ímpar para conhecer de perto a obra de Visconti, já que grande parte dela encontra-se em poder de coleções particulares.
Incansável experimentador, Visconti veio da Itália para o Brasil ainda na infância,
foi estudar no Liceu de Artes e Ofícios em 1883 e adquiriu sólida formação artística, tendo conquistado várias medalhas e o respeito dos mestres.
foi estudar no Liceu de Artes e Ofícios em 1883 e adquiriu sólida formação artística, tendo conquistado várias medalhas e o respeito dos mestres.
'O Batismo da Boneca' (1938) - Imagem: www.eliseuvisconti.com.br |
Após a proclamação da República, Visconti fez parte de um grupo de alunos de
arte denominados "modernos" que se rebelou contra algumas normas de ensino então vigentes, como o confinamento no interior dos ateliês. Assim como os impressionistas, esses artistas ansiavam pela liberdade de pintar ao ar livre para captarem a natureza em todo o seu frescor. Além disso, exigiam o retorno dos concursos que ofereciam como prêmio viagens de estudos à Europa.
arte denominados "modernos" que se rebelou contra algumas normas de ensino então vigentes, como o confinamento no interior dos ateliês. Assim como os impressionistas, esses artistas ansiavam pela liberdade de pintar ao ar livre para captarem a natureza em todo o seu frescor. Além disso, exigiam o retorno dos concursos que ofereciam como prêmio viagens de estudos à Europa.
Em 1892 é organizado o primeiro desses concursos na era republicana, e Visconti conquista o primeiro lugar. Assim, em fevereiro de 1893, parte para Paris, faz as provas de admissão para a École de Beaux-Arts e, dentre 321 candidatos, fica em sétimo lugar. Ao mesmo tempo, o artista estudou com Bouguereau e Ferrier na Academia Julian, um dos mais conhecidos ateliers de Paris.
'O Modelo' (1895) - Foto: Simone Catto |
Por alguma razão, no entanto, Visconti abandonou a Escola de Belas Artes em fevereiro de 1894 e inscreveu-se na Escola Guérin. Lá ficou de 1894 a 1898, seguindo o curso de desenho e arte decorativa de Eugene Grasset, um dos maiores mestres do Art Nouveau. Era a primeira vez que um bolsista brasileiro enveredava pelo caminho das artes decorativas, e Visconti recebeu grande influência desse estilo em suas ilustrações, tendo sido o introdutor do Art Nouveau nas artes gráficas do Brasil.
Assim, executou o design de vitrais, vasos, entalhes, litografia, tapeçaria, cerâmicas, vasos e outras peças de arte decorativa que o tornaram reconhecido até no exterior.
Moringa decorada com perfil e flores (1909) - Foto: Simone Catto |
'Sonho Mìstico' (1897) - Foto: Simone Catto |
Entre 1894 e 1900, o artista expôs inúmeras obras em exposições anuais e "Salons" de Paris, entre as quais a belíssima pintura "Sonho Místico" (1897), que estava há um século longe das vistas do público.
Durante esse período de formação na França, apesar de experimentar com as novas linguagens pictóricas então em voga, como o Simbolismo, o Impressionismo e o Art Nouveau, Visconti não rompeu totalmente com a tradição acadêmica e nem com seus mestres brasileiros. Adquiriu um habilidoso manejo da cor e tratava os detalhes do fundo de suas pinturas com o mesmo esmero com que executava as figuras de primeiro plano. Foi nessa época que apareceram suas primeiras obras com toques impressionistas.
'A Convalescente' (1897) - Imagem: www.eliseuvisconti.com.br |
Em junho de 1899, o mestre encerra seus estudos na França. Após a Exposição Universal de 1900, retorna ao Brasil, deixando em Paris a jovem francesa Louise Palombe, companheira e musa com quem ficaria casado pelo resto da vida. Louise era a modelo preferida do artista, que também tinha um olhar terno para sua família, cujos membros foram retratados em inúmeras pinturas. Segundo relatos, o próprio Visconti dizia: “A família, primeiro; a arte, depois. Uma não é incompatível com a outra, como muitos pensam. Ao contrário, as duas se completam.” Bem... se a obra de Visconti já me deixava apaixonada, esse seu carinho pela esposa e pela família me apaixonou ainda mais!
Em 1904 ele volta a Paris e frequenta novamente a Academia Julian. Em 1905, expõe no Salão de Paris o retrato da escultora Nicolina Vaz de Assis, encantando a nobreza
da capital francesa. Esse retrato, ao lado de outros trabalhos, tornariam Visconti um requisitado retratista. Na Pinacoteca está, inclusive, uma série de autorretratos.
O 'Retrato de Nicolina Vaz' (1905), que encantou a aristocracia parisiense. Imagem: www.eliseuvisconti.com.br |
'O Beijo' (1910): suavidade e cor magistral! - Imagem: www.eliseuvisconti.com.br |
'Cura de Sol' (1919) - Foto: Simone Catto |
Infatigável, ainda em Paris Visconti executa várias telas de cavalete, dedicando-se
à pintura ao ar livre, tendo como principal tema as paisagens dos Jardins de Luxemburgo.
à pintura ao ar livre, tendo como principal tema as paisagens dos Jardins de Luxemburgo.
'A Maternidade' (1906) - Imagem: www.eliseuvisconti.com.br |
Após 1920, o mestre não mais deixaria o Brasil. Empenhou-se no estudo da luminosidade tropical e da vibrante atmosfera do País. As paisagens impressionistas de Teresópolis, realizadas a partir de 1927, encantam pela atmosfera luminosa e transparente. Não por acaso, são consideradas, ao lado das paisagens de Saint Hubert, o melhor da produção do artista.
'Um Ninho' (1949), pintado em Teresópolis. Imagem: www.eliseuvisconti.com.br |
'Roupa Estendida' (1943) - Imagem: www.eliseuvisconti.com.br |
Minha dica: visite a exposição pela manhã e depois almoce ao ar livre no agradável café do museu, apreciando a bela vista para o Parque da Luz. Mas não demore: a exposição estará em cartaz somente até 26 de fevereiro!
PINACOTECA DO ESTADO
Endereço: Praça da Luz, 2 – bairro da Luz.
Horários: terça a domingo das 10h às 17h30, com permanência até as 18h.
Preços: ingresso combinado (Pinacoteca e Estação Pinacoteca): R$ 6,00 e R$ 3,00 - grátis aos sábados. Estudantes com carteirinha pagam meia. Crianças com até 10 anos e idosos com mais de 60 anos não pagam.
Preços: ingresso combinado (Pinacoteca e Estação Pinacoteca): R$ 6,00 e R$ 3,00 - grátis aos sábados. Estudantes com carteirinha pagam meia. Crianças com até 10 anos e idosos com mais de 60 anos não pagam.
Obs.: todas as obras de Visconti inseridas neste post fazem parte da exposição.
Se você quiser saber mais sobre o mestre, uma excelente fonte de informações é o completíssimo site do Projeto Eliseu Visconti (www.eliseuvisconti.com.br), criado por um neto do artista. Além de consistentes informações biográficas, o site disponibiliza imagens de mais de 800 obras catalogadas. Também vale a sua visita!
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