Sempre acho bom retornar a lugares onde tenha
me sentido especialmente feliz. Está certo que nem sempre consigo reproduzir as
emoções que me fizeram sorrir um dia, mas o fato de visitar esses locais novamente
me alegra duas vezes: pela lembrança do vivido e pela vivência do presente. Às
vezes mudam as companhias, mudam as pessoas ou circunstâncias, mas, quando o
lugar visitado basta por si só, o prazer e a alegria sempre acham um jeito de
se infiltrar.
Quem me conhece um pouco sabe que, desde que
visitei Gonçalves pela primeira vez,
fiquei irremediavelmente enfeitiçada. E antes que você pense que Gonçalves seja
o nome de algum macho alfa, pode tirar a cabrita do pasto: é algo muito melhor.
Trata-se de um minúsculo município do sul de Minas Gerais, encravado na Serra
da Mantiqueira, alguns quilômetros além da cidade paulista de São Bento do
Sapucaí. Pisei lá a primeira vez em 2009 e... zás!... fui capturada para todo o
sempre. Só lamento que, em virtude das demandas da vida, não tenha conseguido voltar
para lá com a frequência que gostaria. Ainda assim, o universo tem conspirado a
meu favor.
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A maioria das estradas de Gonçalves é assim: de terra batida e cercadas de vegetação - Foto: Simone Catto |
Outro dia, pouco antes da pandemia do
coronavírus estourar no Brasil, uma leitora do blog escreveu contando que havia
visitado Gonçalves pela primeira vez no último Carnaval e ficou apaixonada pelo
lugar, afirmando se identificar com minha narrativa e as sensações que descrevi
em outra matéria sobre a cidade. Não é para menos. Gonçalves é caracterizada
por uma paisagem natural particularmente exuberante, com suas montanhas
cobertas pela Mata Atlântica, belas cachoeiras e trilhas que levam a gente para
perto do céu. E o melhor é que algumas das pessoas que me acompanharam lá também
compartilham meu gosto pelo contato com a natureza, o que, naturalmente,
aumenta ainda mais o prazer da viagem. É indescritível a sensação de se aventurar
nas trilhas acima das montanhas, sentar lá no topo, sorver o ar puro e deixar o
espírito vagar livre na imensidão em volta. Tenho consciência de que nem todo
mundo valoriza essa simbiose com a natureza com a mesma intensidade que eu, mas
sei que não estou sozinha.
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Essa foto me dá saudade! Passei inúmeras vezes por essa bifurcação. - Foto: Viaje na Viagem |
Assim que essa tenebrosa fase pandêmica passar,
espero retornar em breve à pousada Serra
Vista, uma das melhores de Gonçalves e lugar
do qual só tenho boas lembranças. Quando nela estive pela primeira
vez, a correria da rotina na volta a São Paulo não me permitiu escrever sobre minha
experiência de hospedagem. Uma nova visita, contudo, só veio a reforçar minha impressão positiva sobre esse encantador refúgio rural que tem, como
hóspedes permanentes, a paz, o sossego e o deleite. Para começar, a pousada
está bem escondida, situada ao final de uma longa e estreita estrada de terra
batida, longe dos olhares e dos pneus. Essa estrada sem saída é o único acesso a
ela e só permite a passagem de um carro por vez, o que dá um certo "medinho" de
que venha outro na direção contrária bem no momento em que estamos
passando. No entanto, o proprietário garantiu que é muito raro ocorrer de dois
carros cruzarem a estrada ao mesmo tempo - o que me tranquilizou um bocado, já que eu estava em uma respeitável SUV.
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A estrada de acesso à Pousada Serra Vista, onde fiquei rezando para que não viesse nenhum carro na direção contrária! Foto: Simone Catto |
A
pousada Serra Vista tem poucos chalés, situados a boa distância uns dos outros,
o que garante a privacidade dos hóspedes – muitos deles casais apaixonados.
Todos os chalés são confortáveis, com lareira e assoalho em madeira para
aguentarmos o friozinho noturno das montanhas, e alguns têm hidromassagem, um
mimo usual em quase todas as pousadas da região.
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Foto: Simone Catto |
A sede
com a recepção está instalada em um belo e amplo casarão campestre construído
com muita madeira e uma atmosfera aconchegante com sua decoração fofa de cores
quentes.
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Fachada da Pousada Serra Vista - Foto: Simone Catto |
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Foto: Simone Catto |
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Detalhe fofo da decoração - Foto: Simone Catto |
Porém, o maior
atrativo do local, inquestionavelmente, é a belíssima vista para as montanhas
da Mantiqueira, um presentão que o Criador ofereceu ao povo mineiro e a quem
mais tenha o privilégio de contemplá-las. Dá vontade de ficar olhando e deixar
o pensamento voar naquele mar com tons de verde a perder de vista. É como se
uma paisagem como aquela tornasse nossos sonhos possíveis, talvez porque o
cérebro ative algum mecanismo que, automaticamente, associe a natureza infinita
à infinidade de possibilidades que o mundo oferece... sabe-se lá.
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Vista da pousada - Foto: Simone Catto |
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Foto: Simone Catto |
A
pousada está cheia de cantinhos acolhedores e recantos charmosos ao ar livre
para que a gente possa apreciar a paisagem e oxigenar o cérebro e o espírito.
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Flagrante... |
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Foto: Simone Catto |
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Foto: Simone Catto |
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À noite é só acender o fogo, pegar uma taça de vinho e prosear olhando o céu! - Foto: Simone Catto |
O
restaurante onde é servido o café da manhã é aconchegante, tem janelas envidraçadas de ponta a ponta e, nem é preciso dizer, uma linda vista para o verde e as
montanhas. O café é preparado com capricho e servido por uma equipe gentil e boa
de prosa. É de deixar a gente em estado de graça saborear todas aquelas gostosuras
mineiras contemplando aquele quadro natural da janela. Os quitutes do café incluem
pães variados, frios, queijos da região, ovos mexidos, sucos naturais, frutas,
geleias e bolos caseiros, biscoitos de polvilho e, é claro, pães de queijo quentinhos.
Muitas coisas são preparadas no fogão a lenha que fica ali mesmo. Com esse café
e essa energia, dá para fazer trilha até onde Deus quiser!
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O restaurante da Pousada Serra Vista, em uma foto que tirei beeeem cedinho... - Foto: Simone Catto |
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Nosso café da manhã... repare nos biscoitos de polvilho perto do bolo! Nham... - Foto: Simone Catto |
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O fogão a lenha não poderia faltar! - Foto: Simone Catto |
E já que falei em trilha, além de repetir a Trilha
das 3 Cachoeiras (Retiro, Sete
Quedas e Cruzeiro), que ficam próximas à pousada, conheci também a Cachoeira dos Henriques, a mais longe
da cidade e uma das poucas da região que ainda não havia visitado. Situada na
direção do bairro dos Martins, a nove quilômetros da zona urbana, ela tem várias
quedas d'água e algumas piscinas naturais onde é possível tomar banho. No
entanto, é preciso cuidado porque trombas d'água não são incomuns por ali. Quando
lá estive vi apenas um casal tomando banho, sossegado, em uma piscina que não
representava perigo algum. Aliás, o único perigo de visitar lugares como esse é
ficar tão apaixonado que se torna absolutamente impossível não retornar. Gonçalves, me aguarde!
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Piscina da Cachoeira dos Henriques e o casal só curtindo, à direita... - Foto: Simone Catto |
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Da estrada mal dá para visualizarmos a Cachoeira dos Henriques, oculta entre as árvores - Foto: Simone Catto |
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Cachoeira do Retiro - Foto: Simone Catto |
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Cachoeira Sete Quedas - Foto: Simone Catto |
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Cachoeira do Cruzeiro - Foto: Simone Catto |
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A Cachoeira do Cruzeiro, lá de cima... - Foto: Simone Catto |
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