Um dos exercícios que mais gosto de fazer ao visitar ruínas de
sítios arqueológicos ou castelos é tentar imaginar como eram os espaços na
época em que as pessoas os habitavam. Em Les
Baux-de-Provence não foi diferente. Esse village do sul da França, que atualmente
tem cerca de 500 habitantes, já gozou de grande pujança na Idade Média e tinha um
enorme castelo que pertenceu, sucessivamente, a diferentes senhores feudais.
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As lavandinhas ladeiam as ruínas do castelo de Les Baux-de-Provence - Foto: Simone Catto |
Três vezes sitiado e duas vezes destruído, o castelo de Les Baux
remonta a cerca de onze séculos e está hoje em ruínas, mas o que restou dele é
suficientemente relevante para atiçar nossa imaginação e nos dar um panorama de
como era a vida em seu interior. Algo me diz que não era nada fácil, sobretudo para uma mulher!
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Ruínas do castelo - Foto: Simone Catto |
A cidade de Les Baux-de-Provence fica sobre um platô de 245 metros
de altura e o castelo está na parte mais alta do rochedo, tendo funcionado também
como fortaleza. Na foto abaixo vemos o vilarejo e, acima dele, as ruínas do
castelo construído com o calcário branco extraído das pedreiras da região.
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Foto: Randojp |
No esquema a seguir, vemos cada parte do castelo e do espaço
onde foi erigido. Compare com a foto anterior.
No acesso ao castelo, topei com as esculturas de um artista plástico
alemão chamado Stefan Szczesny (nascido
em 19/4/1951). Qualquer semelhança com Henri Matisse não é coincidência: o alemão realmente se inspirou no francês. Ao
pesquisar sobre ele, descobri inclusive que Szczesny mora em Saint-Tropez, assim como Matisse
também morou e trabalhou na glamourosa cidade da Côte d'Azur.
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Esculturas de Stefan Szczesny - Foto: Simone Catto |
O castelo de Les Baux-de-Provence situa-se na extremidade do Plateau de Costapera, um amplo espaço aberto com réplicas de
armas medievais e vistas de tirar o fôlego. Na foto abaixo, ao fundo, dá para
ver um típico trabuco medieval com a ponta voltada para cima.
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Plateau de Costapera - Foto: Simone Catto |
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Neste ângulo das ruínas, vemos mais trabucos à esquerda. Parece que esses medievais adoravam trabucos! Foto: Simone Catto |
E agora, alguns momentos "Uau!". O castelo de Les Baux domina o Vallon d’Entreconque com uma paisagem deslumbrante que se estende por centena de quilômetros. Na
foto abaixo, à esquerda, as montanhas dos Alpilles emolduram belos campos cultivados.
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Vallon d'Entreconque - Foto: Simone Catto |
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Foto: Simone Catto |
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Foto: Simone Catto |
Encravada no rochedo, a torre
do castelo foi erigida no século XIII. Era lá que ficavam os aposentos do
senhor feudal e sua família, distribuídos por quatro andares, contando com o térreo.
No terceiro e último andar ficava o dormitório, do qual ainda restam duas
janelas e algumas esculturas nas paredes, incluindo um São Jorge atravessando o
dragão com a espada.
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Do estacionamento vimos as ruínas da torre do castelo - Foto: Simone Catto |
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Essas janelas, em outra parede do castelo, parecem
prestes a ruir! - Foto: Simone Catto |
Abaixo está o Seconde
Basse-Cour (Segundo Celeiro), que ficava separado do primeiro por uma fossa
e abrigava, na Idade Média, os ateliês e os empregados do castelo: escudeiros,
ferreiros, seleiros e também o canil. Curiosamente, o aspecto das paredes
conservou-se liso e regular devido à exploração do calcário na Segunda Idade do
Ferro, do século 60 a 30 a.C. Nas fotos a seguir dá para notar essa
característica das paredes.
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Seconde Basse-Cour - Foto: Simone Catto |
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Outro ângulo do Seconde Basse-Cour - Foto: Simone Catto |
As próximas fotos mostram uma capela construída no século XII, inicialmente
denominada Capela de Santa Maria. Seus arcos românicos são os vestígios mais
antigos do castelo e sua abóbada com nervuras é um elemento arquitetônico refinado,
característico do estilo gótico flamboyant. No século XVI, período da
Renascença, ela foi rebatizada como Capela
de Santa Catarina. Sabe-se que já foi ricamente decorada, com tapeçarias,
um pequeno órgão, livros litúrgicos e peças de ourivesaria. Hoje, dá apenas para imaginarmos essas coisas.
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A Capela de Santa Catarina com os arcos mais antigos do castelo - Foto: Simone Catto |
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Detalhe do teto gótico flamboyant - Foto: Simone Catto |
A Casa do Forno era uma
espécie de padaria onde se produzia o pão, que constituía a base da alimentação
na Idade Média. Haja carboidrato! No castelo, o forno para assar o pão era utilizado
exclusivamente em benefício do senhor feudal e de sua família.
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Passagem da Casa do Forno - Foto: Simone Catto |
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Casa do Forno - Foto: Simone Catto |
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Casa do Forno - Foto: Simone Catto |
Naturalmente, contudo, não era só de pão que se vivia no
castelo. A carne de pombo era muito apreciada pelos senhores (argh!), que
tinham o privilégio de manter um pombal
particular. Nem todos os pombos eram mortos, porém: alguns eram utilizados como
pombos-correios, pois dificilmente seriam interceptados por pessoas
indesejáveis. O pombal ficava na parte sul do castelo, ao abrigo do vento
mistral que sopra na Provence, e os ninhos eram escavados no calcário mole. O
direto de abrigar um pombal foi abolido na Provence no final do século XVII,
mas me pergunto se até então as pessoas não ficavam doentes, pois sabemos que essas
aves transmitem dezenas de moléstias! Pombo, só aceito dois: o da Paz e o do
Espírito Santo. Amém!
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Pombal do Castelo de Les Baux - Foto: Simone Catto |
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