segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Um palacete preservado da Belle Époque paulistana.

Sábado fiz uma espécie de viagem no tempo. Visitei um casarão do início do século XX localizado à Al. Nothmann, 526, nos Campos Elíseos – São Paulo. Tombada pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Compresp) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), essa joia da arquitetura paulistana tornou-se sede do grupo empresarial Tejofran há 16 anos e está sendo cuidadosamente preservada pela instituição, em uma iniciativa louvável que deveria servir de exemplo para tantas outras.


                                   

Detalhes da entrada social

A região está repleta de mansões de valor histórico, outrora habitadas por famílias abastadas e hoje completamente deterioradas. Fachadas que um dia foram trabalhadas e esculpidas por artífices especializados estão literalmente "caindo aos pedaços". Janelas estão despencando. É de cortar o coração. Infelizmente, São Paulo, assim como a maior parte dos municípios brasileiros, não preserva sua memória. Por isso, o palacete-sede da Tejofran é uma feliz exceção a esse mar uniforme e pasteurizado de feios edifícios empresariais envidraçados, monolíticos, assépticos e, sobretudo, sem alma.

Construída entre 1911 e 1912 pelo industrial Waldomiro Pinto Alves, a mansão foi projetada pelo arquiteto sueco Carlos Ekman (1866-1940) e está situada em um terreno de cerca de 2 mil m² que abrigou também um jardim com estufas e até um pomar. Conforme explicou William, nosso guia na visita, a casa foi palco de diversas recepções, bailes e encontros da alta burguesia paulistana, incluindo reuniões e saraus da Semana de Arte Moderna de 22. Quem organizava esses encontros era a esposa do industrial, uma senhora culta, arrojada e extremamente bem-relacionada chamada d. Maria Dulce de Magalhães Pinto Alves, conhecida por d. Nicota.

Portão com detalhes no estilo Art Nouveau
Detalhe do armário e painéis de madeira maciça

Entrada social com piso francês

Hall de entrada com detalhes em mármore

Com características do estilo Art Nouveau, em voga na virada do século XIX para o século XX, o palacete tem pé-direito alto, portões e detalhes trabalhados em ferro e belos vitrais assinados por John Graz (1891-1990), artista plástico, arquiteto e designer suíço radicado em São Paulo. Vários quartos, um amplo salão social e uma sala de música compunham os ambientes da casa, além de um cofre na grande ala de serviços inferior, ali instalado para proteger os bens da família durante a Revolução de 32.



       
Claraboia e vitral de John Graz
O imponente salão
Detalhe da lareira

Ainda segundo William, a casa foi vendida para um francês na década de 60 e muitos detalhes de seu acabamento original foram substituídos. Quando a Tejofran adquiriu o imóvel, adaptou-o às necessidades da empresa e acrescentou à decoração alguns itens que, embora não sejam originais, são peças artísticas e de bom gosto que se integram ao estilo da casa. 


Aproveito para deixar um recado ao governo do Estado e à prefeitura de São Paulo: que tal conceder incentivos fiscais às empresas que se dispuserem a preservar nosso patrimônio histórico e arquitetônico? É uma vergonha que o desenvolvimento cultural de uma metrópole como esta não acompanhe seu desenvolvimento econômico!

Para conhecer o casarão da Tejofran, agende uma visita pelo telefone (11) 3352-0200, ramal 393, ou envie um e-mail para comunicacao@tejofran.com.br.
O endereço é Al. Nothman, 526, Campos Elíseos, esquina com a rua Guaianases.

Fotos: UOL - divulgação

2 comentários:

  1. Não tinha conhecimento deste belo imóvel. São Paulo sempre nos surpreendendo. Vou lista-lo em um blog que faço sobre casas de personalidades e também agendar uma visita com um grupo de fotografia ao qual pertenço. Caso vc. tenha curiosidade, vá até o Casarão do Ramos de Azevedo, na Rua Pirapitingui, na Liberdade, que pertence a Editora Global. Já estive lá visitando, é muito lindo e super preservado.

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  2. Olá, tenho certeza de que você gostará do palacete da Tejofran! Fiquei curiosa para conhecer o casarão de Ramos de Azevedo que você mencionou e que pertence à editora Global. É preciso agendar visita também? E por favor, envie o link de seu blog, deve ser muito interessante! Obrigada, Simone

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